— Vamos? — perguntou Mike, na frente dos outros, todos de pé, encarando a cerca feita de plantas, que agora parecia maior e mais amedrontadora que nunca. Será que estavam mesmo prontos pra ir? Será que podiam enfrentar o que estava por vir? Será que eram fortes suficientes? Mike não sabia mas qualquer que fosse a resposta iam ter que enfrentar.
Já passava de meia-noite, a luz da lua cheia estava mais clara agora, Mike se aproximou, e levou a mão para encostar numa folha em formato triangular, de um verde-claro meio azulado, mas ela se moveu junto com uma parte grande da cerca, formando um imenso portão, grande e muito escuro. Todo mundo tava quieto, alguém engoliu seco atrás dele, e quando Mike deu o primeiro passo Laura segurou sua mão.
— Sorte, a todos nós — falou ela estava visivelmente abalada, com certeza, lembrando da noite que Paulo entrou sozinho, e nunca mais voltou. Sem ninguém dizer mais nada, todo mundo tenso, andaram de vagar. Alguns passos a frente, invadiu os ouvidos de todos, um barulho alto de folhas mexendo, a cerca se fechou atrás deles, era incrível como o barulho de dentro era muito mais alto, que de fora, Mari soltou um gritinho, tudo virou um breu aterrorizante, a luz da lua se extinguira por completo, folhagens alta por todo lado, não dava pra ver nem a lua dali, como se a cerca cobrisse todo o céu também. Não se via, e nem escutava nada, nem pássaros, nem mesmo grilos, que são comuns em vegetação, faziam barulhos ali. Mike só sentia um vento gelado bater no rosto, e apesar de ser verão sentia um frio inexplicável. Chegou a ficar meio tonto. Ele nunca sentira um medo tão grande na sua vida.
— Lumus maxima — Laura iluminou o lugar, pelo menos agora dava pra ter uma noção do que tinha a alguns metros na frente e não andariam na total escuridão.
— Vamos também Mike — falou Murano, fazendo sua varinha acender, mas a luz ficou concentrada neles, chegava a doer os olhos de tão claro. E o pior, longe ainda na dava pra ver nada.
— Melhor não — falou ele percebendo que não ajudou em muita coisa, e apagou novamente.
— Vamos — falou Mike, tomando coragem, olhando pra o mais longe que conseguia enxergar, no chão haviam folhas e grossas raízes por todo lugar, andavam devagar, para não tropeçar.
A uns duzentos metros pra dentro, o caminho virava pra esquerda, o corredor parecia ter ficado mais estreito, obrigando eles se juntar mais, encostando um no outro, Laura a sua direita, encostou seu braço no dele. Ela estava gelada, talvez fosse ele, mas parecia tremer também. E depois de novo, outra curva, agora pra direita, mas quando viraram a cerca mexeu novamente atrás deles, fechando o caminho por onde vieram. Eles pararam, fazendo Guga e Akira bater em Mike e Laura que estavam na frente. Viraram para olhar pra trás.
— Não podemos mais voltar — falou Laura
— A cerca se fechou — Quando Mike falou isto, escutaram um grito, vindo da frente deles, a voz implorava que algo parasse e pedia por socorro, pelo amor de Deus.
— Parece ser aquele guarda — falou Art, num sussurro. Os gritos pararam do nada, ou o guarda se livrou do que o tava atacando, ou estava morto.
—O que será que aconteceu? — falou Akira, com uma voz trêmula. E depois deu um grito, assustado com outro barulho, mas esse veio de traz deles, parecia um rugido de um animal feroz. Os oito se viraram rápido, mas não enxergaram nada.
— Ai, meu pai — sussurrou Akira, quase chorando.
— Vamos manter a calma — falou Art acendendo sua varinha e iluminado atrás deles. Os sons sessaram, novamente, tudo ficou no mais absoluto silêncio, Mike estava cada vez mais inseguro, olhava para frente, não enxergava nada, pra trás só via planta. Eles continuaram, mas não deram nem cinco passo e Guga que estava mais atrás agora tropeçou e caiu.
— Tudo bem Guga? — perguntou Mike correndo até ele, e o ajudando a se levantar, Guga respondeu com a cabeça, mas estava claro que não estava tudo bem. Com um terror no rosto Guga falou baixinho:
— Eu tropecei numa raiz. Minha perna tá doendo muito — ele tava segurando o joelho.
— Deixa eu ver — disse Mike. O joelho tava vermelho e um pouco inchado. Aquilo ia de mal a pior, não podiam voltar e agora Guga tava machucado. Mike estava começando a se arrepender, talvez fosse melhor terem ficado na cabana, ou tentado de dia.
— Eu te ajudo, segure firme no meu ombro — Guga se apoiou nele, e mancando continuaram, atrás do grupo. Andaram por um longo tempo, Mike não sabia dizer se minutos, ou até horas. Seguindo a cerca, que virava para um lado e depois para outro. Até chegar num lugar que ela se dividia em duas.
— E agora — murmurou Murano — pra qual lado.
— Acho que tanto faz — decidiu Mike, indo pra esquerda, porém depois de uns metros, chegaram num beco sem saída — Essa não.
Todos se viraram, mas quando Laura voltou a luz da varinha pro outro lado, enxergaram no fim do corredor, uma sombra. Não dava pra ver que era. Uma sombra grande, do tamanho de um homem no limite da luz.
— Quem esta aí? — gritou Laura . Ma a sombra não se mexeu, por um minuto inteiro ficaram assim, eles olhando pra sombra, e ela parada os observando.
— Estupefaça — gritou Laura, pontando pra sombra, que sumiu imediatamente, antes que o feitiço o atingisse. Seguiu um longo momento de tensão no ar, Mike respirava pesadamente.
— Pai — falou ele — o senhor ajuda o Guga? – dando o menino para Art apoiar.
— Mike — Laura gritou, quando ele se virou viu a quem a sombra pertencia, a coisa mais horrível e amedrontadora que vira na vida. Uma criatura que usava um crânio, de algum animal morto, como mascara, ou talvez fosse a cabeça dele, o corpo não passava de um pano preto flutuando no ar, todo rasgado, mas o que dava mais medo eram os olhos, que emitiam uma luz vermelha, tão forte que doíam os olhos de Mike quando os encarava. A coisa se aproximou deles, flutuando bem devagar. Mike chegou mais a frente, ao Lado de Laura, e Murano também, ficando os três lado a lado.
— Estupefaça — Os três lançaram o mesmo feitiço quase de uma fez só, mas a criatura desviou rapidamente para o lado e seu feitiço explodiu na cerca. Os três lançavam um feitiço atrás do outro, mas não faziam nada, a não ser atrasar o ser, que horas investia contra eles, horas parava metros de distancia os observando, como um gato observa sua presa.
— O que vamos fazer — falou Laura , um pouco cansada já. Tinham que fazer algo, Mike tentou se lembrar, do livro preciso, de algum feitiço que pudesse usar, mas nada vinha na sua cabeça. E agora?
Mike encarando a criatura que vinha novamente em sua direção, aquela coisa não era estranha a ele, a sombra negra flutuando no ar, a cara branca acinzentada, as bolas vermelhas que serviam de olhos. É isso Mike se lembrou de onde conhecia aquele monstro, do livro preciso, antes de lhe ensinar feitiços, ele mostrou a figura dos jovens enfrentando uma criatura muito parecida com aquela. Era aquela. Eles estavam usando fogo para combatê-la.
— Fogo — sussurrou ele.
— O que? — falou laura sem entender.
— Confringo — gritou ele transformando a sua varinha num lança-chamas. Os outros dois fizeram mesma coisa. O lugar se iluminou todo, com a luz vermelha do fogo mágico. A criatura soutou um longo grito agudo e voou pelos ares em chamas. Ela rodopiava, voava de um lado ao outro. Agora eles conseguiam ver o céu, sem nuvens como sempre, a lua cheia bonita daquela noite. Mike viu quando a bola de fogo despencou, a alguns metros de distância, um pouco a direita deles. A cerca estava diminuindo, não tinha nem a metade do tamanho de antes, a lua voltara a iluminar o local.
Todos correram, guiados pela fumaça no céu, que se via de longe, a cerca secou diante de seus olhos, mas eles mal perceberam, tanta era o susto e a afobação por ver a criatura queimada. Os únicos que andavam devagar eram Art e Guga ainda mancando.