Apertando mais o casaco em meu corpo, eu andava com Silckie ao meu lado. Passamos por uma banca de jornal, o vendedor estava enrolado em um cobertor peludo, nem parecia nos ver, usava um gorro maltrapilho, e luvas rasgadas. Ele provavelmente morava em Lebrail, o bairro mais pobre da cidade. Na verdade tava mais pra uma comunidade, varias casas de baixa qualidade, uma ao lado da outra, era um bairro muito perigoso várias gangues, andavam por la. Meus pais e eu sempre fazíamos doações para ajudar as famílias que lá moravam.
No intuito de ajudar, entrei na banca, pegando o primeiro jornal que vi, coloquei o dinheiro que era bem mais do que o jornal custava, nas mãos pálidas do homem.
- Fique com o troco. - Sorri.
Os olhos dele brilharam e com vários acenos de cabeça entusiasmado, ele agradeceu. Sai de la antes que me sentisse ruim. Voltando a caminhar pela calçada pouco movimentada, Silckie roubou o jornal de minhas mãos. Depois de analisar ele apontou para a manchete. letras grandes e escuras diziam: Esse com com certeza é o ano mais frio em 18 decadas. Eu não duvidava, sentia o gelo até em meus ossos.
- porque mesmo que você está sem carro?- perguntei sentindo falta do aquecedor, e dos bancos macios.
- Ta na oficina, alguma coisa a ver com a bateria. Haa não Levy, não comece a reclamar, ja estamos chegando.
- Não vou reclamar- disse me sentindo ofendida, eu nunca fui de reclamar. - Mas bem que você podi...
Parei de falar, quando senti o jornal, ir de encontro com a minha testa. Ouvi a gargalhada de Silckie, ele me olhou com um ar de eu avisei. Devolvi o olhar completamente indignada, como ele ousava me agredir com um jornal, "golpe baixo." Fiquei brava, passei o resto do caminho inteiro de braços cruzados, e quieta, deixando claro meu mal humor. Chegamos no bairro onde eu Silckie moramos, as mansões de Paradise Valentine's. Eramos vizinhos mas mesmo brava, subi em direção a varanda dele.
Ainda de braços cruzados, esperei pacientemente que ele viesse destrancar a porta, finalmente dentro de um ambiente quente e aconchegante. A sala de Silckie era enorme, tinha cortinas de seda brancas, em todas as janelas de vidro, e também tinha uma escadaria gigantesca que dava para o segundo andar. Me joguei no sofá macio, se contassem o tanto de vezes que eu adormecera lá, ja daria pra dizer, que era minha segunda cama.
- Quer alguma coisa- perguntou Silckie em direção a cozinha.
Ainda brava eu apenas respondi:
- Um chazinho quente ta ótimo. - sorri irônica.
Ele deu de ombros, e foi pra cozinha deu pra perceber que ele ria, uma das melhores coisas em Silckie, é que nada tira ele do sério. Liguei a tv, entediada, comecei a passa pelos canais, passava clipes de músicas em um, em outros jornais, programas de culinária, entrevistas, filmes, Once upon a Time, séries, futeb... ONCE UPON A TIME, volta canal, " não creeeeio" adorava essa série, até Silckie gostava, vamos deixar o jogo pra depois.
Silckie voltou, sentou ao meu lado nem olhei pra ele, queria mostrar que não iria baixar a guarda tão cedo. Ele estava mastigando alguma coisa, olhei de relance pra suas mãos, tinha uma tigela grande cheia de pudim de chocolate, no seu colo.
- Quer Levy, eu sei que é o seu preferido!- virei a cabeça rapidamente para a tv. Não vou ser comprada com pudim. - nossa isso ta ótimo, vamos Levy, abaixa esse nariz empinado ai. - ele riu.
" Chantagista" dei um tapa forte na sua cabeça, peguei a tigela de suas mãos, junto com a colher.
- hey, dividi pelo menos.- ele tentava pegar a colher. Com pudim na ponta da colher levei em direção a boca dele, mas no meio do caminho mudei de ideia.- Qual é Levy?
Apenas sorri enquanto saboreava o chocolate, "vingança: saborosa e doce" virei a cabeça, olhando pra ele que estava confortavelmente jogado no sofá, ele continuava com a camisa verde manchada de chá, me aproximei, com a boca suja de pudim, dei um beijo estalado e melado, na sua buchecha.
Sorri deitei minha cabeça em seu peito, confortável e macio, a muito tempo somos melhores amigos, sabemos tudo um sobre o outro. O cheiro bom e suave de hortelã invadiu meu nariz, ele apoiou o queixo na minha nuca. Assistimos alguns episódios, até que a noite começou a cair.
Fui pra minha casa, me trocar, deixei Silckie tomando banho, ele estava quase dormindo quando sai, tive que o cutucar várias vezes. Subi correndo as escadas até meu quarto, estou bem atrasada, mas mesmo assim, tomei um banho maravilhoso e demorado, não sabia que roupa usar, o ruim de morar numa cidade de gelo, é que qualquer roupa que você colocar, não vai adiantar pois com certeza vai usar uma blusa grossa por cima. Não demorei muito pra me vestir, ou fazer a maquiagem. Coloquei uma calça jeans escura e colada, uma blusa de lã preta e jaqueta de couro também preta.
Peguei o presente, que eu havia escolhido e embrulhado para Dinah, com um papel azul. Desci as escadas, encontrando Jacob, na minha sala, ele se olhava no espelho que tínhamos no corredor, passava as mãos em movimentos constantes no cabelo, deixando os mais espetados. Quase tive um ataque de risos, Silckie usava um terno, aparentemente muito caro, exibia uma gravata Preta muito bem alinhada, camisa branca bem passada, calça e sapatos sociais.
- Pelo amor de Deus, estamos indo na festa da Dinah, não a uma premiação do Oscar.
Caminhei até ele, comecei a tirar seu terno, jogando no sofá da sala, afrouxei sua gravata, por último, abri alguns botões da sua camisa, estava bem melhor assim. Ele pegou algo em cima da mesa de jantar, percebi que ele também tinha uma caixa de presente nas mãos.
- Meu irmão emprestou o carro dele, pra não precisarmos ir de táxi. - Silckie se recusava a ir com o motorista particular da sua família, ele dizia ser muita frescura.- Está muito bonita a propósito.
Sorri, caminhos até a frente da mansão de Silckie, o Range Rover branco do irmão dele estava estacionado quase no meio da rua, como sempre um cavalheiro, ele abriu a porta para mim, logo se sentou ao volante seguindo caminho para a casa da Dinah.
Não falamos muito durante o trajeto de carro até o outro lado da cidade, ele estava completamente concentrado na estrada, enquanto eu retocava o batom.
Uma música muito alta tocava, de dentro da casa, Dinah morava numa república, junto com mais algumas outras garotas, como era começo de ano muitas meninas novas se mudaram para lá. As paredes eram de tijolos vermelhos, e janelas brancas. Mau acabamos de pisar no jardim e ja vimos, várias pessoas bêbadas, jogadas por todos os lados, com bastante esforço conseguimos atravessar a multidão de corpos suados e quentes, até as escadas que iam para os dormitórios.
- Procura a Dinah la em cima, que eu procuro aqui em baixo.- Ele gritou no meu ouvido.
A música chegava a tremer as paredes, era um tipo de remix de uma música famosa, tropecei em um casal que estavam prestes a se engolir, na beirada da escada. As portas dos quartos estavam fechadas, mas eu sábia qual era o da Dinah, bati duas vezes, depois de um tempo nenhuma resposta deduzi, que pela altura da música ela nunca ouviria, movi a maçaneta, "destrancada" o quarto estava completamente bagunçado e escuro, revirei os olhos, se estivesse arrumado não seria o quarto dela.
A luz do minúsculo banheiro brilhava através da pequena fresta que porta deixava, caminhei até ele, ja dava para ver alguém de costas, com um vestido vermelho brilhante, que ia até os joelhos, ela estava debruçada sobre a pia, vi a água da torneira ligada, na tentativa de lhe dar um susto, corri rapidamente, abri a porta e gritei:
- Heyyy Feliz Aniversário - ela levantou a cabeça e se virou pra mim, tão rápido que deixou cair, um pano que segurava entre os dedos - sabe Dinah você está...
Minha frase morreu quando vi um pequeno filete de sangue descer pelo seu nariz, ela me olhou como se estivesse sido pega no flagra. Meus olhos caíram para o pano no chão, completamente ensanguentado...