O Principado de Órion

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    Capítulos:

    Capítulo 12

    A Missão Classe S - Viagem de trem

    Álcool, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    Distante, bem distante. E ainda assim perto.

    Estendia o braço esticando sua mão, mas não conseguia alcança-lo. O rapaz das chamas continuava parado de costas em sua frente com o fogo escarlate o cobrindo por inteiro. O calor a aquecia e daria impressão até de queimar. Mas ela sentia que não ia machucar. Ele nunca a machucaria. De repente, quando gritou chamando-o, ele olhou um pouco pra trás sobre o ombro e Lucy teve um assombro.

    - Natsu.

    Antes que assimilasse que era ele, um sorriso se abria lento no Dragon Slayer e então se esquivava para o lado. Seu corpo virando um vulto de chamas. Lucy ainda mal tinha se recuperado do susto quando seus pés pararam numa superfície macia. Olhou para baixo estava descalça e ainda encarando seus pés viu um tecido leve, de algodão, começando no meio de suas coxas até parar em seu busto. Piscou mais confusa. Porque estava de camisola? O tecido mal colava no seu corpo. Ainda por cima era a pior camisola que tinha. Velha de mangas compridas e branca. Levantou a cabeça observando envolta e relaxou um pouco. O corredor estreito com papel de parede salmão ladeado por portas de madeira. O dormitório. Claro. Estava dormindo. Mas... Franziu a testa confusa. Como foi parar ali? Não lembrava de ter saído do quarto.

    Quando deu um passo para procura-lo uma mão quente a agarrou pelo cotovelo. Arregalou os olhos. Antes que reagisse, essa mão a puxou com força a virando e Lucy bateu num peito forte, musculoso e ofegante. Coberto por uma camisa branca. Ela ficou mais nervosa, trêmula e então ele deu uns passos, a empurrando contra parede. O colete negro estava aberto e as abas longas farfalhavam nas suas pernas. Sabia o que veria a seguir e de jeito nenhum ia deixar. Antes que o mago cobrisse a boca com a sua virou o rosto fechando os olhos com força.

    Escutou um risinho cheio de deleite e estremeceu mais odiando isso. Natsu se aproximou mais dela. Suas mãos agarrando seus pulsos e prenderam contra parede. Ofegou tremendo mais. Ele arfava e sorria ao se debruçar nela. Lucy apertou os lábios e os olhos com mais força. Rezando pra que isso acabasse logo, no entanto. Ele não virou o rosto para o seu. Arfando mais, sentiu o hálito morno no seu pescoço e arregalou os olhos. Se apertando nela, a ponto de prensá-la na parede se arrepiou com a temperatura alta dele, o peito arfante a impedindo de respirar direito. Devagar ele se debruçou mais.

    Lucy arquejou e tentou se soltar, mas sequer conseguiu se mexer dessa posição embaraçosa, intima. Seu rosto queimou de vergonha. Suas pernas tinham entrelaçado, mas ele nem se importava. Natsu respirava perto do seu pescoço de jeito lento e a deixando curiosa e nervosa. Antes que o espiasse ele se curvou mais enfiando o rosto no seu ombro. Um choque disparou nos seus nervos e fechou os olhos tremendo. Sentiu o rosto dele roçar por cima do tecido, seguindo o arco do seu pescoço até enfiar o nariz atrás da sua orelha. Se arrepiou soltando um gemido. Seu corpo esquentado contra vontade como o dele. A respiração lenta e profunda a derreteu, junto com a voz enrouquecida.

    - Seu cheiro é tão gostoso, ghrá...

    Entreabriu os olhos confusa. Ghrá?

    - Lucy.

    Que voz é essa? Não foi o mago que cheirava seu pescoço. Foi...

    - Lucy.

    Piscou, quase incrédula. Foi uma garota!

    - Lucy!!!

    De repente, Natsu se esvaneceu e a parede a engoliu ao ser puxada para trás. No minuto seguinte seu corpo inteiro doeu. Abriu os olhos gemendo de dor. A centímetros do seu nariz encarava o piso de madeira lisa. Respirou com raiva e apoiou a mão se sentando e virando. Levy a encarava risonha de short e camiseta. Mirou para sua mão e a ponta do seu lençol estava nele. Ficou com mais raiva.

    - Levy, para de me acordar desse jeito! Um dia vai acabar quebrando mesmo meu nariz!

    Levantou tomando o lençol da amiga que a encarava mais risonha. O que só a irritou. Enquanto dobrava o tecido a garota sentou na sua cama a olhando de lado e curiosa. Suspirou estranhando e continuou dobrando o lençol.

    - O que foi?

    - Com o que você tava sonhando?

    Piscou confusa por uns segundos. É mesmo. Com o que sonhava? Ao dar uma última dobra a lembrança a engolfou. Parede, camisola e a respiração quente em seu pescoço.

    - Há! Seu rosto ficou vermelho! Agora tem que falar.

    Ofegou um pouco e encarou Levy. Ela sorria animada. Suas mãos apoiando no colchão ao se inclinar.

    - Não foi nada.

    Desconversou colocando o lençol em cima da cabeceira. Levy levantou do colchão, observando divertida enquanto se atrapalhava ao arrumar a cama.

    - Ah, sei. Então porque ficou vermelha?

    - Não é nada, já disse.

    Se virou pra ela irritada, mas a baixinha de cabelo azul apenas estreitou os olhos. Lucy foi até o armário. Dando falta pela primeira vez que acordou de Evergreen.

    - Cadê a medusa?

    Era assim que a chamava pelas costas. Enquanto procurava umas roupas Levy respondeu despreocupada.

    - Acordou cedo e saiu em missão. Você sabe, Laxus convocou a Raijinshuu e então...

    - Ah.

    Já tinha encontrado uma roupa. Mas estava revolvendo as peças penduradas, enquanto esperava suas bochechas pararem de queimar. Droga de sonho!

    - Hein, Lucy. Que sonho foi esse que te deixou tão vermelha?

    Se virou com raiva. As bochechas ardendo o dobro.

    - Não estou vermelha!

    - Ahã.

    Levy a encarava risonha, então suspirando atravessou o quarto direto para porta. Antes de sair fingiu pensar.

    - Sabe. Acho que não foi nada mesmo. – a encarou de lado – Afinal, você gemendo dengosa faz cocegas pode ser qualquer coisa.

    Arregalou os olhos com a imitação de Levy. A baixinha caiu na risada e com o pescoço queimando junto com o rosto atirou a primeira coisa que viu. Levy deu pulo batendo a porta e o ursinho de pelúcia se chocou num “pof” na madeira, caindo no chão.

    Franziu a testa, confusa e envergonhada.

    - Eu disse isso?

    Gemeu derrotada e foi pegar o ursinho. Era um presente da sua avó, agora falecida. Ao limpá-lo e abraça-lo contra o peito, pensou no sonho. Ele mudou outra vez. Diferente de três dias atrás a deixou mais quente e arrepiada quando lembrou. Escondeu parte do rosto na cabeça do ursinho, andando até o armário.

    - O que quer dizer ghrá?

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    No escritório comprido e amplo do Master, o piso de madeira era coberto por um tapete em vermelho e as paredes pintadas em amarelo-claro. Lucy se encontrava sentada numa cadeira em frente a mesa de mogno. Se esforçando pra esconder seu nervoso. Fazia um certo tempo que estava ali.

    - Você entendeu tudo, mocinha?

    Acenou concordando.

    - Sim.

    Master Makarov olhou dentro dos seus olhos e engoliu em seco de nervoso. Depois que Natsu saiu do dormitório ontem à noite Mirajane a avisou que deveria ir até a guilda hoje de manhã e conversar com o Master. Ele explicaria sobre formar equipe com um Classe S. Segundo ele, Natsu em primeiro lugar ficaria responsável por ela. Isso quer dizer que estaria sob sua supervisão. Seu queixo tinha caído ao ouvir e o velhinho a encarou esperando então fechou a boca, quieta. Mas mesmo assim...

    - Ah, Master?

    - Hai?

    - Só não entendi uma coisa.

    Ele a encarou mais entediado e retorceu as mãos.

    - Só o Natsu pode escolher as missões?

    Suspirando, o Velho remexeu numa gaveta e viu espantada ele puxar um cachimbo de marfim. Logo acendendo ao responder.

    - Sim. É uma das condições. Afinal de contas dos dois ele é o que tem mais experiência.

    Ofegou.

    - Mas a missão que Natsu escolheu é do nível dele!

    Makarov deu uma tragada no cachimbo e a olhou risonho. Lucy gemeu por dentro. Sem dizer nada estendeu a mão livre e Mira que estava à um canto do cômodo se aproximou com um livro menor. A capa de couro em vermelho. Encarando-a com pena e dando um sorrisinho abriu numa página e entregou para o Master. Lucy teve uma pontinha de esperança. Talvez quando ele visse fizesse aquele mago irritante mudar de missão. No entanto, tudo que Makarov fez foi analisar calmo o pedido e levantar os olhos pra ela, dando outra baforada.

    - Não vejo nada demais. É a de recompensa mais baixa de todas e mesmo assim uma boa soma. 3 milhões de jewel.

    Seu queixo caiu outra vez. Mas de ofensa. O velho pouco se importava se morreria nessa empreitada! O Master deu um sorriso torto do seu pavor.

    - Vai desistir então Lucy?

    Fechou boca e a determinação a tomou.

    - Não.

    - Muito bem. Mira vai leva-la até a sala onde marcamos os Magos Efetivados e não se esqueça. O período é de seis meses.

    - Tá.

    Levantou da cadeira dando uma olhada triste nos quadros à esquerda. Retratos de todos os Masters da Fairy Tail. O primeiro era de uma garota linda de cabelos encaracolados e dourados. Seus olhos verde-jade espertos. Mavis Vermelhion. A fundadora. Apostaria que se fosse ela sentada na cadeira do outro lado da sala, faria aquele Dragon Slayer debochado mudar de missão.

    - Vamos Lucy.

    Levantou a cabeça. Mira a esperava segurando a porta e acenando sem dizer nada cruzou o beiral. A garota fechou a porta e foi andando a sua frente. Seguindo o corredor de pedra e carpete azul, Lucy se sentia entalada. Mas não ia desistir. Era uma chance de ouro. E também iria mesmo esfregar na cara dele o quanto era boa na magia.

    - Lucy.

    Piscou. Mira a olhava sobre ombro sorrindo meiga.

    - Relaxa. Se o Master não viu problema então não precisa ficar com medo.

    Dobraram uma curva. As chamas brancas nos archotes iluminando forte o lugar.

    - Eu sei. Mas poxa. Tinha que ser justo uma missão Classe S? O que aquele babaca tem na cabeça?

    Mira deu um sorriso amarelo e cruzaram um corredor lateral. Por ele vinham magos conversando animados. Quem dera se sentisse assim.

    - Olha. Se fosse você eu não diria essas coisas por aqui.

    Franziu a testa confusa. Olhando os cabelos brancos da amiga balançarem com seu andar.

    - Como assim?

    Mira entrou numa sala. Parecia uma oficina de carpinteiro incrivelmente organizada e limpa. Ela andou até o final onde havia uma mesa comprida e polida depositando o livro de pedidos. Se virando para um armário de gavetas ela foi puxando umas e fechando, procurando algo...

    - Hum, senão me engano Matadores de Dragões tem sentidos aguçados. Onde está?

    Resmungou para si puxando mais uma gaveta e Lucy entendeu. Caminhou até a amiga se encostando na mesa.

    - Eu sei. Audição, olfato e visão. Tudo ampliado como de um dragão. Mas Natsu não pode ouvir através das paredes. O que você tá procurando?

    - Carimbo. – puxando uma gaveta embaixo, a albina sorriu – achei. Você disse que queria cor-de-rosa, não é?

    Lucy sorriu de repente esquecida da sua raiva pela missão.

    - Sim.

    Mirajane a olhou carinhosa e se virou para outro armário. Dessa vez com prateleiras. Nele pegou dois frascos pequenos. Um com um líquido cor-de-rosa berrante. Outro com um incolor, mas quando trouxe para a mesa a luz no lacrima refletiu no liquido num tom prateado. Destampando os frascos, ela começou a preparar o carimbo continuando a conversa.

    - Eu não sabia que conhecia sobre Metsuryü no Mahou. Onde você quer?

    Levantou o carimbo. Ela havia pingado uma gota daquele líquido incolor depois que aplicou a tinta rosa. Ansiosa Lucy estendeu a mão direita na mesa. Tão nervosa e feliz.

    - Aqui.

    Mira colocou o carimbo nas costas de sua mão pressionando e Lucy sentiu um calor ao mesmo tempo que um ralo saía das bordas do carimbo.

    - Sempre me interessei por esses magos e os dragões. Tenho um monte livros em casa. – franziu o rosto, subitamente confusa – nunca entendi por que.

    Com um estalo Mira retirou o carimbo e sua atenção voltou para sua mão. Linda e reluzente a insígnia da Fairy Tail tinha um leve brilho enquanto a admirava na luz. Vendo, Mira explicou.

    - É o temporizador.

    - O quê?

    Encarou a amiga enquanto ela guardava as coisas.

    - O líquido incolor que adicionei no carimbo. Quase não é usado. Na verdade, nem lembro quando foi a última vez.

    Franziu o rosto e pegou o livro em cima da mesa seguindo para a saída.

    - Enfim. Lembra do que o Master te explicou?

    De repente, Lucy ficou amuada.

    - Sim.

    - Pois é. Uma gota equivale à seis meses. Até lá se Natsu não achar seu desempenho bom sua marca vai sumir e...

    Abraçou o livro de pedidos Classe S, encolhendo os ombros. Lucy estava agradecida que não disse. O mestre foi bem claro. Seis meses era o estado probatório para que tivesse a marca. Já que sairia em missões ficaria fácil provar se tinha aptidão pra magia e nada mais que certo o Mago Classe S a avaliar. Seu estomago dava voltas. Apesar de conseguir abrir perfeitamente qualquer portão tinha problemas pra lidar com dois dos três Espíritos Estelares. Taurus era por falta de palavra melhor um tarado e Aquarius... mordeu o lábio enquanto saía com Mira no grande salão. A sereia a detestava. Sempre que tinha oportunidade tentava afoga-la. Talvez seja por isso que aprendeu a nadar e prender a respiração enquanto mergulhava.

    - Eu tenho cuidar de umas coisas.

    Levantou a cabeça saindo do devaneio. Mira olhava para o grande salão com a testa franzida. Estava uma bagunça, claro.

    - Tá. Enquanto isso vou procurar o Natsu.

    Ela acenou concordando e seguiu pelo piso lateral. Lucy enquanto isso dava uma olhada em volta pelas mesas compridas e os magos conversando. As vozes e as canecas batendo numa cacofonia. Estava procurando um cabelo rosado repicado. Mas enquanto seguia a balaustrada não viu um sinal. Suspirou se apoiando as mãos no mármore e parando. Pelo visto ele não veio hoje.

    - Procurando por mim, loirinha?

    Deu um pulo. Se virou arregalando os olhos pra direita e viu o mago a olhando convencido e encostado num pilar de madeira. Estava vestido do mesmo jeito que ontem. Colete negro longo e a calça cinzenta. Os braços cruzados a fizeram engolir em seco. Lembrando do sonho... De olhos estreitados, Natsu segurava um sorriso. Logo entendeu, suas bochechas queimavam. Pigarreou disfarçando e se aproximando dele.

    - É. Queria falar sobre nossa equipe.

    - À vontade.

    A voz dele saiu baixa e arrastada. Isso aumentou o calor que sentia e seu pulso já disparado pelo susto acelerou. Natsu a encarava de um jeito risonho e esperando. Resolveu ficar séria. Ignorando suas bochechas vermelhas. Não podia ficar lembrando a toda hora do sonho. Engoliu em seco fingindo uma calma que estava longe de sentir.

    - Eu conversei com o Master e ele me disse que você vai ficar responsável por mim.

    Falou com azedume e vendo o mago riu. Lucy procurou não se atentar para o som. Vibrante e divertido.

    - Pois é. Em outras palavras vou te avaliar. Conveniente, não?

    Curvou os lábios e uma súbita irritação a tomou.

    - Escuta aqui, se você pensa que vou te obedecer feito um cachorrinho, pode esquecer idiota. Eu não vou...

    - Onde foi marcada?

    Piscou confusa com a interrupção. Achou que brigaria com ela. Mas Natsu apenas a encarava curioso. Como continuou calada ele continuou.

    - Eu vi você saindo com a Mirajane daquele corredor. Ela te levou para ser marcada com insígnia, não foi? Onde escolheu?

    Se ajeitou mais no pilar. Lucy franziu as sobrancelhas. Essa atitude descontraída... Era muito diferente de quando se conheceram. Levantando a mão direita deu um passo pra mais perto e virou pra ele.

    - Aqui.

    Encarando o dorso da sua mão os olhos dele se arregalaram um pouco. Para aumentar sua confusão, Natsu soltou um braço e agarrou sua mão puxando para mais perto e ver melhor. Lucy arfou de leve tropeçando. Ele não fazia nada, só olhava para sua marca da guilda calado e estreitando os olhos. Ficou nervosa. Ele estava se irritando, com certeza estava. Depois de um longo minuto não aguentou a curiosidade.

    - O que foi?

    Levantando o olhar para ela a encarou desconfiado, ainda segurando sua mão.

    - Porque aqui e dessa cor?

    Piscou confusa. Estava bravo? Não, os olhos deles eram apenas desconfiados e sinceramente agitava seu estomago já nervoso.

    - Eu gosto dessa cor. Quase ninguém tem e também não ia marcar a insígnia na minha coxa ou no colo como a maioria das garotas.

    Natsu suspirou e soltou sua mão. A desconfiança incomodava.

    - Qual o problema?

    A encarando com insistência ela viu uma coisa que arrepiou inteira. Um sorriso lento e debochado

    - Parece que não conhece sua ancestral tanto assim. – ante ao seu olhar de interrogação ele curvou a cabeça. O sorriso sumindo, mas os olhos divertidos – A marca de Lucy era rosa e nas costas da mão direita. Segundo ela, quis assim justamente por seus motivos, loirinha.

    Sorriu de canto do seu rosto pálido e chocado.

    - Você realmente me intriga.

    Desencostando do pilar deu meia volta, seguindo o resto do piso lateral, mas antes que se afastasse parou a olhando sobre o ombro.

    - Estação de Trem. Cinco da manhã. E não se atrase.

    Seguiu caminho sumindo no movimento dos magos no fim do corredor. Lucy ainda encarava o vazio e engoliu em seco. Escolheu ser marcada exatamente com a “Lucy” e Natsu não brigou com ela. Nem fez piada. Agir sem querer como a namorada morta dele a espantou. Principalmente pela reação despreocupada do mago.

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    - Lucy tem certeza?

    - Tenho.

    Levy enrolou o tapete debaixo do braço. Estavam na estação de Eramar. Nem tinha amanhecido e as duas garotas estavam bocejando de sono. De tão nervosa com a missão Lucy só conseguiu pregar os olhos às três da manhã. Dormir tão pouco a deixava cansada e piscando a todo momento. Com uma mochila nas costas foi andando até a escadaria e entrando no prédio. Levy ia ao seu lado com a mão na boca. A garota só estava de vestido e chinelas.

    - Por que tem que ser cinco da manhã?

    Falou entre um bocejo e o outro. Levy piscando com ar de sono olhou em volta. Havia quase ninguém na estação e perto das plataformas um trem já esperava chiando e soltando fumaça.

    - Sleep Hollow fica a 15 horas de Eramar. Acho que vão chegar no fim da tarde ou a noite.

    A baixinha bocejou deixando Lucy mais sonolenta. Não disse nada. De tênis branco, uma saia pregueada rosa e camiseta vermelha, podia muito bem passar por uma mimadinha fugindo de casa. Claro, vestida do jeito mais errado. Levy e ela pararam perto do trem olhando em volta. Onde será que estava Natsu? Pelo relógio passavam dez minutos.

    - Sabe, sobre essa missão de vocês...

    - Hum?

    Olhou mais envolta e sentindo um nervoso.

    - Não acha estranho pedirem 3 milhões de Jewel por um resgate de pessoas desaparecidas?

    - Sim, mas eu até entendo. Quer dizer, o lugar é isolado e ninguém quer ir pra lá.

    Soltou um bocejo ficando preocupada. Natsu não tinha brincado com ela, tinha? Cinco da manhã... Ao seu lado Levy franziu as sobrancelhas, um dedo na bochecha enquanto pensava.

    - É isso que me intriga. Essa quantia e ainda de nível Classe S. Porque essa missão é tão perigosa?

    - É o que quero saber também, garota.

    As duas deram um pulo. Se virando pro lado Natsu as encarava atravessado e apoiado na coluna de ferro esverdeada. Em suas costas também uma mochila e estava abarrotada. Lucy arregalou os olhos. Há quanto tempo estava ali? Desencostando da coluna ele caminhou até elas a olhando chateado.

    - Que demora loirinha.

    - Eu não cheguei tão tarde assim. Né, Levy?

    Olhou pro lado e o lugar estava vazio. Girou no lugar e no grande pátio de pedra nem um sinal de uma garota baixinha de cabelos azuis. Ouviu um risinho e encarou o mago. Ele sorria divertido dela. Se emburrou com isso.

    - Ela é bem rápida.

    E uma bela amiga, mas não disse nada. Foi andando até a porta de embargue do trem com Natsu seguindo quieto atrás dela. Ao entrar no vagão, um homem de uniforme azul e chapéu alto a olhou sério. Quando ia cobrar os bilhetes Natsu entregou pra ele. O súbito calor em suas costas a assustou um pouco. Mas continuou andando no vão entre os bancos com estofados vermelhos e madeira. Como esperava estava deserto, mas nem se importou. Escolheu um lugar e tirou a mochila das costas, jogando no canto da janela. Pretendia tirar um cochilo até pelo ao menos três estações.

    O apito do trem soou e logo um tranco sacudiu o vagão. Com as luzes acesas no teto Lucy observou o mago largar a própria mochila no chão e sentar na sua frente. Não a surpreendeu. Sabia que ele não queria sentar do seu lado. Antes do trem de fato se mexer. Natsu se encostou no estofado fechando os olhos e respirando fundo. Franziu a testa. Não durou nem um minuto e logo ele entreabria os olhos a encarando. O trem saiu da estação pegando velocidade e logo se afastavam da cidade. Piscando pra ela, Natsu quase riu.

    - Perdeu alguma coisa, loirinha?

    Seu rosto esquentou. Ficou encarando ele quanto tempo? Olhou pro lado tentando disfarçar.

    - Nada.

    Silencio. Parecia quando foram levados para o castelo, só que dessa vez não sentia hostilidade nenhuma emanar dele. Deu uma espiada e engoliu em seco. Natsu a observava com uma atenção que incomodou. Fingindo não notar enfiou a mão num bolso da mochila, pescando o papel da missão. O “S” em vermelho no canto superior direito e deu outra olhada. Seus pés se torciam de nervoso.

    - Hum... Essa missão é meio estranha mesmo. Porque escolheu ela?

    Continuou encarando o papel. A sua frente, ouviu um estalo e um enfurnar. Parava e repetia. Através do papel uma luz se acendia e apagava.

    - O que diz o pedido?

    Franziu as sobrancelhas esquecendo seu nervoso.

    - “Ajudem-nos. Pessoas desaparecem sem vestígios há anos em nossa vila e não temos a quem recorrer”

    Piscou abaixando o papel no colo. O estalo e enfurnar se repetindo. A sua frente o mago quase riu.

    - Estranho, não?

    - Desaparecem sem vestígios... Isso...

    Ficou mais confusa ainda encarando o papel.

    - Exatamente, é uma grande mentira.

    Levantou o olhar e piscou. Natsu encarava a própria mão pensativo. Agora entendeu o barulho e a luz. Ele estalava os dedos e uma chama escarlate aparecia. Estalava de novo e a chama apagava. Fazia isso com um ar tão despreocupado sem pensar que podia sem querer tacar fogo no vagão inteiro!

    - Quer parar com isso?

    Levantou os olhos para ela.

    - Isso o que?

    A chama acendeu e apagou. Lucy começou a se irritar.

    - Isso. É irritante, além de perigoso.

    Ele sorriu de um jeito maroto e estalou os dedos outra vez. A chama foi mais alta e Lucy arregalou os olhos.

    - Para!

    Natsu riu e acendeu os dedos de novo. Dessa vez a chama se retorceu tomando a forma de uma bola de fogo. Lucy engoliu o nervoso e o fulminava. Curvando a cabeça ele se inclinou pra frente, fazendo-a se encostar no banco. Sua mão abaixada segurando fogo que crepitava. A todo momento esperava ela escapar da mão dele e cair no piso, no banco...

    - Calma, loirinha. Eu controlo minhas chamas. Se eu quiser começar um incêndio pode ter certeza que vai ser de proposito.

    Sorriu pra ela e o encarou engolindo o seco. Impressão ou Natsu estava brincando com ela? E não de um jeito debochado. Se endireitando fechou a mão engolindo a chama e voltou a estalar os dedos. Suspirou, retomando a brincadeira irritante. Se ajeitou no banco, pela janela o terreno por onde passavam continuava escuro e montanhoso. Tinha que admitir, estava gostando viajar de madrugada, mesmo que seja na companhia dele.

    - Voltando ao assunto, porque disse que era mentira o que dizia no papel?

    Ainda encarando sua mão, os dedos acendendo e apagando, o mago apoiou um pé na mochila jogada no chão.

    - Ninguém some no ar, sempre tem uma pista. Pessoas sumindo por anos e os homens não fizeram nada? Nem encontraram um culpado? O cidadão-chefe com certeza está escondendo alguma coisa, loirinha.

    Levantou os olhos. Como estava encostado de cabeça baixa umas mechas caiam neles e Lucy prendeu o folego. Quando estava sério, Natsu era intimador mas ainda por causava esse calor involuntário quando a encarava desse jeito. O mago era perigosamente lindo e por um momento quase esqueceu do que ele acabou de falar. Pigarreando, olhando pra janela.

    - Tem razão. Acho que Master sabe, quer dizer, pra classificar o nível de perigo do pedido.

    - Com certeza. Por isso nós dois vamos até lá.

    O olhou e estava sorrindo. Lucy finalmente entendeu aquele ar que passava desde que se viram a dois dias. Empolgação. Estava animado que sairia em missão com ela! Curvando a cabeça, Natsu parou de sorrir a olhando mais risonho.

    - Vai ser um belo teste pra você.

    Seu humor lisonjeado azedou. Claro, o divertimento dele era porque estava por falta de palavra, na palma de sua mão. Com as aquelas chamas idiotas. Acendendo e apagando.

    - Claro que sim, por isso escolheu essa missão tão fácil, não é?

    Natsu riu do seu sarcasmo. Ao longe o céu começava a se tingiu num azul claro. Lucy invés de se emburrar mais, ficou amuada. Ele devia se divertir muito com sua ancestral, mas devia ser mais alegre e ela era uma garota pelo tudo que leu tão forte e determinada como Erza. Suspirou se inclinando no banco e encostando a cabeça na mochila, se sentindo tão cansada.

    - O que foi, loirinha?

    O riso tinha parado, mas voz continuava risonha. Se ajeitou mais puxando a pregas da saia, o papel dobrado na mão.

    - Nada. – piscou sonolenta – Natsu, o que é ghrá?

    Perguntou só por perguntar. No entanto, invés de uma piadinha o estalo dos dedos dele parou.

    - Onde ouviu isso?

    No meu sonho, mas ficou calada. Podia estar morrendo de sono, mas de jeito nenhum contaria pra ele.

    - Não lembro direito. É um apelido, não é?

    Bocejou juntando as mãos debaixo da bochecha.

    - É irlandês. Foi um homem que te disse isso, não foi loirinha?

    Estranhou. Que tom era esse? Abriu os olhos e se espantou. Todo ar maroto tinha sumido do rosto de Natsu. Ele a encarava sério com um cotovelo apoiado na perna levantada.

    - Porque diz isso?

    Dando um sorriso irônico o mago estreitou o olhar. Lucy sentiu um nervoso.

    - Porque só um homem diria isso e não minta que não foi pra você, loirinha.

    Engoliu em seco e tratou de dormir. Mas demorou a pegar no sono. O ar no vagão parecia igual aquele dia da carruagem. Carregado e sua pele ardendo do olhar irritado dele.


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