— Vamos o deixar aí? — perguntou Murano, com as mãos nos joelhos. Mike chegou mais perto para olhar o corpo do homem, a varinha caída a um metro dele, Mike a reconheceu na hora, era a varinha que brilhou provando que ele era um bruxo.
— Temos que enterrá-lo. — falou Art. Mas logo mudando de ideia pois o corpo virara fumaça, e sumira completamente no ar, assustando a todos. Ficou apenas a varinha no chão. Mike foi até ela para apanhá-la, quando se se ergueu escutou uma voz diferente.
— Isso acontece, quando o bruxo, vive só pelos poderes das trevas — Todos se viraram, estava de pé atrás deles, o senhor de casaco marrom e sapatos engraçados, segurando uma vassoura na mão direita.
—Senhor Rufino —falou Mike sorridente correndo mais perto. O homem assentiu com a cabeça.
— Vejo que recuperou, minha varinha, Mike.
— Sua? — falou olhando pra varinha brilhando em sua mão — Então o senhor é um bruxo mesmo? — perguntou Mike que já imaginou desde que ganhou o Livro Preciso, era obvio até.
— Bruxo? — falou Laura — ele é uma lenda, um dos maiores aurores do Brasil — Ela olhava com a boca aberta, admirada.
— Auror aposentado — acrescentou ele, agradecendo a varinha entregue por Mike.
— O senhor pode me dar um autógrafo? — falou Guga
— Claro meu jovem, mas depois pode ser? Não trouxe nenhuma pena.
— Como o senhor sabia que a gente tava aqui? — perguntou Murano erguendo uma sobrancelha.
— Eu não sabia, estava procurando vocês, desde que Mike sumiu eu comecei as buscas, suspeitei que tinha algo a ver com o fato de ele ser bruxo, e quando você sumiu eu tive certeza — Então seu Rufino sabia, que ele era bruxo desdo começo, sabia de tudo.
— O que era aquela criatura? Era Malum mesmo? — perguntou Mike.
— Sim, Malum era um bruxo das trevas poderoso, aquela forma bizarra, ele assumia para amedrontar os seus adversários, e suas vítimas. Ele vivia a séculos, usando o poder da magia negra, sacrificando outras pessoas em seu bem próprio.
— O que ele fazia dentro da cerca? — agora foi Akira que perguntou.
— No final do século passado, ele foi condenado a viver sem magia, preso no labirinto pelo resto da sua vida, por ter cometido diversos crimes. Até que um dia Paredes o encontrou.
— Paredes? — Mike tinha se esquecido deles, olhou em volta, mas não o viu, e nem seus comparsas em lugar algum, tinham escapado.
— Sim, não sei como ele descobriu o local do labirinto, e como tirar Malum, mas ele ajudou a se livrar o feitiço temporariamente.
— Talvez num livro — falou Mike, que Contou-lhes sobre o livro negro, que roubou da diretoria da escola. Seu Rufino, com uma certa urgência na voz, pediu pra todos eles chegarem perto, e no segundo seguinte todos estavam na frente da casa de Mike. Aparataram.
A casa estava vazia. Mike foi até o armário, passou a mão em cima “uffa” o livro ainda estava lá. Seu Rufino revirou o livro, cheio de pó, até parar numa página.
— Aqui achei. É um feitiço muito complexo e poderoso, ele precisava de sete crianças bruxas, antes dos onze anos. Precisava sacrificá-las numa noite de lua cheia. Se conseguisse estava livre pra sempre do labirinto e seus poderes estariam no auge.
— Então ia ser aquela noite mesmo, ele ia concluir o feitiço. — falou Mike baixinho, olhando pra Laura e Murano, que pareciam tão assustados quanto ele.
— Antes, com a ajuda de Paredes, ele só conseguia sair de dia, e seus poderes eram parciais também.
— Mas e Art por que estava aqui? — perguntou Guga.
— Eu não sei todos os detalhes, isso só ele vai poder responder, mas acho que ele deve ter descoberto algo sobre Malum e Paredes — falou seu Rufino, mas Mike não ficou convencido, se fosse assim por que não o mataram? Por que o deixaram na cabana levando pão e água todo dia?Ele perguntou:
— O que não entendi, e o Livro Preciso, aqueles jovens, estavam lutando contra uma criatura igual a Malum, e... — Mike começou mas seu Rufino o interrompeu.
— O livro Preciso — seu Rufino olhou em cima da cômoda estava lá, do jeito que Mike tinha deixado — mostra o que a pessoa precisa ver Mike, provavelmente você estava vendo a história da Escola de Magia Cormmac Inimi.
— Esta lenda eu sei — falou Murano sentado na cama de Mike.
— Todas as crianças nascidas bruxas conhecem a história da Cormmac, — falou Laura — Cormmac Inimi era um jovem bruxo, que sonhava em fundar uma escola de Magia aqui no Brasil, mas morreu defendendo crianças de um bruxo das trevas, antes de conseguir realizar.
— Sim, ele estava defendendo crianças de Malum, este foi um dos crimes que levaram-no a prisão — Então era isso? Aquela criatura mostrada no livro era Malum mesmo, os jovens devem ter apenas o afugentado com o fogo, e depois ele deve ter voltado
— Depois disso eles fundaram a escola — completou Laura.
— Tá mas ele morreu em 1599, Malum viveu por tanto tempo assim?
— Magia das trevas Mike, ela tem muitos caminhos escuros — ao falar isso, seu Rufino pediu pra levar o livro negro, pra um lugar mais protegido, Mike não se opôs, não gostava nem de abrir aquele livro era melhor mesmo.
— Preciso levá- los pra casa — falou o velho para as crianças que estavam sentados, escutando a história.
— Mike — falou Laura com os olhos lacrimejados — nós vamos voltar a se ver, né ?
— Claro agora você já sabe onde eu moro pode vir me visitar quando quiser. — e a abraçou — O mesmo serve pra vocês — falou se dirigindo aos outros. Guga correu e o abraçou também, depois Mari, Murano abraçou também, Akira, Art, e por último Emi.
— Obrigado Mike — falou Guga, com uma voz abafada pelo abraço em grupo.
— É obrigado — falaram Akira e Mari juntos. Todos estavam chorando ou quase.
— Obrigado vocês — respondeu Mike, que achava mesmo que não tinha feito nada, além de sua obrigação.
— Até logo, e não sumam — gritou Mike ironicamente antes de todos sumirem no ar. Seu Rufino aparatou com todas as crianças dali, depois de eles se despedirem, deixando seu pai e Murano, que morava ali perto.
— Eu preciso ir também, minha mãe deve estar preocupada — falou Murano.
— Pra falar nisso onde será que está minha mãe? — falou Mike
— Ela deve estar na casa da dona Jane, depois que você sumiu ela dorme a maioria das vezes lá — quando Murano estava na porta ele parou— Que bom que você está de volta — falou dando um sorriso.
— Ah veio — falou Mike, dando a mão pra cumprimentar o amigo, meio sem jeito, nunca sabia o que dizer direito numa hora daquelas.
— Que aventura em — falou ele saindo — até mais.
Todos tinham ido embora, descansar. Mike precisava urgentemente de um banho. Quando saiu do banheiro, deu de encontra com sua mãe, correu abraçá-la.
— Onde você estava muléque? — falou com a voz embargada, abraçando tão forte, que ele achou que ia parar de respirar.
— Eu fui sequestrado — falou ele quase chorando, apertado no avental que a mãe sempre usava —eu tenho que te mostrar alguém — falou desencostando e puxando a mãe pela mão até o quarto, onde tinha deixado seu pai.
— mas … — protestou mãe, já chorando.
— Quem é Mike ? — quando viu o homem cabeludo de costas, de pé olhando as coisas de Mike. Art se virou. Ela soltou um grito.
— Arthur? — falou ela meio brava.
— Mãe nós precisamos conversar, o papai nunca abandonou a gente, ele foi sequestrado, como eu — Mike contou tudo pra ela, sobre ele ser um bruxo, sobre o livro preciso, a cabana, Malum, tudo.
Agora era ela que ficou com a boca aberta, sem acreditar, como poderia era inacreditável mesmo. Mike se lembrou do bilhete de onde será que viera? Se ele foi sequestrado quem o deixou lá?
Mike foi buscar Caio na casa da dona Jane, pra conhecer seu pai, o menino ficou um pouco ressabiado no começo mas depois iria se acostumar, ele sentia suas as forças renovadas, sua família toda emfim reunida.
No outro dia sua mãe e seu pai foram no hospital bruxo, para começar o tratamento para amnésia. Ela ainda estava meio fria com ele. Mike ficou em casa descansando, escutou bater a porta, levantou do sofá onde estava assistindo televisão e foi atender, era Tomi, Taci e Murano.
— Você tá bem mano? — perguntou Tomi do jeito reservado dele de sempre.
— To mano — falou ele puxando o amigo pra dar um abraço, deixando ele meio sem jeito. Infelizmente Tomi não era bruxo, ou, pelo menos, ainda não, já que não tinha onze anos completos, e como ele não podia contar nada sobre o que houve, teve que inventar uma desculpa, dizer que tinha sido um sequestro normal, e que tinha fugido e ajudado as outras crianças fugir também.
— Nosso herói — falou Taci, também muito feliz por vê-lo, mas ela sabia de tudo, morava com uma família bruxa, não tinha revelado seus poderes, talvez nunca revelaria, sendo ela adotada. Era domingo não tinham aula ficaram juntos ali a tarde toda conversando. Tomi até convidou pra jogar bola, mas Mike e Murano ainda estavam meio cansados e acharam melhor não.
No outro dia na escola, nem sinal de Malum e nem Paredes, graças ao bom céu. Depois de uma semana o antigo diretor Sr. Mario, voltaria a seu posto. A escola aos poucos foi voltando ao normal.
Mike viu de longe seus antigos rivais Nícolas e Murilo, do outro lado do pátio, mas não estava nem de longe com raiva deles, parecia que toda aquela briga tinha sido em outra vida, apesar de ter ficado apenas alguns dias na cabana. Mas agora que eles não se metessem com ele, não ia fazer nada pra provocar, mas também ia se defender se precisa-se. Os dois vieram em sua direção.
— E ai Neguinho — falou Nícolas, Mike apenas o olhou feio.
— Calma viemos em paz
— É queremos uma trégua — falou Murilo.
— Porque ? — perguntou Mike desconfiado, aquilo era muito estranho.
— A gente soube que você ajudou todas aquelas crianças a escapar do cativeiro — falou Murilo olhando pra baixo parecia com vergonha. Como é ? Mike estava confuso quem falou aquilo pra eles? Como?
— É, a minha irmã era uma delas. — falou Nícolas
— Quem é a tua irmã? — perguntou Mike cada vez mais confuso, ele nem sabia que ele tinha uma irmã.
— O nome dela é Emília.
Emília? Então a Emi era irmã do Nícolas, até que eles são parecidos a mesma cor de pele branca, o mesmo cabelo bem preto. Será que ele sabe que ela é uma bruxa? Ou pior será que ele também é? Mike ficou morrendo de vontade de perguntar, mas achou melhor não, vai que ele não sabia, e se tratando do Nícolas vai saber o que ele podia fazer.
— Ok — respondeu Mike apertando a mão de cada um deles.
Estava sendo o melhor dia de aula do ano, fez as pazes com Nícolas e Murilo, sem o diretor do mal e seu vice, quando Mike pensou em Paredes, lembrou que ele ainda estava solto em algum lugar. Tinha que se cuidar talvez ele quisesse se vingar, mas se esforçou para esquecer dele, agora ele tinha seu pai, ele o protegeria, aliás seria a primeira vez que seu pai ia lhe buscar na escola, apesar de ele achar que não precisava, pois já estava grande, pra alguém ter que ir buscá-lo, mas, no fundo, estava achando o máximo.
— Mike — falou seu pai, quando chegaram em casa, ao lado de sua mãe. Nem parecia a mesma pessoa, sem barba, cortou o cabelo, roupa nova, outro bruxo.
— Tenho uma coisa pra te contar, recuperei a memória — falou Art com um sorriso no rosto. Mike não podia estar mais feliz era bom de mais, mas sua mãe tinha não estava tão feliz assim.
— O senhor se lembrou como foi parar naquela cabana? — falou dando um pulo.
— Sim — Art sentou na cama ao seu lado, com uma expressão séria no rosto.
— E então? Qual o problema? — falou ele, sem entender por que de tanta seriedade.
— É muito difícil pra mim Mike, falar sobre esse assunto — O menino ficou olhando no olhos do pai, enquanto ele falava — Mas eu vou te contar tudo. Depois que eu me formei na escola de magia, e conheci sua mãe, e depois que nos casamos, eu me tornei um auror, e estava investigando um caso bem difícil, sobre uma série de assassinatos . Quando achei uma evidencia que Anestor Paredes poderia estar envolvido nos crimes, fui à casa dele no meio da noite e digamos… entrei escondido, lá eu encontrei o Livro negro, não podia entregar ao ministério, a final eu não estava nem em serviço — Mike escutava cada palavra que seu pai falava, sem nem piscar — então resolvi o esconder, mas eles descobriram onde eu morava e vieram buscar — enquanto seu pai falava, sua mãe olhava pra baixo, como se estivesse tentado se lembrar — então me levaram para a cabana, e me torturaram pra eu contar onde o livro estava, eu não o entreguei óbvio, imaginava os planos deles, eu não podia. Mas não tava aguentando mais, foi aí que eu tomei a varinha de um deles, e lancei um feitiço de amnesia em mim mesmo. Foi assim que eu fiquei cinco anos na cabana.
—E aquele bilhete que a mamãe achou?
—Paredes mandou seus capangas aqui em casa pra me levar, houve luta, algum vizinho que sabia que eu sou bruxo viu e avisou o ministério, eles chegaram depois, apagaram a memória da sua mãe e deixaram aquele bilhete.
Mike se lembrou do sonho que teve, tudo tinha sido verdade, ele olhou para sua mãe, que também o encarava, ela sabia também. Ficou pensando, ele perdera o pai por tanto tempo, por causa de um livro, um livro. Olhou em direção guarda-roupa onde tinha o deixado, enquanto estava com ele, agora já não estava mais lá, seu Rufino o levara. Melhor assim, não queria ficar olhando pra quele livro maldito.