—Vamos—falou Laura, pegando Mari e Akira pelos ombros—vamos sair daqui e deixar os dois conversar em paz, Guga você também—ela puxou Guga pela mão, deixando os dois a sós. Mike se afastou de Art.
—O senhor está preocupado?
—Sim Mike, quero dizer estou muito feliz, mas, ainda estamos presos aqui e..
—Nós vamos sair daqui logo, o senhor vai ver—O homem o abraçou mais forte. Foi um dos momentos mais felizes da vida de Mike, seria ainda mais se não estivessem presos. Os dois ficaram na cabana sozinhos conversando, um tempão. Art perguntou tudo sobre ele, onde ele morava, como eram seus amigos, sobre seu irmão, sua mãe, sobre seu desaparecimento.
—A mamãe acha, que o senhor foi embora com outra mulher—Mike falou sentado num dos troncos de madeira.
—Mas como foi? O dia que eu sumi?
—Não sei direito, eu era pequeno, a mãe conta que sentiu sua falta no meio da noite, tentou alcançá-lo, mas a porta estava trancada e não conseguiu sair. Ela achou um bilhete escrito, que o senhor não amava mais ela, não podia mais viver daquele jeito e ia embora com outra mulher.
O homem ficou parado, tentando lembrar, pensando como aquilo era possível,
—Eu não lembro de nada, to tentando, mas não consigo.
—Estranho, se o senhor foi sequestrado, quem deixou aquele bilhete?
—Talvez os sequestradores—falou Laura entrando na cabana—desculpa eu interromper assim, é que já vai escurecer, e não podemos ficar lá fora muito mais.
—E estamos morrendo de fome—Disse Guga entrando atrás dela. A barriga de Mike roncou
—Nossa nós ficamos aqui a tarde inteira conversando, nem vimos o tempo passar. Não temos nada pra comer.—Falou Art— Vo lá na horta pegar uma abóbora.
—Adoro abóbora—falou Akira ironicamente. Mas se arrependeu quando viu o olhar que Laura lançara contra ele.
Já estava acabando o primeiro dia de Mike naquele lugar, apesar de tudo, tinha sido um dos melhores dias da sua vida, algo tão especial tinha acontecido, ele jamais podia imaginar, agora ele tinha seu pai de volta.
Art fez um cozido de abóbora, comeram como jantar, depois, conversaram até umas horas, e foram se deitar, não tinham um pano sequer pra servir de cama, era muito desconfortável, mas ele nem ligou pra isso, estava do lado de seu pai, isso que importava. Estava muito quente, todos deitaram, um do lado do outro, de um lado de Mike estava Art e do outro Laura, ele não conseguiria dormir tão logo, era muita coisa pra pensar, tinha que dar um jeito de sair dali, queria muito que seu pai encontrasse sua mãe e e se lembra-se de tudo, queria que Cai o conhece-se, pois ele era muito pequeno quando seu pai sumiu, nem lembra dele. Tinha um mundo inteiro la fora a se descobrir, magias inimagináveis, para aprender, vilarejos de magos distribuídos pela cidade toda, vivendo bem de baixo dos narizes das pessoas, sem ninguém perceber, aurores muito poderosos ,que caçavam bruxos das trevas. O que Tomi diria ser soubesse de tudo aquilo? E Murano? Não iam acreditar. E sua mãe como estava? Preocupada com ele com certeza, preocupada é pouco, coitada, devia estar estérica.
Mike abriu os olhos enxergou a luz entrando pelos buracos do teto, por um segundo achou que estava em casa, rolou a cabeça pro lado, o pescoço doía, enxergou Guga sentado num dos “banquinhos” de madeira. Ah! Não, estava na cabana ainda. Já era claro, Mari e Emília, ainda dormiam, a ruivinha enrolada bem no cantinho da sala, e a outra menina com os braços bem abertos, no meio.
—Bom dia—falou Guga se espreguiçando, tinha acabado de levantar também.
—Nossa, achei que não ia conseguir dormir, estava sem sono—disse Mike sentando.
—Comigo também foi assim no começo.
—É?
—Huhum, no primeiro dia achei que não ia dormir de jeito nenhum, no chão duro, longe de casa, com medo, mas não deu nem dez minutos e caí feito pedra—disse Guga passando as mãos pelos cabeços arrepiados, tentando abaixá-los.
—Cade a Laura e… meu pai? —falou Mike mas soou estranho, ainda não tinha se acostumado com a palavra.
—Art foi cuidar da horta, ele levanta bem cedo todo dia—Guga bocejou—e Laura foi ver o que os guardas deixaram pra nós.
O que os guardas deixaram, era tão estranho como ele falava, conformado a ganhar comida todos os dias, das pessoas que os sequestraram.
—O que eles sempre deixam?
—Pão, água, leite e as vezes umas frutas.
—Vocês comem de boa, a comida que eles deixam, assim, sem nem saber por que estão aqui, o que eles querem conosco?
—A gente se acostuma, não tem o que fazer.
—Ah, não! Por que?—falou alto Akira entrando, balançando os braços, andando rápido atrás de Laura.
—Eu não sei—falou ela, e se virou pra ele, estava segurado um pão.
—O que aconteceu?—perguntou Mike se levantando.
—Os guardas, ele só deixaram um pão hoje— E levantou o pão, como se ele já não tivesse visto.
—Eles sempre deixam pelo menos dois pães e um litro de leite—Falou Akira—por que será que deixaram só esse pão velho hoje?
—Não sei—repetiu Laura.
—Você não tá nem aí mesmo, você nunca come o que eles deixam, teimosa, não sei como aguenta abóbora e repolho todo dia—Akira falando e gesticulando bastante.
—Akira, temos que dar graças que Art sabe cultivar, se não ninguém tinha nada o que comer, dependeríamos só dos guardas.
—Eu não aguento mais abóbora—gritou o asiático saindo pra fora da cabana, e batendo a porta, Mike achou que ela ia cair no chão, mas não aconteceu.
—Não liga pra ele—falou Laura colocando o pão num tronco, que antes serviu de banco —ele é muito mimado.
Laura repartiu o pão em vários pedaços, Guga Emília e Mari comeram os seus, deixaram um pedaço para o Akira se ele voltasse. Ela ofereceu a Mike, mas ele não aceitou, ainda não estava confortável com aquela situação, ela e Art também não comiam da comida deixada pelos seus sequestradores, só bebiam da água, já que era a única que tinham, quando não chovia. Art cozinhou outra abóbora pra eles não ficarem com fome.
—E então Art…. Quero dizer pai, o senhor que plantou todas as plantas daqui?—Disse Mike comendo um pedaço da abóbora cozida sentado do lado do caldeirão.
—Ah não, já tinham alguns pés aqui, eu só cuidei pra que não morressem, acho que este lugar foi uma casa de família, a muito tempo atrás.
Mike ficou olhando o homem comer, sem nem acreditar, apesar de barbudo e cabelo, era seu pai agora ele reconhecera cada movimento do homem, o jeito que ele passava as mãos pelos cabelos, ela já fazia isso quando colocava o chapéu, ou então o costume que ele tinha de fechar o olho direito quando mordia algo.