Os Trinta Colares de Pedra

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    16
    Capítulos:

    Capítulo 1

    Missão Inesperada

    Homossexualidade, Violência

    Lá fora a tarde ensolarada chegava ao fim e o céu antes límpido dava lugar a nuvens cinzas e carregadas de água. Tão sinistras como o clima dentro do vestiário do time de futebol do colégio Mannouzaka, onde apenas duas pessoas permaneciam no local, os outros já haviam ido para suas casas depois de já terem se vestido.

    Estava muito quieto, não ousara falar mais nada depois de terminar de falar timidamente e em pausas cautelosas. Mitsuyoshi acabara de se declarar para seu capitão, e este estava de cabeça meio abaixada. Mitsuyoshi temia o que viria a seguir, mas não suportava mais guardar segredo.

    Acabara de se vestir, colocara, como sempre, o uniforme normal da Mannouzaka, azul marinho e vermelho.

    Isozaki ergueu a cabeça lentamente e fitou Mitsuyoshi. Tinha desprezo, descontentamento, sua feição era à mesma de quando estava prestar a machucar um adversário em campo, mas sem o sorriso sarcástico e maléfico. Mitsuyoshi assustou-se e recuou alguns passos.

    - O que faz você pensar que eu te queira também? - disse - Somos seeds. Nosso dever é destruir o futebol com o uso da força.

    Mitsuyoshi sentiu os olhos marejarem, seu coração palpitava sem  parar. Não aguentou e baixou os olhos para o chão. Suas mãos tremiam.

    - Esqueçe. Esquece o que eu disse. - tentou dizer, mas só saíram murmúrios incompreensíveis.

    Isozaki agarrou seu pulso direito e trouxe até ele.

    - Eu não gosto de você. - jogou nele sem piedade, fazendo uso da sua típica cara de escárnio.

    Isozaki apertou entre as mãos os finos pulsos que segurava, cada vez mais fortemente. Mitsuyoshi gemeu. “crac”, o barulho se fez ouvir bem baixo. Mitsuyoshi caiu de joelhos no chão, arquejando e cerrando os dentes de dor.

    Isozaki ainda segurava seu pulso.

    - Que isso sirva de lição. Ponha-se no seu lugar. Yozakura. - falou seu primeiro nome com desdém.

    Isozaki soltou o antebraço de Mitsuyoshi e saiu do vestuário indiferente, deixando o outro garoto ali, ajoelhado no chão com lágrimas jorrando de seus olhos violeta.

    Mitsuyoshi não sabia o que doía mais: seu coração e orgulho despedaçados ou seu pulso direito, latejando pelo viro brusco, devia estar quebrado. À dor era tão extensa.

    Esperou alguns minutos e tentou se recompor, levantando-se com dificuldade. Saiu do recinto, com uma mão segurando a outra, os olhos vermelhos e sua mochila sobre o ombro direito batendo no lado esquerdo do seu corpo. Andou apressadamente até a saída da escola e entrou cambaleante no seu ônibus que acabara de chegar. Todos o olharam quando se dirigia à um banco. O que viam? O que sentiam? Pena? Piedade? Mitsuyoshi não queria isso. Fechou os olhos que doíam e apertou-se contra seu assento no banco, escondendo-se dos olhares indesejados.

    No seu ponto, saiu do ônibus com dificuldade. Sua mente vagava longe, Isozaki o havia rejeitado da pior maneira possível. Sabia que para o capitão outros seeds eram só colegas que deviam cumprir com sua função, nada além disso. Arriscara-se de declarando e saíra magoado, se sentia indesejado e sozinho. Agora que percebia, todos os seus colegas eram assim, até ele mesmo era, mas viu que não tinha verdadeiros amigos com quem conversar e contar. Eram só colegas e companheiros de time, segundo seu capitão.

    Mitsuyoshi não via-se voltando para a escola no dia seguinte, doeria muito. Mas tinha escolha?

    Seguiu andando pela calçada pouco movimentada, perto da escola Raimon. Viu ao longe alguns estudantes se aproximando. Era tenma e suas amigas da escola. O garoto extrovertido o percebeu e acenou estrondosamente com o braço sorrindo. Mitsuyoshi abaixou o olhar e deu um encontrão ao passar por ele, batendo ombro com ombro, com certa raiva. Ele era feliz, namorava com com amava, sentiu inveja. Tenma o olhou, estranhando a ação, mas logo voltou a andar por onde seguia.

    Tsurugi estava andando alguns metros atrás de Tenma e agarrou o antebraço de Mitsuyoshi quando esse passou.

    - O que está fazendo? - perguntou Tsurugi. Devia estar bravo com o fato do outro ter esbarrado em seu namorado.

    Mitsuyoshi soltou um arquejo de dor por causa de seu pulso. Tsurugi se assustou e soltou-o.

    - Está ferido. - preocupou-se.

    - Me deixe em paz. - gritou e saiu correndo dali, voltando a proteger seu pulso contra o peito.

    Correu.

    Correu demais.

    E chorava. Chorava muito.

    Nem percebeu quando passou da entra de sua casa e continuou correndo. Entrou em uma trilha de terra que dava para uma floresta. Só depois de alguns minutos parou de correr e olhou em volta. Não sabia onde estava. Deu meia volta.

    Viu logo à frente dois colegas da Mannouzaka se aproximando. Eles ainda não o tinham notado. Mitsuyoshi se desesperou. Decidiu entrar na floresta onde não o achariam.

    Por que estava se escondendo? Eles nem sabiam o que tinha acontecido. Mas com certeza perguntariam estranhariam o por que de o orgulhoso atacante da Mannouzaka estar chorando e ferido no meio do nada.

    Mitsuyoshi continuou correndo na mata o mais rápido que podia, sem ver direito por onde passava. Anoitecia, Em um momento em que fechou os olhos, tropeçou em uma raiz de árvore e quase caiu em cima de um senhor de idade avançada, acabou o empurrando para permanecer em pé e ele que caiu, deixando uma caixa que segurava se esfacelar no chão.

    - Não. - o velho gritou.

    Da caixa que segurava, diversas pedras coloridas e brilhantes saíram e rodopiaram em círculos, desnorteados, As pedras logo voaram e sumiram em lugares diferentes.

    Mitsuyoshi nada entendeu, mas o velho o olhou perplexo.

    - Você. - apontou para o garoto - Sabe o que você fez?

    Mitsuyoshi não disse nada, apenas balançou a cabeça, confuso, ainda sentia as bochechas do rosto molhadas por onde haviam antes passado lágrimas.

    - Acabou de espalhar os trinta colares de pedra pela cidade. Vai saber para vai as ter agora. - estava furioso, perplexo.

    Mitsuyoshi esfregou o rosto com a mão boa e tentou entendê-lo.

    - Como assim? O que aconteceu?

    O velho o olhou por um longo minuto, pensando.

    - Já sei. - disse enfim - Você vai pegá-las para mim. Sim, você. Vai procurá-las uma por uma e trazê-las.

    - O quê? Não estou entendendo.

    - Escute, garoto. - o olhou seriamente - Cada uma daquelas pedras tem o poder de controlar um elemento. Ar, fogo, água… você deve conhecer. Agora você as liberou e elas estão soltas por aí, fazendo o que querem. Com certeza os colares vão achar um pescoço para morar e fazer o dono controlar o elemento.

    Mitsuyoshi compreendeu e arregalou os olhos.

    - Mas isso é impossível. - disse.

    - Impossível? Mas o que é impossível? Você as ter liberado que é impossível. Você as soltou, você as vai buscar agora, é justo. - fez cara de cansado - E eu agora sou muito velho para essas coisas, não consigo nem mais andar à trinta metros por hora.

    O velho mexericou em sua bolsa e pegou um pedaço de pergaminho, o entregou ao garoto.

    - Esse papel sempre mostra a posição das pedras, seu elemento e quem está com elas. Por enquanto está em branco, mas amanhã de manhã com certeza elas vão achar um dono. Você vai pegar deles e trazê-las para mim. Entendeu?

    Mitsuyoshi cerrou os olhos.

    - Por que eu tenho que fazer isso por você?

    - Eu já disse, sou velho, estou enferrujado e não conheço as pessoas dessa cidade. E você as soltou. - falou, de novo com cara de raiva. - Acredito que ter pessoas controlando elementos com as mãos vai dar uma confusão. Aconselho que seja rápido. Me traga todos os colares de pedra em três dias.

    Mitsuyoshi cedeu.

    - Está bem, vou trazê-los. Mas por que três dias?

    - Por que eu quero, oras... - coçou sua longa barba e pensou melhor - Aliás, se me trouxer os trinta colares em três dias, eu te realizo um desejo.

    - Qualquer coisa?

    - Sim, o que quiser. - disse o velho sorridente.

    - Meu pulso está machucado, vai ser difícil conseguir em três dias.

    - Me deixe ver aqui. - ele disse. Mitsuyoshi o mostrou o pulso e ele o virou para o lugar certo de uma vez. O garoto gemeu e rapidamente deu as costas ao velho e retornou de onde viera.

    Mitsuyoshi voltou para a rua de terra, a noite já estava caída. Chegou em casa exausto e tomou banho. Quando olhou para o espelho, viu um garoto com longas madeixas de cabelo molhado e violetas, rosto magro. Atrás das fartas franjas, grandes orbes que estavam contornadas de marcas de quem havia chorado muito. Vestiu o pijama lentamente. Seu pulso ferido latejava insuportavelmente, dificultando o trabalho.

    Se jogou na cama e adormeceu sem se cobrir.


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