Carmesim

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    18
    Capítulos:

    Capítulo 12

    Pretendida

    Álcool, Estupro, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Mutilação, Nudez, Sexo, Violência

    No restaurante dos Yukimura, uma nova integrante no corpo dos funcionários se apresentou. O casal, dono do estabelecimento recebeu bem a moça de cabelos azulados. Ela estava um pouco pálida, mas tinha um ar leve e alegre nela. Principalmente em seu olhar, o que logo a filha do casal percebeu.

    BOTAN POV

     Meu primeiro dia de trabalho. Estou tão animada. Vestida numa calça preta e uma blusa branca, meu uniforme se completa com um avental e um bloquinho de anotações. Hoje eu atenderia os clientes, pra aprender o ritmo e os pedidos. Keiko me olhava de vez em quando. Tinha um quê intrigado nela, mas dei os ombros.

    A manhã se passou num borrão que quando dei por mim estávamos em horário do almoço. Tão movimentado. O restaurante ficou cheio. Nem percebi o tempo passar. Keiko também veio atender a clientela. Não estava dando conta sozinha.

    - Botan. Tudo bem por aí?

    Me virei um pouquinho e sorri. Tinha acabado de entregar a conta para um casal.

    - Claro. Não é muito difícil.

    Keiko sorriu e encolhi os ombros. Me sentia tão... Não sei, mais feliz. Aproveitando que o movimento deu uma pausa, escapuli pro banheiro e fechei a porta. Aqui é bem seguro. Esperei a manhã toda por isso. Me encostei na porta e puxei o cordão prateado escondido na gola do meu uniforme. Assim que o pingente incomum ficou amostra o segurei na palma, suspirando ao olhá-lo.

    “- A pedra Hirui tem um poder estranho. Eu costumava ficar olhando para ela por muito tempo. Trazia uma sensação de paz.”

    Sem querer suspirei outra vez. É verdade. Esse tom azul real, cintilante hipnotiza me fazendo querer ficar olhando mais e mais tempo para ela. As pérolas de lágrimas são joias raríssimas, principalmente essa que Hiei me emprestou.

    Ainda não acredito nisso. Ontem foi um momento que rezei para nunca chegar. Eu nunca conversei realmente com alguém sobre o que aconteceu. Hinageshi e Shizuru evitam falar comigo. Koenma até tentou, queria saber quem foi que me atacou. Quando e onde exatamente aconteceu. Nas primeiras perguntas entrei num estado catatônico e deve ser por isso que as meninas não me questionam.

    - Mas ontem...

    Hiei foi muito discreto, até na escolha das palavras. Remexi a pérola, fazendo-a girar suave na minha palma, lembrando do jeito como ele abordou o assunto comigo. Até chorei, mas nem reclamou. Não consigo evitar sorrir. Achei que era insensível, mas na verdade ele estava sendo gentil. Do seu próprio jeito, claro.

    Isso foi bem incomum. Franzi a testa, confusa.

    Como será que Hiei descobriu? Alguém contou pra ele, só podia ser. Ele mora lá. Mas pelas as conversas que ouvi escondido (o senhor Koenma não falava comigo) pouca gente sabia, dentre elas a pessoa que me encontrou quase morta. Por algum motivo que não sei mantiveram segredo, então acho que Hiei fez alguém falar. Não deve ter sido agradável.

    Entretanto, esse calor estranho no meu peito ficava mais e mais presente. De um jeito diferente. Era bom... Eu não tinha percebido que precisava tanto falar com alguém, com ele. E muito menos que Hiei teria paciência comigo, principalmente quando me flagrou sentada e debruçada nele enquanto dormia. De repente, meu rosto ficou quente. A cena daquele instante me matando de vergonha. Ele me deixou dormir no seu colo. Quer dizer, não foi exatamente no seu colo. Me aninhei nele como se estivesse morrendo de frio e Hiei nem me abraçou... Mas daí me abraçar já ficaria estranho! Droga.

    A verdade?

    Eu tenho cem por cento de certeza que ele me ouviu falar dormindo. E isso me deixa com mais vergonha. Toda vez que tenho os pesadelos, não paro de dizer seu nome. Hiei devia ter entendido o por quê? Não, acho que não. Afinal, ninguém além de mim sabe daquele horror. É surreal e ainda verdade. Não acredito em como estou inteira agora.

    Mas... olhando a pérola, vendo o azul brilhar suave é como se todas essas preocupações sumissem e apenas existisse essa calma. O efeito de apaziguar o que nos atormenta. Esse é o poder misterioso que Hiei mencionou ao me emprestar a jóia. Somente as hiruisekis feitas das lágrimas de uma koorime ao dar à luz são assim. Por isso o meu choque ontem. Hiei deixar comigo a única lembrança de sua mãe, pra me ajudar a superar meus medos...

    - É como se não fosse ele.

    Suspirei mais profundo. Foi tão importante pra mim.

    De repente me veio uma lembrança, me deixando bem vermelha.

    De manhã cedo, antes de realmente clarear eu tive um pensamento engraçado. Meu colchão era tão quentinho e se movia. Meu cérebro lerdo despertou o suficiente pra notar que o colchão tinha braços, que me sustentavam contra um peitoral e me carregavam até a minha cama de verdade.

    Achei que sorriu, cínico como sempre ao soltar meus dedos da sua camisa.

    Por isso que não paro de olhar a perola. Era uma prova que a noite de ontem foi real.

    - Botan!

    Ai, meu Deus.

    Rápido escondi a corrente e a perola dentro da blusa e saiu do banheiro. Mal caminhei uns passos e Keiko me abordou, com as mãos nos quadris.

    - Onde você estava?

    Ri sem graça.

    - Só fui lavar as mãos. O que foi?

    Ela estreitou o olhar, nada convencida.

    - Só vim te avisar sobre o horário de descanso. Pode aproveitar pra comer alguma coisa. Ou pode vir comigo no meu quarto.

    - Como assim?

    Pisquei confusa. Ela devolveu cúmplice, pegando minha mão.

    - Não é nada demais. Papo de mulher.

    - Mas..

    - Deixa disso Botan. Cinco minutinhos e você já volta.

    Ela nem me esperou terminar. Me arrastou até a escada que levava ao segundo andar, subindo apressada. Por um lado eu estava nervosa, por outro completamente confusa. Sobre o que ela queria falar?

    BOTAN POF

    HIEI POV

    Descuidada.

    Essa garota não tinha nenhuma noção de risco. Em pé num galho de uma árvore, observava-a conversar com a mulher de Yusuke num quarto. A janela do cômodo era ampla o suficiente para ver o interior mesmo que eu esteja do outro lado da rua e pela conversa da outra, a onna ficava mais desconfortável.

    Por um momento tive vontade de saber. Mas deixei como está. Estava ocupado com outra coisa. Contrariado me encostei no tronco, esperando o próximo youkai chegar perto daqui atraído pelo cheiro. Desde ontem a noite, vários apareceram aos arredores do templo. As barreiras não os deixaram entrar e pela manhã tive que dar um fim neles, no entanto...

    Essa garota tinha que sair de lá?!

    O rastro ficou tão forte por onde passava. Me manteve ocupado a manhã toda. Me livrar de lixos por causa da falta de conhecimento de perigo dessa tola me irritava.

    - Mulher estúpida.

    - Algum problema Hiei?

    Pestanejei de susto, mas só um segundo. Reconheci a voz da pessoa e por isso nem desviei o olhar da janela.

    - Pare de esconder sua aura e surgir atrás das pessoas.

    Kurama quase riu se aproximando mais da árvore. Ele era um dos poucos que conseguia me encontrar quando tinha vontade. Isso me fez pensar. O que será que queria?

    - O que esta fazendo?

    Perguntando aparentemente sem querer nada. Típico. Estreitei o olhar vendo a onna ficar rubra de vergonha à uma pergunta da outra humana. Ela era tão fácil de se ler.

    - Nada importante.

    - Hum... Acabei de voltar do Mundo Espiritual. Koenma já se recuperou da maioria dos ferimentos. Soube do ataque que ele sofreu nesses dias imagino.

    Ri por dentro ao lembrar.

    - Assuntos do Reikai não me interessam.

    - É mesmo?

    Kurama seguiu meu olhar, pude ver pela visão periférica, mas já era tarde demais. A onna aparecia claramente pela vidraça da casa acima do restaurante conversando com a outra humana. O sorriso bobo presente.

    - É hoje que Botan começa a trabalhar, não é? Ela está mais parecendo consiga mesma. Quase tinha me esquecido como era seu sorriso.

    Fiquei tenso num instante, subitamente incomodado com o comentário. Não, ele não sente nada. Se fosse já teria percebido algum comportamento anormal por parte dele. De qualquer modo, ainda estava irritado. Foi tão casual, parecia era um teste. Não, era um teste. Ele apenas estava me sondando, procurando se reagiria de alguma maneira. Essa raposa era muito esperta.

    - Hiei.

    - O que foi?

    - Aconteceu alguma coisa quando Botan foi lhe visitar em Makai?

    Contra vontade imagens do que vi e os gritos me distraíram por uns segundos. Podia até sentir meu olhar ficando opaco.

    - Não, por quê?

    Continuei do mesmo jeito. Observando desinteressado as duas pela janela. Agora elas riam. Fêmeas, vai entendê-las.

    - Ela está muito estranha. Tentei conversar, mas Botan se fecha e não diz nada.

    - Se a garota não quer falar, não insista.

    O trauma já fez um estrago suficiente. Kurama me encarou estranhando e notei tarde demais o porque. Droga.

    - Quem diria que defenderia Botan em alguma coisa.

    - Não distorça as coisas. Existem assuntos que não se tem vontade de falar, apenas isso.

    - Hum... – hesitou de propósito – Então essa é a razão para vigiá-la nesses dias?

    Maldita raposa intrometida.

    Pela primeira vez na conversa, desviei o olhar da janela para o “humano” em pé perto da árvore. Kurama me encarava sério, a expressão neutra e analítica. Ele queria confirmar alguma coisa. Era nítido nesse falso ar indiferente. Como fiquei calado ele assumiu um tom paciente, me irritando ainda mais.

    - Sabe muito bem que não pode deixar essa situação se estender assim.

    - Não sei do que está falando.

    - Seu comportamento diz o contrário.

    Estreitei os olhos. Ele quase riu.

    - Kurama...

    Ele está mesmo sugerindo o que acho que está?!

    - Botan não tem mais direito de viver em Reikai. Seu nível mínimo de energia e sua presença humana são fatos de uma garota balsa...

    - Pare agora mesmo.

    Um pequeno sorriso astuto surgiu no demônio enquanto me senti um completo idiota. Sem perceber estava diante dele, tenso de raiva ao quase sacar a espada. Desgraçado.

    - Viu? Por que se nega a assumi-la?

    - Meus assuntos e da onna não são da sua conta, Kurama.

    Só percebi o que disse quando o youkai em minha frente arqueou as sobrancelhas surpreso. Estremeci de raiva e larguei o punho da espada. Era melhor ele pensar nessa linha do que saber a verdade.

    - Hiei.

    Nem me virei. Saltei pra longe, correndo pelos telhados até chegar em um terraço de um prédio. As rajadas de vento abriram meu casaco e com movimento o cheiro doce bateu em meu nariz. Sem querer fechei os olhos. Eu não estava entorpecido como os outros. Apenas sossegar esse tormento. Desde ontem me sinto perturbado. E como ela dormiu junto de mim, seu cheiro ficou impregnado em minhas roupas.

    Estranho ou não, meu sangue agitado se acalmou ao respirar fundo. Abri os olhos fitando o vazio. Idiotices à parte, Kurama mencionou algo que me fazia pensar. Cogitar para ser mais exato. Essa situação realmente não podia continuar. Kiri ainda estava à solta e era apenas uma questão de tempo para todos saberem sobre o sacrifício do ex-rei carrasco do mundo espiritual.

    HIEI POF

    Horas depois

    BOTAN POV

    - Até logo senhor e senhora Yukimura.

    Acenei me despedindo e o casal sorriu pra mim. O pai de Keiko jogou um pano de prato sobre o ombro ao terminar de limpar o balcão.

    - Até menina. Trabalhou bem hoje.

    - Arigatou.

    Ajeitei a alça da bolsa, saindo pela porta da frente. A sineta tiniu, mas já estávamos fechados. Pelas luzes se acendendo nos postes e o crepúsculo cedendo fiquei bem tarde. Apressei o passo ao caminhar pela calçada.

    Detesto admitir, mas tenho muito medo do escuro agora. O templo kasane não ficava muito longe. Apenas uma condução de ônibus e parava bem perto. Apenas uma quadra. No entanto, meu coração não sossegou até chegar ao ponto. Subi no que levava direto ao meu bairro e depois de pagar pela passagem sentei perto da porta. Minha nuca se arrepiava, ficava mais intenso esse calafrio a cada vez que o ônibus parava. Conforme escurecia ao anoitecer, as janelas espelhavam e espiei nos assentos atrás de mim no reflexo.

    Três homens estranhos olhavam diretamente pra mim. Eles sentavam na fileira da esquerda. Virei o rosto, gelando por dentro. Eram...? Não, só estou imaginando coisas. É, só podia ser isso. No entanto, um calafrio desceu mais forte na minha espinha e não agüentei. Assim que o ônibus parou num ponto, levantei apressada e desci. Quase atropelei uma velhinha.

    - Ei, menina!

    - Desculpe senhora.

    A mulher resmungou mais contrariada e olhei sobre o ombro pelas janelas. Os três homens me olhavam frustrados, com raiva e na carranca vi seus dentes pontiagudos. O ônibus deu partida antes que chegassem na porta de embargue e suspirei de alivio. Olhei em volta, reconhecendo a quadra do subúrbio e caminhei apressada.

    Fiquei apertando a alça, retorcendo e retorcendo de nervosismo e procurei pensar em outra. Por exemplo, na conversa de mulher que a Keiko teve comigo. De repente, fiquei esgotada. Ela queria saber o que aconteceu naquele ataque ao templo da mestra Genkai. Eu prometi contar de quando Hiei e eu estávamos sozinhos no hall do templo, o mercenário nos caçando. Eu achei que tivesse esquecido o assunto e ainda ela me vem com algo me matando de vergonha.

    - Escuta Botan, é verdade que você e Hiei apareceram juntos no apartamento da Shizuru?

    Que pergunta indiscreta e não foi bem assim. Não fizemos uma visita. Eu estava desmaiada e ele apenas me levou até a casa dela porque pedi. Yusuke é mesmo um fofoqueiro.

    - Que cheiro bom.

    Parei de andar. Enrijecida e sem fôlego. Um barulho veio a minha direita e antes que virasse um brilho cruzou o ar, zunindo perto de mim até um engasgo cortar o silencio. Ainda estava dura de susto, quando olhei na direção.

    Um demônio escamoso, de cabelos roxos e chifres protuberantes nos braços estava cravado num poste. Os olhos dele se viraram para trás ficando brancos enquanto encarei o punho de uma espada brotando da sua garganta, o sangue descendo. Meu estomago se revirou.

    - Você é distraída demais.

    Nani?

    Arfei com a voz e olhei na direção. Nada. Até que ouvi um barulho a minha direita outra vez e vi Hiei sacudindo a espada, livrando-a do sangue enquanto o demônio morto caiu sentado no chão. Um jorro de alivio me inundou. Ele embainhou a arma, voltando o olhar pra mim e engoli em seco. Parecia aborrecido. Não... ele estava aborrecido.

    - Sua amiga construiu barreiras ao redor daquele santuário por um motivo, mulher. Use a cabeça.

    Olhando para o corpo do monstro, ele explodiu a mão livre em chamas e depois jogou no youkai. O corpo incinerou em segundos até não restar nada. A coloração esverdeada e negra das chamas se extinguiu junto. Em segundos não tinha nenhum indicio de um monstro ali.

    - Incrível, Hiei.

    Ele estreitou o olhar e me xinguei. Ele não estava pra brincadeiras. Alias, Hiei nunca gostou de quando eu o elogiava junto com os rapazes na época do Reikai Tantei. Desnecessário, inútil e sem serventia alguma. Eram sempre suas opiniões. E eu, claro, estremecia de medo esperando ele me cortar o pescoço de raiva.

    - Ah... Etto...

    - Esqueça. – fechando os olhos por um momento ele virou um borrão sumindo – Vamos logo antes que apareça mais algum.

    O que? Sua voz ficou mais perto. Girei na direção, vendo-o caminhar ao meu lado passando por mim, as mãos nos bolsos. Quase me distraí com isso até me tocar.

    - Espere um pouco... Você estava me seguindo esse tempo todo?

    - Humpf. Claro que sim.

    Me entalei encarando suas costas. Olhei de relance para o poste, o negrume nele me gelando. Quantos... quantos será que ele matou?

    - Até quando vai ficar parada?

    Ai, droga. Corri até onde estava, quase no final da rua e depois continuamos em silencio. Antes eu estaria agoniada com isso, mas até que não era tão ruim. Ele não era uma companhia tão má. O olhando de soslaio me surpreendi um pouco. Ele chegava a ser bem mais alto do que achava. Parecia ser da altura de Yusuke quando nos conhecemos. Devo ter ficado olhando um bom tempo, pois seu rosto fechou numa carranca e rápido desviei o olhar antes que me flagrasse.

    Ah, droga! Agora era ele que está me encarando.

    - O que há com você?

    - N..nada.

    - Você não sabe mentir, mulher.

    Meu rosto já quente, pegou fogo. Ele não disse mais nada, o espiei pra ver se ainda me olhava e meus ombros cederam. Mirava adiante sem o menor interesse em nada. Como sempre. Com minha atitude idiota, o silencio cômodo ficou desconfortável. Não queria que ficasse assim. Me deixa ansiosa. O espiei de novo e tive uma idéia. Por que não? Estava curiosa do mesmo jeito e valia a pena se o faria conversar um pouquinho comigo.

    Respirei pra tomar coragem. Assim que dobramos uma esquina, entrando na rua do templo abordei o assunto.

    - Hiei, posso fazer uma pergunta?

    - Acabou de fazer.

    Pisquei espantada. Poxa, não podia ser tão grosso assim. Acho que ainda estava aborrecido por hoje. Ri sem graça pra amenizar.

    - Quero dizer outra.

    Me olhando de soslaio ele bufou entediado

    - Vá em frente.

    - Certo.

    Bingo. Ele aceitou. Sorri ansiosa enquanto chegávamos perto do primeiro Toori do templo. O portal vibrava de energia. Assim que o atravessamos senti cruzar um limite. Um limiar onde demarcava que pisava em solo sagrado. Olhei Hiei de novo e percebi que não o incomodava. Isso me fez lembrar de ontem. Também estava curiosa sobre isso. Mas vamos primeiro a minha duvida de antes.

    - Hinageshi disse ontem sobre a atração que os... Youkais sentem por mim. Sabe do que ela quis dizer?

    - Quer saber justo disso?

    Me encolhi estremecendo. Péssimo assunto, Botan. Péssimo. Mas...

    - Eu preciso. Assim quem sabe posso fazer algo pra amenizar.

    Todos que sabiam se esforçavam em me manter segura. O que Hiei fez hoje também. Ao meu lado ouvi um suspiro e olhei em tempo dele me responder.

    - Não há nada que possa fazer.

    - Mas...

    - É inútil. – me encarando de soslaio, continuou sério – Tudo agora em você é um chamariz. O único jeito de apagar é a morte.

    Empalideci de assombro e Hiei suspirou cansado.

    - Seu cheiro principalmente.

    - O que?

    Sussurrei tremendo. Parando no primeiro degrau da escadaria, ele sumiu e de repente fui pega no colo. Um braço seu estava nas minhas costas enquanto outro atrás das minhas pernas. Mal me situei e Hiei saltou degraus acima. Subindo a escadaria de pedra em segundos. Tudo que via era borrões das arvores e a escuridão aumentando.

    Ao pousar no pátio do templo, ele atravessou em segundos chegando a casa anexa, invadindo um quarto pela janela aberta. O meu quarto. Só quando estávamos dentro foi que me pôs no chão. Eu fitava o nada e senti vagamente me sentarem na cama. O movimento me fez lembrar do pingente que carregava. Com as mãos tremendo, puxei o cordão prateado até a pérola azulada luzir na minha palma. Soltei o ar aliviada, meu coração se agitava martelando.

    Hiei ainda estava aqui. Eu sinto isso.

    - Desculpa. Acho que congelei. V..Você disse que meu cheiro...?

    Ri sem graça, mas ele apenas grunhiu enfadado. Bem achando que sou teimosa. Ficou um silencio tenso aqui. Quando achei que não diria mais o ouvi se movimentar e levantei os olhos da pérola. Ele havia se encostado na parede, os braços cruzados ao fitar o vazio.

    - Seu aroma natural tem o mesmo efeito quando uma fêmea está no cio. – prendi o fôlego e rápido me olhou sério – Não é exatamente a mesma coisa. Enquanto o normal é pungente e morno, o seu é doce e cremoso.

    - Cremoso?

    Que colocação estranha. Hiei nem se incomodou com minha pergunta.

    - É assim que me parece. Como se quase sentisse o gosto. A diferença que não é inebriante para mim.

    Me encarou outra vez. Esperando e vendo como eu reagia. Devo estar fazendo uma expressão estranha, pois ele grunhiu enfadado e se afastou da parede indo até a janela. Isso me acordou e levantei de qualquer jeito.

    - Espera.

    Hiei parou olhando sobre o ombro, me deixando sem graça. O que eu ia falar pra ele mesmo? Rápido, pense em alguma coisa antes que ele perca a paciência.

    - Anno... Pra onde você vai?

    Pergunta idiota. Confuso ele apenas se virou pra janela.

    - Lugar algum.

    Ahn? Sem esperar sumiu num borrão, saltando pela janela. As cortinas balançaram com o movimento repentino e a brisa. Achei que nem me responderia, mas acho que ele ficaria andando por aí. Poxa, bem que podia ter ficado mais um pouco. Fechei a janela e saí do quarto. Hinageshi ficaria preocupada se não me visse. Pelo cheiro bom, ela devia estar na cozinha. Antes que entrasse, guardei o cordão dentro da blusa.

    Hinageshi estava cortando uns legumes enquanto um caldeirão fumegava no fogão. O cheiro bom vinha dele. Mal entrei na cozinha e ela me ouviu.

    - Oi, quando chegou?

    - Ainda pouco.

    - Que bom. Estava começando a ficar preocupada.

    Sorri animada e puxei uma cadeira sentando junto ao balcão.

    - Que isso. Sei me cuidar sozinha – que mentira – Hina, pode me explicar uma coisa?

    - Claro.

    Ela pegou um talo de alho poro da sacola, começando a cortá-lo em pedacinhos.

    - Por que ficou espantada ontem ao ver Hiei aqui?

    - O que?

    Ela quase cortou a mesa. Os olhos esmeralda arregalaram de susto e fiquei tensa.

    - Por que quer saber disso?

    - Ué? Você ficou chocada. Só queria entender.

    Me olhando desconfiada ela continuou a cortar o legume. Mas era verdade. Aquilo era a segunda coisa que perguntaria à Hiei, mas ele já foi embora.

    - Bom, como eu disse ontem apenas os demônios que já são marcados é que não sentem os efeitos da atração que o sacrifício... quer dizer, você exerce neles.

    Me encolhi no banco, mas me controlei. Hinageshi me deu uma olhadinha e como viu que eu estava normal continuou.

    - Daí a razão porque fiquei chocada ontem. Esse tal Hiei não é como seus outros amigos Botan. Espera, talvez seja.

    Ela olhou para o nada. Isso me deixou curiosíssima.

    - Como assim?

    - Sabe seu amigo Kurama?

    - Sim, o que tem?

    Ela se virou para o fogão despejando os legumes na panela, me deixando mais curiosa.

    - Ele já tem uma pretendida.

    - O que?

    Do que ela está falando? Se virando pra mim, Hinageshi sentou num banco pensando alto.

    - É alguém que ele escolheu como sua companheira. Mesmo seu corpo não sendo de um demônio ele pode mudar de forma, não é? Acho que é amiga de vocês. Aquela que visitou outro dia.

    Meu queixo caiu.

    - Shizuru?

    - Unhum.

    - Mas como ela não me contou?

    Shizuru fez segredo pra mim. Pra mim!

    - Ela não sabe, Botan. Kurama ainda não disse pra ela.

    Ainda assim era uma noticia das boas. Sempre torci pra eles. Agora vão ficar juntos. Que bom. Mas... Espere um pouco.

    - Hina, mas o que isso tem haver com Hiei?

    A região do meu peito ficou estranhamente apertada. Hinageshi apenas descansou o queixo na mão ao me fitar.

    - Acho que é o mesmo caso. Quer dizer, como se explica estar tão próximo de você e não tomar nenhuma atitude bem.... você sabe do que estou falando – ficamos vermelhas – Ele deve ter escolhido alguém. A julgar pelo caso de uma marca e a pretensão de uma que vi recentemente a garota deve ser bem parecida com ele.

    O aperto no meu peito aumentou, ficando tão doído.

    - C..como assim? – ri sem graça – Mal humorada e anti-social?

    - Mais que isso. Deve ser uma mulher bem complexa. Existe alguém assim não é?

    Riu boba e enquanto que me forcei a acompanhar.

    Eu realmente não devia ter perguntado nada.


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