O braço de ferro

Gatts disparou em linha reta. Logo que saiu da sombria floresta em direção a estreita passagem da gruta, aquele que fazia a guarda se prontificou a detê-lo, correndo em sua direção com os dentes à mostra. Gatts também mostrou os seus, e na metade do caminho já tinha erguido sua Dragon Slayer, que desceu como um vulto metálico acompanhado de leve pelo brilho da lua em sua lâmina grotesca. A criatura havia sido dividida ao meio, mas antes que pudesse se dar conta, dois seres similares ao primeiro surgiram da entrada da gruta e seguiram em direções paralelas, flanqueando Gatts que ainda erguia sua espada enorme do que sobrava de seu adversário. Como uma fera sem consciência, um dos monstros mergulhou em Gatts com a enorme boca pronta para morder e estraçalhar. Sua cabeça foi arremessada para dentro da caverna após o golpe diagonal de Gatts, que pelo esforço e abertura ao executar o movimento, não reagiu ao outro monstro à sua esquerda.

Gatts virou-se com velocidade mesmo sabendo que não escaparia de uma mordida destruidora. No entanto, quando ficou de frente com o cão feroz, viu a flecha certeira disparada por Roney cravada na cabeça da criatura. Aproveitando o momento, Gatts atravessou seu corpo com a enorme espada e o arremessou contra a parede da caverna.

Roney apareceu em meio aos arbustos, um tanto assustado, mas concentrado. O arco numa mão, e na outra; uma flecha sendo preparada para um eventual disparo. Gatts percebeu que o garoto não era o inútil que acreditava ser. Bastava que tivesse cautela e talvez pudesse deixar o resgate em suas mãos, se preocupando apenas com o básico; que era a chacina que planejava executar em menos de uma hora naquele lugar. Extermínio, era tudo o que passava em sua mente, e ao vislumbrar a lua acima dos ombros mais uma vez, sentiu seu estigma queimar no pescoço como brasa. Seria uma noite de sangue, e não deixaria que nenhum miserável cão escapasse. Pouco importava se as criaturas fugissem para o vilarejo. O que Gatts não queria era perder a chance de cortar todos, com sua lâmina brutal. E faria questão que aquela noite terminasse após ter silenciado todos os uivos dos malditos cães remanescentes.

Foi com espanto que Roney viu Gatts se posicionar em frente a pequena entrada com o braço de ferro apontado para cima da passagem. Já tinha visto do que aquele braço era capaz, mas não pode entender à tempo o que Gatts pretendia fazer. Gritos selvagens vinham do interior da gruta, indicando que mais daquelas criaturas estavam à caminho. Antes que pudessem sair, Gatts disparou o canhão do braço esquerdo. Um tranco poderoso o fez recuar, tinha preparado uma quantidade considerável de pólvora desta vez. A entrada da gruta havia sido destruída, e desmoronava em pedaços enormes de pedra. Gatts recuou um pouco e deixou que a entrada fosse totalmente fechada pelas pedras. Era impossível que escapassem por ali, isso por um bom tempo. Assim que Gatts subiu pelas pedras e continuou correndo por cima da gruta, Roney compreendeu o que ele faria em seguida. Seu plano era cuidar dos monstros pela frente da gruta enquanto que aquela passagem pequena já não podia ser usada como rota de fuga. ''Engenhoso, perigoso e absurdo'', pensou, mas seguiu logo atrás de Gatts, embora não escalasse com a mesma ferocidade do companheiro, Roney era leve e ágil, e não ficava muito atrás.