—Deixa ver se eu intendi, você achou um livro e uma varinha, e tá aprendendo fazer magia sozinho. É isso?
—Huhum—Disse ele, Mike não entendia o que tinha demais, muitas pessoas bem-sucedidas são autodidatas. Guga entrou correndo, tropeçou no último degrau da escada, se não fosse Mike o segurar ia cair em cima dos dois.
—O que foi Guga? —disse Laura, assustada com a correria
—Emi e Akira tão brigando de novo—o garoto falou arfando de canseira.
Quando Mike saiu da cabana atrás de Laura, pra ver o que tava acontecendo, escutou Emília, ela gritava muito, de longe dava pra escutar sua voz, não sei como eles não tinham percebido antes.
—E eu já falei pra você não me chamar assim—dizia a menina de pé, de frente com o Akira.
—Por que? Se é verdade. Você é mimada e metida mesmo— O menino falava alto e mostrava a língua pra ela
—Cala boca!
—Vai faze o que?
Os dois se aproximaram, parece que já iam se pegar. Mike ficou olhando aquela briga totalmente infantil, como duas pessoas que foram privadas de sua liberdade, separadas a força de suas famílias, vivendo naquela cabana horrorosa, podiam ser tão bobas daquele jeito. Deviam pensar num modo de fugir dali ,e não brigar como duas crianças mimadas, era exatamente o que ia fazer, tinha fugir de um jeito ou de outro. Ele se esquecia que eram apenas crianças.
— Parem com isso— falou Laura— vocês dois já são bem crescidinhos.
—Eu odeio esse pirralho, odeio esse lugar, odeio todos vocês—gritou Emília e saiu correndo pra cabana.
—Vai chorar pra lá, sua patricinha.—berrou Akira atrás dela
—Pare com isso. Nós temos que estar unidos, só assim acharemos um jeito de sair daqui.—falou Laura apaziguando os ânimos.
—Sair daqui? Estamos neste lixo a muito tempo, você acha mesmo que ainda vamos sair?—gritava ele com lágrimas nos olhos.
—Não podemos perder esperança—falou Laura tentando acalmar o garoto. Mike só assistia não sabia o que dizer, tinha chegado ali a pouco tempo, não podia imaginar como seria se ficasse ali por muito tempo.
—Vamos morrer aqui— limpando as lágrimas com a mãos, Akira correu pro lado da cerca.
—Eu vou atrás dele—falou Mike pra Laura
—E eu vou ver como Emília está.
Mike correu atrás dele, mas o lugar era grande, parou pra descansar um segundo. Levantou a cabeça tentando enxergar Akira, avistou o menino estava sentado olhando pra cerca
—Akira?—falou quando chegava perto.
—Saia daqui, eu quero ficar sozinho— disse sem tirar os olhos da cerca, tinha parado de chorar, mas parecia muito abalado ainda.
Mike tentou pensar algo pra falar, mas nunca foi bom com as palavras, a única coisa que podia era tentar dar esperança, mesmo que não tivesse certeza de nada, la dentro.
—Agente vai sair daqui logo— falou parando um pouco atrás de Akira.
O garoto passou a mão no rosto, se livrando de alguma lágrima, que ainda devia estar lá, Mike olhou pra cerca o ponto que Akira tava olhando, tinha uma folha grande, verde vem claro, em forma de coração.
—Essa folha me lembra minha mãe. Ela sempre desenhava coração em tudo, no meu caderno, no chantili do bolo, até com leite na xícara de café — falou o menino melancólico.
—Olha Akira, eu sei que cheguei hoje aqui, mas eu quero te pedir que não perca as esperanças, o que eu falei é realmente o que eu acredito, agente vai sair daqui logo — falou colocando a mão no ombro de Akira.
—A é? E como?—ele se virou, seus olhos estavam vermelhos, sua testa tava enrugada, já algumas lágrimas surgindo de novo.
—Eu não sei mas—O garoto se levantou com um pulo e abraçou Mike, era um pouco mais baixo que ele, seu cabelo liso e bem preto dava pelo seu nariz.—nós vamos dar um jeito, eu sei que vamos—Mike queria acreditar do fundo do coração, com todas as forças que aquilo era verdade.
—Vamos voltar agora? Os outros devem estar preocupados.
—To nem aí pros outros—largou de Mike, e se virou de costas novamente— quero que todos vão pro inferno.
—Isso é verdade?—Disse Mike tentando falar num tom sábio—se todos nós morrêssemos, você ficaria sozinho aqui, é realmente isso que você quer?
Akira olhava para o chão, falou baixo, a voz um pouco embargada:
—Não, eu...eu só queria sair daqui, voltar pra casa, pra minha mãe, pro meu pai.
—Eu sei Akira, mas pra isso acontecer, nós temos que se unir, nunca conseguiremos sozinhos.
—É verdade—disse Laura chegando atrás deles—olha o que aconteceu com Paulo, tentou sair sozinho e nunca mais voltou—o olhar triste, mas falava com segurança—Se nós trabalharmos juntos, tenho certeza que conseguiremos.
Aquela última frase, fez Akira olhar pra ela dê um jeito diferente, sem a tristeza de antes, no lugar tinha uma raiva.
—Por que? O que mudou? Agora todos tem esperanças de sair daqui, é só por que Mike chegou? Em Laura? Me diga, você acha que ele vai tirar agente daqui? É isso? — falou ele meio alterado de novo.
Laura olhou pra Mike, ele tinha certeza que ela tava pensando na varinha, talvez tivesse decidindo se contava a Akira ou não.
—Não, é só que, se agente ficar brigando entre nós, e não fizermos nada aí sim é que morreremos aqui.
O garoto ficou olhando pra ela, depois de um tempo abaixou a cabeça, fechando os olhos, falou:
—É verdade? —Akira parou um pouco, pensou, olhou pra ela de novo, parecia buscando um reposta— O que você acha que devemos fazer?
Mike olhou para Laura, achou por um segundo que ela ia falar sobre a varinha, não que fosse segredo mas, não sabia se era boa ideia. Laura pegou a mão de Akira e falou devagar, um tom calmo na voz:
—Ainda não sei, mas vamos dar um jeito, não é Mike?
Ele não esperava pela pergunta, era quase com se ela tivesse cobrando algo dele.
— Sim, é claro que vamos.
— agora Akira, você precisa pedir desculpas a Emília, todo mundo sabe que ela é difícil mas você também, não é nem um anjo, não precisava falar assim com ela.
— Mas ela é uma chata mesmo— falou o menino cruzando os braços. Laura olhou pra Mike pedindo ajuda,
— É, pode até ser, mas ela é uma menina, as meninas são assim mesmo, você tem que deixar passar as vezes— falou Mike, Laura fechou a cara, olhou pra ele, estava com o rosto vermelho. Mike deu de ombros, ergueu as mãos. Era a única coisa que tinha pensado pra falar, e achava que aquilo era verdade, pelo menos na parte que Akira tinha que ficar quieto as vezes. A hora que Mike olhou Laura já tava voltando pra cabana.