O Principado de Órion

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    Capítulo 13

    A Missão Classe S - Sleep Hollow

    Álcool, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    O trem percorria veloz na estrada de ferro cortando a cadeia de montanhas que atravessavam. Já haviam parado em duas estações e o vagão aos poucos era ocupado por mais passageiros. No entanto, ninguém sentava nos lugares vagos ao lado deles. Não que Natsu se importasse. Ainda estava sentado do mesmo jeito quando saíram de Eramar. Encostado no banco, sua perna levantada com o pé na mochila e observando a garota deitada nos bancos em sua frente.

    Como havia amanhecido o sol entrava pela janela e mesmo com a luz batendo no rosto, ela ainda continuava dormindo. Estreitou os olhos, suspirando.

    “- Natsu, o que é ghrá?”

    Ghrá... Seus dedos enrijeceram, crispando. Desde que ouviu isso todo seu divertimento evaporou ficando um mau humor. Ela tratou de dormir sem lhe explicar, (seus dedos enrijeceram mais) fugindo. Claro, isso confirmava que estava certo. Alguém a chamou assim. Um homem. Suspirou mais irritado. Nessas três horas de viagem ficou se perguntando quem era essa pessoa e depois se recriminava que não era da sua conta. Afinal, ghrá era uma palavra comum. O problema era como lhe soava. Chamar alguém desse modo era um gesto carinhoso e ele não gostou nada que chamaram a loirinha assim.

    Deu-lhe uma boa olhada enquanto ela dormia a sono solto e ficou mais irritado. Até esqueceu que seu estomago começava a se revolver. Sinal que o efeito do feitiço estava acabando. Apoiando a cabeça na mochila como travesseiro, as mãos juntas sob a bochecha, ela se encolhia pelo frio matutino e também pelas roupas leves. Uma camiseta e a saia pregueada. A peça era um pouco curta e subiu quando ela se deitou. Tinha que admitir, era uma visão e tanto das pernas lisas e torneadas. Fazia quanto tempo (fora os séculos que perdeu) que não via as curvas de uma mulher? Contudo, essa irritação cortou qualquer indicio de malicia. Tudo o que percebia era o quanto frágil a loirinha parecia e instigaria um homem no mínimo interessado a chama-la de amor.

    Era isso que ghrá significava. Amor.

    E o irritava demais!

    A porta que conectava o vagão no outro se abriu e logo se fechou. Bem um passageiro trocando de vagão. Humpf. Os passos da pessoa soaram atrás dele até pararem perto do seu banco. Natsu franziu a testa e olhou de lado pra pessoa. Um cara ruivo bem arrumado nas roupas brancas carregava sua bolsa atravessada e os olhos dele estavam cravados nas pernas da loirinha. Seu humor já péssimo inflamou. A porta se abriu outra vez e mais dois conjuntos de passos chegaram e ficaram perto do sujeito. Os três caras agora olhando cobiçosos a garota dormindo. Seu punho se fechou e nesse instante o cara olhou pra ele sorrindo simpático. Idiota.

    - Yo, o ultimo vagão tá lotado. Posso...

    - Não.

    O sujeito arregalou os olhos. Ele não tinha gritado, mas seu tom foi seco. Alguns passageiros começaram a observar. Natsu pouco se importou. O sujeito ignorou sua resposta e aumentou o sorriso se sentando ao seu lado. Os dentes a mostra lhe dando ganas de quebra-los.

    - Qual é cara? É chato viajar de pé.

    Os outros dois se sentaram nos assentos a sua direita. Suspirou irritado, ainda olhavam as pernas da loirinha.

    - Me chamo Jacob e você?

    Nesse instante ele olhou pra seu ombro, se empolgando com a insígnia vermelha.

    - Puxa vida! Você é um mago da Fairy Tail? Caraca, eu adoro essa guilda. Sempre arranjam confusão, além de que tem muitas gatinhas nela.

    Relanceou o olhar para Lucy concentrando no quadril, nos seios e nas coxas dela. Trincou os dentes, a ira aumentando. Sorrindo deliciado, o cara esticou as pernas quase tocando nas dela.

    - Diz aí.  Essa gostosa é maga dessa guil...

    O cara sufocou, se dobrando e chiando enquanto seu punho se enterrava no estomago dele. Não se moveu brusco. Só queria calar a boca do babaca. Tudo o que fez foi balançar o braço que estava ao lado do cara e bater com o punho bem fechado em seu estomago. Apenas quem estava perto viu e continuaram calados. Ótimo. Ainda encarando a frente, enterrou mais o punho. O chiado do sujeito aumentando enquanto esbugalhava os olhos.

    - Tire as patas de perto dela ou vai doer mais.

    Torceu o punho sentindo os ossos das costelas. Os amigos do cara assistiam pálidos. Os encarou irritado e rápido desviaram o olhar. Natsu se concentrou no cara que sufocava. Ele tinha virado um pouco o rosto e estava assustado.

    - Você...

    Tentou falar sem folego e percebeu que ainda esticava as pernas pra Lucy. Estremeceu de raiva e deu outro soco. O cara bateu as costas no estofado e dessa vez ouviu um estalo. Pálido e suado o sujeito tremia, as pessoas que assistiam arregalaram os olhos. O encarando com medo o cara finalmente recolheu as pernas.

    - É... Sua namorada?

    Levantou as sobrancelhas. Apesar da raiva se divertindo um pouco. Dando um sorriso maldoso retorceu o punho apertando e quase riu quando o sujeito gemeu agoniado e se inclinou sussurrando.

    - Não te interessa, idiota. Agora se manda daqui antes que te quebre de verdade.

    Estreitou os olhos parando de sorrir. Nem foi preciso outro incentivo. Ao recolher o punho o sujeito arrumadinho se levantou do banco segurando a costela quebrada e à um olhar fulminante seu, os outros dois também nos lugares ao lado levantaram. Os três atravessaram ligeiro o vagão abrindo a porta do fundo e entraram no outro. Natsu se recostou mais no estofado, bufando e observando contrariado a paisagem pela janela. Cara estupido. Ele e os colegas safados. Se Lucy estivesse sozinha sabe lá o que eles fariam com ela. Que idiota, dormindo desse jeito. De repente, pestanejou.

    Encarando a garota ele piscou espantado.

    A, acabou de chama-la pelo nome?! Certo, na verdade ele pensou, mas mesmo assim... Isso significava que estava aceitando a garota?

    Antes que entendesse seu estomago embrulhou. Forte e repentino. Fechou os olhos se curvando e ofegou. O familiar suor frio brotou na sua nuca e depois se espalhou pelo corpo inteiro. Ofegando, bem devagar baixou o pé que apoiava na mochila e apertou mais os olhos. Natsu sentia os sacolejos do trem revolvendo seu estomago, o deixando tonto. Droga! Como odiava isso. A dor de cabeça, o suor frio brotando em meio à tontura e a sensação do vazio o revirando. Através do zumbido nos seus ouvidos escutou o apito do trem e a velocidade diminuiu. O feitiço acabou cedo demais.

    Abraçou em si mesmo maldizendo essa doença. Enquanto chegavam a estação teve uma vaga noção de um movimento a sua frente, junto com um bocejo.

    - Quanto tempo eu dormi?

    A loirinha perguntou sonolenta, bem no instante que o trem parou na plataforma chiando alto. No entanto, sentia o lugar inteiro girar, o engolfando.

    - Natsu?

    Apertou os olhos, preferindo ficar quieto. De repente, o cheiro de gardênia ficou mais perto. Estremeceu ofegando, tentando respirar de um jeito uniforme. Ainda bem que não comeu nada, senão teria vomitado. O assento ao seu lado afundou o fazendo estranhar. De repente, ela se inclinou sussurrando.

    - Ai não. É... aquilo?

    Uma onda de enjoo o embrulhou e acenou concordando. Dessa vez estava tonto demais. Lembrou amargurado que ainda faltavam horas pra chegarem. Seria uma tortura. Ainda inclinada pra ele, Lucy o olhava atenta.

    - Você tá péssimo.

    Quase riu sarcástico.

    - Não precisa me dizer, loirinha.

    Ela prendeu a respiração, com certeza estalada de raiva. O trem deu um tranco se movimentando outra vez, logo ganhando velocidade. Ouviu um movimento a sua direita e entreabriu os olhos. Ela tinha se curvado pra a própria mochila, remexendo num bolso...

    - Volto já.

    O encarou atravessada. Achou um pouco engraçado, ela estava irritada. Mas mesmo assim... Franziu a testa estranhando, assistindo-a enquanto ela se levantava e seguia para o corredor. Natsu resolveu ignorar, estava mais preocupado em segurar a ânsia de vômito e o estomago embrulhado. Estremeceu mais fechando os olhos. Droga de enjoo. Odiava essa doença. O enfraquecia de um jeito que não conseguia sequer se manter de pé. O presente de Grandine era um remédio milagroso, mas durava tão pouco. Três horas. Depois voltava a essa tortura.

    Ainda tonto não percebeu que a garota voltou. Arfou tremulo ao sentir dedos delicados em sua nuca. Prendeu o folego. O que ela estava fazendo? Despercebida do seu susto, ela se inclinou preocupada.

    - Hei, deite a cabeça no meu colo. Parece que a qualquer minuto vai desmaiar

    Nem contestou. Se inclinou pra direita estendendo o corpo até ficar com o tronco deitado. Virando o rosto descansou a cabeça no colo dela. O tecido da saia forrando as coxas tremulas. Quase riu. A loirinha deu pulo quando fez o que pediu, sem nem reclamar. Calada, os dedos dela afundaram hesitantes em seus cabelos. Alisando e remexendo. Suspirou menos tonto ou será que ficou mais? De tão perto assim, o cheiro dela pouco a pouco o entorpecia, diminuindo esse mal estar.

    Afastando sua franja, um tecido frio e molhado cobriu sua testa.

    - Melhor?

    Ah. O tecido molhado era um lenço. Agora entendeu o que ela foi fazer. No entanto, não respondeu. Preferiu ficar quieto ofegando e estremecendo. Lucy hesitou por um momento e voltou a mexer nos seus cabelos, hesitante e devagar. Desse momento em diante perdeu a noção de tempo. Os dedos iam e vinham, repuxando de leve seus cabelos. Apesar da tontura e do vazio nauseante no estomago o afago o estava deixando grogue. Não se lembrava quando ficou assim uma vez.

    Depois de um tempo, ouviu um suspiro aliviado.

    - O suor parou. Mas ainda tá pálido.

    Natsu continuou calado, seus olhos fechados. Ela falava mais pra si mesma do que com ele e talvez se abrisse a boca diria uma besteira. Além disso, estava concentrado demais nos dedos afagando seus cabelos, de uma maneira lenta e tão gostosa que suspirou estremecendo. O cheiro dela impregnava o ar em sua volta. Podia sentir. Floral e perfumado.

    Apaziguadoras eram tão boas assim para seus Dragon Slayers?

    Sentiu outro afago e relaxou mais. Sim, com certeza eram.

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    Ele dormiu.

    Piscou pasma ainda mexendo nas mechas rosadas. Lucy nem acreditou nisso. Ainda estava surpresa por Natsu ter feito o que pediu sem reclamar. Quando se estirou no assento deitando a cabeça em seu colo deu um pulo de susto. Mas dormir? Olhou atentamente pra ele, analisando se realmente estava dormindo. E depois de uns minutos se recostou no assento. Realmente, Natsu tinha pegado no sono. Piscou pensativa, seus dedos remexendo nas mechas rosadas. Ele ainda estava pálido e respirava um pouco ofegante. Doença de movimento era horrível mesmo.

    Havia lido que Magos Dragon Slayers escondem isso a todo custo. Por ser um ponto fraco debilitante. Agora entendeu porque. No castelo, apesar dele passar mal não era como agora. Quando acordou no trem Natsu ofegava tremulo e pálido, suando demais. Tocou de leve no seu rosto e suspirou mais sossegada. Estava um pouco morno. Quando sentou do seu lado reparou na palidez anormal e tocou sua nuca. Gelada. Natsu estava a ponto de desmaiar. Por isso ofereceu seu colo e de bom agrado ele aceitou.

    Sorriu um pouco. Observando enquanto ele dormia. Apesar da situação era um pouco engraçado. Mais cedo estava nervosa só de ficar perto dele, tudo por causa do sonho, mas agora se sentia bem calma. Até esqueceu que ele ficou bravo com aquela história de ghrá.

    Falando nisso...

    Natsu disse que a palavra era irlandesa. Pensou um pouco a respeito. Dos magos que leu sobre a guilda sempre gostou de um. Além de sua ancestral. O Dragon Slayer Salamander. Suas bochechas coraram enquanto o olhava. Realmente, não era como o imaginava. Nos livros nunca tinha gravuras ou pinturas dos membros da Fairy Tail, apenas uma descrição física e sobre seus feitos. O imaginava mais velho, afinal de contas, era um mago de infantaria. Um soldado. Remexeu nas mechas pensando. Quantos anos será que ele tem? Fora os 400 anos que ficou selado?

    Natsu aparentava ser tão jovem, o jeito debochado...

    Suspirou. Puxa, ele era tão bonito dormindo. Se Natsu quisesse sempre o deixaria descansar a cabeça no seu colo. Assim fazia carinho nos cabelos macios, o afagando a ponto de ele dormir...

    Peraí. Mas o que é isso, Lucy?! Acorda, garota! Sacudiu cabeça. Que burrice! Eles nem eram amigos pra pensar assim.

    No que estava pensando mesmo antes de “viajar”? Ah, sobre o que leu do mago. Não dizia muito sobre sua vida antes da guilda, só que foi criado por um dragão e se juntou a Fairy Tail ainda criança. Piscou mais pensativa. No seu sonho, Natsu a chamou de ghrá. Quando foi perguntar pra ele o que dizia, ficou irritado. Dizendo que a palavra era irlandesa e pelo seu jeito, significava algo um tanto comprometedor. Contudo, que novidade. O mago sabia irlandês?! Quer dizer, ele falava? Difícil de crer.

    /////////////////////////////////////////////////////////////////

    - Oie.

    Alguém a chamou sacudindo seu ombro. Lucy sentiu sua cabeça balançar de um lado pro lado. De repente, um solavanco a jogou pra cima e acordou no susto. Soltou um gritinho sentindo sua saia levantar e depois caiu sentada de qualquer jeito no banco, agarrando a roupa no susto. Ofegando escutou um riso e levantou a cabeça. Sentado num banco em sua frente Natsu ria divertido. Seu rosto queimou de vergonha e se emburrou.

    - Qual é a graça?

    Tentando engolir o riso, ele respirou fundo.

    - Você disse Kyaah! – riu mais um pouco – Foi um falsete bonitinho.

    Apertou os lábios num esforço tremendo, mas quando ficou mais vermelha ele não aguentou. Se engasgou no riso praticamente rolando no banco. Nesse instante, Lucy percebeu os sacolejos de lá pra cá e piscou pasma olhando mais atentamente em volta. Sob a luz do crepúsculo e da lamparina pendurada no teto, eles seguiam dentro de uma carruagem fechada e pequena. Escorregou no banco ignorando os risos para olhar na janela. Arvores e arvores. Atravessavam pelo o que lhe pareceu um bosque. As folhas secas farfalhavam no vento forte, mas podia sentir o odor úmido e lamacento de pântanos.

    - Quando saímos do trem?

    Se virou para Natsu desnorteada, até onde sabia estavam no vagão. Com lágrimas de riso ele se recostou no estofado escuro franzindo as sobrancelhas.

    - Não lembra?

    Lucy ficou mais confusa.

    - Do que você tá falando?

    Suspirando ele se inclinou pra frente, os cotovelos se apoiando nos joelhos.

    - Quando chegamos à Estevalle, um guarda do trem avisou que ninguém ia mais embarcar e te disse que a seguiríamos sem paradas até Suany Town.

    Se endireitou no banco, lembrando...

    Flashback

    - Tem certeza?

    O homem de uniforme azul fez uma careta compreensiva.

    - Claro, senhorita. A estação mais próxima de Sleep Hollow é Suany Town.

    - Mas como se chega até lá?

    - Uma carruagem talvez os leve. Isto se chegarmos antes do anoitecer. Do contrario terão que dormir na estação até a primeira viagem no dia seguinte.

    Seu queixo caiu. A vila é mais isolada do que pensou. Olhou pro sujeito que dormia no seu colo. Tomara que Natsu esteja melhor quando chegarem. Seria impossível carrega-lo até pra fora do trem, quanto mais enquanto procurava uma condução. Suspirou olhando para o nada desaminada. Ainda estavam no meio da viagem e tinha mais essa com que se preocupar. Resolveu tirar um cochilo. Já que o vagão ficaria vazio, ninguém os roubaria.

    Flashback off

    - Ah.

    - Pois é - O mago se recostou outra vez no banco -  Eu tentei te acordar quando chegamos, mas você nem se mexia. Então te carreguei pra fora do vagão e agora estamos aqui.

    Deu de ombros a olhando calmo. Ao contrario dela, que se entalou.

    - Espera. C..co..como assim me carregou?

    Natsu se ajeitou no banco, olhando interessado a paisagem pela janela.

    - Te joguei no meu ombro com minha mochila nas costas enquanto levava a sua na mão. Falando nisso... – a olhou atravessado – devia usar uma coisa menos chamativa que essa saia. Sua calcinha apareceu por mais que eu puxasse as pregas.

    Sua garganta travou enquanto seu rosto queimava de vergonha. Arregalou os olhos enquanto se encostava no banco, para o mais longe dele.

    - Seu... seu tarado!

    Vendo, Natsu deu meio sorriso. Debochado.

    - Como é?

    Ela se irritou.

    - Não se faça de idiota. Aposto que...

    Um choque violento. Bem do lado direito onde estavam jogou a carruagem pro lado, quase tombando. Os cavalos relincharam e o condutor gritou em pânico enquanto eles foram jogados nos bancos, nas paredes. As mochilas subindo e levantando ao escorregarem debaixo do vão. Lucy olhou pra o outro lado, em tempo de ver pela janela um vulto negro correr até eles. Arregalou os olhos. Por um meio segundo um par de orbes avermelhadas apareceu e depois outro choque jogou a carruagem pra direita. Natsu e ela gritaram e bateram no teto de madeira, nos bancos enquanto tudo girava numa confusão de luz da lamparina, as mochilas e estofados. No meio do caos, Natsu agarrou numa tabua no teto, pegando apoio e então se dobrou chutando a lamparina pela janela. A carruagem rolou mais umas duas vezes até bater numa arvore. Lucy caiu toda torta na parede (que ficou na horizontal) e Natsu estava estirado no chão. Pela portinhola, balançando empenada nas dobradiças, viram ao longe uma fogueira alta. A lamparina que Natsu jogou pra longe e se espatifou nas folhas secas.

    Ela ofegou tremula, encarando a fogueira enquanto sentia o corpo inteiro doer.

    - Mas o que...?

    Ouviu um ofegar e olhou pra baixo. Se sentando, Natsu estreitou os olhos.

    - Não querem a gente aqui pelo visto.

    Ela engoliu em seco. Se levantando, Natsu pegou as mochilas em cima do banco onde estava e saiu pela portinhola. Lucy criou coragem e saiu também. Já fora da carruagem olhou para a mesma e viu que tinham mesmo batido numa arvore. As rodas giravam enquanto as hastes que deviam segurar os cavalos estavam partidas. Engolindo em seco correu até Natsu, que seguia para um caminho lamacento bem ao lado da grande arvore onde bateram.

    - Aqui.

    Ele lhe estendeu a própria mochila e sem dizer nada passou os braços pelas alças. Encarou os próprios tênis sentindo vários machucados nas coxas, costas, braços e quadril distenderem. Pra completar, o crepúsculo cedeu e a noite caiu. Junto com o vento que soprava mais e mais forte. Ouviu um quase riso e levantou o olhar para o lado. Natsu encarava a frente, a mochila abarrotada nas costas. Havia um pequeno corte na sua bochecha, mas pelo visto não lhe incomodava.

    - O que foi?

    Sua voz saiu meio tremida. Droga! Porem, não ouviu uma piadinha muito menos um riso debochado. Inclinando o rosto, a franja rosada quase encobrindo os olhos, Natsu deu um passo pra perto dela sem parar de andar.

    - Você viu, não viu?

    O sussurro lhe deu um calafrio, descendo enregelante pela sua espinha enquanto lembrava. O vulto negro e orbes avermelhadas.

    - Sim.

    O olhar dele ficou mais sério.

    - Os cavalos e o condutor sumiram. Mas nos atacaram tarde demais.

    Lucy ficou mais confusa.

    - Como assim?

    A olhando de canto, Natsu explicou.

    - Aquela arvore é a entrada da vila. Estamos no caminho que leva até lá.

    Pestanejou e deu uma parada girando no lugar. A grande arvore, um carvalho negro que ficava ao lado do caminho lamacento onde estavam e num galho comprido, a metros do chão uma placa de madeira balançava com o vento forte. Nela em letras rusticas diziam. “Sleep Hollow”.

    - Hei, loirinha!

    Lucy girou nervosa no lugar se xingando. Natsu tinha parado e pelo tom estava aborrecido. Correu até ele logo avistando um conjunto de casas mais a frente, porem apesar das lanternas nos beirais e em algumas tochas postas entre as esquinas, ninguém andava pela rua principal por onde entravam.

    - Lugar calmo.

    O mago ao seu lado bufou em resposta. As janelas de vidros fechadas. Mesmo com as luzes acesas através das cortinas indicando que tinha sim gente nas casas, nos comércios. Havia uma igreja bem distante no final da rua. Lucy reparou nela por causa da pintura branca e a torre de sino.

    - Sinceramente, isso tá ficando esquisito.

    Natsu comentou enquanto seguiam direto pra estalagem na primeira esquina. Um prédio grande de madeira em três andares. Nesse instante, um trovão estourou e Lucy gemeu.

    - Por favor, não.

    O vento ficou mais forte e antes que dessem mais um passo, uma chuva torrencial caiu os encharcando em segundos. Ao seu lado, ouviu um suspiro irritado e virou o rosto.

    Natsu estremecia travando os dentes. Os cabelos grudados na cabeça e umas mechas no rosto.

    - Agora admito. Estou odiando esse lugar.

    Lucy sentiu os ombros caírem de desamino, todo seu corpo doendo do acidente de minutos atrás. É, ela também.


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