O Principado de Órion

Tempo estimado de leitura: 8 horas

    18
    Capítulos:

    Capítulo 16

    A Missão Classe S - Sequestro

    Álcool, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    - Podem sentar. Logo o senhor Durke irá recebe-los.

    A empregada se curvou numa leve mesura e saiu da sala. Natsu olhava ao redor impressionado. Reparando o quanto o lugar era requintado. Paredes polidas de madeira. Sofás e divãs com estofados vermelhos. Havia alguns quadros da família Durke enfeitando as paredes sem contar no tapete esverdeado enorme que cobria o chão. Lucy e ele haviam acordado cedo e depois de tomar o café da manhã foram até lá. A mansão ficava um pouco afastada da vila, tiveram que tomar um caminho entre os pomares. A pé. Diga-se de passagem.

    Enquanto analisava a sala de estar escutou um gemido e olhou na direção. Lucy ajeitava o corpete anil na cintura. O vestido azul celeste até que lhe caía bem. A saia rodada chegando aos tornozelos e a blusa clara de mangas pequenas davam-lhe um ar de camponesa. Exceto a careta que fazia o tempo inteiro. Ela se retorceu outra vez tentando afrouxar o corpete.

    - Argh! Eu detesto essas roupas.

    Quase riu.

    - Eu não diria isso, a moça te emprestou de bom...

    Ela o encarou com raiva. Parecia que soltavam faíscas dos seus olhos.

    - Cale essa boca, Dragneel! Ou vou te enforcar com esse vestido!

    Apertou os lábios, a deixando mais irada. Fazia um esforço tremendo pra não rir. Por causa da chuva e porque não teve a ideia de estender as roupas num canto para secarem, Lucy se viu sem ter o que vestir outra vez e a servente foi bondosa o bastante pra lhe emprestar o vestido. Pena que era um número menor que a loirinha. Ela suspirava demais.

    - Então agora vai me chamar assim.

    Resolveu provocar e como esperava ela se emburrou, virando o rosto para encarar algo qualquer na parede, as bochechas tinham manchas vermelhas de raiva.

    - Escuta aqui, eu não dormi direito a noite toda. Por causa de ontem estou cheia de hematomas e ainda fui obrigada a usar essa coisa! Que machuca só pra afinar a cintura! Eu odeio espartilhos!

    Puxou a barra da peça exasperada batendo o pé. Quase riu disso.

    - É um corpete.

    - Tanto faz!

    Lucy revidou possessa. O cabelo amarrado e puxado sobre o ombro bagunçando.

    Soltou um risinho, lembrando daquele dia quando o ameaçou com um soco. A loirinha sempre foi simpática, tímida e as vezes irritada. Mas essa raiva... Invés de também irrita-lo causava outro efeito. Parou para pensar enquanto a via suspirar por causa da roupa apertada e entendeu. Essa raiva dela... o atiçava. Certo que se divertia com essa explosão, mas depois do sonho... Bem, seria mentira se dissesse que não se imaginou repetindo e repetindo o que fizera, sendo mais carinhoso ao toca-la e ela devolvendo fogosa.

    Antes que se refreasse fitou o colo o arfante dela. O decote em “U” dando-lhe uma bela visão dos seios apertados. Suspirou sentindo um calor subir e lhe descer. Podia afrouxar os laços se ela quisesse. Lucy ia gostar por respirar direito e ele mais que feliz descansaria a cabeça ali, fazendo carinho enquanto lhe levantava as saias...

    Pestanejou. Acordando da fantasia.

    Inferno! Se virou saindo de perto da garota, fingindo que olhava para a janela. Ela não ia gostar de jeito nenhum. Afrouxar o corpete, que tipo de favor é esse? A loirinha não era uma vadia. Só mesmo sua cabeça burra para achar que não haveria mal nenhum. Suspirou cansado. A noite em claro fazendo sua cabeça doer. Por causa do sonho não conseguiu dormir e depois de se encontrarem na cozinha, mesmo que nada demais tenha acontecido, descobriu que tinha um fetiche.

    Ver uma garota usando apenas suas blusas.

    Rolou na cama inquieto até o dia amanhecer.

    Nesse instante um pigarro interrompeu o silencio. Giraram na direção e viram junto a porta um homem de meia idade, cabelos castanhos e casaco longo. As botas chegavam aos joelhos e a calça escura junto da blusa verde de babados lhe acrescentavam um ar aristocrático. Para completar uma gravata bufante e vermelha estava em seu pescoço.

    Janota. Foi tudo o que pensou do homem quando este caminhou até uma poltrona perto deles, acenando para um sofá.

    - Sentem-se.

    Lucy se acomodou com todo cuidado, enquanto ele se sentou ao seu lado encarando o homem à sua frente. O sorriso fácil dele o deixava desconfiado.

    - Bem... à que devo o prazer da visita?

    Levantou a sobrancelha. Esse sujeito é um idiota?

    - Viemos por causa do Duhb senhor Durke.  No pedido que entregou na guilda não havia nada a respeito disso.

    Lucy se pronunciou, disfarçando bem em suspiros seu desconforto. O cidadão-chefe se recostou na poltrona os observando calmo.

    - Bem senhorita, acho que deve concordar. Dizer que um monstro de contos infantis sequestra cidadãos de suas casas soa uma loucura.

    - O que é exatamente essa coisa?

    Perguntou ganhando sua atenção. O homem esticou a mão para uma mesa alta ao lado da poltrona, em cima dela uma caixinha. O anel de sinete no polegar luziu enquanto Edgar Durke pegou um charuto. Ao acende-lo com um fosforo o encarou com paciência.

    - Meu jovem, o que geralmente os pais dizem quando seus filhos são malcriados?

    Franziu as sobrancelhas.

    - Ah...

    - Comporte-se bem ou o Bicho-Papão vem te pegar.

    Se virou no sofá. Lucy engolia em seco e o rubor que antes tomava seu rosto sumiu dando lugar para a palidez. Ela estava... Com medo?! Ainda surpreso ouviu um risinho e olhou para o dono. Durke soltava uma baforada se divertindo do pavor da loirinha. Uma raiva borbulhou dentro dele.

    - Então a senhorita já sabe.

    - Sabe do que?

    Seu tom foi seco e isso incomodou o anfitrião. Conseguiu perceber.

    - O Duhb é um tipo de bicho-papão, Natsu. Por isso que ele apareceu debaixo da minha cama.

    A olhou de soslaio, ela não disse isso quando conversaram na cozinha. Lucy encarava suas mãos cruzadas no colo. Porem engolia em seco, ficando mais pálida.

    - Então veja bem rapaz. Sleep Hollow é uma vila fundada por imigrantes dos reinos leste-centrais. Junto com a agricultura os fundadores trouxeram essas histórias de fantasmas. Tudo ia bem. Havia até festivais de colheita e o Duhb era uma das nossas atrações, porem... No ultimo festival há sete anos três crianças desapareceram de seus quartos e as casas estavam devidamente trancadas.

    Natsu estranhou o relato.

    - A dona da estalagem nos disse que há dez anos a vila era movimentada pelos viajantes.

    Durke quase riu. O som lhe soando de escarnio.

    - Sim. Mas nossa vila parou de ser visitada nesse meio tempo. Culpa do progresso e a ferrovia. Por três anos o comercio foi definhando, nossas macieiras atacadas por pragas. Um grande festival era nossa saída, mas não aconteceu como esperávamos.

    - Hum.

    Nesse instante, as portas se abriram e uma empregada trazia uma bandeja de chá e biscoitos. Ela pôs na mesinha de centro e depois saiu sem dizer nada.

    - Aceitam?

    - Eu vou querer o chá.

    Lucy se serviu sorrindo um pouco, mas pela mão que segurava a xícara estava tremendo. Isso o deixava intrigado, mas também lhe causava um mal estar. Não estava gostando de vê-la assim. Frágil.

    - E você rapaz?

    Piscou saindo do devaneio e encarou o homem. Ele sorria simpático e sinceramente, estava detestando.

    - Com que frequência são os ataques?

    Durke pestanejou, logo sorrindo em seguida.

    - Ataques? Acho que não entendeu. As pessoas são...

    - ... ontem quando chegamos esse monstro atacou nossa carruagem. Como senão quisesse estranhos aqui. O condutor e o cavalo sumiram.

    - Bem...

    - E minha parceira quase foi morta ontem.

    Ouviu um engasgo ao seu lado, mas continuou olhando o janota. Algo nele alertava seu instinto, dizendo que esse homem escondia algo. Batendo as cinzas num pote de cristal, Durke suspirou dramático.

    - Sinto muitíssimo pelo incomodo. Um dos meus homens estava lá e me contou como lidaram com esse monstro. Infelizmente mais alguém foi levado.

    Lucy tossiu mais um pouco e se agitou no sofá. Pelo visto ainda surpresa do que falou.

    - Por isso viemos até aqui. Magdalena disse que esse... que esse monstro leva adultos também e arrasta para a floresta aqui perto. Vocês devem ter ido atrás dele várias vezes.

    O homem suspirou.

    - Sim e não encontramos nada. Nem um rastro. Eu mesmo montei vários grupos de busca com meus homens e ainda sim...

    Deu os ombros. Natsu estreitou o olhar.

    - Então nesses anos todos não acharam o covil desse monstro.

    Durke o encarou por míseros segundos e empalideceu rapidamente. Eu sabia.

    - Não, infelizmente.

    - Bem senhor. Nós vamos pegar o Duhb e se possível trazer as pessoas de volta.

    O tom de Lucy foi corajoso e Natsu de repente teve uma ideia. Se levantou do sofá logo acompanhado da loirinha.

    /////////////////////////////////////////////////////////////

    Horas depois

    Ele estava estranho.

    Lucy piscou um pouco enquanto caminhava entre as estantes poeirentas. Depois que saíram da mansão seguiram direto para a estalagem. Natsu não lhe dirigiu uma palavra sequer. Mal entraram na casa e ele sumiu no movimento do salão, a deixando sozinha. Ficou um pouco amuada com isso, porem notou algo mais sério. Nervosa, percebeu que estava se acostumando com sua presença. De estar ao seu lado o tempo todo. Inquieta com isso, seguiu direto para o quarto que dividia com a servente, que alias a olhava o tempo todo com um sorrisinho debochado.

    Que ódio. O vestido foi uma vingança. Ela percebeu quando foi almoçar. Agora só não sabia se era por dormirem no mesmo quarto ou se pela mentira que contou. Afinal, todos a viram se pendurar, tremendo de medo no braço de Natsu e Magdalena gritou sobre bons costumes e que rapazes não devem dividir o quarto com moças solteiras. Ah, que isso. Ela estava morrendo de medo e além do mais, ele não tentaria nada com ela. Na verdade... (seu rosto esquentou enquanto olhava para os objetos nas prateleiras) A única vez que Natsu realmente se mostrou carinhoso foi quando se conheceram. Inconscientemente levou a mão ao rosto. A palma dele era tão aconchegante e quente na sua bochecha... O sorriso aliviado e feliz ao dizer seu nome.

    Suspirou chateada abaixando a mão.

    Mas não era com ela que ele falava. Era com sua ancestral. Aquela inveja que sentiu no trem enquanto viajavam voltou, ainda mais forte quando lembrou da conversa que tiveram de madrugada. Natsu gostava muito dela, o tom dele ao falar da garota demostrou isso. Seu coração agitado com os pensamentos se apertou um pouco. Ele era apaixonado por ela. Não, lembrou da pintura e suspirou chateada. Eles eram apaixonados um pelo outro. Como todo casal de namorados sonhava em ser. Natsu disse que a viu morrer e... enquanto a confundia com ela, chorou angustiado. Lembrando. Seu peito ficou mais apertado. Agora entendia melhor a raiva dele quando descobriu seu cheiro. Tão diferente do dela.

    Era uma lembrança constante da garota que amava e perdeu.

    Espere aí.

    Amava? E se for isso porque então a chamou pra formar equipe? Se o incomodava simplesmente por se parecer com ela, porque fez isso? Sacudiu a cabeça. Droga! Não precisava ficar pensando nessas coisas. Por isso evitava divagar. Era uma tortura simplesmente por não saber. Ou... suspirou enquanto se afastava. Se sentia mal porque sabia dos sentimentos dele em relação à ela. Desprezo e indiferença. Soltou mais um suspiro (fazia muito por causa da maldita roupa) Sua ancestral era bonita, determinada e forte. Abrir quatro portões... Como ela conseguia isso?! E ainda os mais fortes! Natsu disse que não tinha problema. Puxa, e ele esperava que ela abrisse um atrás do outro. Até que os espíritos que ele escolheu não gastavam tanto para invocar. Mas eram espíritos estelares do zodíaco e isso era grande coisa. Bom, com certeza a Lucy dava conta do recado. Pensou irônica.

    Depois que estendeu suas roupas seguiu até o armazém da vila. Ficava quase ao fim da rua secundária. Notou essa manhã ao irem para a mansão dos Durke ao pé da colina. Realmente era um lugar pacato e pequeno, no entanto, esse ar severo que pairava estava lhe dando mal estar. A filha da cozinheira. Ellen. Foi cordial o bastante para lhe mostrarem o caminho. Dizendo que era fácil se perder entre os pomares.

    Porem... Caminhou mais um pouco, entrando em outro vão. A conversa esta manhã não lhe animou em nada. Pior, minguou sua determinação enquanto aquele senhor debochado confirmava suas suspeitas. O monstro que sequestrava as pessoas era um Bicho-Papão ou um Duhb. Riu sozinha, engraçado que apenas falando soa uma besteira, ou como o próprio senhor disse, uma maluquice. Mas ver e ser atacada pelo o mesmo era bem diferente.

    Até porque, o monstro era mais assustador do que pensou. Rápido, olhos vermelhos e garras. Não contou à Natsu, mas suas costas doíam do golpe e dos arranhões. Milagre não ter sangrado. Parou diante de uma caixinha de vidro. Nela, varias joias baratas enchiam o fundo. Remexeu nelas pensativa.

    No caminho pra estalagem Natsu estava bastante pensativo. Quando puxou assunto ele nem se incomodou em olha-la. O que será que estava planejando? Ainda remexendo encontrou três argolas no fundo. As pegou experimentando-as nos pulsos. Duas delas ficaram largas demais, porem a ultima ficou perfeita. Estreita mas ainda solta. Foi em direção ao balcão onde um senhor de cabelo grisalho lia aborto um livreto.

    - Quanto custa?

    Ele deu uma espiada meio contrariada e suspirou.

    - 100 jewels

    Arregalou os olhos

    - O que?!

    - 100 jewels, menina. Vai levar ou não?

    Se entalou indignada.

    - Esse preço é um pouco alto.

    O velho ergueu o olhar sardônico do livreto, dando um sorrisinho debochado.

    - Pode ser. Mas é a única loja de magia na Vila.

    Estreitou o olhar. Ladrão!

    - E que tal se fosse 80 jewels?

    - Não.

    Encarou as paginas amareladas outra vez. Droga!

    - Então 85?

    - Não.

    Suspirou irritada, apertando sua bolsinha com o dinheiro.

    - 90 jewels, hum?

    - 100 jewels e não se fala mais nisso.

    Velho muquirana!

    - Tudo bem.

    Tirou o dinheiro colocando no balcão. Nesse instante ele realmente deu um sorriso genuíno. Era mesmo um oportunista.

    - Fez uma boa compra senhorita.

    Estreitou o olhar. Ah, com certeza.

    Sem lhe responder deu meia volta e caminhou em direção à saída. Antes que puxasse a porta escutou.

    - Vocês deviam ir embora.

    - O que?!

    Se virou piscando confusa. O senhor não tinha mais o sorriso e o ar sardônico. Com o livreto fechado e no balcão, ele a encarava sério. Tão penetrante que lhe deu um calafrio

    - Você e aquele rapaz. Devem ir logo embora daqui.

    Lucy sorriu sem graça, tentando afastar a sensação de incomodo

    - Por que diz isso? Ainda não resolvemos o...

    - O problema desta vila moça não são os sequestros e sim o que acontece com aqueles que tentam ajudar.

    Engoliu em seco. O terror involuntário varrendo sua espinha.

    - C.co..como assim?

    Se inclinando no balcão, à luz difusa das velas, o rosto do senhor ficou sombrio com as sombras.

    - O monstro os atacou na estalagem, não foi? – esperou uma confirmação e ela assentiu, tremula – O Duhb não invadiu o lugar para pegar a criança. Ele fez isso por vocês.

    Arregalou os olhos. Suspirando cansado o senhor se endireitou e pegou o livreto, folheando-a enquanto se endireitava no banco. Lucy agarrou a maçaneta e escapuliu dali. Seu coração disparava pelo aviso do velho.

    //////////////////////////////////////////////////////////////////

    Mais... que droga! Como aquele sujeito some assim? No ar? Natsu cruzava o salão desviando das mesas e das pessoas. A essa altura abarrotada com o inicio do jantar (além da bebida). Estava irado com o que houve mais cedo.

    Durke havia dito na conversa que um dos seus empregados estava na estalagem. Portanto, não faria sentido ele ter ficado surpreso quando foram até sua casa. Estava desconfiado. Edgar Durke não parecia com um homem responsável por uma vila. Era mais um arrogante senhor de terras, onde seu dinheiro o fazia ter poder. Quando voltaram de sua mansão seguiram direto para cá e Natsu sentiu o cheiro desse homem. Era parecido com o cheiro da casa do patrão.

    Não podia perder tempo e nem se explicou com a loirinha. Seguiu o cheiro até encontrar o sujeito nos fundos da estalagem e depois até a mansão dos Durke. Ele sequer entrou na ala dos empregados. Ficou na varanda, num ponto escuro perto de um carvalho e conversou com alguém. Natsu estava escondido entre os galhos, esperando (algo que detestava, mas aprendeu a fazer) e escutou toda a conversa:

    Flashback

    - Durke-sama, eles estão quase...

    - Não me venha com desculpas. Apenas faça o seu trabalho. Aquele mago não acreditou como os outros.

    - Senhor, a carruagem deles foi atacada no caminho para cá e ainda a moça quase foi morta ontem!

    - Eu sei disso, inútil! – suspiro preocupado – ainda bem que mais um foi levado. Tudo seria diferente se fizesse como eu te pedi!

    A sombra do homem se encolheu e pôde sentir cheiro de medo. O mais intrigante, era que o cheiro vinha dos dois. Durke se recompôs e suspirou

    - Continue como antes. Não deixe que os vê. Espero que dessa vez esses magos façam seu trabalho.

    O janota entrou na mansão e o homem foi embora. Bem devagar saiu do seu esconderijo, saltando dos galhos da arvore, caindo sem fazer barulho e foi atrás. Ele estava quase alcançando o empregado medroso (pretendia ter uma conversinha com ele) quando o homem enfiou a mão no casaco e pegou um objeto de lá. O mesmo brilhou na sua palma e então o homem continuou caminhando, entrando na vila. Correu até ele, porem quando dobrou uma esquina.... Simplesmente sumiu.

    Inferno!

    Sentou numa cadeira, caindo pesado. A única pista sumiu. Agora tinha que esperar outro sequestro acontecer. Nesse instante uma caneca foi posta na sua mesa. Levantou o olhar, encontrando os olhos azuis e cabelos castanhos. A servente.

    - Como foi seu dia, senhor?

    A voz se arrastou sedutora. Franziu a testa se ajeitando na cadeira. Impressão ou ela se curvava de proposito? Para que olhasse seu decote?

    - Nada demais, porque?

    Piscando com seu tom indiferente ela se endireitou porem não saiu de perto. O cheiro dela era floral e com almíscar. Escondeu um sorriso. Agora entendendo as atitudes dela.

    - Bom, o senhor e sua amiga foram à mansão dos Durke. Já devem saber do nosso problema

    - Sim.

    Piscou olhando para o vazio. Percebendo que isso irritou a moça. Estranho, agora não sentia nenhuma atração, principalmente por saber que não era uma donzela. Quase riu em pensamento. Moças como ela buscavam uma única coisa. Conquistar um homem usando seus dotes na cama. Assim podiam casar e sair dessa vida. Podia ser que Daisy odiasse viver aqui e não tiraria sua razão, a vila era macabra com esse monstro. Mas ele... não se sentia tentado. Nem um pouco. Uma noite com ela resolveria seu “problema” e ele nem precisaria se preocupar com as consequências. Nulas, para deixar claro. No entanto, não sentia nada e olha que ela praticamente se debruçava nele tagarelando.

    Do que estava falando mesmo? Perdeu a maior parte da conversa.

    - ... sua amiga ainda não apareceu para jantar. Seria bom se ela...

    Pestanejou se virando. Quase enfiou o rosto nos seios da garota e se inclinou para longe, irritado. Daisy percebeu e se afastou.

    - Desculpe, eu...

    - O que disse?

    Daisy franziu o cenho confusa.

    - Como assim?

    Suspirou se irritando.

    - Acabou de dizer que Lucy não apareceu ainda.

    - Ah... bem. Ela esteve aqui mais cedo, porem saiu à tarde.

    Sentiu uma inquietação. Sem dizer nada levantou da cadeira e saiu dali atravessando o salão até a escadaria. Ela não podia estar lá fora, podia? Afinal já estava anoitecendo e a casas seriam trancadas. Caminhou inquieto no corredor, seguindo o cheiro dela até o quarto. O rastro era fraco e sinceramente estava deixando-o nervoso. Quando chegou ao ultimo andar, correu até a única porta no corredor e bateu. Ela tinha que estar aqui, não é? No entanto, não ouviu nada. Nem um barulho. Bateu outra vez, seu nervoso aumentando.

    - Lucy. Sou eu.

    Nada. Arfou agoniado. A chamou pelo nome! E ela nem se mexeu. Se for uma brincadeira... Perdendo a paciência se afastou um pouco e deu um chute no trinco da porta, arrombando.

    - Ei, loirinha! Não me ouviu te cham...

    Parou arregalando os olhos. O quarto estava arrumado. As duas camas postas e a mochila dela no chão. Porem... Não tinha ninguém aqui.

    Arfou agoniado e saiu correndo. Alguma coisa aconteceu! Desceu as lances de escadas saltando e agarrando o corrimão ao pular para outro corredor. Ao cair curvado respirou fundo voltando a correr. Era um idiota. Porque a deixou sozinha? Lucy não voltou pra estalagem desde que saiu! Correu desesperado chegando ao ultimo corredor e disparou por ele, saindo naquele lance de escadas no salão do primeiro andar. Os homens se afastaram de um pulo quando atravessou correndo. Mas não se importou. No salão onde ficavam as mesas eles o xingaram enquanto chegava ao pequeno hall. As portas novas estavam sendo fechadas e rápido atravessou o beiral entrando na varanda. Ninguém o parou. Devem ter o achado um louco. Mas pouco se importava.

    As portas foram trancadas e logo mais as janelas. Correu para a rua tentando encontrar no meio dessa agonia o cheiro dela. Não seria difícil, a vila era pequena. O vento soprava forte, sinal de que outra chuva estava chegando e se apressou mais. Logo a noite caiu e as ruas ficaram desertas. Natsu tentava se acalmar. Se desconcentrasse podia passar despercebido o rastro. De repente, sentiu cheiro de gardênia, junto com um odor acre, ferroso. Arfou entrando sem querer em pânico. Ele conhece esse tipo de cheiro, o sentiu muitas vezes em batalhas. Dobrou uma esquina, perto da igreja abandonada. Correu até ela, tomando impulso e pulou no portão enferrujado. Escalando rápido e depois pulando no terreno.

    O cheiro ficava mais e mais forte. O vento trazendo até ele.

    Por favor!

    Deu a volta no prédio entrando no cemitério. As lápides gastas e quebradas, junto da grama úmida dificultaram sua correria, mas não parou. De repente, uma cor azul, tremulante chamou sua atenção. Derrapou na grama e virou para direita. Ofegando correu até a lápide e estremeceu com o que viu.

    Um pedaço de pano. Azul-celeste igual à saia do vestido dela e... estava manchado de sangue.

    /////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

    Lucy gemeu atordoada. Estava balançando de um lado pro outro e sua cabeça doía, latejando. Piscou em dificuldade, saindo do torpor e então um arrepio enregelante desceu por sua espinha. Engoliu em seco. Escutando as passadas desajeitadas, ignorando a fisgada de dor na perna direita. Estava de cabeça para baixo, atravessada num ombro magro e ossudo. Seus cabelos estavam soltos e cobria seu rosto, mas conseguia ver o piso de pedra. Pelo eco deviam estar numa caverna fria e úmida. Engoliu em seco, sentindo um terror se apossar enquanto tentava ficar calma.

    Quando saiu do armazém, seguindo para estalagem... O Duhb a pegou.


    Somente usuários cadastrados podem comentar! Clique aqui para cadastrar-se agora mesmo!