O Principado de Órion

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    Capítulo 17

    A Missão Classe S - Metsuryu e Serei Mahou II

    Álcool, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    Os trovões soaram estourando no céu nublado. Raios riscaram iluminando o cemitério escuro, mostrando em segundos as fileiras esparsas de lápides quebradas e tortas. O terreno em declive parecia ceder e a grama alta estava escorregadia pelo orvalho e umidade, no entanto, o rapaz que encarava o pedaço de pano tremulante pelo vento forte sentia-se alheio a tudo isso.

    Natsu estremecia, arfando com a sensação horrível que lhe apertava por dentro. O vento soprou mais forte, sacudindo seus cabelos no rosto enquanto balançava as abas soltas do seu colete. O pano se soltou da pedra esvoaçando e girando para ele. Ao passar perto do seu rosto agarrou antes que voasse para longe e ficou a fitar o vazio. Um gosto amargo lhe subindo pela garganta. Ele fez de novo. Deixou alguém sozinho num lugar com um monstro à solta. Arfando mais tremulo, sua mão agarrou com força o pano molhado de sangue. Se sentia tão... completamente... idiota.

    A loirinha não conseguia se defender sozinha. Ela... não pôde. 

    Levantou o rosto, observando atordoado e buscando em volta. Algum sinal do que aconteceu aqui. Foi quando notou três estacas da pequena cerca derrubadas. Não... Elas foram arrancadas. Caminhou até lá apressado, o vento uivando mais forte. Quando desviou de uma lapide seu pé afundou numa passada, quase se desequilibrando. Olhou para baixo e viu uma vala. Seguiu com o olhar o rastro e encontrou outro pedaço de pano tremulando. Preso num galho quebrado de uma arvore alta, seca e torta. O tronco retorcido e os galhos compridos sem uma folha. Correu até lá. Os trovões estourando junto aos raios, iluminando em segundos o cemitério. Como o primeiro que encontrou, o pedaço de pano se soltou do galho voando para longe. A sensação horrível que lhe sufocava aumentou. Ele nem precisava ver. Pelo cheiro no vento, o tecido também estava manchado de sangue.

    Fechou a mão em punho, cerrando os olhos enquanto arquejava. Esse monstro não a levou simplesmente. Ele.. ele a atacou. Engolindo em seco, imaginou as cenas. Lucy devia estar correndo para cá. O monstro rapidamente a alcançou e a jogou. Ela se chocou naquele galho e... se feriu. Caindo na grama abrindo aquela vala.

    Apertou os olhos encostando a testa no tronco, as rajadas de vento ficando mais fortes e o som de enxurrada ecoaram. Logo, gotas de chuva caíram pesadas, saturando seus cabelos e suas roupas. Em segundos estava encharcado. Mas não se importava, a culpa o estava corroendo. Pelas chaves que mantinha com ele sabia que a loirinha não possuía nenhum espírito tão rápido e forte. Nenhum que pudesse ter usado para se defender. Ele era mesmo um idiota. Não conseguia nem ao menos cuidar de alguém!

    Apertou ainda mais o pano que segurava e esmurrou o tronco, com toda força e raiva abrindo um rombo. O impacto da madeira estourando ecoou alto, junto com os estilhaços voando para todos os lados. O estrondo da árvore caindo estremeceu o solo, misturando-se com o ribombar dos trovões. O som reverberou dentro dele. Pôde sentir. Abriu os olhos, pouco se importando com a árvore que acabou de quebrar. Ela sentia medo disso.

    - Lucy...

    Engoliu em seco. Sentindo as gotas da chuva escorrerem por seu rosto. Seus cabelos. Ele ia acha-la. Nem que revirasse a floresta inteira, mas ia encontra-la e depois pediria desculpas.

    - Ahn!

    Arregalou os olhos e virou o rosto na direção. Levantando apressado da grama enlameada ao longe um homem de casaco seguia para a floresta. Ele olhava ao redor apreensivo e rápido puxou o casaco para cima da cabeça, correndo em direção às árvores. Estreitou os olhos, respirando fundo com a raiva que lhe subia.

    O maldito empregado.

    //////////////////////////////////////////////////////////////////////

    - Ei! Me sol..solta!

    Ela gritou se debatendo, estremecendo de terror. O Duhb apenas soltou aquele gemido sufocante e continuou correndo pelo túnel. Lucy estava enjoada e assustada. De uma hora para outra esse monstro esquelético parou de andar e depois saiu desembalado. Os sacolejos e a velocidade a deixaram tonta e aumentaram a dor que sentia na perna. Ela formigava e sangrava. Além do fato de estar suja de lama, o que aumentava seu incomodo. A única coisa que não a fazia entrar em desespero total era que ainda mantinha as chaves com ela.

    Enquanto andava pela rua tinha parado perto da igreja e resolveu colocar suas três chaves na pulseira que comprou. Seria um teste, só isso. Apenas queria achar um modo de usa-las quando precisasse. Havia acabado de criar um jeito, girando o pulso numa volta e meia e pegar uma chave, quando um arrepio enregelante varreu sua espinha. Mal olhou para trás e viu o monstro aparecendo de dentro da sombra de uma casa. Se desprendendo do chão e virando aqueles olhos vermelhos para ela. Estremeceu de pânico e correu para a igreja, sem prestar atenção em nada. Isso foi patético. O monstro não só a alcançou como a jogou para o alto. Só lembrava de ter acertado a perna num galho e depois cair na grama se arrastando. O atrito esfarrapando o vestido e a arranhando. Pela fisgada na têmpora ela deve ter tentado fugir e bateu a cabeça ou o monstro a jogou contra uma lápide. Não lembrava. Tudo o que entendia agora era que estava muito encrencada.

    De repente, o monstro se curvou. Estreitou os olhos e então ele saltou da abertura do túnel. O uivo do vento quase encobrindo seu grito. Tudo no seu estômago subiu e desceu enquanto o Duhb pairava no ar e então caiu em cima de uma passarela de pedra. Olhou em volta, escutando o som de enxurrada e borrifos de água ao redor. Eles estavam dentro de uma câmara da caverna. Acima aberturas no teto de pedra davam vazão para a enxurrada, a fazendo entender que estava chovendo. O monstro então voltou a correr na passarela larga até o outro lado. Ela podia ver de relance mais sombras se encarrapitando nas paredes da câmara. Os olhos vermelhos seguindo-os. Arfou descrente. Estremecendo ainda mais.

    O monstro entrou em outro túnel que era iluminado por tochas nas paredes cinzentas. Isso a fez estranhar. Mal cogitou o motivo das tochas ali e o Duhb parou derrapando. Girando o corpo no movimento. Agarrando-lhe para cintura, ele a tirou do ombro e jogou para baixo. Gritou enquanto caía no vazio, o buraco escuro a engolindo. Esperou se chocar no chão, se quebrando inteira com o impacto. No entanto, invés do choque com a pedra ela afundou num monte de palha, quase engolindo-a. Atordoada se endireitou se sentando e olhou para o alto, mas não conseguiu ver nada. Somente uma nesga de luz das chamas nas tochas. Gemeu agoniada. Como ia escalar aquele poço? Porque para todos os efeitos, ali era um poço. Piscou ofegando, numa tentativa de se acalmar. O ar úmido se prendia em seus pulmões, além do fundo do poço ser mais largo do que a entrada. Relanceou o olhar para frente e acima. O teto de pedra era baixo demais. O único lugar que havia claridade e altura suficiente para ficar de pé era onde estava. Agarrou as saias em nervosismo.

    O que ia fazer?

    De repente, vozes e pés se arrastaram. Virou o rosto prendendo o fôlego, ao mesmo tempo em que estreitava os olhos procurando enxergar.

    - Qu..quem está aí?

    Os murmúrios aumentaram e pôde entender o que diziam.

    - Mais outra?

    - Sim. Uma moça.

    - Pobre garota.

    Engoliu em seco. O amargo da bile lhe subindo pela garganta.

    - Er.. vocês são...

    - Aye.

    Arregalou os olhos, se virando para o lado oposto às das pessoas. Perto de sua mão a palha se mexia sacudindo. Como se uma coisa estivesse subindo do monte.

    - Todos foram pegos.

    Levantou a sobrancelha. Que vozinha era essa? A palha se mexeu mais e então duas orelhas peludas e felinas apareceram, seguidas da cabeça então para o corpinho miúdo do gato. Piscou com força encarando o bichano. Os olhos grandes e negros eram redondos e tristes. Os pelos azuis estavam bagunçados e a mancha branca na barriguinha, suja de poeira como a ponta de seu rabo, balançando de um lado para outro ansioso. O gato estremecia causando um sentimento terno nela, porem ele a encarava curioso.

    - Quem é você?

    - Lucy. Sou uma maga e vim ajudar com um amigo.

    O gatinho estremeceu mais, os olhos brilhando.

    - Ele foi pego também?

    Suspirou olhando para baixo.

    - Não. Natsu não ia deixar.

    O gatinho ficou quieto enquanto suspirava outra vez pensando em Natsu. Ele com certeza teria derrotado o monstro e não corrido como ela. Ouviu um movimento na palha e levantou o rosto. O gatinho estava em pé em sua frente, as patinhas cobrindo o focinho enquanto a encarava risonho.

    - Você gosssssssssssta dele.

    Se entalou. Um calor subiu do seu pescoço de repente e o gatinho vendo soltou um risinho. Isso a irritou além da vergonha.

    - Não é nada disso gato sarnento!

    - Aye.

    Gemeu desconfiada e sem graça. Ele estava brincando com ela.

    - Qual é o seu nome?

    - Happy.

    Até que combina. Observou vendo o ar jovial do gato. Então o bichano novamente colocou as patinhas no focinho.

    - Mas você gosssssssssssta dele, não é?

    - CALA A BOCA!

    Tacou um punhado de palha no gato enquanto seu rosto queimava de vergonha.

    //////////////////////////////////////////////////////////////////

    A floresta era extensa e fechada. Suas árvores enormes e negras possuíam muitos galhos e muitos deles se encontraram com os outros. Das árvores próximas e em redor. Natsu estava agachado num deles observando tudo do alto. O tempo inteiro se segurando para não fazer uma burrice. O empregado andava apressado, escorregando varias vezes na terra preta e molhada. Mais trovões estouraram e o covarde deu um pulo estremecendo. Isso o estava irritando. Há minutos seguia esse homem e ele continuava se embrenhando na floresta seguindo trilha alguma. Quando o sujeito escorregou subindo em um barranco sua paciência estourou. Se inclinou no galho e saltou, mergulhando entre os galhos. Esticou os braços e se agarrou um, jogando o corpo para frente, balançando e se soltando no alto. Girando o corpo desviou de outros galhos retorcidos e caiu inclinado num monte de terra. Sua mão no chão amortecendo a queda. Os cabelos caíram nos olhos, mas isso não era problema pra ele.

    Arfando de raiva correu até o homem que se levantava desajeitado, agarrando o chão inutilmente. Quando estava há poucos metros dele, o sujeito parou e então olhou para trás. Tarde demais. Arregalando os olhos, ele assistiu quando saltou e caiu em cima dele. Seu joelho o acertou nas costas, os gritos de espanto e terror ecoaram. Eles rolavam descendo o barranco e na queda o agarrou pelo maldito casaco e firmou o pé. Freando e girando atirou-o para longe e o sujeito soltou outro grito esganiçado, caindo estatelado na lama. Isso o irritou ainda mais. Se levantou e disparou até ele, ainda estirado no chão ao tossir engasgado. Pulou em cima dele novamente, acertando o cotovelo no queixo dele quando tentou se levantar e agarrou seu pulso, girando e torcendo enquanto jogava o empregado de cara na terra. Ele estremecia agoniado em dor.

    - Nã-nã-não! Meu braço!

    - Pare de gritar.

    Retorceu o pulso que segurava, sua outra mão agarrando e o empurrando pelo ombro contra o chão. O chiado foi mais alto. Arfando o homem cuspiu terra, virando o rosto para o lado tentando enxerga-lo.

    - Por favor, nã-não mate.

    Estreitou os olhos, arquejando de raiva.

    - Eu não vou fazer isso, imbecil.

    - Ent-tão o que vo-você quer?

    O homem estremecia, o medo exalava pungente dele. Desprezível. Torcendo ainda mais o pulso, ignorou o grito que o outro saltou. Apoiando um joelho nas costas dele pressionando, se inclinou ouvindo os ossos do braço do sujeito protestarem.

    - Preste atenção, só direi uma vez. Eu sei que você e seu patrão são responsáveis por esse monstro.

    O homem engasgou, em pânico.

    - Mas não fizemos por mal! O senhor Durke...

    - CALE A BOCA!

    Empurrou-o mais contra a terra. Rosnando de raiva. O empregado ganiu de medo esgotando sua escassa paciência. Estremecendo inclinou o rosto, virando de uma vez o pulso dele para cima. O homem gritou de dor.

    - Não me encha de desculpas. Eu só quero saber uma coisa. Onde é o covil desse monstro?

    O empregado começou a balbuciar. O rosto macilento estremecendo.

    - E-eu não posso dizer.

    Natsu soltou um pequeno rosnado. Jogou o homem no chão outra vez, quase quebrando o braço dele.

    - NÃO ESTOU PEDINDO, COVARDE!!! PARA ONDE ELE LEVA AS PESSOAS?

    Tossindo ele tentou encará-lo, genuinamente confuso.

    - Porque quer saber?

    - Grrrrr

    Levantou o punho que o segurava pelo ombro, explodindo em fogo. Socou a terra perto da cabeça dele. O buraco chamuscado e queimando.

    - P-po-por favor!

    Então de repente, ele pestanejou. Agitou desesperado, tentando se soltar dele. Natsu estreitou o olhar, confuso.

    - Meu amuleto! Eu...eu perdi meu amuleto!

    O que? Se inclinou mais.

    - Que droga é essa?

    O sujeito o ignorou. Ele estremecia mais forte, o tirando um pouco da raiva. Então lembrou. O objeto que ele segurava. O brilho anormal e então...

    - Não! Não pode ser! Ele tem que estar aqui em algum lugar!

    O puxou um pouco pela gola. Sua impaciência e confusão aumentando.

    - Que amuleto é esse?

    O homem arfou desesperado, o fazendo estranhar ainda mais. O medo que dele exalava aumentava rapidamente.

    - Você não entende. Sem isso, eles vão me achar!

    Franziu a testa. “Eles”?

    - Quem são...

    Passadas rápidas, desgovernadas. Natsu virou o rosto na direção e um vulto se atirava, a centímetros deles. Arregalou os olhos quando um peso bateu em si e garras cravaram em seu peito, rasgando e o atirando para longe. O empregado chiou de pânico e rolou se afastando. Ele engatinhava apalpando o chão com uma mão, desesperado. Ainda no ar, Natsu girou o corpo e caiu inclinado no chão. Seu corpo virando para o lado com a força, os pés abrindo duas valas se arrastando. Seu peito ardia e empapava num liquido morno. Arquejou irritado piscando com força pela chuva. Sangue. Distante em sua frente, o vulto negro estava curvado. Os olhos vermelhos como faróis o analisando. De repente, ouviu um arquejo eufórico e encarou atravessado. O empregado de joelhos segurava um pedaço de ferro no alto. Parecia uma cruz, só que um laço formava sua outra ponta. Objeto brilhou e incrédulo viu o sujeito sumir. Desaparecer.

    - Hahnnn.

    Droga!

    Se atirou para o alto. O Duhb caiu um instante depois no lugar onde estava. As garras rasgando a terra. Estreitou os olhos. Amaldiçoando essa chuva. Não conseguia sentir o cheiro dele. E ainda essa coisa tinha intenção de mata-lo. Se curvou batendo o pé num tronco. Tomando impulso e se atirou, seus braços jogados para trás pegando fogo. As chamas viraram um clarão na floresta escura. O monstro negro e esquelético arreganhou os dentes finos e brancos para ele e deu um salto, se atirando também. Quase riu. Ao ficarem frente a frente, apagou as chamas e o monstro arquejou. Jogando a perna para o lado, a mesma pegou fogo ao girar e acertou o monstro. Ossos quebrando e voou para baixo. O gemido sufocante ecoou agoniado. Ele se chocou com uma arvore. O estrondo quebrando o tronco, estilhaços de madeira espalhando por todos os lados. Natsu caiu no chão, girando e encarando curioso. O monstro estremecia esganiçando. Caído no chão e se contorcendo. O golpe que havia dado ainda queimava e então teve uma ideia. Correu até ele. Ao saltar de uma arvore caída, suas palmas pegaram fogo. O clarão iluminando a escuridão mais uma vez.

    Ao chegar perto das raízes do tronco, saltou. As chamas em suas mãos aumentaram e já iria atacar quando um zunido veio a sua esquerda. Arquejou e se dobrou para o lado esquivando. Sentindo um algo passar a centímetros da sua cabeça. Um choque ao longe ecoou e então girou o corpo ainda no ar, juntando as mãos. As chamas inflamaram.

    - KARYÛ NO... GOUEN!

    Jogando os braços, atirou a imensa bola de fogo. Ela acertou o monstro caído explodindo, derrubando as árvores por perto. No entanto, ele girou para o lado de onde veio o ataque. Estreitando os olhos na chuva, enquanto o monstro esganiçava de dor, o cheiro de carne queimada impregnando o ar. Arquejou olhando para os lados. Escutando os trovões estourando.

    Os gritos medonhos pararam e explodiu os punhos em chamas outra vez. Então essa coisa não suporta fogo. Isso era bom. No entanto... Quem atirou aquilo nele? De repente, os pelos em nuca se eriçaram. Arquejou incrédulo e se esquivou para trás. Tarde demais. Um peso caiu no alto de suas costas. Batendo e o jogando no chão arrastando. Uma dor lacerante se entranhou num dos seus ombros e agarrou a terra molhada, se empurrando e virando ao pegar fogo. O gemido sufocante saiu esganiçado e se jogou para trás. Parado perto de um barranco arquejava incrédulo. Em sua frente um par de olhos vermelhos o encarava. O monstro arreganhou os dentes para ele se eriçando. Enquanto o encarava, de repente, garras o seguraram pela perna. Baixou o rosto espantado e segundos depois puxaram rápido e com força o atirando para longe.

    O uivo do vento tapou seus ouvidos. Mal saiu do choque e um estrondo de pedra se misturou com os trovões. Uma imensa dor explodiu pelo seu corpo todo. Principalmente na cabeça. Atordoado ouviu pedras se erodindo, ao mesmo tempo em que pendia para frente, caindo no vazio até encontrar o chão. Folhas e terra o melavam, pedras esmigalhadas caíam e rolavam em sua volta. Arfando notou que o jogaram contra uma rocha. E um lado do seu crânio ardia com a água da chuva. Junto à um liquido quente melando seu cabelo.

    Três vultos pousaram ao seu redor. Chiando e gemendo. Tentou a todo custo se manter acordado, mas a dor... o deixava tonto demais. Mais um trovão estourou e fechou os olhos, apagando.

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    O som de borrifos o despertou um pouco do torpor. Suas pestanas tremiam e sua cabeça latejava demais, principalmente atrás da orelha... Estava tendo um sonho esquisito. Ele e uma garota discutiam. Ela como sempre amarrava seu cabelo na nuca, puxando as mechas loiras e presas sobre um ombro. Ele gostava e detestava. Gostava porque assim mostrava o arco do pescoço dela, o penteado desleixado a deixando mais atraente, mas detestava por que o cheiro dela se espalhava ao redor. Isso o deixava possesso. Ele não queria que ninguém sentisse o cheiro gostoso da garota. Era morno e aconchegante. Convidativo para qualquer um. Ela reclamava das atitudes dele. Que estava sendo imbecil. Nem se importou. Simplesmente enlaçou com o braço sua cintura e puxou-a para si. Colando-a em seu corpo ao aperta-la sentiu seu coração disparado e sussurrou, a centímetros de seus lábios ao encara-los.

    - Você é minha loirinha. O único Matador de dragão que te merece sou eu.

    Arquejou sem fôlego. Acordando atordoado e estranhou o lugar ao seu redor. Por um momento tudo o que via era paredes cinzentas e úmidas e depois o barulho abafado. O ar estagnado. Estreitou o olhar, sentindo seus pulsos doerem. Estava acorrentado e pelo o que percebia em ferros chumbados na pedra. Deu uma olhada em volta, cauteloso. Pelo espaço redondo e limitado se encontrava numa cela. O cheiro aqui dentro era de putrefação. Mirou na parede a sua esquerda. Encontrando ossos e roupas amontoadas. Fazia no mínimo uns sete anos que eles morreram e pelo odor, não foi por fome ou sede.

    Encarou o piso úmido. Pensando... Essa cela lembrava as prisões em masmorras. Aqui seria um castelo? Não. Pela proximidade da vila devia estar nos subsolos de alguma ruína. De uma fortaleza abandonada há séculos. No entanto, invés de continuar pensando na sua atual situação desastrosa lembrava do sonho. Ele... realmente disse aquilo? E porque disse? Reivindicar a loirinha como se fosse algo seu... Isso soava territorial demais. E por um motivo tão trivial. O cheiro dela. Estreitou os olhos, seu corpo um pouco inclinado para frente e suspirando... Como queria sentir um pouco agora. O perfume natural dela o relaxava tanto! Faria sua cabeça parar de doer...

    Pestanejou. Mais o que foi que disse?!

    De repente, ouviu passadas. Desajeitadas. Continuou como estava. Em pé com o corpo pendendo de cabeça baixa. Ele ouviu o monstro entrar. Não havia celas ou barras de ferro e o gemido sufocante finalmente trouxe um cheiro. Seu corpo ficou tenso. Era o mesmo que exalava nesse buraco. Sangue e carne. Esse monstro era um carniçal. Escutou mais uns três conjuntos de passos e suspirou. Não... esses monstros eram. Quando sair daqui com a loirinha faria aquele janota sarcástico gritar de dor.

    Os passos desajeitados e os bafos fétidos chegaram mais perto. Eles sibilavam, pareciam conversar. Quando um deles esticou a mão, as garras se aproximando do seu pescoço, puxou os braços de uma vez. Arrebentando as correntes. Os monstros saltaram para trás gemendo de susto. Natsu não perdeu tempo. Curvado se atirou para o meio de cela e explodiu em fogo. As chamas o cobrindo e tomando todo esse lugar. Gritos esganiçados mostraram que deu certo. Saltou para o arco de pedra. Deixando as chamas que queimaram com ardor. Ele entrou pelo que parecia um túnel de pedra. Correu para esquerda. Seguindo o som de água. No caminho, enquanto disparava ele viu apesar da semi escuridão celas e mais celas. Dessa vez com barras selando a saída. Os vultos dentro deles correram para as grades, procurando ver quem era. Simplesmente, passou por eles. Tomando o cuidado de lembrar do caminho. Teria primeiro que destruir esses monstros. Depois libertaria as pessoas.

    Chegou a um intrincado de túneis. Parou derrapando por um momento. Fechou os olhos. Era uma chance remota, mas ela devia ter passado por aqui. O ar úmido soprou levemente e virou o rosto na direção. Inspirando. No segundo sopro conseguiu sentir. Abriu os olhos encarando o terceiro túnel. Gardênia. Correu até ele, seus passos ecoando nas pedras. Isso era mal, mas inevitável. Iria atrapalhar um pouco, mas não ia impedir. Quase riu sentindo uma descarga de adrenalina percorre-lo. Finalmente entraria numa boa luta.

    //////////////////////////////////////////////////////////////

    Lucy olhava irritada para o gato. Esperando mais uma de suas gracinhas quando escutou. Uma explosão. Ela reverberou pelas paredes sacudindo. Arregalou os olhos arfando. Já havia sentido uma vez esses tremores. Levantou da palha jogando o pescoço para trás, enquanto outra explosão estourou. Pela abertura no alto conseguia ver clarões escarlates. Sorriu extasiada.

    - Natsu.

    - Que cara é essa Lucy? Tá assustadora.

    Apertou os olhos virando o rosto para o gatinho. Esse bichano ria debochado dela outra vez.

    - Escute aqui gato. – as paredes estremeceram mais uma vez e involuntariamente sorriu – É o meu amigo chegando.

    As pessoas no poço gemeram assustadas e Lucy voltou o rosto para cima. Esperando. De repente, uma rajada de chamas passou pela abertura. O calor tão forte que podia sentir aqui embaixo. O gato, não, Happy falou perto do seu ouvido.

    - O que foi isso?

    - Eu falei. É o mago que veio comigo. Natsu deve ter encontrado esse lugar.

    Se virou para o lado e arregalou os olhos. Happy pairava no ar, em suas costas asas brancas batiam freneticamente.

    - Você pode voar!

    - Aye.

    O gato a encarou. Mas mesmo assim...

    - Se voa porque ainda tá aqui?

    As orelhas abaixaram e Lucy se arrependeu.

    - Eu não podia ir muito longe. Eles me pegavam.

    Seu coração apertou. E pelo visto não simplesmente o jogavam aqui de volta.

    - LUCY!!!!

    Arfou virando o rosto para cima. Ele... ele disse seu nome? Como para se confirmar viu no alto alguém se debruçar na abertura. Estava quase escuro, mas seu coração acelerou.

    - NATSU!

    - COMO FOI PARAR AÍ?

    Piscou um pouco amuada. Pensou que a chamaria pelo nome de novo.

    - ME JOGARAM!

    - É seu amigo?

    O tom do gato parecia impressionado. Apenas acenou concordando.

    - Tudo bem. Vou te levar até ele, Lucy.

    - O que?

    Sentiu algo se enroscando em sua cintura e pestanejou, encarando abaixo. Happy tinha acabado de enrolar seu rabo nela. Então foi puxada rápido para cima. Soltou um gritinho. Tanto de surpresa como da perna machucada. Havia um pedaço de madeira cravado e segurando a dor, arrancou com a ajuda do gato. Tinha rasgado uma parte limpa da bainha da saia, estancando o sangue numa atadura improvisada. No entanto... O gato subia veloz e podia facilmente carrega-la. Quando o vento da subida de repente parou, o rabo enrolado em sua cintura a soltou de uma vez. Chiou de susto, pensando que iria cair no poço, mas mãos a seguraram e puxaram. Levantou a cabeça, pisando tonta na pedra. Natsu a encarava tão de perto. O peito dele arfava e tinha fuligem na bochecha e nos braços junto com ... Arregalou os olhos.

    - Sangue! Você se machucou?

    Quase rindo, ele a soltou. A encarava desdenhoso.

    - Isso não é nada.

    Então olhou para o gato azul e alado. O bichano o fitava admirado, parecia que queria dizer alguma coisa, mas não conseguia. Apenas balbuciava. Natsu sorriu para ele.

    - Pode me fazer um favor?

    Happy acenou mudo. O mago apenas o olhou risonho.

    - Tire as pessoas que estão nesse poço e diga que fiquem aqui. É muito importante.

    - Aye, sir.

    Lucy assistia estranhando. Só faltava o gato bater continência para Natsu. O bichano voou para dentro do poço ao mesmo tempo em que o mago se virou para ela. A expressão determinada.

    - Vamos.

    - Hum.

    Correram pelo túnel, ela ignorando as dores na perna direita. Todas as paredes estavam chamuscadas. Pelo visto ele tinha aberto um caminho. Quando chegaram ao arco de pedra, pararam derrapando. A grande passarela estava deserta. Eles olharam ao redor cautelosos entrando devagar na câmara de pedra. A enxurrada da chuva torrencial ainda caía na abertura. Encarava as paredes. Lembrando do que viu antes.

    - Natsu... aqui tinha...

    Engoliu em seco. Droga! Agora não hora pra isso!

    - Eu sei. Pelas minhas contas devem ser mais de uma dezena.

    Arregalou os olhos, prendendo o fôlego.

    - Te-tem certeza?

    - Unhum.

    Entrando na passarela. Ele observava embaixo. Caminhou um pouco atrás dele, olhando em volta enquanto arrepios variam sua espinha. Aqui era uma imensa câmara de pedra. A passarela por onde andavam era a mais próxima do alto e mais larga. Encarou lá embaixo. Um lago cobria todo o fundo da câmara e a enxurrada caindo aumentava cada vez mais seu volume.

    - Loirinha.

    Piscou levantando o olhar. Natsu ainda andava a frente, mas não a encarava. Além disso, a chamou como antes. Suspirou desanimada.

    - O que?

    Engolindo em seco ele continuou andando devagar, observando o lago e outras passarelas intrincadas lá embaixo.

    - Eu...

    Prendeu o fôlego. O tom dele era contido e hesitante. Mal acreditava no que pensou.

    - ... eu queria que soubes...

    Um estrondo. Vindo de cima. Ela parou levantando o rosto e arquejou. Estalactites caíam do teto da câmara, junto meia dúzia de Duhbs, chiando e arreganhando as bocas. Eles esticavam os braços, suas garras distendidas. O medo a paralisou e sentiu garras apertando sua perna machucada. Um segundo depois foi puxada para o lado, despencando em queda livre. Gritou em pânico e girou no ar, uma passarela de pedra crescia em sua frente. Antes que se chocasse, bateu a cintura em elos de ferros, balançando para frente e rápido se agarrou. Arquejou olhando para os lados e notou que se travava de uma corrente. Presa nas paredes atravessando a câmara.

    Estremecendo encarou lá embaixo, vendo o quanto estava distante do chão. Ouviu um rosnado e uma explosão. Levantou o rosto. Natsu estava pairando no ar. Seus braços envoltos por labaredas de fogo. Ele girou o corpo e as chicoteou. Os monstros que corriam até ele foram engolidos. Os gritos e pedras voando junto com as chamas para todos os lados. Apertou os dentes e engoliu em seco. Agarrou a corrente com força e soltou o corpo. Ao ficar pendurada no movimento jogou o corpo para trás se balançando. Queria chegar até a passarela em frente a dele. Quando a corrente a balançou, de repente um Duhb pousou na passarela. Arfou arregalando os olhos, a corrente a jogando para trás. Ao ir novamente para frente, o monstro arreganhou os dentes se curvando e saltou para ela. Soltou a corrente e se inclinou para trás. Sentiu o monstro zunindo ao passar por ela. Com as pernas esticadas sentiu quando caiu em cima da passarela se arrastando. Rolou na pedra. Parando apoiada num joelho e freando.

    Ofegando suas pernas ardiam mais e sua palma direita também.

    - HAHNNN!!!!

    Levantou os olhos, seus cabelos quase os encobrindo. O monstro havia escalado num pilar da passarela acima. Tomando impulso e se atirou até ela. Arquejou e se levantou, virando para o lado oposto e correu. Escutou um baque sonoro e a pedra onde corria estremeceu. Que espírito ia usar? Taurus era forte, mas lento em comparação com o monstro. Aquarius nem podia. Não havia água. Decidindo parou derrapando e girando, seus pés descalços freando e segurou uma chave recuando o braço. Respirou fundo assistindo o Duhb correr desembalado até ela quando um ar quente soprou.

    - KARYÛ NO... HOUKOÔ!!!

    Droga! Se jogou para trás enquanto uma rajada de chamas escarlates passaram. Atingindo o Duhb que gritou esganiçado. Ouviu um corpo cair na água e se levantou tremendo, indo até a beirada da passarela. Chamas queimavam no monstro que boiava e afundava. Torrado e morto.

    - CUIDADO!!!

    Levantou o rosto. Outro Duhb se atirava do alto. Assustada ela viu mais saltarem do teto da câmara. Eles estavam encarrapitados nas estalactites e eram muitos. Olhos vermelhos cobriam todo o teto. Arfando se levantou e correu. Seu fôlego queimavam, suas costelas doendo de esforço para respirar. Maldito vestido. O monstro pousou na passarela, sentiu o tremor mais não parou de correr. Uma ideia louca passou pela sua cabeça e não pensando duas vezes, correu para a beirada e se jogou. O vento uivando tapou seus ouvidos enquanto encarava mais correntes atravessadas e outra passarela. Queria cair no lago. Assim podia usar seu espírito mais forte. Já estava faltando pouco e ouviu uma explosão estrondosa. A onda de impacto a jogou para as correntes. Ficando suspensa como numa rede de ferro.

    Gritou de susto e levantou o rosto. Poeira e pedras caindo por todos os lados. Arregalou os olhos. A passarela secundária estava destruída. Olhou atordoava em volta. Onde estava Natsu?

    - LUCY!!!!!

    Arfou com o chamado, virando o rosto para o alto e atrás. O mago estava com o colete em trapos, saltando no ar e atirava alguma coisa para ela. Estreitou os olhos e um brilho dourado reluziu nas chamas das explosões. As chaves! O que fez em seguida foi pura loucura. Agarrou as correntes onde estava e se jogou para o alto, esticando um braço. A argola das chaves passou perto dos seus dedos e rápido se esticou enfiando o braço no anel de metal. Caiu em cima de uma pedra. Rolando e apoiou numa mão se arrastando e arfando. Se levantou no movimento. Seu corpo virando ao parar. Estava em outra passarela. Uma que ficava debaixo da principal.

    Enquanto os gemidos e gritos esganiçados ecoavam suspirou fundo se concentrando. A sua frente os monstros caíam nas correntes e nas passarelas acima. Debaixo de seus pés um padrão mágico dourado surgiu brilhando e girando. Levantou o braço e girou o pulso com a argola das chaves. Mechas de seus cabelos esvoaçaram com a força do feitiço e recitou, todas as nove chaves brilhando em ouro e esquentando.

    - Eu sou aquela que abre o caminho para o reino dos espíritos! Respondam ao meu chamado e atravessem o portão!

    Parou de girar a argola e agarrou uma chave. A sua frente os monstros saltavam para ela. Pensando que era fraca. Pela primeira vez se irritou com isso. Aumentando sua magia, a passarela estremecendo.

    - Abra! Portão do Palácio das Escalas, LIBRA!!!

    Balançou o braço num arco. Outro padrão mágico girando. O ranger de uma imensa porta ecoou se abrindo e num brilho dourado tremulante uma mulher de pele acobreada surgiu. Seus cabelos negros estavam presos. Seus braços esticados para os lados com pequenas balanças douradas suspensas em seus dedos. Fosse por que estava com raiva ou porque fazia o contrato com nove espíritos de uma única vez, Libra apenas assentiu para ela e moveu os braços, pendendo para cima e abaixo. Uma força gravitacional despencou nas passarelas e nas correntes. Destruindo e quebrando enquanto os monstros gritavam chocados. Viu um movimento a sua direita e girou a argola, seus dedos passavam leves pelas chaves até agarrar uma. O espírito de Libra tremulando e desaparecendo.

    - Abra! Portão do Palácio de Escorpião, SCORPIO!!!

    Balançou o braço num arco e outro ranger de porta ecoou. O padrão dourado onde pisava não parava de girar. O espírito estelar de um homem moreno e calças vermelhas tremulou em sua frente. A cauda de metal de um escorpião era fixada em suas costas. Ele se inclinou para frente, areia girando ao seu redor.

    - Sand Burst!!!

    Uma rajada de areia atingiu um pilar. Exatamente onde três Duhbs corriam escalados. Estreitou o olhar balançando a chave e Scorpio seguiu seu movimento, arrastando a tempestade de areia em todos os pilares. Acima dela, escutou.

    - METSURYÛ ÔGI...

    Levantou o rosto. Natsu estava outra vez no ar. Suas mãos explodiam em fogo ao se curvar. Uma figura em chamas escarlates e douradas tomando a forma de uma fênix em seu redor. Ela viu mais dezenas desses monstros correrem desembestados pelo o que restou da passarela secundária e sentiu o espírito de Scorpio ir embora como Libra. Correu na passarela, saindo de perto da área de impacto. Ela vagamente percebeu uma aura dourada em seu redor e pensou em mais uma vez. Parou derrapando e girando o corpo, seu pulso com a argola das chaves brilhantes e tremulantes. Agarrou uma e de imediato o padrão sob seus pés expandiu. Quase engasgou com o repuxou da magia e estreitou os olhos.

    - Abra! Portão do Palácio de Leão! LEO!!!

    Acima dela, enquanto um ranger de uma porta ecoava pela câmara escutou Natsu gritar.

    - GUREN BAKURAIJIN!!!!

    Tudo o que pôde perceber foram duas coisas. A primeira, que uma rajada furiosa em chamas se retorceu estourando e explodindo tudo o que estava em seu caminho. A segunda, uma luz dourada na figura de um leão rugir e destruir todos os monstros encarrapitados nos pilares e correntes que subiam. O estrondo dos golpes estremeceu as paredes de toda a câmara de pedra. A enxurrada caindo com mais força com os abalos e pedras enormes caindo. Lucy abaixou o braço, ofegando exausta. Ela viu a figura de um rapaz bem vestido num terno negro e seu cabelo desgrenhado como uma juba de leão. Porem ele tremulou sumindo como os outros. Teve a vaga impressão que havia se virado sorrindo para ela.

    Vai entender. De qualquer modo, se sentia satisfeita. Mesmo que as dores pelo seu corpo latejarem, principalmente em sua perna direita, não importava. Ela conseguiu lutar! Perdeu o medo e agiu!

    No entanto, seu rosto se acalorava de um jeito estranho. A roupa parecia mais apertada do que antes e ainda se sentia estremecer por dentro. Vagamente escutou um pequeno baque surdo. Metros a sua frente. Levantou o olhar. Vendo a figura de Natsu borrada numa confusão de negro e cinza. Mas não conseguiu ver mais nada. O calor aumentou e suas costelas doíam. Revirando os olhos sentiu-se cair para trás, escutando um grito chocado.

    - LUCY!!!!

    ///////////////////////////////////////////////////////////////////

    Estremeceu assustado. A loirinha simplesmente caiu da passarela. A queda era de mínimo 10 metros de altura! Arquejando correu até onde ela estava e se atirou, mergulhando no ar atrás dela. O vestido azul esvoaçava, os cabelos cobriram o rosto dela, mas arfou mais assustado. Ela não se mexia, nem gritava. Rangendo os dentes esticou os braços a frente, cortando mais o ar. Na queda viu a argola sair do pulso dela e rápido se esticou e agarrou. A loirinha caiu no lago afundando e espalhando água. Segundos depois ele mergulhou também. Eles afundaram na água escura. Iluminada pelas chamas do feitiço de minutos atrás. Ele havia afundado mais que ela, rápido nadou até a garota que lentamente caía mais para o fundo. As pedras ao redor deles também mergulhando para o vazio. Agarrou-a pela cintura, enrolando um braço nela e nadou para superfície. Arquejando num fôlego tomando ar. Enquanto boiavam percebeu uma coisa mais inquietante. Ela estava gelada. Arfando mais nadou até a margem. Precisava tira-la logo da água. Em minutos alcançou e passou o outro braço atrás das pernas dela, erguendo no colo enquanto se levantava. A água batendo em suas pernas ao andar se arrastando até subirem nas pedras e areia negra. Sentou com ela em seu colo, tirando rápido as mechas do seu rosto.

    - Ei! Você está bem?

    Estreitou o olhar esperando, mas nem se mexia. Arfou mais agoniado, estremecendo. Uma sensação horrível lhe tomava, tirando seu fôlego. Então ele notou. Deixando a argola das chaves de lado, levantou a mão tremulo e colocou acima do rosto dela. Arregalou os olhos aos poucos, o choque aumentando. Ela... não respirava.

    Um terrível dejavu passava por sua mente. Sangue, a palidez anormal da garota em seus braços e ela... não respirava mais. Um pânico subia lentamente, sua mente quase paralisando enquanto outro som ele escutava. Um fraco batimento abafado. Piscou sacudiu a cabeça e baixou o olhar. O batimento vinha de dentro dela, dentro do seu peito. Viu o corpete e entendeu. Deitando-a nas pernas segurou a peça com as duas mãos e rasgou no decote. No mesmo instante, ela tossiu engasgada. Água expelindo de sua boca e a virou de lado, puxando com a outra mão a maldita roupa, jogando para longe.

    Ela tossiu por um longo minuto e arquejando em busca de ar. Virou-a outra vez, ajeitando no colo. Piscando lentamente, ela estremeceu forte o encarando com o olhar desfocado. Ele apenas arfava olhando-a de volta. Sorrindo fracamente, ela estremeceu ainda mais.

    - Eu disse... que conseguiria.

    - O que?

    Estreitou o olhar. Arfando, ela fechou os olhos.

    - Ser uma maga... estelar.

    Então desfaleceu outra vez. O corpo gelado amolecendo do desmaio. Quase riu fechando os olhos, a puxando para perto apoiou a testa na dela. Apertando a garota contra si gentilmente.

    - Loirinha idiota...

    ... Não me assuste mais desse jeito.

    A aninhou mais, roçando o rosto no dela. Parando ao escutar a respiração fraca em seu ouvido. Nunca esse som foi tão reconfortante. O alivio se espalhava dentro dele, junto com o cheiro impregnando ao seu redor. Não sabia quanto tempo ficaram assim. Ela já estava se aquecendo por ficar abraçada nele, no entanto, aquele alivio se transformou em algo mais. Em algo entorpecente e fazia estremecer. Inconsciente de como agia, roçava o rosto no dela outra vez. Inspirando o cheiro morno e calmante. Como gostava. Era igual a sua pele, tão macia... Num roçar seu rosto se inclinou mais e seus lábios se tocaram de leve. Estremeceu mais, o torpor o tomando. Roçou os lábios outra vez nos dela e arfou com a sensação que o apossou.

    Ânsia. Uma forte e inesperada ânsia.

    Vagamente lembrava que ela estava desmaiada. E que isso seria errado. Mas o outro pensamento foi mais forte.

    Apenas essa vez.

    E gemendo, colou os lábios nos dela. Encaixando. Estremeceu por dentro e deslizou os lábios num beijo lento, deslizando a língua sinuosamente para dentro da boca dela, contornando os lábios rosados numa lenta caricia e curvou mais a cabeça, sua mão deslizando na nuca dela a puxando para mais perto. Seus dedos se afundando nos cabelos loiros e macios. Como toda ela parecia. Regojizando a apertou contra si e arfou sedento. Passando a língua na dela, sugando lentamente e soltando ao continuar tomando os lábios macios.

    Pouco importava se tirava o escasso ar dela, afinal ela mal respirava. Mas apenas dessa vez ele faria o que queria.

    Então continuou beijando-a enquanto essa chuva não parava.


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