Avada

— Calma, vão devagar — gritou o homem levando o menino pelo ombro.

Mike, como os outros, queria ver o que era a coisa, se ela ainda estava viva, pensava em chegar o mais rápido possível, pois se ela ainda estivesse, teriam mais chance de acabar com aquilo, se bem que tinha o pressentimento que a criatura já estava morta, pois a cerca já não existia, e ela devia ter algo a ver com aquilo.

Avistou de longe, um amontoado preto, que eles não sabiam dizer se era cinza, carvão ou pano, ainda fumaçando, todos pararam a uns quatro metros, só observando aquela cena. Estavam no meio de um campo de terra. Nem uma folha se quer no chão. Nem um sinal que algum dia houve uma cerca feita de plantas naquele lugar. Lá trás se via a pequena cabana, quase no horizonte, já amanhecendo, não tinha ideia que haviam andado tanto, por tanto tempo assim.

— Então? — perguntou Art, chegando perto.

— Não sei, vo lá ver — falou seguro que o bicho estava morto, afinal estava saindo fumaça dele, e tinha voado pelo ar gritando, com certeza bem aquilo não estava. Deu um passo pra frente, mas Laura o segurou pelo braço,

— Não Mike, ele pode tá vivo ainda — falou ela com um olhar preocupado. Ele entendia, mas alguém tinha que ir la conferir, não sabia porque mas achava que era dever dele. Quando se virou e deu mais um passo, aquilo se levantou, formando uma nuvem de cinza escura no ar.

Não era possível, ainda estava vivo, eles não podiam acreditar. Mike parou com o susto. Quando veio em sua direção uma luz vermelha, ele pulou o mais rápido que pode para o lado caindo com força na terra marrom. Escutou Laura gritando seu nome, mas não deu tempo de olhar pra trás. Olhou o que tinha jogado um feitiço nele, Mike não pode acreditar, chegou abrir a boca de espanto, a coisa negra com cabeça de caveira era Malum. Um Malum irado, ele girava a varinha novamente, já pronto pra conjurar outro feitiço contra ele.

— Protego — Mike se protegeu ainda caído. Viu feitiços vindos de trás dele na direção de Malum, eram seus amigos. Laura, Murano e seu pai o atacavam ao mesmo tempo. Levantou rápido, e atacou também, mas o diretor, se defendia de todos.

Todos pararam um instante, percebendo a ineficácia contra o inimigo, Malum também, não revidou, só estava o encarando.

— Então foi você — falou ele arquejando, com os braços caídos ao lado do corpo, com a cara todo suja de cinza e sangue. O fogo o machucara de verdade, isso quer dizer que ainda podiam vencer — estava tudo certo até você chegar, faltava apenas um, um só, e então tava feito — Malum falava com dificuldade, olhando-o com ódio.

— O que estava feito? — perguntou, já com mais segurança, Eles tinham derrotado quatro guardas de uma vez só, deviam conseguir contra ele sozinho, machucado e cansado.

— Cuidado, ele parece ser poderoso — falou Art, chegando ao seu lado junto com os outros que tinham varinha, deixando os desarmados mais atrás.

— Você não entende mesmo, não é? - perguntou Malum ainda como uma estátua, parado lá, os encarando, meio arqueado, parecia que mal se segurava de pé — este era o projeto da minha vida, e você estragou tudo — Gritou a última frase , e ergueu a varinha, e mandou mais um feitiço contra eles, que Mike não sabia qual deles tinha defendido, pois ele e Laura agiram ao mesmo tempo. Malum respirava com dificuldade.

— Seu pirralho, eu não vou te contar tudo, se é isso que você está esperando — Malum gritou mais alto e voltou os atacar, mas agora muito mais forte, cada vez que um deles fazia o “protego” dava um paço pra trás, seu poder, por duas vezes quase derrubou Mike, mas não era só isso, Malum era muito mais poderoso, ele gritou algo que Mike não entendeu, fez aparecer diante deles, duas cobras de fogo, enormes e ameaçadoras, que pairavam de pé diante deles, Art adiantou-se e começou um duelo eletrizante contra uma delas, e a outra investiu contra eles.

— Pegue o Malum — escutou Murano tentando segurá-la, Malum ? Ele sozinho contra o diretor? Mike não estava tão confiante assim, mas não era hora, pra se deixar abalar, ele tinha que derrotá-lo.

— Vai Mike você consegue — escutou Laura, que já estava ajudando Murano com a serpente de fogo, pois cada uma delas era muito poderosa, “tá certo, agora somos eu e você” pensou Mike, tentando tomar coragem. Chegou mais perto do diretor, que ainda estava com toda aquela raiva ameaçadora no olhar.

— Agora eu vou te matar, pirralho — berrou Malum enquanto jogava seu feitiço. Mike usou o expelliarmus, e como antes, os dois feitiços se encontraram no ar, escutou um barulho alto como o tiro de um canhão, os dois feitiços formaram uma corrente mágica, mas Malum era muito forte e fez seu feitiço voltar contra ele. A varinha de Mike voou pelos ares, indo parar em algum lugar longe de seus olhos. Mike só viu quando o bruxo das trevas ergueu a sua varinha, e deu um pequeno sorriso de canto de boca, quando ele gritou.

— Avada Kedavra.

Mike viu uma luz vindo em sua direção, rápido demais pra se desviar, um calor invadiu seu peito, uma força descomunal o jogou pra trás. Caiu desacordado.

As cobras de fogo sumiram, tudo silenciou só escutava o arfar de Murano no ar.

— Mike — Gritou Laura correndo junto com os outros, em sua direção, mais a frente viu Malum, também caído no chão. Ela se aproximou e segurou Mike no colo, ele estava quente, saia de seu peito um fino fio de fumaça, indo em direção do céu. Olhou melhor percebeu um buraco na camiseta, e um pedaço de cordão queimado, em volta de seu pescoço. O que escutou a seguir a encheu de alívio e alegria, Mike tossiu.

— O que aconteceu? — falou numa voz fraca e meio rouco. Sentia uma dor no peito, que ardia um pouco também, Laura o abraçou, chorando no seu ombro. Mike olhou pra cima viu os outros, todos com cara que tinham corrido uma maratona pelo meio de um campo de carvão, Murano tinha um corte na testa, e Art segurava uma das mão enfaixada, “Enfaixou com magia” , pensou ele. Guga, apoiado no ombro de Akira, Emília e Mari, também o olhavam assustadas.

— Eu pensei que você estava morto — falou Laura, limpando as lágrimas mas elas logo voltariam a aparecer.

— O feitiço de Malum, ricocheteou no pingente do seu cordão — Falou Art, parecia mais seguro e confiante que nunca, Mike nunca o viu falando assim — e voltou pra ele mesmo. Mas que pingente? Ela não se lembrava de usar um cordão no pescoço. Percebeu na sua direita uma moeda, grande de ouro, caída ali perto. A moeda do homem de óculos! Agora ele se lembrou, tinha a amarrado num cordão velho e pendurado no pescoço pra se lembrar de seu pai, e tinha esquecido completamente dela.

Murano olhou pra direção onde estava Malum, Mike não conseguia ver, pois estava ainda deitado no chão. Tentou levantar, o peito doeu um pouco, Murano e Art o ajudaram. Mike viu, lá esparramado no chão, o mesmo monte de pano preto de antes, mas agora dava pra ver que era uma pessoa.

Malum jazia na sua frente. Seu corpo estava ali, morto com a varinha a seu lado. Tinham conseguido, estavam livres. Mike sentou no chão exausto.