O novo morador da cabana

—O que será que eles vão fazer conosco Mike?—Falou Laura bem baixinho, estava tudo quieto, todo mundo tentando dormir, tinha se passado o segundo dia de Mike naquele lugar horrível.

—Uns dias antes de vir parar aqui, lá na escola, eu escutei o diretor Malum falar que precisava de crianças —falou ele tentando achar uma posição confortável no chão, que parecia mais duro do que no dia anterior.

Ela fechou o cenho e falou quase num sussurro.

—Magia das trevas, já tinha ouvido falar de magias muito poderosas, que usam crianças como um de seus ingredientes, mas não sei como funciona, achava que era apenas historinhas para assustar crianças.

—Então parece que Malum acredita mesmo em histórias pra assustar criancinhas—Mike estava sem um pingo de sono, podia ficar conversando a noite toda ali. Estava deitado de costas pra parede, de onde escutava o vendo forte chacoalhando os galhos das árvores, ao contrário dele Laura parecia cansada.

—Minha tia-avó sempre me dizia que ia me levar no meio da floresta e me dar pra cuca fazer uma poção comigo, se eu não fosse boazinha— falou ela entre bocejos. “ que tia em ” pensou Mike.

—Cuca? Tipo do sitio? —Mike já havia lido os livros de Monteiro Lobado, se lembrava muito bem, da bruxa em forma de jacaré.

—Sítio? Não sei de qual sitio você tá falando, mas há uma lenda sobre uma bruxa com cabeça de jacaré, que mora no meio da floresta, e usa crianças pra fazer feitiços.

—Scchiii—falou alguém, pela voz devia ser da Emi

—Queremos dormir—falou Akira.

—É quase isso —falou Mike vendo Laura fechar os olhos pesados, já quase dormindo. Ficaram todos quietos, Mike se virou parede, não havia percebido ainda, mas tinha um buraco, que dava pra enxergar fora da cabana, a luz da lua cheia estava iluminando o local, dava pra enxergar perfeitamente lá fora, a árvore balançava como se dançasse, o céu estava num tom de cinza escuro, sem nenhuma nuvem. Onde estava a cerca só se via escuridão, dava arrepios olhar muito tempo pra lá. No meio do nada ele viu um movimento, uma mancha, crescendo. A mancha virou uma pessoa, que virou um homem, um homem, vindo em sua direção, não dava pra ver direito, mas parecia carregar algo. E ele continuava vindo, de noite só se via que era um homem de cabelo escuro, mas não dava pra reconhecer quem, pelo tamanho parecia um dos guardas de Malum.

—Laura—chamou baixinho Mike, mas ela não respondeu

—Laura—tentou de novo, mais alto desta vez, mas nada, devia ter adormecido, o estranho já estava a uns cem metros da casa, quando parou, sacou alguma coisa do bolso, mirou pra casa. Devia ser uma varinha ele ia fazer um feitiço, Mike fez a única coisa que pensou na hora. Pegou a sua varinha.

—Protego—falou relativamente alto.

—O que?— Falou Laura, enquanto os outros continuavam dormindo—o que você falou?

—Laura, tem um homem aí fora! —disse ele rápido, com a voz numa mistura de medo, e empolgação pois sabia que aquela era a hora, o homem devia pensar que todos estavam dormindo, ia entrar ali por algum motivo, era a chance perfeita, pra fazerem alguma coisa, que podia tirá-los dali.

—Ele vai entrar!

—O que? —falou ela sentando.

—Deite!—falou puxando-a de volta ao chão. Na hora exata que o homem abriu a porta, fazendo um barulhão, Laura deu um pulo no lugar, tomata que o homem não viu, do contrário que ele imaginou, ninguém acordou. Então era mesmo um feitiço, um feitiço pra fazer dormir, seu contrafeitiço de proteção não devia ter sido poderoso o suficiente, protegendo apenas ele e Laura.

Ele e Laura voltaram, as suas posições, fingindo que estavam no quinto sono. O homem entrou carregando algo grande nos ombros, parecia uma criança, era outra criança, ele foi até o fundo da sala, e a jogou no chão, como se fosse um saco de batatas, fazendo o assoalho da cabana inteira tremer, bateu com tanta força que chegou dar dó do pobre, o guarda ficou parado por um instante olhando, o coitado que quase se arrebentara no chão. Mike estava com a mão preparada segurando a varinha, olhou para Laura, ela estava com os olhos bem abertos, encarando-o fazendo um movimento com a cabeça, como se pergunta-se o que ia fazer. Ele só fez um sim com a cabeça pedindo mentalmente pra ela confiar nele. Sabia que era muito difícil, pois ele mesmo não estava muito confiante no que ia fazer, mas quando o homem foi se virar em direção a porta, ele não pensou duas vezes. Levantou já com a varinha na mão e gritou.

—Expelliarmus!

A varinha do homem voou longe, batendo próximo a janela fechada e caindo perto do pé de Laura, que ainda fingia dormir. Com uma expressão de pura surpresa no rosto, vendo Mike acordado e usando magia contra ele, o homem sem saber o que fazer, tentou pular em cima dele, mas menino foi mais rápido.

—Estupefaça!

O homem levantou meio metro do chão, bateu com as costas na parede e caiu desacordado.

—Por Dumbledore! —gritou Laura que levantou rápido num salto—você conseguiu!

Mike não entendeu o que ela falou, devia ser alguma gíria de bruxos, só concordou com a cabeça. Tava com a respiração acelerada, a adrenalina a mil.

—O que vamos fazer com ele?—perguntou Mike chegando perto do homem, pra poder ver melhor seu rosto, tinha a face quadrada, nariz grande e cabelo preto.

—vamos amará-lo! —Disse Laura se abaixando e pegando a varinha do homem.

—Incarcerus—falou Mike mirando no guarda, fazendo cordas aparecerem em sua volta, prendendo-o.

—Onde você aprendeu todos estes feitiços?—perguntou Laura.

—No livro que te falei antes, toda vez que eu aprendia todos, ele mudava e parecia novos.—falou ele, sentando o homem e encostando na parede.

—Uou, este tipo de livro deve ser muito raro, nunca ouvi falar.

—Chama-se Livro preciso.—disse Mike— Agora temos que acordar os outros.

—Eu sei um feitiço pra tirar o efeito de um encantamento como esse. Finite encantatem—falou ela começando por Art.

Mike foi até ele, chamou até o homem acordar.

—O que aconteceu?— Perguntou Art com voz de sono.

—Mike derrubou um dos guardas—falou Laura

—Guardas?

—Sim ele trazia uma nova criança.

—A criança! —falaram ela e Mike juntos, tinham esquecido completamente dela, que ainda estava jogada no chão. Mike foi até ela pra ver quem era. Era um menino, estava deitado de costas no canto da cabana desmaiado. Era grande, estava com o rosto virado pra parede, o cabelo liso claro. Mike quase deixou o queixo cair de surpresa quando virou o menino pro seu lado.