Mundo Paralelo

  • Finalizada
  • Alexsporto
  • Capitulos 21
  • Gêneros Sobrenatural

Tempo estimado de leitura: 3 horas

    14
    Capítulos:

    Capítulo 20

    Contra-Tempos

    Álcool, Linguagem Imprópria, Mutilação, Violência

    Capítulo 19

    Contra - Tempos

     Meu corpo já havia se acostumado com a temperatura mais elevada da loja e ao sair eu fui surpreendido com o ar gélido da chuva, agora bem mais fraca do que antes. Não estava ventando mas, o frio ainda causava arrepios em meu corpo umedecido pelas roupas molhadas.

     O dia estava escurecendo, nuvens densas encobriam a cidade e trovões barulhentos acompanhados por relâmpagos, davam ao céu uma   característica tenebrosa. Chegando na esquina ouvi o som dos sinos da loja e ao mesmo tempo aquela sensação terrível voltou a me assombrar.

     Notei que em algumas das janelas da gráfica a luz estava acesa. Isso é estranho porque fui avisado de que não haveria aula hoje. Fora a loja de instrumentos e a própria gráfica, nenhum outro estabelecimento parecia estar funcionando.

    Conforme avançava em direção ao ponto de ônibus, o tilintar perdia seu volume gradativamente até se tornar uma suave melodia quase que imperceptível a essa distância.

     Estremeci quando um raio traçou no horizonte uma linha vertical e irregular. Mesmo longe o barulho era ensurdecedor. Do outro lado uma van estacionava próximo a loja de instrumentos musicais. Duas figuras de sobretudo desceram do veículo e entraram na loja, minha visão foi cortada quando um ônibus parou diante dos meus olhos. A porta se abriu e tive dúvida se deveria ou não entrar. Impaciente o motorista fez um gesto com as mãos, ele aparenta estar bem cansado de tanto dirigir.

    Decidi subir e após atravessar a catraca ouvi o estralo bem baixinho de vidro quebrando e ruído de objetos sendo arrastados. Me segurei firme no momento que o ônibus começou a andar e busquei o acento mais perto da janela, de onde pude ver os homens voltando apressados para dentro da van.

    Num instante já não podia mais ver a rua, árvores tomaram conta da vista, o ônibus havia tomado outro curso passando por uma avenida paralela àquela.

     Por um segundo me questionei se teria feito a coisa certa ao deixar Dom sozinho na loja. Mas, não acho que aqueles caras, por mais estranhos que pareçam, queiram fazer algum mal ao velhinho. Preferi acreditar que os barulhos estranhos não passavam de mera coincidência, talvez Dom tenha deixado algum instrumento cair no chão... Por que eles sairiam da loja como se estivessem em fuga? Não estavam usando guarda-chuva, talvez tenha sido apenas pressa para não se molharem muito até que alcançassem o carro.

    – Não. – Abanei a cabeça em negativa, de alguma forma eu sinto que isso está errado.

    Dom não parecia nenhum pouco desleixado, não deixaria um instrumento cair assim de bobeira. E aqueles caras... Eles caminharam até a loja sem se importar com o fato de estar chovendo, com certeza eles estavam fugindo!

    Gráfica New Designer

    Salão secreto

    Nesses últimos dois dias venho treinando intensamente: A cada quatro horas de treino descanso uma hora. Isso três vezes ao dia, totalizando doze horas de treino físico e espiritual. O professor Sergio deixou bem claro que não ia pegar leve comigo, o que de certa forma está sendo muito bom, pois vejo que todo esse esforço trouxe resultados incríveis e em tão pouco tempo já evolui bastante.

    – Mais uma antes do intervalo. – sugeriu o Professor.

    – Mais uma! – afirmei e me posicionei para defender seu ataque.

    Duas luminosidades surgiram simultaneamente em cada uma de suas mãos. Mas dessa vez o brilho emitido era muito mais intenso, mesmo de olhos fechados ainda conseguia sentir a ardência da luz incomodar minha vista.

    – Concentre-se, Datto! Feche os olhos e permita que os demais sentidos lhe mostrem o momento ideal para agir.

    Parecia impossível conseguir me concentrar com toda essa luz tirando meu foco. Tentei abrir os olhos mas logo os fechei, não importava para qual direção eu olhava tudo que via era o brilho ofuscante das esferas de energia, que parecia estar vindo de cada canto da sala.

     – Frágma! – Senti o fluxo de energia se expandir na superfície do meu corpo para formar uma barreira em volta das minhas mãos. Já que não tenho como saber o momento certo que o professor vai atacar, achei melhor me prevenir e aguardar seu golpe.

    Não há como saber também a direção exata em que o ataque virá, poderia vir por cima, pela lateral, por traz... Direita, esquerda talvez ambos os lados. Percebi que não podia manter a barreira enquanto estivesse preocupado com o ataque. Não consigo fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Decidi então, baixar as defesas e me concentrar somente na energia do professor.

    Mantive a cabeça abaixada e de olhos fechados me deixei levar pela audição, tato e os outros sentidos permitindo que analisassem minuciosamente a sala ao meu redor. Pouco a pouco fui percebendo as densidades das coisas a minha volta, como se as paredes e os objetos emitissem um sinal revelando sua localização e me tornando capaz de sentir suas variações. Notei oscilações no ar e diferentes níveis de temperatura. Segundo meus sentidos, parece que o professor não saiu nem por um momento de onde estava. Devido à alta densidade de sua energia luminosa, a temperatura se elevava drasticamente. Deduzi que o ponto mais quente seria o lugar exato onde o professor está concentrando sua energia.

    Senti o ar esquentar rapidamente a meio metro a frente, como uma lâmpada acesa sendo lançada em minha direção. Entendi que era o momento ideal para me defender.

    – Frágma! – Tornei a executar a mesma ordem e bloqueei a esfera de luz com a barreira formada a partir da palma da minha mão.

    Distraído vendo a energia do primeiro golpe evaporar, acabei esquecendo o segundo globo reluzente que me acertou abaixo do peito. A pancada me lançou no chão e senti meu estômago queimar no local do impacto.

    – Muito bem! Se o seu treinamento continuar avançando dessa forma, ainda esse mês você será capaz de dominar as técnicas básicas de combate.

    – Técnicas básicas? – E eu pensando que já estava no treinamento mais avançado. – O que tinha nesse último golpe? Parece que minha barriga foi atingida por uma bola de fogo.

     – Diferente da energia de luz fria ou luz neutra, eu me concentrei em aquecer só um pouco a esfera de luz e assim a energia foi expelida em forma de calor. Mas isso é assunto para outra aula, com certeza mais pra frente abordaremos esse e outros métodos de manipular a energia espiritual.

    Não é à toa que o livro das ordens do clã tem quase a mesma proporção que a bíblia, o que me leva a pensar que tudo que aprendi até agora não passa de um grão de areia se comparado a tudo que ainda está por vir.

    Apesar de estar sempre exausto no fim de cada aula, me sinto animado com meu desempenho, sei que toda essa dedicação vai valer a pena. Em breve me tornarei mais forte e serei capaz de me proteger sozinho. Prometo que nada ou ninguém mais vai machucar aqueles com quem me importo.

    – Você notou algo estranho, Datto? A bussola disparou de forma irregular outra vez...?  – Perguntou de repente caminhando em minha direção. – Algum sinal de que mais demônios tenham escapado "do outro lado?"

    – É que... – Como vou explicar para o professor Sergio que eu perdi a bussola?

    Caramba! Ele está lançando aquele olhar sinistro, com certeza já deve ter percebido que alguma coisa está errada. Poderia dizer um simples "não" e acabar com toda essa tensão e de certa forma não estaria mentindo, mas omitindo a verdade. E se o professor pedisse para ver a bussola? Mentiria dizendo que a esqueci em casa, talvez funcionasse mas, por quanto tempo eu seria capaz de esconder isso até que a verdade venha à tona?

    – Eu não sei onde ela está. – Não consegui pensar numa desculpa boa o bastante para amenizar a bronca, o jeito foi falar a verdade.

     – O q... Como assim não sabe onde está a bussola? – O tom de voz subiu revelando sua ira.

     – Eu não sei! Deve ter caído do meu bolso no momento em que eu apaguei depois de confrontar aquela criatura.

    – Datto, você não tem noção da importância dessa relíquia.

    – Eu sei que sem ela não podemos localizar atividades sobrenaturais e assim não há como saber quando uma nova fenda surgir na aurora. Estaremos desprevenidos.

    – Mas não é só isso... A bussola pode ser usada também para encontrar outros objetos com características sobrenaturais e...

    – Então existem outros objetos iguais a bussola. – Interrompi.

    – Sim, no total são sete relíquias diferentes cada uma com sua função especial. Se caírem em mãos erradas pode ser o fim para a humanidade.

    – Nesse seu livro da profecia, não tem algo que nos ajude a encontrar a bússola?

    – Se não me engano... Somente o guardião pode encontrar a relíquia perdida, não importando onde esteja. – Explicou uma voz familiar ao adentrar o salão secreto.

    – Boa memoria Júlia, é exatamente isso.

    – Júlia! – Disse entusiasmado quando me virei para trás e a vi parada na porta.

    – Como você está, Júlia?

    – Melhor, professor. A médica disse que estou me recuperando bem.

     – Que bom que você está bem.  Como foi que você conseguiu entrar aqui?

    – Provavelmente alguém aqui esqueceu de trancar a porta. – Ironizou o professor enquanto me lançava um olhar de: "O que tá esperando? A porta não vai se trancar sozinha!"

    – Tá certo! Já estou indo. – Respondi e caminhei até a sala do professor Sergio a fim de trancar a porta de entrada.

    Centro. Avenida principal

    Interior

    A loja estava toda revirada, havia vários instrumentos jogados pelo caminho, muitos totalmente quebrados. Tentei achar Dom, permiti que meus olhos vasculhassem cada canto com a maior precisão possível.

    – Quem está aí?

    – Dom? Dom sou eu! Me diz onde você está.

     – Aqui...

    Segui sua voz até um quartinho nos fundos da loja onde o encontrei caído e muito ferido. Paralisei ao ver Dom nesse estado, a ira me subiu nas veias e minhas mãos tremiam de raiva. Por que alguém seria capaz de uma covardia dessas?

     – Dom!  – Me abaixei e apoiei seu corpo em meu ombro para ajudá-lo a ficar de pé.  – Você está bem?

     – Obrigado, jovem.  – O velhinho bufou ofegante e forçou um sorriso torto enquanto acenava com a cabeça para dizer que sim, mas isso não me convenceu.

     – O que eles queriam aqui? Meu Deus, que brutalidade! – Notei que seu rosto estava inchado e havia um sangramento na testa acima do seu olho esquerdo. Dom parecia se mover com muita dificuldade, até sua respiração está fraca. Eu preciso tirar ele daqui.

     – Vamos! Vou te levar ao hospital.

    – Espere.

    – O que foi?

    – Eles levaram a flauta...

    – Levaram o quê? Ah! Depois a gente se preocupa com seus instrumentos, Dom. Agora você precisa de um médico.

    Hospital

    Corredor

    – Cara cadê você? A galera toda já chegou aqui.

    – Oi! Foi mal. Eu tive um imprevisto, mas já estou saindo do hospital, vou só passar em casa tomar um banho rápidão e depois eu vou direto para o restaurante.

    – Por que, o que aconteceu? O que você está fazendo no hospital?

    Acionei o botão do elevador e assim que a porta abriu um grupo de enfermeiros surgiu no corredor, um deles me empurrou na parede dando espaço para que os outros pudessem passar minha frente empurrando a maca com um corpo coberto. Ao entrar na cabine, o último homem acenou pedindo desculpa por ter me empurrado.

    – Apollo? Ei... Apollo, responde cara! – O som abafado pelos alto-falantes do celular deixava a voz de Pablo com um aspecto robótico engraçado.

    – Pronto! Disse ao apanhar o telefone do chão.

    – Que barulheira foi essa? Agora estão permitindo a entrada de cavalos aí no hospital?

    – Ah? Não! Os médicos passaram aqui levando um corpo queimado. Cara sorte a sua não poder sentir esse odor através da linha telefônica.

    – Corpo queimado?

    – É... Eles já foram, mas o cheiro de churrasco de urubu infelizmente permaneceu no corredor.

    – Cara, o que você aprontou dessa vez?

    – Longa história... Quando eu chegar te explicarei tudo.

    – Tá certo, mas vem logo!

    – A Isabely também tá aí?

    – Tá sim. Falta só você aqui, mano.

    – Beleza! E vocês já se apresentaram?

    – Ainda não mas, corre que daqui a pouco a gente vai subir para tocar.

    – Tá legal.

    – Não demora!

    – Não vou.


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