|
Tempo estimado de leitura: 3 horas
14 |
Capítulo 18
Ainda mais confuso
– Ainda não entendo o que eu tenho a ver com isso.
– Ao confrontar Abadom, Micael ficou muito fraco e ferido. Foi um verdadeiro milagre ele ter sobrevivido, porém, isso lhe custou um preço muito alto.
– O que aconteceu com ele? Dom, essa história tá me deixando ainda mais confuso.
– Micael perdeu suas asas na batalha mortal contra o próprio irmão. Assim ficou incapaz de regressar aos céus. Durante séculos viveu entre os humanos. Sua história é pouco conhecida porque ele resolveu sumir, desapareceu. Dizem que ele se cansou da humanidade. Algumas lendas contam que ele ainda agia salvando pessoas em segredo. A grande maioria dizia que o anjo havia morrido e no fim sua história caiu no esquecimento das nações passadas. Mas, minha família tem guardado este livro e, de geração em geração, até ao menos o fim deste século será assim. Pois sou o ultimo da minha linhagem.
– Quando foi a última vez que Micael deu as caras?
– Existem relatos que confirmam sua presença há quase vinte anos. – Dom folheou umas centenas de folhas e parou em uma página marcada com um jornal velho. – Foi sua última aparição aqui na Terra depois de séculos oculto em silencio. Veja isto.
Peguei de sua mão e comecei a observar seu estado. O jornal é muito antigo, suas páginas bem amareladas e os textos já estão meio apagados, quase impossível de ler. Isso sem contar que fedia a cachorro velho.
Na página de capa não havia nada incomum, e nas seguintes também não. Só notícias e fofocas dos anos noventa. Em algumas vezes precisei prender a respiração para evitar o mau cheiro, quando eventualmente olhava por cima do jornal, via o velhinho acenando para que eu continuasse lendo. Até que finalmente algo familiar chamou minha atenção:
"Família perde o lar após estranha explosão que destruiu parcialmente a mobilha. Tudo indica que foi vazamento de gás. Causa não confirmada."
Na foto uma casa com a parte frontal totalmente em ruinas, cercada por uma nevoa de pó e fumaça escura.
Ao lado da imagem havia uma lacuna com alguns depoimentos da vizinhança:
" garota afirma ter visto um feixe de luz saindo da casa no momento da explosão. Mais de quinze pessoas afirmaram este fato."
Outro texto dizia:
" Eu vi com esses olhos que a terra ha de comer, uma nuvem negra desceu sobre os telhados momentos antes da casa explodir."
"Algumas pessoas alegam ter visto um homem caucasiano vestido de jeans, entrar na casa mas, não o viram sair. Esse homem que aparenta ter seus vinte e poucos anos está desaparecido e é um dos principais suspeitos de ter causado a explosão."
Abaixo do texto uma caricatura segundo as informações de possíveis testemunhas do sinistro acontecimento.
– Esse desenho... É ele? – Perguntei chocado ao ver que o mesmo anjo que lutou contra demônios no meu sonho, é o mesmo descrito neste retrato falado.
– Não pode ser... – falei quando li os nomes dos meus pais no final de outra matéria com o título:
"Noite do Milagre/Bebê revive horas depois de ter nascido morto."
Na descrição da notícia, o chefe da emergência e primeiros socorros, afirmou ter atendido uma chamada de um homem, cuja esposa havia dado a luz a um menino que nasceu morto. Infelizmente outros incidentes surgiram no caminho e a ambulância atrasou a chegada. Mas como um milagre, quando chegaram encontraram o casal chorando de felicidade com o bebê respirando no colo da mãe.
Tudo parecia confirmar o sonho que eu tive. É claro que eu não sou ele... Não tem como eu ser esse cara! Pensei me recusando a aceitar essa revelação. De repente as lembranças do sonho vieram a tona e lembrei de ter visto na sala bagunçada, um telefone fora do gancho. O que pode confirmar essa parte da notícia.
Como o trailer de um filme, as cenas passaram rapidamente diante dos meus olhos:
“...Apollo...! Esse é mesmo o seu nome?
...Toque na árvore e saberás quem você é.
...Conheça a verdade sobre seu passado. ”
E num instante de clareza, tudo fez sentido.
– Não é muita coincidência você ter nascido no mesmo dia em que Micael sumiu?
– Como assim?
Dom tomou o jornal de minhas mãos e apontou para ilustração que eu acabara de ver.
– Este rosto é familiar?
Apenas balancei a cabeça em resposta positiva, essa história toda foi demais pra mim. Não conseguia falar absolutamente mais nada. Meus pensamentos surgiam e sumiam de forma tão rápida que eu mão conseguia acompanhar, até eu perceber que a hipótese maluca de ser um anjo, pode ser a fonte para explicar os acontecimentos bizarros que vêm se desencadeando a cada dia.
– Eu sou um anjo... – falei sem nenhuma convicção e minha voz saiu num tom baixo e bem fraco.
Então toda aquela loucura... Aquele sonho foi para me mostrar quem eu realmente sou?
– Parece confuso eu sei, mas você precisa aceitar isso, jovem.
– Acho que é melhor eu ir pra casa, toda essa história tá me dando dor de cabeça.
– Sim! Você tem mesmo muito o que pensar, afinal, essa foi uma descoberta e tanto, Micael. Desculpa, Apollo. Acredito que você ainda prefira ser chamado assim.