Dragon Slayer

Não demorou muito para que cruzassem todo o percurso. Podia-se ouvir os gritos de desordem vindos de dentro da caverna. Quando de cima, avistaram a entrada norte da gruta, se depararam com cerca de quinze deles correndo para fora furiosos, procurando por culpados. Gatts sorriu de um jeito bizarro, e começou a disparar com sua besta de modo descontrolado. Flechas de metal caíam como chuva sobre as criaturas e lhes perfuravam os corpos nus, algumas atingiam diretamente no crânio, abatendo aqueles com menos sorte. Mais deles surgiam furiosos e Gatts não parava até que esgotassem as setas metálicas. Por um momento Roney pensou em se juntar ao ataque e disparar mais flechas de seu arco, mas percebeu que no seu caso era melhor esperar e dar apenas cobertura. Se suas flechas acabassem, ficaria a mercê dos monstros. Permaneceria escondido, observando atentamente do alto, esperando uma chance de resgatar as garotas ou de auxiliar Gatts em um momento crítico.

Nos próximos minutos que se seguiram, membros, cabeças e corpos eram cortados e esmagados pelos golpes largos e poderosos da Dragon Slayer de Gatts. Assim que desceu ao campo de batalha, este alcançou em poucos segundos seu estado de profunda fúria interior e devastou todo o local com seu ódio interminável. Seu alcance era uma vantagem contra os monstros, mesmo aqueles maiores que ele. Os pesados movimentos com a espada gigante fluíam como se fossem executados com uma simples espada de empunhadura dupla. A fúria máxima de Gatts possibilitava uma velocidade descomunal para o peso da arma, e enquanto aquela lâmina girava descontrolada no centro da batalha, nada podia tocá-lo. Era o nível Berserk ativado em Gatts, e Roney percebeu que não deveria descer ali em hipótese alguma, pois ninguém poderia interferir na luta daquele homem. Em verdade, ele era muito mais assustador do que as criaturas contra quem lutava.

Gatts não diminuía seu ritmo nem por um instante, mas Roney percebeu que o fluxo das criaturas que saíam pela entrada da caverna era menor já a algum tempo. Observou um pouco mais, tendo de disparar uma flecha ou outra quando algum monstro subia o morro tentando escapar de Gatts. Quando isso ocorria, as flechas de Roney os derrubavam novamente, vivos ou não para que Gatts os cortassem. No final, tudo que se movia era atingido pelo berserker e abatido violentamente. Até que tudo pareceu silenciar, e Gatts permaneceu ali, no centro do que até então era o campo de batalha. A respiração forte como de um monstro, os olhos num branco assustador que não enxergavam nada a sua frente além de vítimas de seus ataques. Ao seu redor um amontoado de corpos nus e horríveis dos homens cães. Pedaços de todos os tipos em sangue e espalhados perto da entrada da caverna. Provavelmente mais de cinquenta criaturas. Todas eliminadas por um homem, um ser que deveria temê-los.

-Senhor Gatts! - chamou Roney, mas ele não pareceu ouvir.

Entrou então na gruta. Arrastando-se pelo cansaço e pelas feridas adquiridas na luta anterior. Não parecia o mesmo Gatts e isso preocupava Roney demasiadamente. Temia ser atingido pelo próprio aliado se fosse segui-lo, como já havia sido orientado pelo mesmo.

- Layana...! - resmungou Roney. E seu lamento foi ouvido por Puck, que acompanhava a tudo ao seu lado embora ele não soubesse disso. O pequeno elfo admirou a determinação do garoto, que mesmo correndo riscos, seguiu Gatts para o interior da caverna, tentando acompanhá-lo de longe. Gritos ecoavam por todos os caminhos da gruta. Roney acendeu uma tocha improvisada e tentou pegar as bifurcações em que acreditou serem seguras. Cruzou todo o caminho até o centro da caverna. Gatts surgiu de um ponto não muito longe dali com mais sangue em sua armadura, escorrendo também pela espada. Roney viu garotas penduradas sem roupas logo acima dele, num estranho ritual em que as criaturas pareciam estar realizando antes de terem sido interrompidas. Uma das garotas estava morta, Roney viu seu corpo nu pendurado como as outras em cordas, mas seus membros pareciam ter sido devorados, e marcas de dentes poderosos ainda podiam ser vistos em grande parte de seu corpo. A garota loira e magra tinha metade do rosto desfigurado, provavelmente por mordidas que a dilaceraram. Por fim, seus órgãos internos haviam sido removidos, seu ventre estava aberto.