O Principado de Órion

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    Capítulos:

    Capítulo 10

    A proposta do Dragon Slayer

    Álcool, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    Três dias depois

    O prédio da Fairy Tail era uma construção de pedra com dois andares e uma torre de uns 10 metros de altura encabeçada por um sino. Os telhados eram velhos e em cada um deles janelas paralelas. No primeiro andar havia seis, no segundo quatro. Natsu tentou esconder o assombro enquanto andava no pátio de entrada, mal notando os outros magos o olharem num misto de choque e curiosidade.

    Olhando ao redor, as mesas de madeira e bancos com estofados vermelhos lhe deram a impressão que era uma espécie de café ao ar livre. Que esquisito. Mas quando cruzou o beiral do grande prédio não conseguiu evitar o arquejo. À luz do dia era outra história. Como percebeu, havia sim as mesas compridas paralelas e o tapete enorme vermelho, mas não tinha notado que era a área principal. Por onde entrou se descia um pequeno lance de degraus. Se virasse para qualquer lado, podia ir para os pisos laterais. A balaustrada de mármore os rodeando até o pequeno palco no fundo.

    É diferente demais e ao mesmo tempo igual. Andou um pouco para o lado esquerdo observando cauteloso e nervoso os magos da guilda. A cacofonia era geral, barulhenta. Quando dobrou a pequena curva, entrando no corredor onde havia o Request Bord (enorme, não devia esquecer), se apoiou na balaustrada e jogou as pernas pro lado sentando nela. Se curvando um pouco olhou mais ao redor e o nervoso foi sumindo, fazendo um pequeno sorriso crescer. Enquanto a maioria bebia e comia conversando qualquer coisa havia pessoas que agiam de um jeito interessante.

    Macao e um cara de bermuda e camiseta verde discutiam quem havia ganhado mais no mês passado. Eles quase gritavam na cara um do outro, então perdendo a paciência o tal cara deu uma tragada no cachimbo e uma fumaça brotou dela, se esticando e tomando a forma de um punho. O soco de fumaça acertou o queixo de Macao que caiu para trás tropeçando no banco. Quem estava perto riu então o Mago de cabelo roxo se levantou e pulou em cima do amigo. Bom, achava que era.

    Escutou mais um grito e virou o rosto. O grandalhão de cabelo branco discutia com o tal Alzack.

    - Deixa de ser frouxo, Alzack! Um homem não deve ter medo!

    O cara estava de ombros caídos sentado numa mesa e encarava uma caneca a apertando. Apurou os ouvidos. A conversa parecia interessante.

    - Não é bem assim Elfman.

     Elfman que estava de pé esticou a coluna pondo as mãos nos quadris.

    - Se você é um homem fale de uma vez! Bisca não vai ficar sozinha pra sempre!

    Tanto Alzack como Natsu pestanejaram. Um vermelho subiu pelo pescoço do outro e Natsu contra vontade também sentiu. Lembrando que ele mesmo estava numa situação igual com Lucy. Levantando de repente do banco Alzack se estremecia de raiva e embaraço.

    - CALE A BOCA, ELFMAN!!!

    O outro só o olhou atravessado.

    - Humpf. Só disse uma verdade. A Bisca não é a garo...

    - EU DISSE PRA CALAR A BOCA!!!

    Alzack inclinou a cabeça, o rosto se assombreando e viu a mão dele indo discretamente por dentro do poncho que vestia. Franziu a testa. O que ele ia fazer? Antes que puxasse sabe lá o quê Macao e o tal cara do cachimbo caíram em cima da mesa deles. Derrubando e jogando Elfman no chão. Alzack havia pulado pra longe. O silencio que fez foi ensurdecedor e Natsu entendeu. Agarrou a balaustrada se inclinando. Briga!

    - Um homem...

    Elfmam disse devagar se levantando. Macao e o amigo também haviam se levantando. Eles olhavam nervosos para o grandalhão.

    - Um homem... Não pode ser derrubado!!!

    Os dois deram um pulo e Elfman deu um soco às cegas acertando-os e eles voaram para outras mesas. Os caras que estavam sentados nelas se irritaram e gritaram também. No minuto seguinte uma briga coletiva girava no meio do salão. Cadeiras, bancos e canecas voando, além de alguns magos também. Um deles bateu na parede perto dele. Caindo sentado. Soltou um risinho e sujeito o encarou com raiva. Ele usava um chapelão marrom e era ruivo. Se levantou do chão espumando enquanto o encarava.

    - Tá rindo de que, novato?

    Levantou a sobrancelha. O cara queria mesmo comprar briga com ele?

    - Da sua cara de idiota.

    Sorriu de canto debochado e sujeito se irritou. Ah, como gostava disso. Uma boa briga pra descontrair e começar o dia.

    - Seu babaca! Eu vou...

    - Não Jet!

    O cara parou. Tinha levantando o braço para lhe dar um soco e se virou pra pessoa. Uma garota baixinha de cabelo azul repicado andava até eles. Vestia um vestido alaranjado e uma faixa no cabelo, afastando a franja. Percebeu que o tal Jet murchou e olhou de canto, estranhando. Era felicidade que via no rosto do cara? Pelo visto, sim.

    - Levy.

    A baixinha parou perto deles com as mãos nos quadris. Uma delas com um livro grosso na mão.

    - Eu já disse pra você parar de brigar. Não é nada maduro e você vive apanhando.

    Natsu se engasgou com o riso. Ao seu lado Jet ficou vermelho vivo.

    - Não fale assim, Levy. Eu não sou um...

    - Ah, chega!

    A garota revirou os olhos. Isso o fez pensar que não era a primeira vez que fazia isso.

    - De todo jeito eu vim te avisar que a Mira quer falar com você.

    Jet se espantou. Quem era essa Mira?

    - Comigo?

    - É. Vai logo. Ela disse que é importante.

    - Tá, tá. Já vou indo.

    O cara saiu correndo até o fundo do salão. Natsu achou graça, mas também ficou entediado. Ouviu um suspiro e encarou a garota. Ela olhava na direção que seu amigo correu.

    - Gomen. Jet é um cara legal, mas como a maioria pegou o vírus da encrenca. Todo mundo nessa guilda só pensa em brigar com os outros.

    Ela se virou dando um sorriso, mas logo sumiu. Os olhos dela se arregalaram e a garota ofegou. Quase riu, mas também ficou incomodado.

    - Ai, meu deus. É...

    - É. Sou.

    A garota, não, Levy era o nome dela pestanejou e engoliu em seco. Natsu assumiu um ar debochado, o incomodo sumindo. Antes de irem para o dormitório naquele dia, o Master avisou que falaria com todos da guilda sobre ele. Os magos efetivos e aspirantes. O que foi bem melhor. Não queria ficar na frente de todo mundo encarando o choque geral. Basta o que passou quando Arcadios falou com o Master. Levy piscou com força e tentou relaxar.

    - Ah... Desculpa, eu sou Levy McGarden. Maga aspirante da guilda.

    - Natsu Dragneel. Mago efetivo.

    - Eu sei!!!

    Ela quicou no lugar animada e vendo, levantou a sobrancelha. Reparando na mancada Levy pigarreou abraçando o livro.

    - É... Eu sei. Lucy falou de você. Disse que apareceria por aqui nesses dias, mas não achei que seria logo.

    Ela deu um sorrisinho sem graça, ainda nervosa enquanto que ele se endireitou no lugar. Surpreso.

    - Conhece a loirinha?

    A garota franziu a testa confusa.

    - Loirinha?

    Vendo a confusão dela, Natsu se xingou por demonstrar interesse e virou o rosto, emburrado.

    - Deixa pra lá.

    Nesses três dias tentou se adaptar nesse mundo novo. A começar pelo convívio com o colega de quarto. Gray era um cara bacana, mas irritante também. Quando foram colocar as camas novas no quarto que dividiam (as outras ficaram destruídas na luta) o sujeito tirava a roupa sem perceber! Tinha lhe jogado uma camisa suada na cabeça, o deixando com ganas de terminar a briga e o cara ficou pelado outra vez! O que levaria apenas uns minutos para terminarem levou o dia inteiro. Com gritos, fogo e gelo pra tudo quanto lado.

    Enquanto pensava notou que a garota reparava em como estava vestido. Reprimiu um sorriso. Calça cinzenta folgada, os tais tênis escuros e uma camisa sem mangas com colete negro descendo até metade das pernas. A peça era parcialmente fechada por um cinto, mas mesmo assim chamava atenção. Havia escolhido roupas parecidas como se vestia antes e ficou aliviado que não seriam tão estranhas agora.

    - Etto...

    - O que ela disse sobre mim?

    Perguntou não aguentando mais. Estava morrendo de curiosidade. Se empoleirando apenas com o equilíbrio descansou os braços nas pernas.

    - Quem?

    A olhou de canto. A garota parecia mais confusa ainda e isso o deixou um pouco sem jeito. Mas tratou de enterrar. Era só por causa do que conversou com o Velho, só por isso. Encarou a baixinha de cabelo azul.

    - A loirinha. O que foi que ela disse?

    Levy pestanejou finalmente entendendo.

    - Ah, tá falando da Lucy. – sorriu sem graça – não muita coisa. Só da luta com os magos das trevas lá no museu e quem era você. Sabe, as garotas ficaram de queixo caído. A maioria não acreditou, mas depois o mestre disse que um novo mago entrou pra guilda e que era o Salamander. Aí elas finalmente acreditaram.

    Riu divertida abraçando mais o livro. Porem soava estranho pra ele. Ela não contou nada sobre sua confusão com a ancestral dela? Reparou bem na garota a sua frente e numa olhada percebeu que era uma amante de livros. Erudita. Talvez tinham um nome pra isso nessa época.

    Olhando pros lados, como se estivesse checando, Levy chegou mais perto e assumiu um ar mais conspiratório.

    - Hei. O que você fez pra ela?

    Piscou confuso.

    - O que?

    Levy o olhou risonha.

    - Desde o dia da prisão Lucy parece emburrada. Ela diz que é por causa do tornozelo inchado e que não pode ir pra guilda, mas tem haver com você, não é? Ela não suporta ouvir seu nome.

    Natsu levantou as sobrancelhas surpreso, sentindo uma empolgação. Pelo visto a loirinha ainda não esqueceu do que disse. Assumiu um ar mais debochado e convencido.

    - Pode-se dizer que sim.

    - Kyaah! Eu sabia! Então, o que você fez?

    A garota praticamente quicava, mas resolveu ficar calado. Pelas perguntas era no mínimo amiga da loirinha e podia estragar o que estava planejando. Levy percebeu que não ia dizer nada, a ansiedade desmoronou no rosto dela, mas não se importou. De repente, uma caneca de madeira voou na sua direção. A garota pulou pro lado, mas ele não teve como. O troço acertou sua cara o derrubando da balaustrada. Caiu num baque atordoado e a boca doendo pra caramba! Se levantou do chão possesso sentindo o sangue escorrer num canto dos lábios. Encarou ao redor estremecendo. Todos olhavam para ele, num silencio pesado e chocado. Limpou com o dorso da mão o sangue enquanto fechava o outro punho.

    - Quem fez isso?!

    - Eu, babaca.

    Olhou na direção e Gray o encarava. O sujeito só estava de cueca e isso o irritou ainda mais. Apoiou a mão balaustrada enquanto pulava sobre ela e gritava.

    - Seu tarado! Eu vou partir a sua cara!

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    Certo, tudo bem. Se encarou de novo no espelho que ficava na porta do seu guarda-roupas. Com uma blusa de mangas alaranjada e uma saia jeans curta, Lucy ficou indecisa se usaria ou não uma meia-calça de malha. Pensou um pouco e se decidiu. Usaria. Abriu a gaveta do guarda-roupas e remexeu suas calcinhas até achar uma. Azul-marinho. Vestiu tomando cuidado, afinal seu tornozelo não estava cem por cento bem. Se olhou mais uma vez, checando se não havia nada errado então pegou sua bolsa pendurada num cabide num canto. Ao sair do quarto catou suas sapatilhas negras e trancou. Depois de três dias finalmente conseguiu se firmar no chão sem estremecer de dor.

    Lucy atravessou o corredor seguindo direto para a sala e depois até o hall. Não tinha quase ninguém no dormitório. A maioria tinha ido para guilda pegar missões, outras já tinham saído em viagens cumpri-las e magas como ela, aspirantes, estudar suas magias no prédio da Fairy Tail. Na verdade, não era nem pra ela estar saindo.

    Mirajane a proibiu e Erza... Bem, digamos que ela disse de modo muito convincente que devia descansar. Mas poxa, três dias eram demais. Até porque não podia perder mais tempo. Calçando os sapatos pegou um lenço vermelho da bolsa e puxou o cabelo sobre o ombro, amarrando-o firme na nuca e de lado.

    Hoje também fazia três dias que não via Natsu. Não queria admitir pra si mesma. Mas depois de conhecê-lo e ver aquela pintura, seus sonhos com o mago ficaram mais nítidos. Vivos. Cruzou os portões, descendo a colina pelo caminho de cascalho e sentiu as bochechas queimarem.

    Passou esses dias sonhando a mesma coisa.

    Ele de costas pegando fogo. Ela correndo até ele com a mão esticada tentando alcança-lo.

    Nessa parte era quando o sonho mudava. Invés de acordar ou então ele se esvanecer como antes sumindo dela, Natsu virava um vulto de chamas escarlates, saindo do seu raio de visão. No instante seguinte estava num corredor do dormitório, parada no meio do tapete marrom sem entender como ou porque chegou ali. Quando dava um passo para investigar, sem aviso uma mão quente a agarrava pelo braço e a puxava virando-a de encontro ao um peito forte, musculoso e ofegante. Só pela mão grande e quente fez ideia de quem era, mas encarar o torso semi nu pela blusa azul rasgada a estremeceu inteira. Ele a empurrou contra parede a encurralando e fazendo-a chiar de susto. Isso fez ele rir. Lucy ofegava com medo de levantar a cabeça e sentia um hálito morno no seu rosto. Chegando mais perto. Praticamente colado nela, o mago se debruçava e sorria, dizendo naquele tom debochado.

    - Loirinha...

    No instante seguinte ele colava a boca na dela, a língua abrindo sem esforço seus lábios e deslizando para dentro, sequiosa. Seu fôlego sumiu e estremeceu ainda mais. Uma mão dele agarrou seu pulso, o prendendo contra parede. A outra no seu braço deslizou até sua mão e fez a mesma coisa. Lucy resistia miseravelmente e ele brincava com ela, juraria pelo modo como a língua passava por dentro da sua boca e como puxava seus lábios nos deles tentando arrancar uma reação, além do ofegar. Esperneava pra ele parar e isso aumentava o divertimento dele. Tentou chutá-lo, mas rápido a perna dele bloqueou e prensou a sua na parede. Depois de um longo minuto, Natsu se afastava e dizia num tom mais debochado e desdenhoso.

    - Realmente, você não é como ‘ela’.

    A magoa que sentiu ao ouvir quase a deixou desnorteada, enchendo seus olhos de lágrimas, no entanto, não chorou. Enquanto ele a soltava se afastando rindo deliciado do seu estado, a raiva borbulhou e pulou em cima dele fechando os punhos. Nesse instante, era quando acordava.

    Nunca gostou disso, achava um cúmulo quando um homem tratava uma mulher assim. Mas no sonho, mesmo resistindo e querendo socá-lo a fazia querer ser dominada e beijada pela primeira vez na vida daquele jeito. Mas a frase que ele dizia ao parar... Magoava e irritava demais.

    Sacudiu a cabeça. Não. De jeito nenhum. Seria loucura se interessar um cara desses. Natsu no mínimo a detestava. Tinha dito até que era inútil como maga. Devia ignorá-lo. É. Se concentrando no que era importante. Evoluir na magia e se tornar uma maga efetiva. Sorriu um pouco menos afogueada. Tinha até decidido onde queria ser marcada com a insígnia e a cor. Com as 12 chaves do zodíaco, Lucy seguiu para a guilda mais confiante que nunca.

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    A briga que tinha começado há uma hora deixou o grande salão do bar destruído. Varias mesas viradas, outras atravessadas e principalmente umas sete quebradas. Os bancos também estavam revirados sem contar das canecas por todos os lados. Natsu e Gray haviam se atracado num luta cheia de pancadaria. Muitos apenas pararam pra olhar. Afinal de contas, sabiam quem era o mago novato de cabelos róseos. O mestre havia contado para todos a respeito do Dragon Slayer e que havia acordado depois de uma magia de Selo de quatro séculos! Claro, o choque foi geral. Todos queriam ver o Salamander. Pela aparência incomum dele seria fácil de notar.

    No entanto, foi uma grande surpresa, ninguém o viu quando entrou no grande salão. Ele havia se misturado na multidão barulhenta, quieto e observando. Teria ficado assim o dia inteiro se Gray não tivesse jogado sem querer uma caneca de cerveja na cara dele. O susto quando o viram espumar de raiva calou a boca de todos, mas Gray não. Ele admitiu na cara dura que foi ele que lhe atirou o objeto, ainda o chamando de babaca. Foi estopim para que Natsu Dragneel perdesse a paciência.

    Rápido uma multidão torcia em meio aos golpes, explosões de fogo e estilhaçar de gelo, mas depois de uma hora Mirajane que não gostava da confusão que armavam abriu caminho no meio dos magos, (que sem pensar duas vezes deram passagem) e apareceu no meio deles. Gray tinha ficado pálido quando a viu, suas mãos no meio da posição para a magia. Natsu continuou como estava, inclinado para frente com um braço levantado e recuado. Seu punho pegando fogo.

    - Ora, rapazes. Que tal pararem com isso? Desse jeito vão destruir até o soalho de madeira.

    Curvou a cabeça sorrindo simpática. Vendo isso, Gray arregalou os olhos e engoliu em seco. Natsu estranhou o jeito dele. Deu uma olhada ao redor e todos sem exceção faziam um esgar, apavorados. Voltou o olhar para a garota albina. Ela era bonita e usava um vestido magenta rodado batendo nos joelhos. O que tinha de tão terrível nela?

    - Claro, Mira. Foi mal a bagunça.

    Gray rapidinho relaxou na postura de ataque.

    - Tudo bem. – se voltando pra ele – E você? Seu nome é Natsu, não é? Não precisava mais ficar brigando.

    Estreitou os olhos desconfiado. O sorriso meigo que ela lhe dava era estranho demais.

    - Quem é você, gar...

    Do outro lado, Gray arregalou os olhos mais apavorado e nuns segundos correu até ele, tapando sua boca. Os outros caras tinham prendido a respiração assustados. Se virando pra a albina, Gray sorriu amarelo e pra sua confusão suava frio. Dava pra notar pela mão tapando sua boca e o braço lhe dando uma chave.

    - Não é nada não Mira. O Natsu concorda com você, não é?

    Olhou pra ele, implorando pra acenar, demonstrar qualquer coisa, mas tudo o que fez foi resmungar se sacudindo pra se livrar da chave. Isso só deixou o mago de gelo mais apavorado. A garota apenas encarou os dois de olhos baixos e foi quando Natsu entendeu. Um arrepio enregelou sua espinha sob o olhar sinistro dela.

    - Ah sei.

    Dando meia volta ela saiu da roda com os outros rapazes abrindo caminho. Quando já estava longe um suspiro de alivio coletivo foi ouvido e Gray o arrastou pra um canto, onde algumas mesas ainda estavam no lugar. O soltando de um safanão, sussurrou irritado.

    - Baka! Quer morrer por acaso?

    Natsu olhava para a direção onde a garota havia sumido. Sua espinha ainda sentindo o calafrio.

    - Quem é ela?

    Sussurrou também. Bufando, Gray puxou um banco e sentou apoiando os cotovelos na mesa.

    - É a Mirajane. Mais conhecida como Lady Demônio. Se você tivesse dito uma besteira teria te surrado até dizer chega.

    O encarou espantado. Pelos olhos sérios do mago tarado não estava brincando. Deu pulo se jogando e sentando em cima da mesa, olhando para longe. Encontrou a garota albina com um livro grosso nas mãos, conversando com um mago de cabelo arrepiado.

    - Então ela é uma dos cinco.

    - Hã?

    - Deixa pra lá.

    Gray resmungou coisa qualquer, mas não se importou. O velho havia lhe contado várias coisas naquela noite. Desde aquela conversa estranha que teve com a loirinha e ficaram sozinhos na sala de interrogatório do castelo, lhe veio uma ideia. Era estranha e causaria meio mundo de perguntas, mas a ideia não lhe saía da cabeça. Com a história dos tais magos aspirantes duvidas vieram e por isso tirou todas com o Velho. As respostas não agradaram muito, porem como era um Mago Classe S tinha um jeito. Nessa parte, foi quando ele explicou que na guilda havia cinco magos Classes S. Duas garotas da sua idade (19 anos) e dois caras um pouco mais velhos. Havia mais um, mas esse raramente aparecia. Contudo, não importava. Bastava saber que o poder desse apenas era ultrapassado pelo próprio mestre.

    Então quer dizer que a albina era uma das garotas... Detestava admitir, mas ela lhe dava agora um pouco de medo. Lucy o encarava daquele jeito quando ficava possessa com ele. Por isso parou de se agitar da chave de Gray. Mulheres bravas e fortes eram pior que um dragão! Homem nenhum aguentaria tanta fúria.

    - Hei, esquentado.

    Estreitou os olhos ainda encarando a frente. Esse cara volta e meia o chamou assim nesses três dias.

    - O que hentaiarou?

    - Seu... Esquece. O que vai fazer agora?

    - Sobre o quê?

    Perguntou com azedume. Mas Gray não se importou.

    - Aquele dinheiro que ganhou já tá acabando, não é? Não vai pegar uma missão?

    Se estressou com o rumo da conversa. Vários magos ainda o encaravam e cochichavam disfarçadamente. Sem saberem que podia ouvir tudo. Enquanto ajeitavam as mesas e os bancos, se livrando dos moveis quebrados, entreouviu uns dizerem que esperavam mais. Um Dragon Slayer era tão fraco assim? (mesmo que lutasse muito bem). Humpf. Ele nem usou metade da magia. E podia apostar que o mago de cueca também não. Até porque gastar sua energia toda em besteira não valia pena.

    - Oe. E aí? Vai pegar uma missão, ou não?

    Suspirou irritado. Por acaso era da conta dele quando ia trabalhar?

    - Escute aqui, tara...

    Um cheiro veio com a brisa. Soprando e circulando ao passar em sua volta, o calando enquanto sentia. Arregalou os olhos se endireitando, respirando fundo.

    - Ei! O que ia dizer olhos puxados?

    Gray tinha um tom carregado de irritação, mas não se importou. Virou o rosto na direção que a brisa vinha, estreitando o olhar. Havia uma porta atrás deles, no corredor lateral que dava acesso ao andar de baixo. E era de onde o cheiro vinha. Ignorando o mago pulou da mesa e correu até a balaustrada que ladeava o corredor. Agarrou o mármore e num movimento se içou jogando as pernas pro lado. Caindo curvando no corredor lateral. Isso chamou atenção, mas pouco se importou. A brisa parava de soprar e assim o rastro sumiria logo. Enquanto correu para a porta notou que Gray ia atrás dele. Sem dúvida curioso.

    Não fazia mal. No corredor escuro, iluminado apenas por chamas brancas encantadas nos archotes nas paredes, correu sentindo uma ansiedade crescer e sem perceber sorria animado. Farejou um instante e teve certeza. Sussurrou risonho sob o fôlego.

    - Gardênia.

    Ah, loirinha... Dessa vez ela não escapa.

    Parou num corredor lateral derrapando. Atrás dele Gray vinha tropeçando, como se estivesse pulando e correndo ao mesmo tempo, mas não olhou pra trás. Levantou um pouco o rosto dando uns passos entrando no corredor lateral. Era igual ao outro. Carpete azul, parede de pedra e archotes com chamas brancas.

    - Hei, Natsu. O que tá fazendo?

    - Shss.

    Fechou os olhos se concentrando. Droga de cheiro fraco. Demorou uns instantes e encontrou. Virou o rosto para a esquerda abrindo os olhos e voltou a correr. Atrás dele, Gray vinha resmungando que era um idiota e ele próprio mais ainda em segui-lo. Sorriu achando graça. Idiota ou não, pouco importava. A trégua que havia dado acabou.

    No fim do corredor podia ver uma luz e rápido diminuiu a passada. Gray também parou de correr. Cauteloso e sem fazer barulho cruzou o beiral de pedra entrando num cômodo amplo abarrotado de estantes de livros nas paredes. Indo do chão até o teto. À sua frente havia uma pequena passarela de madeira com um gradil de ferro e seguiu por ela, com Gray por perto.

    - A sala de arquivos. O que a gente tá fazendo aqui?

    Natsu nem respondeu. Se virou com raiva pro outro, passando um dedo esticado na frente da boca, chiando. Gray se calou contrariado e então ele se virou para frente, encarando lá embaixo. Havia um pilar de pedra bem do lado direito dele e rápido se escondeu atrás. Gray estranhou, mas fez o mesmo. Natsu percebeu. O cheiro de gardênia era mais forte lá embaixo. Se encostando na pedra se abaixou até se agachar e se virou, chegando perto do gradil de ferro prendendo o fôlego.

    Porque prendia o fôlego? Isso o irritou, mas mesmo assim olhou para baixo. No vão que ficava entre as estantes uma garota loura de blusa laranja, saia justa e meias escuras estava sentada em cima de uma mesa, de pernas cruzadas e lendo absorta um livro pesado. Sentiu um espasmo o percorrer, junto com um estranho torpor. A cena que via prendia sua atenção, hipnotizando-o. Mesmo se dizendo que não era Lucy a loirinha lhe causava uma sensação de letargia. Nunca viu sua amiga ler, nunca a viu quieta desse jeito e com certeza nunca viu os cabelos loiros amarrados daquele modo, puxados para um ombro e mostrando a curva do pescoço. Causava uma vontade nele de soltar aquele lenço...

    Sem perceber respirou mais forte, querendo sentir mais seu cheiro fraco. Observando-a desse jeito curioso e letárgico, estranhou o fato que ela estava ali, quieta e lendo. Como entrou na guilda sem ele perceber?

    - Ah, é a Lucy. Ela sempre vem aqui pra ler.

    Gray sussurrou o tirando desse estado aero. Piscou sacudindo de leve a cabeça. Tinha esquecido que não veio sozinho, alias, tinha esquecido até da razão de ter vindo aqui.

    - Por que?

    Quis saber. Tanto pra disfarçar o entorpecimento de antes como a curiosidade também.

    - Segundo Lucy, a ancestral dela era uma maga daqui. Usava o mesmo tipo de magia que ela e por isso...

    - ...Os registros devem ter os tipos de feitiços que usava.

    - É.

    Estreitou os olhos, quase rindo. Pelo rosto tenso de concentração ela se esforçava em entender o que tinha naquele livro. Achou mais graça.

    Está indo pelo meio mais difícil, loirinha.

    Relanceou os olhos ao redor, procurando.

    - Natsu.

    - Hum?

    Onde estava? Tinha certeza que ela trouxe. De repente achou. Bem perto dos últimos degraus da escadaria. Para aumentar sua satisfação. Uma parede recuada cobria os lances dos degraus.

    - Porque a gente veio até aqui?

    Se afastando do gradil recuando, sorriu malicioso, sentindo o cheiro de gardênia quase encoberto pelo mofo e poeira. Acima, bem perto do teto, janelas estavam abertas. A brisa deve ter vindo delas.

    - Oe?

    - O que vai fazer hoje à noite?

    Encarou o mago. Gray também tinha recuado e franzia a testa confuso pra ele. Nesse instante percebeu que usava uma calça, deve ter vestido no caminho.

    - Nani?!

    Ficou calado, então o mago o encarou um pouco mais, pestanejando.

    - Você vai aprontar.

    Sorriu surpreso e divertido e Natsu sorriu também, travesso.

    - É isso aí.

    Se virou andando o mais abaixado possível. Indo direto até o alto da escadaria. A primeira parte do que planejou já estava dando certo. O resto dependeria de hoje à noite, mas daria certo também. Depois do que viu a loirinha fazendo com certeza seu plano funcionaria.

    ///////////////////////////////////////////////////////

    A água caindo nas suas costas era relaxante. Mas estava cansada. Cansada e amuada. Na sala de banhos do dormitório, de piso e paredes cinzentas estava sentada num banquinho branco, esfregando uma esponja com espuma pelo colo enquanto escutava.

    - Eu tou dizendo, Bisca. Alzack quase puxa briga com Elfman por sua causa.

    Cana tinha um tom malicioso. Deu uma olhada pro lado e viu a garota de longos cabelos verdes corar violentamente. Bisca olhava para baixo encabulada e coberta de sabão.

    - M..ma..mas porque tá me dizendo isso?! Elfman nunca falaria mal de mim.

    Cana se inclinou na beira da banheira atrás delas, se debruçando mais.

    - Alguma coisa ele falou. Não tá nenhum pouco curiosa?

    - Não!

    Puxando fundo o ar pelo nariz, ela pegou o pequeno chuveiro pendurado na parede em sua frente e começou a se lavar da espuma. Nesse instante, Levy se sentou ao seu lado. Num outro banquinho. Pegando uma esponja na bancada de mármore e despejando um líquido roxo nela, começou, assim sem querer nada..

    - Hein, Lucy. Ele foi na guilda hoje.

    Franziu a testa pra amiga, enquanto ensaboava o cabelo.

    - Quem?

    - Natsu.

    Prendeu o fôlego e Levy reparou na sua reação, pois segurou um sorrisinho. Atrás delas na banheira Cana perguntou animada.

    - Verdade? E como ele é?

    Levy se virou sorrindo.

    - Igualzinho a pintura. Eu nem acreditei! Jet queria brigar com ele, mas como sempre não deixei e então quando fui pedir desculpas meu queixo caiu.

    - Ah, que droga! Eu queria ter visto também.

    Lucy não disse nada. Encarava a bancada sentindo um pânico irracional. Ele estava lá? Mas desde quando? Será que a viu na guilda?! Sacudiu a cabeça respirando mais sossegada. Não. Ele não viu. Se tivesse a teria abordado. Se bem que... Natsu não teria motivos pra conversar com ela.

    - Minha cara, como ia ver o Dragon Slayer se só chegou de uma missão agora?

    Suspirou revirando os olhos. Evergreen azeda como sempre. Pegou o chuveiro na parede e o ligou para tirar o sabão.

    - Fala sério. Você também queria ver.

    Silêncio e depois as garotas soltaram risos.

    - Tá, tudo bem. Eu vi sim de relance e ele não é lá essas coisas. Nem ganhou uma briga com o Gray.

    - Não é bem assim. Eles pararam porque a Mira interrompeu. Mais um pouco e quebrariam o bar inteiro.

    Arregalou os olhos. Mas ficou quieta. Laki, uma garota estranhamente sádica e doce se inclinou da borda da banheira também.

    - Eu vi a briga. Ele lutava com fogo! Do jeito como a Lucy disse. Se bem que ninguém se machucou.

    Franziu a testa estranhando e se virou no banco. A garota de cabelo curto e roxo fazia um muxoxo decepcionada.

    - Laki!

    Ela a olhou entediada.

    - Qual é? Você contou que ele praticamente quebrou os magos das trevas no museu. Só queria ver de perto.

    Deu os ombros e mergulhou na banheira. Lucy arregalou os olhos. Laki às vezes era violenta demais. Terminou o banho e pegou um roupão pendurado no cabide a um canto perto da porta. Levy acabou junto com ela, então saíram juntas. Podia ouvir as outras comentam a respeito da briga de Gray e Natsu e como ele estava vestido, o físico dele e etc, etc, etc...

    Isso a irritava.

    Enquanto caminhavam pelo corredor, percebeu que Levy a olhava risonha. Estreitou os olhos. Ela queria dizer alguma coisa. Sentia isso. Entrou no quarto junto com a amiga e a mesma fechou a porta. Enquanto pegava uma muda de roupa no guarda-roupas (blusa e short) além da calcinha, suspirou.

    - Fala Levy.

    - O que?

    A outra tinha um tom divertido e ansioso. Lucy se vestiu se irritando ainda mais.

    - O que não me disse lá banheiro. Eu sei que tem haver com aquele imbecil.

    Se virou pra amiga. Levy soltou um riso, o cabelo preso num coque com umas mechas azuis caindo envolta do rosto.

    - Que isso, Lucy. Ele me pareceu bem legal, apesar de debochado.

    - Eu disse que ele era!

    A outra arregalou os olhos.

    - Calma. Sinceramente essa sua raiva já tá estranha.

    Lutando com todas as forças contra o rubor que lhe subia pelo pescoço, pegou uma escova e penteou o cabelo, usando como desculpa pra não encará-la. Levy apenas a olhou mais risonha e desconfiada. Droga.

    - Olha, eu tenho meus motivos e ainda não disse o que escondeu das meninas.

    A espiou entre as mechas. A baixinha tinha uma expressão divertida e quase quicava.

    - Ele te chama de loirinha.

    Seu rosto esquentou. Engolindo em seco, se virou ao guardar a escova no criado-mudo e pegou um lenço. Enquanto amarrava no cabelo, de lado, tentou deixar a voz tranquila.

    - E daí?

    - E daí? Lucy é como se ele não quisesse te chamar pelo nome!

    A olhou e Levy quase riu incrédula e mais risonha.

    - Sério. Toda vez que eu dizia “Lucy” Natsu fazia um gesto com o rosto. Incomodado.

    Levy riu mais e pelo seu olhar brilhante achava tudo muito engraçado. Bem, ela não achou. Sentou na cama e pegou a bolsa roxa que sempre usava. Gostava muito dela, a tinha fazia um tempo. Remexeu suas coisas até encontrar a bolsinha de couro com as chaves.

    - Pouco me importa se ele não gosta. Afinal o nome é meu. Hoje fui na guilda e dou graças a Kami que a gente não se viu.

    Pegou a bolsinha e um nervoso a tomou. Ofegou arregalando os olhos. Apertando o couro e estremecendo. O troço... estava quase vazio.

    - Você foi?! Lucy a Mira te proibiu! Se bem que ela é legal. Se Erza estivesse aqui... Ainda bem que viajou numa missão.

    Nesse instante, Levy reparou no seu estado. Desesperado.

    - O que foi?

    - As chaves...

    Sussurrou ofegando. Ainda encarava sua mão apertando a bolsinha de couro e seus olhos ardiam. Não!

    - O que tem elas?

    - Roubaram as minhas chaves, Levy!

    A encarou e a garota pestanejou surpresa.

    - Mas co...

    Uma explosão. Forte e sonora vinda do lado de fora assustou as garotas. Lucy levantou da cama enquanto as duas se encaravam. Num misto de confusão e espanto.

    - O que foi isso?

    Levy ofegou. Mal a baixinha acabou de falar e outra explosão estourou. Sacudindo a casa. Elas se equilibraram com os abalos e se olharam. Não disseram mais nada. Saíram correndo do quarto e dispararam pelo corredor. Lucy ainda sentia um aperto no peito. Desespero em saber quem fez isso. Quem roubou seus preciosos amigos dela. Ainda agarrava a bolsinha de couro e seus olhos ardiam. Mais de angustia do que de raiva. Seja quem for essa pessoa ia pagar. Ia pagar muito caro.

    Já chegavam na sala, encontrando as outras garotas quando ouviram.

    - SEU BAKA!!! EU DISSE QUE ELES IAM NOS MATAR!!!

    Todas elas ofegaram. Mira que estava de camisola e roupão pra dormir arregalou os olhos pro vazio, chocada.

    - Foi... um cara?

    Cana se virou pra ela, seu longo cabelo castanho num rabo de cavalo alto. Estava com um blusão vermelho e nada mais. Alias todas as garotas estavam seminuas.

    - Parece ter sido o Gray.

    Outra explosão.

    Todas correram para as janelas, enquanto que Lucy, Levy e Bisca correram para o hall do dormitório. Quando chegaram havia um rombo na parede. Levantando poeira e uma nevoa branca. Fria...

    - Itai!

    Levy deu pulo. Olharam para baixo e no chão pedaços de gelo rolavam.

    - Isso é obra do Gray, com certeza. O que esse idiota tá fazendo aqui?

    Cana resmungou e correu para o rombo na parede, saindo no jardim gramado da frente. Ela tinha descido pra ver de perto, pelo visto. As outras a seguiram. De inicio, não viram nada de estranho até que escutaram.

    - KARYÛ NO... YOKUGEKI!

    Viraram a direita e viram um cara saltando no ar, com chicotes gigantes de fogo e labaredas nos braços. Ele os chicoteou no seu alvo e ficaram mais pasmas. Um arcanjo com uma espada e toga branca, com armaduras no torso e os ombros. A explosão estourou levantando poeira e estremecendo o ar. A onda do impacto as atingindo em cheio!

    Lucy que já estava angustiada com suas chaves roubadas ficou apavorada. Simplesmente apavorada. O que esse Dragon Slayer irritante tava fazendo aqui?!

    Tossiram engasgadas com a poeira e fumaça e as garotas que assistiam de janela ofegaram.

    - Isso foi...

    - Hei! Cuidado!

    As quatro levantaram as cabeças e arregalaram os olhos. O arcanjo tinha parte do rosto quebrado, estava sem um braço e voava direto até elas. As garotas deram um pulo gritando e correram pelo gramado, desesperadas.

    Levy saltou uma pedra, agarrando firme as duas abas do roupão, seu cabelo solto do coque.

    - POR  QUE ELE TÁ ATACANDO A GENTE?!

    Bisca que corria ofegante, suas tranças se desfazendo gritou de volta.

    - COMO VOU SABER?

    Ouviram um bater de asas e encaram acima. O arcanjo mergulhava, dando um golpe com a espada. O vento as açoitou com força e antes que fizessem um feitiço para se defenderem uma parede de gelo brotou da esquerda delas. Crescendo num segundo e bloqueando o ataque. Lucy que estava mais frente foi separada das amigas então ouviu um zunido, bem atrás dela.

    Com o coração batendo enlouquecido girou no lugar e viu o outro arcanjo. Era igual ao outro destruído. Toga branca, armadura prateada, asas douradas reluzentes e uma lança de uns cinco metros na mão recuada apontada pra ela. Gritou em desespero tropeçando nos próprios pés. Mal prestava atenção ao redor, focada do arcanjo que mergulhava no ar. Chegaria em segundos para empalá-la quando uma mão quente agarrou seu braço e puxou com força pra trás. Bateu as costas no peito de alguém, também mais quente que o normal. Mas invés de tirá-la do caminho, como pensou, o cara enrolou o braço a sua cintura a apertando. Arregalou os olhos. Parada e presa nos braços do mago irritante enquanto assistia o arcanjo crescer na sua frente.

    5 metros, 3 metros, 2 metros.

    No ultimo metro gritou fechando os olhos esperando a lança de ferro a atravessar. Um vento sacudiu seus cabelos e sua roupa, mas não sentiu dor. Estranhando e tremendo abriu os olhos devagar e arquejou. O arcanjo estava parado. Bem na sua frente e o braço esticado com lança paralisado no golpe. Ele estremecia, mas não se mexia.

    - Eu sabia.

    A voz debochada e divertida a irritou.

    - Você!!!

    Esperneou de raiva tentando se soltar, mas como sabia, ele tinha uma força monstruosa. Nem afrouxou o aperto. O peito colado em suas costas tremeu de riso enquanto Natsu curvava o pescoço e dizia, perto da sua orelha.

    - Yo, loirinha.

    O arrepio que sentiu a fez corar violentamente e espernear de mais raiva.

    //////////////////////////////////////////////////////////////////

    - Então, posso saber o que vocês vieram fazer aqui ou terei que chamar o Master?

    Mirajane pôs as mãos nos quadris, estreitando o olhar irritada. Lucy também se sentia assim e tentava passar toda a raiva pelos olhos enquanto Natsu a encarava. Debochado e irônico. Que ódio.

    Depois que o segundo arcanjo parou o ataque, Mira apareceu correndo onde estavam. Entre arquejos ela deu uma olhada rápida em volta e declarou em alto bom som que os babacas invasores eram convidados. Os arcanjos então desarmaram a postura ofensiva (principalmente o que lhe apontava a lança) e bateram asas, voando até o portão de ferro. Somente nesse instante Natsu e soltou e se afastou dele. Tremendo e arrepiada. Além de estar com pouca roupa nunca ficou tão perto assim de um cara. E ver que lhe agarrar e usá-la como escudo não tirou o sorrisinho irônico dele a irritou sem palavras.

    Agora estavam todos na sala com o globo de lacrima. A maioria das garotas olhavam curiosas e risonhas para Gray e Natsu. O mago de gelo que parecia ter alergia a roupa estava sem a camisa, mostrando o físico musculoso e Natsu, bem, chamava muito atenção. Empoleirado num braço do sofá, ele estava inclinado para frente e a encarava com o ar irônico. Isso a irritava, junto com a franja caindo nos olhos, os braços definidos a mostra pelo colete negro longo e a calça folgada. Esse jeito despojado a irritava além da conta... E queimava seu rosto e pescoço de embaraço.

    - E então?

    Mira perguntou outra vez. Olhando de Gray para Natsu, esperando. Gray olhou o outro confuso e Natsu se endireitou um pouco.

    - Queria falar com a Lucy. É muito importante.

    Todas a olharam e seu rubor aumentou. Mexeu os pés desconfortável com a atenção e encarou o mago. Ele sorria divertido. Idiota!

    - Mas tinha que invadir a Fairy Hills à essa hora da noite? Podia ter esperado pra falar comigo na guilda.

    Natsu a olhou risonho, alheio ao choque e fascínio que causavam na maioria das garotas.

    - É assunto de interesse seu, loirinha.

    Enigmático e não explicando nada. Suspirou fechando os punhos ao lado do corpo. Sua mão ainda com a bolsinha de couro quase vazia.

    - Eu não tenho nada pra falar com você.

    Sibilou estressada. Pela visão periférica viu as cabeças das garotas se voltarem para Natsu que levantava as sobrancelhas, fingindo confusão.

    - Ah, não? Pois eu achei que teria.

    Enfiou a mão no bolso da calça cinzenta e no silêncio do cômodo, tamanha a atenção constrangedora neles ouviu um tilintar. Ofegou. Curvando os lábios Natsu puxou a mão e nos seus dedos, uma argola de metal com várias chaves douradas penduradas. Arregalou os olhos, chocada. Num movimento sutil e rápido ele jogou a argola para cima e enfiou a mão passando por ela, o objeto parando seu cotovelo.

    - MINHAS CHAVES!!!

    - Não são não.

    Apertou os dentes de raiva o fuzilando. Atravessou o cômodo correndo.

    - Me devolve, babaca!

    Quando estava a poucos passos dele, Natsu quase riu saltando pra longe. Perto de outro sofá. Lucy correu até ele de novo e saltou esticando o braço, mas o sacana afastou o dele pra trás se inclinando e sorrindo. O que mais irritava era que ninguém a ajudava, só assistia.

    - Me devolve elas, Natsu!

    Pulou de novo pro lado e ele jogou a argola pra outra mão. Esticando-a para o alto e longe do seu alcance. Lucy a essa altura tremia de nervoso e embaraço.

    - Não. E se eu fosse você desistia. Essas chaves não são suas.

    Parou de pular, tremula e vermelha de raiva. A plateia entretida e quieta. Droga!

    - Claro que são. Eram da minha...

    - Tia tatataravó.

    Parou no mesmo minuto. Seus olhos arregalando e engasgando de susto. Vendo, ele soltou um risinho cínico e se sentou no braço do sofá atrás de si. Lucy não conseguia dizer nada. As garotas e Gray tinham até se acomodado no resto do cômodo. Como se estivessem assistindo uma peça.

    - Você é descendente dela. Admito. Mas não direta. Lucy nunca teve filhos, ela nem teve tempo. – então estreitou os olhos, com mais prazer do seu espanto – Você é tatataraneta de Aidan. Portanto, loirinha, as três chaves que ela deixou pro irmão ficam com você.

    Ofegou de choque e escutou um “Caramba”. Deve ter sido Cana. Era adorava esse tipo de coisa.

    - O que você quer?

    Perguntou trêmula e ofegante. Natsu sorriu de canto divertido do seu rosto pálido e apoiou os braços nas pernas. O pulso dele, com a argola das chaves, começou a girar. O tilintar a matando de mais vergonha.

    - Agora quer conversar. Incrível como uma verdade dura te deixou mais mansinha, loirinha.

    - PARA DE ME CHAMAR DE LOIRINHA!

    Gritou nervosa e alguém riu. Olhou pro lado e várias garotas disfarçaram. Exceto Levy e Cana. Essas achavam muito graça.

    - Baixe o tom comigo, senão mudo de ideia.

    O encarou de novo. E ficou mais nervosa. Pelo olhar e sorriso, esse Dragon Slayer se divertia perversamente. Engoliu em seco, apertando mais a bolsinha de couro na mão.

    - Mudar de ideia sobre o quê?

    Piscando calmo, ele parou de sorrir mas seus olhos continuaram risonhos. Droga!

    - Tenho uma proposta pra você. Vai te beneficiar muito. Interessada?

    Ofegou agoniada. Pra quê esse suspense? Então encarando a expressão dele debochada entendeu. Estava se vingando. Por tê-lo enganado. Gemeu internamente. Como não disse nada, ele continuou.

    - Vou tomar esse silêncio como sim. – então inclinou o rosto, a franja rosa caindo nos olhos – Forme equipe comigo.

    Um longo minuto passou e tudo o que conseguiu fazer foi gaguejar.

    - O..o.. quê?

    Ele quase riu.

    - Vou ter que repetir? Eu disse pra formar equipe comigo.

    Piscou atordoada. Era uma brincadeira. Ele estava claramente brincando com ela.

    - Isso é uma piada?

    Não olhou a pessoa, sabia bem quem era. Evergreen estava num choque indignado pelo tom de voz.

    - Não é piada.

    Natsu respondeu sem olhá-la e percebeu que se irritou um pouco. Era sério mesmo.

    - Você não pode chamar essa garota pra formar equipe. Ela nem pode fazer parte de uma já formada. Magos aspirantes...

    - Podem fazer equipe sim, se o parceiro for um Mago Classe S, coisa que eu sou – Natsu encarou atravessado Evergreen, irritado – Então não se meta garota.

    Ela calou na mesma hora. Natsu então a olhou de novo e a irritação sumiu. Ele sorriu um pouco do seu choque.

    - O que me diz? Vai ser efetiva como Maga logo, até porque eu posso te ajudar mais na Magia das estrelas do que aquele livro que leu hoje a tarde.

    Se entalou. Então foi nesse momento que roubou as chaves dela! Natsu riu do seu espanto e se irritou com isso. Mas controlou a raiva, o que ele estava oferecendo era muito tentador pra ela. Muitos benefícios, no entanto...

    - Porque tá fazendo isso?

    Perguntou cautelosa e fingiu pensar ele se levantou do braço do sofá.

    - Digamos que estou pagando pra ver.

    - Como?

    Estreitando os olhos convencido, ele sorriu de canto.

    - Você disse que esfregaria na minha cara.

    Um rubor tomou seu rosto. Então era isso?! Só por causa do que disse naquela raiva?! Natsu a encarou esperando e suspirou fundo, apertando os dentes. Pois bem.

    - Tá.

    - Tá o quê?

    - Faço equipe com você.

    Muita gente ofegou, mas não olhou pro lado. Encarava o sorrisinho cínico a sua frente.

    - Decisão esperta, loirinha.

    Passando por ela, guardou a argola com as chaves no bolso. Mas em vez de seguir lhe empurrou um papel amassado. O pegou confusa.

    - Que isso?

    - Nossa missão. Ajeite tudo até amanhã, porque no outro dia vamos viajar.

    Arregalou os olhos chocada. Girou no lugar encarando o colete longo e negro enquanto ele ia embora. Gray foi atrás dele sem dizer nada também. No momento que a porta bateu, as garotas quase pularam em cima dela.

    - Lucy!

    - Você é louca?

    - Porque aceitou?

    - Que sortuda! Lucy.

    - CHEGA!!!

    Cana gritou impaciente, calando as demais. Então sorrindo pra ela de um modo malicioso se curvou sobre seu ombro.

    - Qual a missão de vocês?

    - Eu não sei.

    Franzindo as sobrancelhas, abriu o folheto e leu rápido. Piscou surpresa e várias garotas ofegavam, fazendo um esgar enquanto que ela reprimiu um gemido.

    Natsu estava mesmo desafiando-a ou queria se vingar dela?


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