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Fala galera!
uma ótima noite para todos!!!
Capítulo 11
Para onde apontar a Bússola
Estamos a dois quarteirões de distância da gráfica. A chuva forte se foi deixando em seu lugar uma garoa fraca e incessante. As rajadas de vento ocasionais tornam a noite ainda mais fria.
– Pera ai! – Disse e enquanto parava de correr, senti um leve alívio nas minhas pernas.
– O que foi? – Perguntou Julia reduzindo a velocidade dos seus passos até parar.
– A bússola... Os ponteiros enlouqueceram! – Estendi a mão para mostrar a bussola a Julia.
Os ponteiros giravam depois paravam aleatoriamente em direções diferentes. Os anéis alternavam o sentido do giro a cada vez que paravam.
– É como se a criatura estivesse em todo lugar.
– Não pode ser...
– O que a gente faz? – Ergui o olhar para encarar Julia com expectativa.
Julia semicerrou os olhos para a bússola depois se afastou e girou para olhar a seu redor, sua expressão pensativa e preocupada. Ela diz:
– Tem mais de um sobrenatural por perto. – Julia abaixa a cabeça para fitar o crucifixo sendo apertado por seus dedos, um brilho percorre a superfície do pingente de uma ponta a outra, conforme ela movimentava o punho. – A bussola não enlouqueceu! Como possui apenas dois ponteiros, não tem como mostrar a localização de um terceiro alvo. Pode levar algum tempo, mas ela vai se ajustar para os alvos que estão mais perto.
Dito isso, ela acabou com minhas dúvidas. Eu já estava achando que tinha quebrado a relíquia do professor Sergio.
– Olha! – Julia se aproximou para ver o objeto em minha mão. – Parece que voltou a funcionar normalmente. – Falei enquanto indicava os ponteiros se ajustando a duas direções fixas.
– Ótimo, vamos!
Voltamos a seguir o ponteiro menor que indica a localização do ser sobrenatural mais próximo.
–Você acha que outro demônio conseguiu escapar?
– Não, na verdade eu não sei. Acho que o Professor teria nos avisado se outra criatura escapasse.
– Talvez... Outra brecha na aurora.
Por um longo momento o silêncio se acomodou enquanto corremos até passar por um beco bem estreito.
A ideia de ter outra criatura a solta ou de ter outra fenda na aurora, traz preocupação e medo. Ambas são no mínimo terríveis. E o pior é que eu já estou além do meu limite, não costumo correr com tanta frequência assim. Não sei por quanto tempo mais vou conseguir me manter de pé.
Por outro lado, não posso deixar Julia na mão. Mesmo depois de ter sido vítima do pesadelo, ela não se deteve e permanece firme ainda que os sintomas do cansaço estejam bem aparentes. Julia está obstinada a parar esse monstro custe o que custar.
O caminho parecia não ter saída, a escuridão do beco se estendia muito além do que podíamos ver.
Julia fez um gesto com o braço e um feixe de luz apareceu em forma de esfera em volta de sua mão.
Como uma lanterna só que mais bacana Julia movimentava o globo de luz de forma a revelar o caminho que estava escondido na escuridão.
– Ei, Datto.
Olhei para ela em resposta. Julia reduziu o passo e eu acompanhei seu ritmo até se tornar uma caminhada lenta.
– O que você já sabe sobre o livro da Ordem do Clã?
– Muito pouco ainda. – Admiti. No final do beco havia um corredor que dava acesso à rua novamente. – Hoje eu aprendi a proferir minha segunda Ordem... – meneei o pulso para mostrar que me referi a ter ativado a bussola.
O professor havia me falado sobre a Ordem do Clã e a responsabilidade dos membros que a defendiam. Ele me contou que um dia eu seria capaz de grandes feitos se eu me dedicasse para o clã.
Mas essa foi a primeira vez que vi alguém conjurar a luz. Apesar de parecer fácil demais, O poder de uma conjuração requer muito esforço físico e mental. Para transformar a energia espiritual que temos em matéria.
– Você está indo bem, Datto. – Julia abaixou o braço e o globo de luz se apagou de sua mão quando nos aproximamos da calçada iluminada pela luz dos postes. – Geralmente os alunos levam semanas às vezes até um mês para conseguirem conjurar sua primeira ordem.
– Obrigado. – Agradeci orgulhoso.
Eu achava que meu progresso como aluno estava sendo lento. Mas, ao ouvir o que Julia disse, percebo que estava errado. Em menos de uma semana já aprendi a conjurar duas ordens.
– E você, quantas ordens você já dominou?
Julia sorri como se minha pergunta soasse engraçada.
– Algumas. – respondeu com ar de riso. – Julia está sempre tão seria que é até estranho vê-la sorrindo. Ela poderia fazer isso mais vezes.
Pela forma como ela executou uma conjuração sem precisar pronunciar uma ordem, sei que ela deve ser muito experiente. Só os membros mais velhos adquirem essa habilidade.
No decorrer do caminho ouvimos um grito de dor. Aceleramos o passo e continuamos seguindo o som da voz.
No local um homem tossindo sangue e se debatendo no chão. Infelizmente quando chegamos mais perto do corpo ele já estava morto.
– Que droga!
– Mais uma vítima...
– Ele não deve estar muito longe precisamos continuar procurando.
Apesar da frieza em suas palavras, sinto que seus olhos expressam dor, ódio e tristeza.
Restaurante Bom Gosto.
–... Relaxa mano, eu to legal.
– Ta bem, mas se precisar... Se... Qualquer coisa me liga!
– Pode deixar Pablo. Agora vou deitar que já estou... – Apollo fez um som de bocejo depois continuou a falar. – caindo de sono.
– Boa noite. – Em seguida desliguei o telefone.
Caminho até o balcão e pego uma bandeja com os pedidos das mesas três e quatro. Na primeira mesa servi uma macarronada com almôndegas e frango com saladas a um casal de idosos. Na sequência, duas mulheres a quem servi uma taça de sorvete de chocolate com creme e um suco de abacaxi com hortelã.
Retornando ao balcão, entrego a bandeja vazia ao atendente. Escuto um ruído de estática, as luzes piscam algumas vezes e depois apagam. Surgi um familiar sentimento de que algo ruim está prestes a acontecer, mesmo assim decidi ir até os fundos onde fica o quadro de luz.
No corredor encontro com um dos funcionários da cozinha saindo do banheiro e pergunto se ele viu Abel.
– Sim, há uns vinte minutos mais ou menos ele passou por aqui, tava indo jogar o lixo lá fora.
– Ah, valeu!
Continuei andando na escuridão usando o celular para iluminar o caminho e no final do corredor a luz de fora clareava uma vassoura escorada na parede e uma parte do piso pelas frestas estreitas da porta dos fundos que estava só encostada. Ao tocar a maçaneta senti meu corpo se enrijecer, ignorei o arrepio que iniciava seu percurso em minha espinha e me forcei a abrir a porta.
– Abel! – Por um segundo senti meu corpo tremer de medo quando vi meu amigo estirado no chão se debatendo de um lado para o outro tentando escapar das garras de um homem estranho.
Com o susto eu havia dado um passo para traz, segurei a primeira coisa que vi ao meu alcance e usei para bater no homem.
A pancada o afastou para longe de Abel. Cambaleando, o homem se recompôs e me encarou com uma risada irritante e sombria.
– Cai fora! – Segurando o cabo de vassoura em posição de defesa eu me aproximei de Abel.
– Você é muito valente para um humano. – Soltou uma gargalhada curta e apontou para o objeto em minhas mãos. – Vai me enfrentar usando isso aí?
Levantei as mãos inclinando o corpo para traz e olhei Abel caído, a raiva aqueceu meu sangue. Ergui o olhar para desafiar o homem à frente. Em um movimento rápido girei o corpo e golpeei ele com toda minha força.
A vassoura partiu-se no meio quando bateu no braço que o indivíduo estendeu para se defender sem precisar de muito esforço.
– Não se fazem mais humanos como antigamente... – zombou abrindo a boca num sorriso largo de deboche. – Você é uma vergonha para seus ancestrais, eles eram fortes e usavam armaduras, lança... Armas de verdade! Mas não um pedaço de madeira velha. Isso é um insulto!
Do que esse miserável está falando? Até agora nada do que ele disse faz sentido, por que ele se refere a mim como humano? O que ele é para se achar superior a nós?
– O que você fez com meu amigo? – Observei Abel desmaiado no chão. Soltei o pedaço do cabo de vassoura em seguida fechei os punhos, a madeira tamborilou no solo e depois rolou até parar na parede. – você vai pagar por isso!
Antes mesmo que eu pudesse piscar, o cara apareceu diante de mim com sua mão cobrindo meu rosto. Elevei os braços para me defender, mas não consegui afastá-lo. Logo não podia mais enxergar, sua palma esmagando minha cabeça me impedia de abrir os olhos. Senti meus pulmões implorarem por ar, meu coração acelerando cada vez mais... É como se minhas forças estivessem sendo drenadas e meus sentidos sugados um a um.
Lentamente senti meus pés abandonarem o chão e com isso uma forte dor no pescoço, parecia que todo o peso do meu corpo estava sendo suportado pela minha cabeça.
– Hii! Hi! Hi! Hiiii! – Uma risada esquisita e aguda ecoava nos meus ouvidos.
Minhas forças se foram, minha pele está esfriando a medida que o corpo fica dormente. Uma forte pressão
Indicando que meu pescoço pode estourar e se separar a qualquer momento do resto do corpo.
Meu coração que antes batia apressado, agora conta os segundos que me restam. Já não ouço nem sinto mais nada ao meu redor, nada além das batidas abafadas no meu peito.
Os últimos segundos se arrastaram e os intervalos entre cada pulso vital se tornavam cada vez mais distantes até o coração parar.