One Day, Everyone Dies

  • Finalizada
  • Kiia
  • Capitulos 1
  • Gêneros Ação

Tempo estimado de leitura: 12 minutos

    14
    Capítulos:

    Capítulo 1

    One Day, Everyone Dies

    Linguagem Imprópria, Mutilação, Violência

    Esse conto foi feito durante um desafio em que deveria se matar um personagem, e acabei por matar vários. Todos os personagens citados, com exceção da Eloisa, são amigos escritores que participaram do desafio.

    “Dead. Dead. Dead. Everybody is dead. So, kill me, please!”

    As palavras escritas na madeira com sangue seco estavam quase descascando e ainda assim aquilo servia apenas de reflexo para aquele mundo depravado.

     Quando entrou no casebre em busca de suprimentos, Eloisa foi obrigada a cobrir o rosto com as mãos. O odor pútrido quase a fez vomitar. Mas que vergonha, a essa altura do campeonato já deveria estar acostumado com toda aquela nojeira.

    - Encontrou algo, Elô? – a voz causou-lhe um arrepio. Seus olhos estavam concentrados nos cadáveres de boca aberta. Algumas moscas entravam e saiam, e podia ver larvas se remexendo no que restara da carne. Definitivamente não deveria existir algo comestível dentro daquela casa a anos.

    - Ahn... Ainda não. – respondeu rapidamente a fim de tapar novamente sua boca. Arg. Como odiava isso.

     Queria sair logo daquele lugar detestável, mas sabia que só poderia se apresentasse algo ao grupo. Um simples “não” tão rápido não iria bastar para eles.

     Atualmente não passavam de alguns garotos tentando sobreviver, mas Eloisa ainda se lembrava de quando eram um grupo grande e repleto de esperança. Agora, apenas a carcaça havia restado para a maioria que apenas pensava em sobreviver. Não existia esperança de que aquela vida um dia teria um fim de forma saudável. O primeiro membro do grupo a morrer foi uma menina baixinha de óculos, ela ficara pouco tempo no grupo, de forma que Eloisa sequer lembrava-se de seu nome. Ainda assim, lembrava-se daquele momento. Havia sido a primeira vez que presenciara a morte de perto. Claro que depois dessa, incontáveis outras mortes chegaram ao grupo. No outro dia após a perda da baixinha, por exemplo, perderam Jack, Nanda e Túlio simultaneamente. Algumas semanas depois, foi a vez dos Lucas, um tal de Caruso e o outro era Vinicius, se não se enganava. Dos Lucas, apenas o tal Sigaud sobrevivera – porém, havia seguido outros caminhos, assim como Lina e Ana. Apenas Gustavo, Dafne, Flynn e Kida restaram. Todos muito machucados psicologicamente, sem forças para o próximo passo. Se é que havia um próximo passo a ser dado.

     Eloisa vasculhou mais um pouco, dessa vez com um tecido amarrado em sua boca numa tentativa frustrada de afastar o cheiro. A cada gaveta revirada com algo que um dia havia sido chamado de “comida”, lhe provocava uma nova ânsia. Mas nem tudo estava completamente perdido, e para sua sorte havia algum material que poderia utilizar para primeiros socorros, e debaixo de uma estante também encontrou algumas balas do que supôs ser de uma Ak-47. Contou 5. Talvez Kida pudesse utiliza-las, ela era uma máquina de matar, e de alguma forma tinha uns cinco tipos de armas de fogo diferentes, e a Ak-47 com certeza estava em sua pose. Dafne por sua vez era a menina do arco, balestra e modo stealth. Ela sempre conseguia acertar uma flecha com precisão na cabeça do inimigo. Gustavo, chamado normalmente por Guh, era o cara das estratégias e preferia utilizar rifles e snipers. Ele e Dafne costumavam fazer uma boa dupla quando o assunto era matar com apenas uma bala sem serem percebidos, ao contrário de Kida. A jovem era daquelas que entrava no meio da horda e fazia todos comerem balas. Assustador, pensou. Flynn por sua vez, era o líder e gostava de utilizar uma espada. Em sua cintura, dentro de um coldre negro havia uma pistola 380 taurus pronto para matar se assim fosse necessário. Já Eloisa era apenas a menina das facas. Era a mais nova e não confiavam o suficiente nela para deixar uma arma de fogo em suas mãos, mas por ironia do destino era sempre ela quem vasculhava o lugar em busca de mantimentos.

    - Tá enrolando muito! – a voz de Flynn soou irritada. Não podiam perder tempo, sabia que não.

    - C-certo! – gritou de volta.

     Eles não haviam entrado pois eram eles quem mantinham o perímetro seguro de invasores. Dafne e Guh eram a primeira linha de defesa, Kida a segunda, e Flynn ficava guardando a entrada.

     Ao longe ouviu um tiro. Qualquer um poderia confundir o som facilmente com um trovão, mas não havia nuvens no céu a dias, apenas o deserto e o odioso calor. Ao menos tinham conseguido bastante água na penúltima parada.

    - Merda. – ouviu Flynn dizendo ao abrir a porta de supetão. O odor desagradável não pareceu afeta-lo nenhum um pouco, nem mesmo a cena bolorenta que compunha o cenário o fez parar.

     Com passos pesados ele foi até Eloisa e a puxou pelas mãos. Outro disparo.

    - Caralhos, como eles nos encontraram?! – Flynn estava puto, e com razão. A horda jamais os deixaria em paz. Não demorou muito para se ouvir outro disparo. – Kida!

     A menina estava logo a frente, tinha uma HK MP5 9mm em mãos. Sua mochila repleta de outras armas presa as costas. Não importa a situação, ela nunca se afastava muito de seus brinquedos.

     Ela se aproximou completamente ofegante, as roupas já sujas de sangue fresco, uma fumaça saindo do cano da metralhadora.

    - Eles pegaram a Daf. – seus olhos pareciam ter dificuldades em se focar nos rostos deles, como se talvez não fosse uma boa ideia lhes dar aquela notícia.

     A notícia veio como uma bomba aos pés de Eloisa e Flynn. Todos sabiam o quanto Dafne era importante para o líder do grupo, ele já havia sofrido demais com as mortes dos demais companheiros, como Nanda, mas Dafne... Eloisa mordeu de leve os lábios. Não sabia se ele sobreviveria depois dessa. Claro que também estava sentida, e teve que segurar o choro e não pensar demais no assunto. Não queria visualizar aquelas criaturas desprezíveis se alimentando da amiga. Ainda assim, vários “Não” incrédulos escaparam de sua boca. Não podia ser verdade, podia? Dafne era a mais sorrateira do grupo, suas mortes sequer chamavam a atenção do inimigo. Ela permanecia no alto, e de lá a morte chegava para as criaturas.

     Guh foi o próximo a chegar. Havia um corte profundo em sua bochecha e mancava um pouco. O fato de estar desacompanhado causou uma forte dor no coração de todos.

    - Estamos cercados, caralho! – ele rugiu. O semblante pálido. – Acho que nunca vi tantos assim.

    - Vamos entrar, armar uma barricada e descer o cacete neles quando se aproximarem. – ordenou Flynn. A voz soando meio estranha aos ouvidos de todos. Parecia embargada, e Eloisa podia jurar que ele iria chorar se não fosse pela situação preocupante. – Kida, dá uma arma pra Elô. Vamos precisar de toda ajuda possível.

    - Toma. – ela jogou uma escopeta para a mais nova. – É uma de cano serrado meio velha, mas funciona que é uma beleza. ‘Cê sabe como usar, né? Não gasta bala atirando de longe, deixa o filho da mãe está bem próximo, então ‘cê estoura os miolos dele, beleza?

     Eloisa assentiu meio assustada com a situação, mas verificou as balas. Eram duas por vez, e Kida lhe dera mais quatro para recarregar. Se eles estavam realmente tão encrencados quanto Gustavo dizia, Eloisa suspeitava que teria de usar suas facas de briga. Seis balas não iriam deter muitos inimigos.

     Rapidamente, os móveis foram arrastados e as poucas entradas do casebre foram lacradas pela mobília. O cheiro bolorento afetava a todos, mas estavam concentrados lutando contra o medo, nervosismo e ansiedade perante a morte que lhes batia as portas. Gustavo já estava a postos com seu rifle 22 na janela. A casa possuía um buraco no teto, e com a ajuda de Elô, equilibraram alguns móveis para que Kida ficasse de pé e atirasse naqueles que se aproximavam. Haviam transformado a casa em um tanque de guerra, ou ao menos era assim que Eloisa queria pensar. Flynn ficou na outra janela, a mais próxima da porta e qual tinha mais probabilidade de as criaturas tentarem agarrar alguém com seus longos e asquerosos braços.

    - Shhh... silêncio agora. – Flynn pediu estressado.

     Não houve ruídos. Não houve nada por um bom tempo. Tempo que parecia uma eternidade até que o primeiro veio. Guinchando de uma forma completamente aterrorizante, como se algo viscoso escorre por seus lábios. Podia ouvir também os braços – que mais pareciam tentáculos – em movimento, chispando no ar em busca de algo para cortar com os dentes pontiagudos que percorriam aquela pele viscosa. A boca, Eloisa bem sabia, que se abria como uma flor para revelar dentes que pareciam triturar as presas, e para o desespero de todos, o pescoço dos monstros se esticava de encontro ao seu alimento.

     A criatura parou, Kida observou, mas ela sabia que isso não era um bom sinal. Ele estava procurando pelo cheiro deles, por algum barulho que os denunciasse, pois eram cegos. Seu pescoço fez um barulho esquisito, parecendo que estalava e então, de alguma forma a criatura uivou. Logo Kida podia avistar seus companheiros correndo para alcançar aquela criatura patrulheira. Merda. Se Dafne estivesse com eles poderia acabar com o farejador sem problemas, e ele não teria alertado os demais. Que falta ela fazia.

    - ELES ESTÃO VINDO! – gritou ao som da corrida alucinante dos inimigos.

     Lá em cima, Elô podia escutar a chuva de balas que atingia as criaturas de corpo pouco resistente, porém eles venciam em número. Era uma questão de sobreviver ao primeiro ataque e tentar se mandar.

     Gustavo foi o próximo a atirar. E apesar da situação ele tentava manter o bom humor. “Hey, vamos ver quem mata mais!”. Era uma aposta inútil, era obvio que Kida conseguia eliminar mais inimigos, ainda que isso gastasse muitas balas.

     E por segundos que pareceram séculos, tudo que Elô ouvia era o som dos tiros, e o grito gutural das criaturas. Ela podia jurar que iriam conseguir, pois nenhum chegara próximo da casa. Se tudo saísse como o planejado, sequer precisaria atirar. Mas foi então que um daqueles tentáculos dentados atingiu a madeira da casa, cortando parte da parede como se fosse papel seda. Havia sido um movimento tão rápido, tão inesperado que Flynn não conseguira desviar. Que cacete, havia perdido o braço direito e agora berrava de dor atirado ao chão. Alguns cortes enfeitando seu corpo.

    - Ocupe minha posição! Rápido! – ele ainda conseguiu gritar para Elô, que completamente assustada vacilou a tomar a janela destruída. Duas criaturas esticavam seus pescoços para dentro e podia jurar que sorriam apesar das bocas abertas. – ATIRE, PORRA!

     Por puro reflexo ela respondeu o comando, desperdiçando uma bala a mais do que o necessário, mas conseguindo dar fim aos dois inimigos no processo.

     O próximo grito foi de Kida de cima do telhado, ela precisara recarregar, mas trocar de arma era algo mais fácil e rápido, por isso pegou a Ak-47 já presa pela corda ao seu corpo. Porém, não havia sido rápida o bastante e um deles havia cortado sua perna.

    - MERDA, MERDA, MERDA – ela gritava lá de cima ainda metendo bala em cada um que surgia a sua frente. A essa altura, Elô apenas chorava. Restavam apenas mais três balas, as quais gastou rapidamente.

     As balas de todos estavam acabando, mas os inimigos não. Era o fim, com certeza era.

    - Nós não vamos morrer, porra! Não vamos, cacete! – grunhia Gustavo, as lágrimas não paravam de descer por seus olhos.

     Ao tentar dar mais um tiro, não houve som. A munição havia acabado.

    - Merd-

     Sequer houve tempo para completar a frase, pois o pescoço da criatura adentrou pela janela, agarrando-o pelo ombro e arrastando-o de encontro aos seus companheiros. O percurso inteiro Gustavo berrou, tentou se soltar e implorou ajuda. Mas aqueles dentes eram profundos demais e mastigavam sua carne como se fosse nada. Não demorou para que os outros monstros avançassem contra o corpo de Gustavo. Não havia mais salvação para ele.

     A próxima foi Kida. Eles ainda haviam arrancado um grande pedaço do telhado no processo, de forma que Flynn e Eloisa puderam ver a menina sendo arrastada pela perna saudável. Os tentáculos ao redor como um espinheiro. Ela utilizava sua pistola de emergência para tentar se livrar do inimigo, mas a perda de sangue a deixara zonza de forma que não conseguia ver o ponto fraco. Outros tentáculos e cabeças avançaram perante os gritos de dor dela. Mas ela não desistiu fácil, e gastou seus últimos segundos de consciência atirando contra aqueles monstros, preenchendo o ar daquela tarde não somente com seus gritos, mas com os berros daqueles detestáveis monstros.

    - Corre, idiota... Vai embora... – Flynn dizia com dificuldade. Dava para ver pela janela que todos estavam ocupados demais avançando contra os corpos dos amigos. – Eu não vou durar muito.  Não temos tempo para parar o sangramento.

    - Não... Eu... – ela tentou dizer, mas não conseguia parar de chorar.

     Uma das criaturas com a boca pingando sangue parou. Ergueu um pouco a cabeça no meio dos corpos abertos, e como fizera o patrulheiro de antes, estalou o pescoço e não demorou muito para uivar. Agora eles sabiam que havia mais comida dentro daquela casa.

    Flynn riu sem humor.

    - Você sempre foi a mais estúpida do grupo, não é? Pois bem, é uma ordem, cacete! Se manda! – com a mão esquerda, ele lutou para se equilibrar e utilizar a espada. Infelizmente, ele não era canhoto. Elô sabia que ele não iria durar muito. – VAI PORRA!

     Enquanto eles avançavam, Eloisa saiu relutante por uma das aberturas criadas pelos monstros. Não havia mais paredes, ou coberturas. Flynn realmente iria morrer. E então ele gritava de propósito para atrair as criaturas, Eloisa corria para longe. Correu o máximo que pode, os braços e pernas sendo cortados pelos galhos das árvores nuas. O choro entalado em sua garganta, e os gritos do antigo líder logo atrás.

     Mas não importava o quanto Eloisa corresse. Não havia saída. Não havia solução. No fim estavam todos mortos, pois estavam cercados e as criaturas eram insaciáveis. Quando topou com a nova horda, o desespero a fez parar e cair de joelhos. Foi apenas uma questão de tempo para que um deles uivasse, e tudo se tornar dor, sangue e morte. 

     E enquanto sentia as criaturas triturarem sua pele, seus ossos, uma música era cantada em seu ouvido. A mesma que sua mãe cantava toda noite para ela antes de dormir. Era isso, aquele não era um adeus, era um boa noite. Iria apenas tirar um longo cochilo ao lado de seus amigos. Iriam ficar juntos para sempre no jardim da morte.

    Vamos no jardim lá

    Tem algo esperando

    De ponta cabeça, onde colocou

    E quando encontra-lo

    Meio desbotado

    Virando vê que o lado debaixo não apagou

    Tudo permanece

    Onde você deixou

    Tudo permanece

    Mas ainda muda

    Bem levemente

    De dia e de noite

    O sútil acontece

    Quando tudo permanece


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