Carmesim

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    Capítulos:

    Capítulo 6

    Marca do Pecado

    Álcool, Estupro, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Mutilação, Nudez, Sexo, Violência

    Depois da discussão acalorada e infrutífera, os quatro companheiros de batalha foram para a casa anexa ao templo. O imóvel não estava todo destruído e aproveitaram para arrumar um pouco, já que Hiei decapitou a única pista desse ataque estavam no escuro sobre isso. Yusuke e Kuwabara tentavam arrancar nem que fosse uma palavra do demônio do fogo enquanto tiravam a mobília quebrada dos cômodos, trazendo para a área gramada entre os prédios.

    Parado no portal dessa sala – as portas haviam sido arrebentadas na perseguição – Hiei contemplava a chuva num ar distante, afastado dos outros como sempre se mantinha. Para Yusuke e Kuwabara era uma atitude típica dele, mas para Kurama, que analisava um pedaço de roupa do atacante decapitado, o amigo parecia tenso demais. Estreitou o olhar, vendo a linha corporal carregada do outro. Talvez fosse apenas impressão, talvez seja por sua preocupação constante com o estado depressivo de Botan e suas desconfianças sobre a visita que fez à Hiei duas semanas atrás. Contudo, seus instintos diziam que o amigo escondia algo do grupo. De uma natureza tão séria e grave que pretendia guardar somente para si.

    HIEI POV

    - Pronto. Com essa é a ultima.

    Passando ao meu lado, Yusuke atravessou a varanda, logo atirando uns pedaços de madeira na pilha dos destroços. Algum móvel despedaçado pela arma do demônio no ataque. Limpando as mãos da sujeira poeirenta, ele voltou para dentro não sem antes me direcionar um olhar cauteloso. Fingi que não vi. Era melhor do que me importunar com perguntas como o tolo.

    Recostado no batente das portas quebradas, sentia minhas roupas quase secas e as feridas no ombro e nas costas latejarem. Pequenos incômodos por causa da luta. Como os ignorava notei pelo barulho e as vozes sérias eles discutindo sobre a origem do monge mercenário. Algo que não me espantou.

    - Mas tem certeza disso Kurama?

    - Vi as roupas dele. Era um demônio de Gandara.

    Relanciei os olhos para os três. Yusuke e Kuwabara encaravam temerosos e tensos Kurama. O primeiro tenso na menção do território do atual Rei de Makai. O segundo, pela gravidade disso. Não tiro suas razões. Eu mesmo reagi um pouco deste modo ao saber.

    - Mas o que um youkai desses veio realmente fazer aqui?

    - Esse tal de Yomi nunca teve interesse em algo assim, certo? Alias, de que valia o trabalho?

    Todos se calaram, bem encarando o idiota. Claramente sua sugestão era uma prova rara do quão seu cérebro pode ser inteligente. No entanto, não dei muita importância à conversa, não quando ainda me lembrava das palavras dele. O mercenário foi capaz de me perturbar.

    Flashback on

    - Pensa.... Que é o único que sabe sobre a shinigami? Nunca vi um demônio... Proteger uma fêmea de reikai... Sem interesse.

    Estreitei o olhar do sorriso descarado. A cara dele tostada e borbulhante de sangue enquanto o maldito estremecia de choque pelas chamas. Mesmo com a chuva desabando o fogo não abrandava e ainda que queimasse vivo esse louco me vem com sarcasmo. Pisei com mais força sobre seu pescoço, ouvindo os ossos trincando enquanto o observava sufocar.

    - Não acha que está numa péssima posição pra vomitar tolices? – aumentei mais a pressão no seu pescoço, vendo-o se agitar desesperado – Quem te mandou aqui?

    Grunhindo de dor, tanto pelo fogo como de asfixia o demônio agarrou meu tornozelo tentando aliviar a pressão sem sucesso. Arfando, os olhos negros me encararam num brilho presunçoso... Superior.

    - “Seu cheiro é doce... A alma frágil... E o corpo delicioso”

    Meus olhos aumentaram ligeiramente, o choque crescer no meu rosto enquanto o sangue atordoava pulsando de assombro. Ele sorriu da minha expressão aturdida, gostando de ver.

     - Você conhece essa citação, não é? É disso que eu vim atr...

    Minha mão se moveu, o zunido da lâmina cortando a carne e ossos deixando o sangue jorrar. O rosto debochado congelou enquanto a cabeça dele já rolava pela grama molhada e na lama. Mas não olhava para isso. Encarava o nada, arfando ao estremecer. Mal me dei conta de que me encharcava ainda mais nessa chuva. Minha mente zunia por dentro.

    Não. É... Impossível! Se fosse o caso, demônio algum...

    - Seu louco! Por que arrancou a cabeça do monstro?!

    Num segundo sufoquei essa confusão mantendo uma expressão fria e encarei de soslaio a pessoa. Kuwabara. O idiota quase bufava de raiva em cima de mim quando me alcançou.

    - Só um tolo deixa vivo um inimigo, não que você entenda.

    - O que quer dizer com isso?

    Quase ri embainhando a espada.

    - Continua ingênuo esse idiota.

    Como esperado ele se entalou de raiva. Os punhos estremecendo ao cerrarem. Apenas o encarei sério.

    - Cretino... Engula isso agora.

    Antes que tentasse me agredir (sem sucesso), Yusuke se intrometeu entre nós, o empurrando no peito.

    -Opa! Calminha aí os dois! Estamos com um problema sério aqui. Então vamos nos acalmar. Certo?

    - Diga isso pra ele Urameshi. Graças à esse doido agora não vamos saber quem atacou a gente!

    - Esse ataque não foi algo aleatório. – olhando para o corpo queimando, a raposa estreitou o olhar – Ainda mais com um caçador de recompensas entre eles.

    Kuwabara quase saltou os olhos de espanto.

    - Como é? Tem certeza disso Kurama?

    O silencio do kitsune foi suficiente. Estreitando o olhar Yusuke olhou confuso o corpo queimado.

    - Genkai nunca me disse que tinham coisas de valor no santuário. Nem no testamento.

    Observei o Tantei. Ele também estava surpreso. Eu sei que os adornos budistas do hall e as armas possuíam quase ou nenhum valor. Tanto no mundo dos humanos como em Makai.

    - Posso verificar mais tarde, assim teremos uma pista.

    Kurama se prontificou, ainda olhando para o cadáver queimando. Os outros dois concordaram, no entanto, eu não disse nada. Teria sido comum já que geralmente não opino nas idéias de Yusuke e de Kuwabara. A maioria não tinha fundamento algum, mesmo que Yusuke conseguisse seu objetivo por pura sorte. Mas a sensação de que algo estava errado me sufocava. O que ouvi desse maldito estava me perturbando.

    O mercenário não veio atrás de algo e sim de alguém. Olhei de relance para a entrada do templo, em tempo de ver cabelos azuis sumindo para dentro e novamente a perturbação no meu peito aumentou, a ponto de me irritar.

    Flashback off

    Suspirei cruzando os braços. Não fazia sentido. Era um absurdo que me recuso a acreditar. Em quase um século de vida nunca soube de prova alguma e se realmente tivesse existido em Makai, se fosse possível algo assim acontecer... A onna jamais teria conseguido voltar pra cá. Fechei os olhos, mais centrado nisso. Se fosse o caso apenas poderia ter acontecido numa oportunidade. Involuntariamente meu corpo enrijeceu mais, recusando. Fatos e palavras aleatórios girando em minha mente e rápido rejeitei todos.

    Abrindo os olhos encarei adiante o templo. A chuva mais torrencial enquanto os trovões estouravam.

    Não.

    Isso não aconteceu.

    Apesar do meu instinto gritar em protesto, como uma verdade escondida bem diante dos meus olhos, algo me fazia ter essa convicção. A shinigami veio até a Makai há duas semanas em sua forma verdadeira. É impossível tocar, ainda por cima macular um espírito. Ele é intangível.

    HIEI POF

    BOTAN POV

    - Botan, tem certeza que está tudo bem?

    - Podemos ficar aqui com você se quiser. Kazuma não se importa.

    Sorri olhando tanto para Keiko e Yukina. Elas tentavam me ajudar, seus olhos preocupados diziam isso.

    - Não precisa. Estou bem. É sério.

    Keiko franziu o rosto mais desconfiada e segurei o impulso de engolir em seco. Depois que saímos do hall do templo, elas me levaram para uma parte anexa que ficava na área leste. Uma pequena sala de purificação. Ao lado dela, uma sala de banhos. Estava inutilizado e portanto ideal para um banho relaxante depois do estresse dessa noite. Contudo, quando fui me livrar da calça lembrei de algo. As meninas já estavam nuas tomando banho enquanto que eu continuei vestida.

    Nem consegui inventar uma desculpa decente. Saí do banheiro mal escondendo o pânico, quase correndo para a casa. Mas o medo me parou. O hall escuro, o uivo do vento e da chuva. Num estouro de trovão me encolhi contra parede e tentei ao máximo não chorar. Não ter uma crise de pânico ainda maior.

    Elas me acharam e me levaram para cá. Cismando que eu precisava de ajuda, o que era verdade mesmo.

    - Se você diz tudo bem. Não precisa trabalhar amanhã. Descanse e depois venha no meio da semana.

    Keiko já caminhava para a porta. Isso me deixou confusa por uns segundos até entender. Sorri alegre e ela devolveu de um modo terno. Quase que a abracei, mas a dor na minha perna...

    - Puxa Keiko, você é um anjo. Obrigada, obrigada mesmo.

    Ela deu os ombros e pela visão periférica vi Yukina feliz por isso.

    - Não precisa agradecer Botan. Se aquele irritante do seu chefe não te assegurou aqui no nosso mundo, seus amigos fazem isso.

    Meus olhos arderam enquanto minha garganta se apertava de leve. Curvando os lábios ela piscou e saiu do quarto. Atrás dela Yukina quase fez isso, mas impedi.

    - Espera Yukina. Eu... Preciso falar uma coisa à você.

    Os olhos carmesins piscaram confusos e ela se sentou ao meu lado na cama.

    - Claro. Sobre o que é Botan-chan?

    Torci as mãos em nervosismo e esperei um momentinho para encontrar um pouco de coragem.

    - Bom, como ficou certo meu emprego lembra o que te falei um mês atrás?

    A encarei em expectativa e a koorime pestanejou. Seus olhos ficaram um pouco tristes, mas ela sorriu compreensiva.

    - Claro. Você precisa ficar na cidade, não é?

    - Sim. Já conversei com minha amiga e ela aceitou.

    Segurando minha mão ela apertou levemente, isso me deu um pouco de conforto.

    - Venha sempre que puder. Kazuma e eu ficaremos felizes quando nos visitar.

    - Claro que sim. Não vou abandonar meus amigos.

    Soltei um risinho rolando os olhos. Ela encolheu os ombros e pude ver um divertimento suave em seu olhar. Nesses anos ela já se acostumou comigo. Sentirei falta disso quando for embora.

    - Quando vai?

    Encarei meu armário pensativa.

    - Amanhã. É dois dias de viagem até Sarayashiki.

    Yukina assentiu entendendo. Para disfarçar a tensão comecei a falar sobre a lua de mel verdadeira que teria. Ela ficou me olhando confusa e sufoquei um risinho nervoso. É verdade que Kuwabara e ela já tiveram seu momento de amor e tudo mais. Por isso casaram. Ainda me lembro do pedido de casamento escandaloso dele. Morri de vergonha, todos da sorveteria olhavam pra gente. Em todo caso, eles merecem ser mais felizes, com mais privacidade. E depois de hoje, não posso mais colocar meus amigos em perigo.

    No templo Kasane ficarei bem. Hinageshi me disse que reforçou as barreiras nas arvores da escadaria e nos torii do santuário. Segundo ela somente o Reikai Tantei podia adentrar. Então... Estarei bem.

    *~*~*~*~*~*~*~*

    A viagem para a cidade foi um pouco cansativa. O ônibus sacolejava por causa da estrada, além de que a despedida não foi nada fácil. Kuwabara quis saber mais motivos por que eu não queria mais ficar com eles. Eu falei o mais fácil. Era longe do meu emprego. Ele quase me disse que podia ir de remo, mas vi que se segurou. Rindo sem graça e fazendo piadas.

    Meu coração doeu um pouquinho. Cortar os céus, voando de remo era algo que amava. Nunca mais vou poder sentir o vento no meu rosto, farfalhando as mangas e meu quimono enquanto transportava almas, ou simplesmente viajar sem destino pelos céus. Era muito cruel. Mas teria que me conformar. Foi culpa minha e...e... bem, quero esquecer o assunto o mais rápido possivel.

    Hinageshi me recebeu bem e toda feliz. Ela varria a entrada do templo e mesmo longe como eu estava, em pé perto da escadaria, reconheci os cabelos curtos escarlates e a vestimenta de miko, (sua entidade aqui em Ningenkai). Nesses dois dias, nada de anormal aconteceu. Exceto a dor fina e constante na minha perna direita e a sensação de ser observada.

    Quase não havia sentido nessas ultimas semanas, mas desde o ataque no templo de Genkai minha perna não para de doer. É como se ainda o osso tivesse partido. Me falaram que sempre eu sentiria isso, a lembrança da vergonha que me tornei. E realmente, era uma tarefa impossível há cada onda de dor esquecer o que aqueles monstros me fizeram. Eu quase morri enquanto eles riram e gemiam de prazer. Um deles foi mais violento e o som da voz dele me atormenta toda vez que durmo, o sussurro cruel no meu ouvido debochando dos meus pedidos de socorro.

    “Grite o quanto quiser... ele não vai te ouvir”

    Arfando abri os olhos e encarei meu quarto. Iluminado na luz quente do por do sol. Ainda estava claro, que bom. Levantei da cama, ainda de quimono e fui até meu armário. Numa gaveta tinha um pote pequeno. Era arnica do demônio. Uma planta balsâmica de Makai. Foi a única coisa que Koenma me deu quando saí do Mundo Espiritual. Mesmo com tudo o que aconteceu, ele era meu amigo e sinceramente, esse creme era a única coisa que aliviava a dor.

    - Aposto que isso na sua mão não foi Kurama quem lhe deu.

    O pote caiu num baque espatifando perto dos meus pés. Prendi o fôlego, meu sangue correndo para longe do rosto e girei para trás, tomando um susto maior ainda. Parado diante da janela um rapaz, não, um demônio de roupas negras me encarava cínico e irritado. A sombra dele caía sobre mim e seu rosto escurecia enquanto inclinava. Seus olhos carmesins queimavam de um jeito que nunca vi. Estremeci sem querer e Hiei avançou um passo. Meu pânico aumentou e recuei, pisando em algo viscoso e escorreguei caindo sentada no chão.

    Senti uma ardência na mão e umas fisgadas. Bem os cacos de vidro. Mas não me importei. Tudo o que sentia era um medo entorpecente do youkai parado em minha frente e vi que ele não olhava mais para meu rosto apavorado. Seu olhar tinha descido pelo meu corpo até parar nas minhas pernas nuas. O quimono tinha se aberto na queda e ao contrario do que achei, seu olhar não tinha luxuria. Nem sombra disso. Hiei olhava entre confuso e chocado a cicatriz rosada e enorme na minha perna direita e mesmo com o zumbido nos ouvidos por causa do meu coração disparado ouvi ele sussurrar.

    - Kamaitachi.


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