Mundo Paralelo

  • Finalizada
  • Alexsporto
  • Capitulos 21
  • Gêneros Sobrenatural

Tempo estimado de leitura: 3 horas

    14
    Capítulos:

    Capítulo 14

    Trapaças

    Álcool, Linguagem Imprópria, Mutilação, Violência

    Capítulo 13

    Trapaças

    – Julia...!

     Corri até alcançá-la, caída e desacordada ela está indefesa perante o inimigo. O demônio havia se transformado em uma mulher, talvez alguém que Julia conhecesse.

    Por algum motivo seu corpo estava esfumaçando, Julia teria usado uma ordem de fogo?

     –Você não deveria ter voltado garoto burro.

     O tom de voz e o rosto lembra um pouco a Julia, mas um pouco mais velha e com afeições estranhamente diabólicas. Irmã ou mãe talvez...

    – Então é isso o que você faz? Usa as fraquezas das pessoas para confundir sua mente tomando a forma de seus entes queridos.

    Lembrei do que Julia me disse sobre ficar longe da criatura e no momento que a mulher se moveu eu pulei para traz conseguindo a tempo me esquivar de seu ataque.

    Em seguida a mulher saltou em minha direção. Rolei para o lado pouco antes de a criatura aterrissar e escapei de mais um golpe.

    Estou cansado demais e sei que não iria muito longe se saísse correndo agora. Que isso? Eu não posso nem pensar em fugir! Preciso ficar e encarar isso.

     Levantei os olhos para observar a criatura. Mas... Para onde ela foi? Como? Estava aqui agora mesmo e de repente sumiu assim do nada.

     Ao me levantar tive uma sensação ruim, como uma presença maligna me cercando.

    – Datto!

     – Professor? – surpreso ao ouvir sua voz virei para fita-lo.

    Me perguntei porque que ele estaria aqui e como teria nos encontrado sem a bússola. Mas afastei essas questões, o que importa é que agora temos uma chance contra os demônios.

    – O que aconteceu aqui? – perguntou o Professor agachado ao lado de Julia.

    – A criatura! – respirei fundo e prossegui. – Aquela coisa atacou Julia pelas costas e... – Fiz um gesto abrindo as mãos. – Desapareceu!

    – Então você viu a criatura... Com o que ela se parece?

    – Uma mulher. – Respondi desconfiado.

    Tem algo errado. Se a criatura fugiu... Por que ainda estou com essa sensação estranha de que corro perigo? Talvez ele não seja o professor, talvez seja a criatura tentando me enganar. Mas, e se eu estiver errado? Não posso ataca-lo enquanto não tiver certeza.

    – O senhor conseguiu fechar a abertura para o outro lado? – Perguntei enquanto puxava a bússola do bolso, preciso de uma forma para desmascarar o impostor e isso pode funcionar.

    – Ainda não. – O professor se levantou com Julia nos braços e caminhou em minha direção. – Precisamos tirar Julia daqui!

    Abaixei os olhos para o objeto em minha mão, um dos anéis está parado e o outro, o anel maior, girando no sentido horário. Um ponteiro apontando na direção do restaurante e o outro... Como eu pensei a seta menor parada apontando para o professor.

    Era o que eu precisava para ter certeza de que não vou cometer um engano.

    – Ponha ela no chão e afaste-se!

    O impostor arregalou os olhos em espanto, em seguida me encarou com a carranca fechada.

    – Enlouqueceu garoto?

    – Eu não vou cair no seu joguinho, você não me engana! – Estendi um braço na direção dele e apertei firme o pingente que pendia da corrente em torno do meu pescoço, me preparando para conjurar uma ordem.

      Êxo!

    Mas... Mas, que estranho! Tenho certeza de que conjurei a palavra corretamente. Nada aconteceu, ele nem se abalou.

    – Não temos tempo, Datto. – Com uma seriedade incomparável ele se aproximou um pouco mais. – Julia está ferida, precisamos sair daqui agora!

    – Me desculpa professor, eu não tinha certeza de que era você... Eu pensei que fosse a criatura tentando me enganar.

    Ouço uma gargalhada escandalosa ecoar do beco escuro atrás do professor, um tom agudo e rouco. Saindo das sombras a mulher caminhou em nossa direção.

    – Humanos... – A criatura andou até ficar ao lado do professor e continuou com seu sarcasmo. – Tolo! Tão fácil de enganar, acredita em tudo que os olhos podem ver.

    Um largo sorriso torto aparece no rosto do professor Sergio dando a sua face um tom de malícia.

      – Aluno insolente, você é uma vergonha para o clã!

    Como se tudo isso já não estivesse muito confuso, Julia acorda e me olhando com desprezo ela diz:

    – Você vai morrer. – Sua voz saiu num tom suave e sua boca se curvou num sorriso sombrio.

    Eu não acredito! Não pode ser... Isso não tá certo. De repente senti meu corpo gelado estremecer, não de frio por estar chovendo e minhas roupas encharcadas, mas por estar só em meio a essa situação. Um breve lampejo me fez lembrar: –– “... Como seu mentor cabe a mim te mostrar que há muito mais nas coisas do que os nossos olhos possam ver". – As palavras ditas pelo professor hoje cedo se repetiram agora em minha mente. E eu pude ter certeza que isso não é real!

    Afýpnisi! – Exclamei alto e forte, e senti uma grande quantidade de energia fluir através do meu corpo para além de mim.

    Rachaduras gigantescas cortaram o asfalto e seguiam adiante se erguendo no ar até pouco acima de mim. Das brechas que se alargavam eu pude ver partes da rua, do beco, as nuvens sombrias do céu acima dos prédios... As figuras a minha frente também racharam, uma por vez, primeiro o professor, depois Julia e por último a criatura.

    Tudo a minha volta não passava de um cenário falso que como um espelho se partiu em milhares de pedaços no momento em que eu conjurei a ordem.

    – Maldito humano! Conseguiu despertar do meu controle dos sonhos. – Murmurou a mulher, suas roupas chamuscadas e parte do seu corpo estavam em carne viva. A pele estalou em contato com as gotas apressadas da chuva formando uma nuvem cinzenta acima da criatura.

    Ao meu lado a mais ou menos uns dez passos largos, Julia se levantava lentamente. Olhando ao redor não vi nenhum sinal do professor por perto.

    – Cansei de vocês, seus vermes! – O demônio arqueou os braços e da ponta dos dedos saltaram garras afiadas, ainda cobertas de sangue por ter rasgado a pele.

    Rosnando como um animal a criatura partiu na direção de Julia, para pegá-la desprevenida.

    Julia se abaixou e conseguiu se esquivar do primeiro golpe, as lâminas do inimigo arrancaram o prendedor de cabelo e passaram quase raspando sua orelha.

    Ypovolí! – Julia exclamou e uma camada fina de energia translúcida surgiu entre ela e a criatura bloqueando o golpe seguinte. A barreira circular contornava a mão do agressor impedindo que suas garras encostassem no corpo de Julia.

    O que eu tô fazendo aqui parado? Preciso ajudar Julia!

    Enquanto corria para alcançá-la, o demônio golpeava a barreira várias vezes até que o último golpe transpassou o escudo de energia e afundou na barriga. Julia emitiu um grito engasgado curvando para frente com o impulso, mechas escuras de seu cabelo encobriram seu rosto.

      – Apokálypsi! – Com grande clamor minhas palavras foram entoadas.

    A criatura caiu de joelhos com um gemido agudo de dor que se distorcia quando ficava mais alto. Parecia que seu corpo estava sendo consumido por chamas transparentes quase invisíveis.

    O cheiro de carne podre queimada logo subiu no ar junto com o vapor expelido pelo corpo.

    – Você acha que consegue andar? – Perguntei ao me abaixar e estendi a mão para Julia.

    – Consigo sim o corte não foi muito profundo. – Julia segurou forte minha mão e com muito cuidado eu ajudei ela a ficar de pé.

    Caminhamos de vagar até a calçada onde Julia sentou encostada no muro dos fundos do prédio, abafou um gemido quando pressionou uma das mãos no corte para tentar estancar o sangramento.

    – Sabe conjurar uma ordem de cura?

     – Sei, mas estou muito fraca para conseguir conjurar qualquer coisa.

    – Voltem aqui! Insetos... Eu vou arrancar suas tripas.

    Não acredito que essa peste ainda está viva. Mas agora não havia nada de humano na criatura, seja homem ou mulher... O corpo esquelético e corcunda coberto por uma pele escura e enrugada. Os dentes tortos e pontiagudos, os olhos fundos e vermelhos.

    – Essa é a sua forma original? – Disse Julia com a voz baixa e cansada. – É horrível...

     O corpo de Julia tremia de dor e frio, seu rosto já pálido por ter perdido muito sangue. Sinto o cansaço se apoderar do meu organismo. Por um segundo desejei que o Professor estivesse aqui, ele sim saberia como deter essa coisa.

    Minhas pernas fraquejam e as juntas se dobram contra minha vontade me fazendo cair de joelhos com as palmas no chão. Não me restaram forças nem para levantar mais e

    Agora o monstro está vindo pra cá cheio de ódio e não há nada que possa impedir que ele nos mate a não ser um milagre.

    –Vou começar por você – Ameaçou a criatura cujo bafo quente de enxofre me embriagou com uma sensação nauseante.

    Os cabelos antes penteados para o lado agora estavam ensopados e grudavam na minha testa, alguns fios soltos embaçavam minha visão.

    Ainda assim podia ver as garras do monstro se moverem contra meu rosto.

    Semicerrei os olhos quando o demônio me apertou a mandíbula, as pontas de suas unhas afiadas perfuravam meu rosto, senti gotas de sangue traçarem duas linhas verticais na minha pele uma em cada lado da face.

    Fechei os olhos, não há nada que eu possa fazer agora, queria levantar e socar a cara desse miserável por ter ferido Julia. Mas não consigo me mover.

    Ergui os olhos para encarar a aberração pela última vez e vi um vulto descer atrás da criatura. Então o outro demônio resolveu aparecer...

    A criatura estava prestes a me dar o golpe final quando parou e olhou para traz fitando a figura encapuzada. Imagino se por trás daquele casaco azul ele tem a mesma aparência monstruosa que o primeiro demônio.

    Soltando o meu rosto, a criatura correu para o lado oposto ao que o homem de capuz estava. Surpreso, me pergunto por que um demônio fugiria de outro de sua espécie. Isso não faz sentido.

    Antes que o monstro pudesse escapar pelo beco lateral no final da rua, foi surpreendido pelo homem encapuzado que o agarrou pelos ombros e chutou suas costas. A criatura arqueou caindo de cara no asfalto, tentou se levantar mas um golpe rápido lhe esmagou o crânio no chão. Sacudindo o tornozelo, a figura livrou o pé dos miolos do demônio. Atrás de si o cadáver se desfez deixando uma poça gosmenta em seu lugar.

     Logo minha cabeça pesou e eu me rendi ao cansaço deixando o corpo cair de vez ao chão molhado.


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