Carmesim

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    18
    Capítulos:

    Capítulo 14

    Item Raro

    Álcool, Estupro, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Mutilação, Nudez, Sexo, Violência

    Templo da Mestra Genkai

    - Botan-chan, espero que não se incomode.

    - Que isso, Yukina. Seus biscoitos sempre foram uma delicia.

    Peguei um da bandeja e mordi, mastigando e sentindo o sabor agridoce enquanto observava o céu. O crepúsculo coloria em tons alaranjados e rosa, salpicados de dourado enquanto ventava um tanto forte. Quase tinha me esquecido como era aqui.

    Se sentando ao lado sobre uma almofada, Yukina pôs a bandeja entre nós.

    - E como vai sua vida?

    - Hum... Já me adaptei.

    Pesquei outro biscoito, dando uma mordida ao lembrar o quanto tinha acontecido nesses poucos dias. Foram tão estranhos. Tive visitas tensas e inesperadas de Hiei, ele descobriu meu segredo e desde então carrego comigo uma jóia inestimável. Por ora, minha vida parecia estabilizada, já que... Até antes de morar com Hinageshi eu fingia estar tudo bem.

    Frágil ilusão despedaçada com o ataque daqueles monstros.

    Bem, o que importa agora é me sentir tranqüila pela primeira vez nas ultimas semanas. Embora a razão para essa paz também fosse a causa da agitação dentro do meu peito.

    Como acordei tarde hoje não fui trabalhar. Keiko veio ao templo Kasane preocupada se havia acontecido alguma coisa comigo e se acalmou ao ver que estava tudo bem. Apenas culpa da dorminhoca aqui, mas não havia como ter adormecido cedo. Fiquei horas, deitada na cama olhando pro teto e divagando sobre a constrangedora descoberta.

    Minha atração por Hiei.

    Quer dizer, “atrair” é uma expressão bem forte, E..ele só me faz sentir coisas diferentes. Quando está por perto meu coração acelera, se aquece ao ouvi-lo falar comigo como se... Não fosse preciso explicar muito. Ele compreende o que estou passando e seu comportamento comigo não está nada habitual. Agora pensando bem, Hiei me carregou nos braços duas vezes, sem que eu pedisse não tendo trabalho algum. Sem falar que... Puxa vida, a força dele é impressionante mesmo, meu peso parecia insignificante e foi tão bom estar assim... Aninhada...

    - Botan, está tudo bem?

    - Hã? O que? Ah, cl..claro que sim, por que pergunta?

    Voltei a mim, um tanto agitada ao fitar Yukina sentada ao meu lado. A koorime me olhava preocupada.

    - Seu rosto corou tão forte de repente. Achei que estivesse com febre.

    Prendi o fôlego, estática de vergonha. Eu... O que?! Meu rosto está o que? Espalmei minha bochecha, sentindo na palma minha pele mais quente que o normal e baixei o olhar, constrangida. Só fiquei mais corada e Yukina claro que percebeu.

    - Tem certeza de que está bem? Não parece normal.

    Ri sem graça encolhendo os ombros. Eu queria que o chão se abrisse e me tragasse. Estava pensando no seu irmão!

    - Não é nada, Yukina. Deve ser calor.

    Piscando confusa, as sobrancelhas esverdeadas franziram ao me olhar.

    - Calor?

    - É. Vou tomar um pouco d’água e já volto.

    Rápido me levantei da passarela e caminhei até a entrada, abrindo a porta de papel arroz numa tranqüilidade... sentindo o coração martelar em nervosismo. Fui cantarolando uma musica qualquer enquanto ia até a cozinha, só então expirei aliviada.

    Que vergonha, eu preciso ficar mais atenta. Sorte que Yukina é discreta e compreensiva. Se fosse Shizuru ou Keiko... coitada de mim. As duas não me deixariam em paz. Peguei um copo do armário e bebi um pouco de água como havia dito. Já mais calma procurei relaxar, fitando o vazio. Inconsciente, segurei a pérola por cima da blusa, manuseando.

    Hoje está tão tranqüilo, nada de incidentes na viagem do trem, nem na estação quando embarguei. A caminhada até essa montanha é extensa e nenhum yokai veio me atacar.

    Essa calma era um tanto... anormal.

    Um barulho, nítido veio do lado de fora me espantando. Prendi o fôlego, agarrando a pérola ao encarar pela janela. Ventava forte, agitando os galhos das arvores ao redor do templo começando a uivar. Anunciando chover e engoli em seco.

    O que foi isso? Eu não imaginei, certo? Deve ter sido um estalo na madeira, ou algo caiu na passarela. É, deve ser isso. No entanto, eu tinha que checar.

    Com cautela me aproximei deixando o copo em cima da pia, e respirei fundo.

    Não é nada Botan, você vai ver que não é nada demais e deixar essa paranóia de lado. E suspirando fundo, criei um pouco de coragem caminhando até a porta entreaberta. Hesitando por um instante, encaixei os dedos na trava e puxei rápido, dando um passo para fora.

    O vento me saldou jogando meus cabelos para trás, - mesmo presos num rabo de cavalo – e olhei para os lados. Nada num extremo, muito menos no outro. Soltei o ar que prendi. Estou mesmo ficando paranóica.

    - O que está fazendo?

    - Kyah!!!

    Deu um pulo, estremecendo inteira. Com a mão no peito virei o rosto na direção da voz encontrando uma figura de preto encostada na arvore. Meu coração só disparou mais ainda.

    Mesmo que estivesse irritada.

    - Hiei. Qualquer dia desses vou ter um ataque cardíaco por sua culpa.

    - Sei.

    Estreitando o olhar imperceptivelmente, o canto de sua boca ergueu de um jeito debochado. Foi como uma onda de calor me envolver inteira. Era exatamente assim que imaginei ontem... Seu olhar assim... Oh não, minha cabeça tá ficando oca. No que eu estava pensando mesmo?

    - Você realmente é uma criatura estranha.

    Pisquei atordoada. Meu fascínio despedaçou em cacos.

    - O que?

    Vendo que nem se indignaria de repetir, desci os três degraus da passarela até o gramado e caminhei até onde hiperventilando insultada.

    - Acha realmente isso de mim?

    - Você me encarou por longos minutos sem nada há dizer, de um modo abobalhado. - seu olhar transformou-se em deboche - Transição esquisita de humor irritadiço.

    Abri e fechei a boca sem palavras. O que vou dizer? Não dava pra me defender sem me envergonhar mais. Respirando fundo, incomodada, apertei os punhos nos quadris.

    - Dizer esse tipo de coisa é grosseira, sabia?

    - Humpf. Convenções de cortesia não servem para nada, mulher. Queria que eu mentisse?

    Me entalei calada, sem poder revidar mais uma vez. As camadas brilhantes que descobri ontem dos meus pensamentos por ele, desfizeram ao encarar uma dura verdade. Tanta indiferença, misturada com ceticismo e a superioridade de ser quem é, da realidade que o cerca. Ele viveu mais crueldade do que o eu. Não se iludia e por isso sentimentos mais ardorosos estavam foram de questão. Hiei é um cara inacessível mesmo para mim. Como pude ter chegado a me atrair?

    Ah, é porque ele foi o único a saber do que me aconteceu sem enlouquecer. Que balsamo. Dito isso, apenas poderia haver um motivo para sua presença.

    - Então... Veio aqui checar Yukina?

    - Como disse?

    Engoli em seco, um pouco nervosa. Acho que não foi bom ter abordado o assunto. Seu tom foi meio irritadiço e surpreso.

    - Bem, não é habito seu de vez em quando ver se está tudo bem com ela? Kurama me contou uma vez.

    Erguendo o olhar, vi que desviou os olhos para o vazio. Como se estivesse fitando a floresta. É... Devia ter ficado quieta, Hiei me dará um tratamento de silencio por me atrever. Minutos assim me deram mais certeza até que ele suspirou, cedendo a linha tensa dos seus ombros.

    - Ele não tinha que dizer nada.

    Mordi um sorriso. Uma bolha de empolgação inflava dentro de mim, mas tratei de controlar. Yukina era seu ponto fraco, mesmo não querendo ele transparece mais sentimentos em relação a ela. Também pudera, é sua irmã.

    Rindo constrangida, dei uns passos ao me aproximar.

    - Desculpa, sei que não devo me intrometer, mas não acha que já é hora para se revelar à ela? Dizer que é seu irmão.

    Voltando seus olhos para mim, Hiei me fitou com um ar insondável. Até sua fisionomia não se alterou. Não saberia dizer o que estaria pensando. Então para minha surpresa, ele se desencostou da arvore, caminhando até mim. Recuei sem querer. Ele... ele estava me deixando nervosa.

    - H..Hiei, olha...

    - O que você sabe?

    Pisquei aturdida.

    - Nani?

    - Sugere isso como se fosse simples.

    Mais um passo e minhas costas encontraram a balaustrada da passarela. Hiei continuou avançando metódico sem deixar de me fitar. Minha garganta secou, havia um brilho em seu olhar, diferente, e ele não parecia ter consciência disso. Engoli em seco, tentando manter a conversa.

    - Mas é simples. Basta tentar.

    Ele quase riu, parando bem perto de mim. Meu estômago se agitou, completando com o tremor nas pernas que, óbvio, ele notou. Se inclinando sobre mim, escorreguei um pouco na grama pela aura dominante que desprendia. No mesmo nível de olhar, fiquei presa pelo o seu intenso e penetrante que não me assustou, embora arrepiasse numa estranha sensação.

    - Você não me conhece, onna. Nem faz ideia do que se passa pela minha mente, neste exato momento.

    Meu sangue virou mercúrio. Pesado e quente me derretendo por dentro. Sussurrando desse jeito ameaçador, a respiração se chocava com a minha arfante, me atordoando de modo que não sabia explicar.

    - Por que está agindo assim?

    Balbuciei confusa e respirando fundo, seus olhos escureceram. Hiei travou a mandíbula se refreando do impulso que tomaria, dado a minha sorte, de me degolar por ter sido intrometida demais.

    - A jóia que carrega diz o que sou. Encare isso como resposta.

    Piscando, ele olhou para a direita se afastando um passo, sem aquela emoção intensa de antes. Ele parece de repente concentrado, em alerta.

    - O que foi?

    - Vá para dentro.

    Engoli em seco. Será? Olhei para na mesma direção e meu sangue gelou. Uma figura agachada num galho de arvore fora dos muros se voltava pra cá.

    - Não.

    - Entre, agora.

    O olhei e estava encarando o sujeito mesmo a essa distancia. Para mim era apenas um borrão, mas esses calafrios enregelando minha espinha não deixavam duvidas.

    - Mas a Yukina? E o Kuwabara? Vão estar em...

    - Não vieram por causa eles.

    Vieram? Então era mais de um? Estremecendo lancei mais um olhar ao redor, me sentindo acuada e resolvi obedecê-lo. Me virei para balaustrada de madeira às minhas costas e me ergui, subindo por ela e pulei na passarela entrando correndo na cozinha. Meu coração martelava, pulsando o sangue nos meus ouvidos ensurdecendo. Meu Deus, Meu Deus! Ele estava sozinho! Kuwabara saiu há meia hora comprar mantimentos na cidade ao pé dessa montanha.

    Parando perto do beiral da sala, suspirei fundo, procurando me acalmar. Está tudo bem. Hiei é um lutador incrível, ele já foi um assassino. Ficaria tudo bem. Se não, ele teria me mandando fugir com Yukina. Estamos seguras.

    Passei as mãos na blusa, ajeitando os amassados invisíveis e entrei na sala encontrando a koorime fechando as janelas. O vento tinha piorado, agitava os sinos na porta de entrada. Ela percebeu minha presença, pois olhou sobre o ombro num ar preocupado.

    - Botan-chan, já melhorou?

    Franzi a testa, confusa.

    - Já. Por que?

    Sorrindo gentil ela se aproximou calma, calma até demais.

    - Você demorou, achei que queria privacidade e pensar como fazia nas ultimas semanas.

    Suspirando, Yukina olhou para a porta com um vinco aflito na testa.

    - Acha que Kazuma vai demorar? Talvez a chuva o alcance no caminho.

    - Escuta, Yukina? Você não está sentindo nada?

    Tombando a cabeça para um lado ela me fitou confusa.

    - Sentindo? Como assim?

    Não soube o que responder. Ela não notava as ondas de youki nos cercando? Um estalo me veio e engoli a resposta. Ela não sentia as auras dos demônios, eles esconderam. Dentro dessa casa não era seguro de jeito nenhum. A peguei pela mão, vendo-a levantar as sobrancelhas pelo gesto e sorri para disfarçar.

    - Vamos até o templo? Quero aproveitar aquele banho que tomei naquele dia.

    - Ah, claro.

    Nem esperei ela responder direito, saí andando segurando sua mão até a porta lateral interligada com a passarela. Ainda estava destruída pelo ataque anterior, mas nem pensei nisso. Saltei para o gramado com ela, praticamente correndo. Estávamos perto, só mais alguns metros quando Yukina parou de andar.

    - Youkais.

    Olhei sobre o ombro assustada, encontrando um par de orbes carmesins também assustado me encarando. Antes que fizéssemos algo, alguma coisa foi atirada em grande velocidade se chocando uma estátua de pedra no gramado. Com a poeira subindo, vi vagamente uma cauda escamosa se erguendo.

    Não esperei ver o resto. Corri arrastando Yukina comigo até o templo, onde a barreira nos protegeria. A koorime subiu na calçada de pedra assim que soltei sua mão para subir também quando uma energia me repeliu. Fui jogada para trás, caindo estatelada na grama. Me ergui aos poucos ofegante encarando o templo sem entender.

    O que aconteceu? A.. A barreira me rejeitou? Mas por quê?

    - Botan-chan!!!

    Olhei para a Yukina e ela encarava o monstro que caiu nesse lugar. Já ia descer da passarela quando gritei.

    - Não!!! Fique aí, vou buscar ajudar!

    - Mas Botan-chan!!!

    A ignorando me levantei do chão e corri para longe da casa atravessando a lacuna na passarela destruída. O monstro ia me seguir, tinha certeza disso. Mal havia cruzado o gramado adiante quando um youkai diferente cruzou meu caminho. Ele estava com um manto pesado e o capuz cobria parcialmente seu rosto.

    - Você não vai fugir, miko.

    Estremeci ainda mais estranhando o título.

    - Miko?

    Sorrindo ele deu um passo e recuei outro arfando apavorada.

    - É um dos muitos nomes como é chamada. Eu prefiro esse. É... quase etéreo. Uma virgem entregue a monstros para nos servir.

    Erguendo mais o rosto, vi o brilho escarlate de seus olhos na sombra do capuz e empalideci. Ele saltou para mim, um borrão escuro e depois um peso se chocou comigo apertando principalmente na minha cintura. Não tive como reagir. Estava com as costas coladas nele e arquejei quando cheirou minha nuca. Ele arrancou o laço no meu cabelo, sussurrando ensandecido.

    - É tão doce e macia. Eu podia...

    De repente, se interrompeu berrando descontrolado. Antes que me largasse agarrei o punho de uma faca que sentia pressionando meu quadril e tirei do coldre, o cortando também. Nem olhei para trás, mesmo que continuasse gritando. Um cheiro forte subia no ar, chamuscado e gorduroso. Como se estivessem queimando algo. Tudo o que importava pra mim, era que não me perseguia. Chorando disparava para a floresta sentindo as primeiras gotas da chuva caindo. Numa passada tropecei, perdendo meu sapato e deixei pra trás entrando e me embrenhando nessa mata fechada. O escuro quase me engoliu, me deixando mais apavorada e parei de correr aos poucos, sentindo menos as folhas e galhos baterem em mim ao me arranharem, o musgo ficando menos escorregadio. Arquejando, parei perto de um tronco caído encarando horrorizada minha mão tremula. Ela estava coberta de um sangue verde. Ainda segurava a faca e a soltei cheia de aversão.

    - O que eu fiz? O que eu fiz? O que eu fiz?

    Levantando os olhos girei ao redor, observando apavorada as arvores e as folhagens ao redor delas. O que eu fiz? Não devia ter vindo pra cá. Essa floresta era tão perigosa quanto os youkais que queriam me machucar. Rápido, apanhei a faca da terra e caminhei de volta, tentando lembrar do caminho que fiz. A chuva engrossava piorando.

    - Tá tudo bem, Botan. Você consegue.

    Abracei a mim mesmo, procurando me acalmar. Havia desviado de uma teia de cipós quando um rosnando bestial me varreu de calafrios. Com a espinha gelada, olhei para o lado encarando três pares de luzes escarlates. Pelo som, pertencia somente a um monstro. Sem esperar corri, com todas as minhas forças ouvindo a fera atrás de mim. Senti como um vulto crescendo e me joguei para frente, evitando o bote do monstro. Mal me levantei e escorreguei caindo num barranco.

    Porem, enquanto rolava a terra e a lama sumiram e o vazio me engolia. Com o eco surdo e a ausência da chuva lembrei do que era isso enquanto caía em queda livre num clarão fumacento e esverdeado. Segundos depois minhas costas atingiram o chão e ... Terra seca? Dolorida e tonta, tossi erguendo a cabeça observando ao redor. Um vale estéreo, o ar carregado, denso de tão sufocante. Tremula olhei para cima confirmando o céu vermelho sangue com suas nuvens anis de tempestade.

    - Makai.

    Um trovão estourou reverberando até mim que quase não ouvi o zumbido. Alto acima de mim. Girei para trás me levantando desajeitada. Três youkais corpulentos, de pele cinzenta como ogros e chifres protuberantes na testa me olhavam com ar extasiado, as narinas infladas ao respirar. Somente o quarto atrás deles estava normal. Este sorria debochado pra mim.

    - Mas quem diria... um item raro rapazes


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