Era para ser um dia totalmente normal, eu havia acordado bem cedo, pois tinha uma consulta em um médico. Coloquei o despertador para tocar 3 horas antes, porque sabia que minha mãe não daria conta de me acordar. E possivelmente dormiria mais do que eu, obvio que eu estava certo; o despertador tocou e eu mal conseguia abrir os olhos, cobri a cabeça com a coberta enquanto tentava esmurrar o despertador, mas não consegui.
- Ok, você venceu!!
Bocejei por uns 5 segundos, e então me levantei. Como esperado minha mãe possivelmente ainda estava dormindo, arrumei então a cama, e fui direto para o banheiro deixei a água do chuveiro escorrer enquanto tirava toda a roupa, escovei os dentes debaixo do chuveiro para economizar água, eram tempos difíceis então tinha que colaborar de alguma maneira.
Terminei o banho e nem sinal da minha mãe ter levantado. Suspirei já imaginando que teria de ir sozinho, quando fui surpreendido pela melodia Renai Circulation, um dos temas do anime Bakemonogatari, era meu celular, "mas quem poderia ser naquela hora", pensei comigo mesmo. Atendi o barulhento e uma voz aguda porem firme me intimou do outro lado da linha:
- COMO ASSIM VOCÊ NÃO VAI NA AULA HOJE?
Mesmo se ela tivesse disfarçado a voz eu com certeza descobriria quem era, afinal ninguém mais no mundo me ligaria naquela hora:
- Ohayo Shiharu Chan!!
Eu disse em tom seco, talvez assim ela pensasse que eu não estivesse muito afim de conversar e não me matasse, mas...
- Não me venha com cordialidades, como assim você vai ao médico? Aconteceu alguma coisa?
- Não eu to bem, não precisa se preocupar, não é nada sério!!
Tentei confortá-la, mas eu definitivamente não estava mentindo, a única coisa que eu iria fazer lá era dar uma olhada em uma verruga que estava crescendo no meu peitoral. Mas decidi não dizer o motivo da consulta pois sabia que ela não acreditaria se eu dissesse isso.
- Ok então, se você disse que vai ficar bem, então vou acreditar em você... Depois me liga para dizer como foi ok? Sayonara Natsuya-Kun!!
Ela desligou do outro lado sem nem esperar eu me despedir. A Shiharu era uma grande amiga, não minha melhor é claro, mais acho que ela me considerava como melhor amigo dela, afinal fui o primeiro amigo que ela fez quando se mudou para esta cidade. Então a conhecendo bem sabia que esse era o jeito dela de dizer ?ou me liga depois ou eu te mato?.
Levei cerca de 30 minutos para me arrumar, não faço idéia de como garotas conseguem demorar mais do que isso, afinal é só escolher a roupa, vestir e pronto; eu definitivamente jamais entenderia as garotas, impus a mim mesmo.
Como percebi que minha mãe não acordaria a tempo, escrevi um bilhete e deixei colado na geladeira, peguei um dinheiro que estava guardando para comprar uma bomba nuclear e sai de casa planejando tomar o café em alguma lanchonete ou cafeteria que estivessem abertos naquela hora, na verdade eu sabia exatamente onde ir, tinha um Maid Café bem perto de casa, a Shiharu trabalhava lá aos domingos em segredo e eu sempre fingi não saber disso, porque sabia que ela ficaria constrangida se soubesse que eu sei.
Era como um negócio de família, a proprietária era a irmã mais velha da Shiharu, apesar da semelhança a personalidade era totalmente diferente, enquanto Shiharu era nervosinha sua irma Hikari era calma e compreensiva, se eu não tivesse provas concretas não poderia dizer que eram irmãs, os doces que ela fazia eram gostosos, mas por incrível que pareça os da Shiharu eram inigualávelmente melhores.
Me deparei com Hikari varrendo o lado de fora da loja, aparentemente havia acabado de abrir:
- Ohayo Natsuya Kun!!
Ela disse com um sorriso angelical, que com certeza melhoraria o dia de qualquer pessoa, acenei de longe enquanto me aproximava:
- Ohayo...Você acabou de abrir?
- Sim, mas já tenho algumas coisas prontas no balcão, pode se servir a vontade, depois coloco na sua conta!!
O maior defeito dela como deu para perceber é confiar demais nas pessoas, felizmente devido a sua ingenuidade são raras as ocasiões em que alguém se aproveita disso, talvez devido ao seu carisma e aparência adorável que impede qualquer pessoa de querer prejudicá-la.
Eu mesmo jamais passaria a perna nela, afinal ela era tão gentil... Assim como pedido fui até o balcão e me servi. A torta de morango estava tão saborosa que presumi que teria sido feito pela Shiharu. Queria pode dizer a ela o quando ela cozinhava bem, mas saber sobre isso também era um segredo que ela não poderia saber.
Me despedi de Hikari, mas antes fiz questão de pagar minha conta que estava atrasada e ainda sobrou um troco para tomar um sorvete na volta. Para minha tristeza o médico ficava bem longe da minha casa, ainda bem que acordei cedo, cheguei lá exausto de tanto andar, conclui que teria sido mais vantajoso ter ido de táxi, pois mesmo tento saído de casa adiantado, eu consegui a façanha de chegar em cima da hora. Entrei na sala correndo e mostrei a ele o motivo da minha visita.
- Acho que isso não vai interferir em nada na sua vida, mas se quer mesmo tirar essa verruga posso lhe indicar um consultório ótimo!!
Dizia ele enquanto anotava tudo em um papel, endereço, telefone, nome do médico, imaginei se ele também citaria coisas como: marca dos sabonetes do toalete, distancia exata da sala de espera até a recepção, e coisas do tipo. Mas tudo que era o preço da operação que tinha zeros demais para a carteira de alguém como eu, levei a mão ao coração, imaginei que estava enfartando, mais era só meu jeito irônico se manifestando automaticamente diante do médico, que ergueu uma das sobrancelhas.
Voltei para casa desconsolado, nem comprei o sorvete pois imaginei que economizar aquela furreca me daria esperanças.
Em casa minha mãe já havia acordado, "ALELUIA", dizia uma voz dentro da minha cabeça, talvez fossem o "Tico" ou o "Teco" se manifestando. Passei a ela a situação, e como sempre ela tinha a solução:
- Você devia ter me esperado!!
"E correr o risco de chegar no dia seguinte, uhum vai sonhando", eu a conhecia bem o suficiente para saber disso:
- Nossa família tem convênio com um clínica aqui da cidade, acho que eles podem resolver seu problema!!
Nunca pensei que ficaria feliz em ouvir isso. Ela mesma pegou a receita e ligou lá marcando uma hora, havia sim uma vaga para daqui a 5 horas. Pelos meus cálculos daria tempo de ir e voltar a tempo de não ser morto pela Shiharu, e ainda voltar para a escola no dia seguinte, afinal era algo que levaria no máximo 30 minutos, isso me fez pensar o porque deles cobrarem tão caro por uma coisa tão rápida de se fazer, afinal se fosse algo complexo demoraria bem mais do que 3 horas.
Pensei em ligar para a Shiharu agora mesmo, e economizar tempo e mimimi futuros, mas possivelmente ela estaria no horário de aula, então passei o dia assistindo anime, navegando na net, e jogando jogos online; coisa que qualquer jovem da minha idade faria.
Talvez fosse algum sinal do apocalipse ou coisa parecida, mas minha mãe já estava pronta me esperando quando ainda faltavam 1 hora e 30. E lá fomos nós, desta vez de táxi porque não queria chegar atrasado ou em cima da hora, meu senso de pontualidade sempre foi invejado por meus amigos e conhecidos, incrivelmente mesmo que eu saísse de casa 4 horas antes eu possivelmente chegaria lá em cima da hora.
Dito e feito, na metade do caminho o pneu do táxi furou e tivemos que seguir andando, e adivinha? Chegamos em cima da hora, por sorte o médico ainda não havia acabado uma operação. Definitivamente o mundo a minha volta não era influenciado pela minha pontualidade, agradeci a deus por isso.
Uma enfermeira me conduziu até a sala da operação, enquanto minha mãe entregava a receita para uma estagiária, detalhe é que depois disso nunca mais confiei em estagiários. A enfermeira novata seguiu pelo corredor onde esbarrou com outra fazendo com que as receitas se misturassem. Ambas recolheram e colocaram as receitas nos devidos envelopes. A minha foi entregue ao médico que olhou torto para a enfermeira quando leu a receita, perguntou a ela se eu estava acompanhado, e a enfermeira disse que minha mãe estava na recepção, ele abriu a gaveta da mesa retirando um papel, e rumou até a recepção abordando minha mãe:
- Olá, a senhora é a mãe do paciente?
- Sim!! - Ela respondeu confusa ? Aconteceu alguma coisa?
- Não não, só queria confirmar se a senhora realmente autorizou ele a fazer isso... ? Ele disse parecendo preocupado.
- Sim claro que autorizei!! ? Ela respondeu sem exitar ? Eu disse a ele que ele poderia conviver com isso, mas ele insistiu que poderia se tornar um incomodo futuramente, então acabei incentivando ele a vir aqui!!
O médico arregalou os olhos como se remover uma verruga fosse a coisa mais anormal do mundo, ao menos era isso que possivelmente minha mãe imaginou que ele estava falando.
- Então... Poderia assinar esta autorização...?
- Ok...
Um defeito da minha mãe é ela ser muito distraída, ela nem mesmo leu o que tinha naquela autorização, ia evitar tantos problemas se tivesse feito isso... Mas o que ela podia fazer, não tinha como adivinhar o assunto real que o médico realmente estava falando afinal.
Ele saiu de lá direto em direção a uma enfermeira dizendo-lhe algo. Só me lembro da mesma enfermeira chegar na sala em que eu estava, pedir para eu me deitar dizendo que minha mãe havia me autorizado e que ela me aplicaria anestésia, e que quando eu acordasse estaria tudo pronto.
Enquanto pegava no sono lentamente fiquei imaginando o porque de usar uma anestésia tão forte para remover uma verruga, mas como não entendia de medicina deixei pra lá.
O médico chegou acompanhado de mais 3 assistentes, certo, definitivamente tinha algo errado aí, pena que eu já tinha caído no sono, quando aquilo começou.
- Certo vamos fazer uma coisa bem feita aqui, quero que ele fique satisfeito com o resultado final!!
Disse o médico em tom conformado, mas a pergunta era... Conformado com o que?
Continua...