Rosae vermillus - O clã das rosas vermelhas

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    14
    Capítulos:

    Capítulo 10

    Ad discendum: Para aprender

    Violência

    Descobri que os vampiros realmente não tem nada para fazer durante o dia. Exceto, é claro, dormir, e isso é tudo. O sol é algo realmente irritante para qualquer vampiro, sobretudo para os novatos como eu, que levam tempo para adquirir toda essa paciência e justo com tantas coisas para resolver. Lucius me alertou sobre o perigo da luz do dia sobre todos nós, e que deveria aproveitar esse tempo de inatividade para o repouso. O que ele não me explicou muito bem era como eu poderia ''dormir''.

    Era um processo um tanto diferente para mim agora, já que, pelo que pude perceber isso era só uma palavra para eles. Um vampiro não cai no sono realmente, não como um humano. Mas ''descansa'', num tipo de sono auto-induzido no qual pode despertar sozinho quando quiser, não é como se desligar da realidade sem saber o que se passa ao redor. Era mais como cochilar com um dos olhos abertos, só depois fui entender o quanto isso era importante para nós. O sangue é como um combustível para os vampiros, e para economizar essa energia, era preciso que tivéssemos esse hábito de repousar durante o dia. Já que não nos alimentávamos com tanta frequência quanto os humanos. Era isso ou sair por ai bebendo sangue a esmo.

    Lucius, pelo que Sara contou, era o mais dramático entre eles. Tinha um caixão no porão de sua modesta casa, humildemente cedida por Pedro. Sara e Vinícius, moravam a algum tempo na casa principal onde o próprio Pedro morava. Foi uma ideia tentadora ir para fora e ver o velho cuidando de seu enorme jardim, sentir o sol em minha pele era algo bom, mas só na imaginação. Arrisquei subir até o alçapão do porão que me levaria até a sala - a pedido de Lucius ou não, aquela casa tinha o maior porão que já vi, com cerca de cinco ou seis ''quartos'' para o caso de mais hóspedes além de nós que tivessem uma certa inclinação para ''sangue fresco'' - mas o fato é que assim que levantei um pouco o alçapão, meus olhos arderam com a pequena quantidade de raios de sol que puderam entrar. Minha pele protestou e fechei o maldito alçapão com uma dor irritante nos braços e parte do rosto, como se tivesse esfolado a pele e jogado álcool.

    Não demorou nem um minuto e o ardor passou, me curava muito rápido. E como não vi nada melhor para fazer, joguei-me em um velho sofá no canto de meu novo quarto escuro. Não demorou muito para perceber que dormir ali não daria certo. Deitei-me então no chão duro de piso de madeira, e por incrível que pareça, foi ali que pude ter meu primeiro cochilo como vampiro. Em uma posição que lembrava um cadáver em seu leito de morte, foi assim que pude encontrar o modo certo de ''adormecer'', e me perguntei se era por isso que Lucius tinha um caixão.

    Um sono sem sonhos, e completamente consciente no qual pude sentir tudo ao meu redor, e que me trouxe paz como uma meditação, até o momento em que percebi tudo esfriar e os poucos raios de sol que tentavam entrar pelas frestas do alçapão enfim abandonaram o esforço. O som do trabalho árduo de Pedro ao cuidar o dia inteiro de sua chácara cessou, e até mesmo o som dos pássaros havia mudado. Uma coruja ali perto se manifestou, me mostrando que a noite havia chegado.

    Não estava sendo mal agradecido, pois não iria fugir ou algo assim, apenas uma escapada antes de ficar louco. Mas assim que pudesse ver um pouco de meu antigo mundo, e me situar em toda a loucura em que fui inserido sem perceber; voltaria para eles. Se não podia ver o sol então sairia para ver a lua, e como nunca antes eu iria admirá-la. E é claro, se pudesse obter informações sobre o paradeiro de Charles seria um bônus.

    Sara não me notaria. Pela primeira vez ela me deixou de lado e foi cuidar de suas próprias coisas. Vinícius não parecia se importar muito comigo naquele momento, estava assistindo um de seus seriados preferidos na televisão, ''Dexter''. E enquanto Pedro já havia ido para a cama - sendo o único humano, embora não normal -, e Lucius não havia dado as caras, fingi estar ocupado lendo um livro e me dirigi para longe deles com as páginas abertas, em uma concentração significativa que deve ter feito Sara pensar em quão bom devia ser o enredo. Nos quartos de cima, onde eram guardados os pertences, inclusive os meus se eu os tivesse, encontrei roupas de Vinícius e peguei emprestado mais umas coisas.

    Com a touca preta que logo seria minha de tanto usar, e uma jaqueta jeans envelhecida, sai dali pelos fundos silenciosamente. Achei por bem levar dois itens que Sara havia deixado aos meus cuidados, à mando de Lucius; um estranho colar com um pingente em forma de uma adaga e um celular novo que ganhei com instruções de nunca perder. Não imaginava mesmo que vampiros fossem assim, mas o que se imagina à respeito deles nunca é o certo. A lua estava lá como imaginei, me encarando de modo estranho. Não me lembrava dela daquele modo, com uma presença tão marcante e parecendo me influenciar.

    - Por quê olha para mim? - disse baixinho, enquanto nuvens rápidas cobriam todo seu esplendor por alguns instantes, apenas para revelar sua luz prateada novamente. - Continue a me vigiar, não deixe-me sem a tua luz...


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