Tudo começou com uma mensagem em minha caixa de correio. Após o meu café da manhã e do cigarro matinal, decidi sair para verificar a minha caixa de correio. Comprei essa casa em um leilão por um valor muito baixo. Ficava em um povoado tranquilo. Como sou um garoto da cidade, não fazia ideia de como seria a vida no interior até que fiz alguns amigos na área. Com a compra da casa adquiri também vários acres de terras agrícolas, que no outono florescia lindamente.
Pus meus sapatos e sai de casa, ainda levemente sonolento. Abrindo a caixa de correio encontrei um pássaro morto lá dentro; de inicio pensei que fosse outra brincadeira daquelas crianças estúpidas – na semana passada, decidiram encher meu gramado com papel higiênico. Tirei o pássaro e o joguei no chão; ele estava bem desfigurado, como se um cachorro o tivesse mastigado.
Não havia mais nada na caixa. Comecei a achar que talvez as crianças tivessem roubado minhas cartas, mas acabei deixando para lá e prometi que acordaria mais cedo na manhã seguinte e esperaria as cartas serem entregues, então eu pegaria esses idiotas no ato. A manhã seguinte chegou e o carteiro veio como sempre. Saí e peguei minhas cartas, sem problemas. Na manhã seguinte foi a mesma coisa.
No inicio da semana seguinte eu saí para checar o meu correio como sempre. Mas dessa vez, fiquei horrorizado com o que vi; a minha caixa que era branca agora estava completamente suja com sangue. Eu a abri cuidadosamente. Dentro havia um gato mutilado. Engasguei e cobri minha boca, sufocando rapidamente o vomito que já subia pela minha garganta. Corri para minha garagem, pus minhas luvas, e tirei o pobre animal dali. Colado nele havia uma nota, quase ilegível, porém bruta. Na nota havia um simples rosto sorridente. Fiquei enojado com isso; quem fez isso achou divertido. Dei ao gato um enterro apropriado e segui normalmente com o meu dia.
Na manhã seguinte, acordei as 5:00 AM, saí e verifiquei o meu correio à procura de algo errado. O gato que eu tinha enterrado no meu quintal estava outra vez enfiado na caixa de correio, dessa vez com outra nota. Nessa nota tinha o desenho de um rosto zangado, e logo abaixo dele havia escrito, “Não gosta do meu presente?”
Enfurecido e finalmente cheio dessa palhaçada, decidi enterrar o gato outra vez e ficar acordado a noite inteira vigiando a minha caixa de correio para tentar descobrir quem estava fazendo isso. O tempo passava – 12:00 AM, 1:00 AM, 2:00 AM, nada acontecia... então, as 3:00 AM, finalmente vi movimento do outro lado da estrada, e do milharal saiu uma figura, seguindo para a minha varanda. Eu a observei ate que ela finalmente chegasse abaixo da minha luz de segurança que ficava no meio da varanda. O que vi, nem sei como posso começar e descrever. Era um homem... ou pelo menos eu acho que era. Estava curvado como um velho, com longos braços retorcidos que se moviam de modo anormal. Sua cabeça estava inclinada para baixo como se estivesse procurando por algo que havia deixado cair.
O homem parecia frágil, mas se movia com grande velocidade. Rapidamente e em silencio, segui para a janela dos fundos e o observei desenterrar o gato e segura-lo em seus braços; ele acariciava o gato como se o animal ainda estivesse vivo e logo o homem correu para a frente da minha casa. Voltei para a janela da frente e o observei seguindo para a minha caixa de correio e colocando o gato lá dentro, para depois desaparecer na escuridão. Naquele dia eu não saí de casa; estava tão chocado com o que tinha visto. Dormi um pouco e resolvi sair para comprar algumas coisas; quando voltei retirei o gato da caixa outra vez e resolvi enterra-lo em outro local, então me preparei para passar outra noite acordado, esperando para ver o que aconteceria.
Com uma lanterna em mãos e outra vez observando pela janela da frente, vi o estranho e veloz homem saindo do campo e entrando em minha varanda, seguindo para o novo local onde eu havia enterrado o gato e cavando com as próprias mãos. Abri a porta deslizante de vidro e saí, mirei a lanterna no homem, e gritei “O que diabos está fazendo?!” O homem virou-se para me encarar, e foi quando eu o observei de perto pela primeira vez. Seu corpo parecia ter sido mastigado por um urso – roupas rasgadas, pele apodrecida, dentes completamente expostos e irregulares, e olhos fundos. Corri rapidamente para dentro de casa no momento em que ele soltou um grito agudo e correu em minha direção.
Fechei a porta deslizante, tranquei, e corri para pegar a pistola que eu havia comprado para a minha segurança e a tinha escondido sob o sofá. Pondo uma bala na câmara, mirei a luz da lanterna para a porta e fiquei esperando, sentado no sofá. Acabei atirando acidentalmente quando me assustei com algo que bateu contra o vidro da porta e deslizou para o chão. Me aproximei da porta e usei a luz da lanterna para ver o que era: entranhas estavam espalhadas pelo chão, e sangue manchava vidro. Enjoado, engoli o vomito que subia pela garganta.
Corri de volta para o sofá e fiquei ali sentado, com meus olhos fixos na porta de vidro, e com a lanterna apagada. Eu conseguia ver o luar passando através da terrível mistura de sangue e entranhas grudada no vidro. Vi a figura se aproximar da porta e começar a tocar no sangue, espalhando-o com as mãos. Eu estava paralisado de medo, esperando que ele quebrasse o vidro e tentasse arrancar a vida de mim.
Depois de espalhar o sangue, ele virou-se e foi embora. Juro que pude ouvir um fraco riso, como o riso de um fumante com os pulmões estragados, só que mais rouco. Fiquei sentado no sofá sem reação; não sei por quanto tempo esperei, mas logo a sala foi se iluminado com o nascer do sol. Passei os olhos pela casa – tudo parecia tão quieto – então fixei meus olhos na porta e lá estava no vidro; marcas de mãos com dedos anormalmente longos e um sorriso, o mesmo que estava na nota grudada no gato. Suspirei e tentei me acalmar, mas, ainda permanecendo em alerta, deitei e fechei os olhos. Algumas horas depois, despertei de um pesadelo e me levantei do sofá.
Eu estava muito estressado, e com o medo crescendo a cada segundo que pensava na coisa que estava lá fora. Limpei as entranhas e o sangue na porta e reuni coragem para sair e checar a caixa de correio, quando encontrei uma simples carta. Curioso, a abri e senti um arrepio percorrer o meu corpo.
Não havia palavras na carta – apenas um sorriso, o mesmo sorriso cru que estava na nota grudada no gato e em minha porta de vidro.
Rapidamente amassei a carta e a joguei no chão. Saí naquela noite; fui ficar com os meus pais na cidade por algumas semanas. Sem explicar a minha situação para eles, simplesmente falei que estava cansado da vida no interior e precisava de uma mudança por algumas semanas. Eles concordaram alegremente. Quando retornei para a minha casa três semanas depois, o horror desabou sobre mim, pois a minha casa não estava como eu a havia deixado. Assim que entrei, o fedor de podre atingiu o meu nariz e vomitei no chão. Tapando o meu nariz com a camisa, prossegui para ligar a luz.
Porém, ligar a luz me fez gritar em desespero. Havia entranhas e corpos de animais espalhados por toda a sala; alguns estavam encostados como se fossem humanos em meu sofá, e todos me encaravam enquanto eu estava paralisado de medo na entrada. Por toda a parede branca havia rostos sorridentes e a mesma frase escrita várias e várias vezes, “Estou com muita raiva de você,” em sangue. Levantei o sofá procurando pela minha pistola, mas ela tinha sumido.
Vi algo se movendo no corredor, onde a luz da sala não iluminava, algo estava vindo para a sala. Saindo do corredor, iluminado pela luz da sala, estava a criatura que quase me matou na noite em que fugi da casa. Ele virou os olhos para mim, e sua boca se abriu em um sorriso doentio. Num pulo, ele começou a vir em minha direção. Me virei rapidamente e corri para fora, batendo a porta atrás de mim. Entrei no meu carro, dei a partida, e saí do estacionamento para a estrada o mais rápido que pude. Atrás de mim, vi pelo retrovisor a figura correndo para o meu carro; ela bateu os braços no porta malas e tentou pular para cima do carro.
Pisei fundo no acelerador e consegui me afastar daquela coisa terrível. Dirigi a noite inteira, o mais longe que pude, da casa, daqueles animais mortos, daquela coisa. Logo eu já estava nos limites da cidade, decidi parar num posto e encher o tanque mais um pouco, já que estava quase vazio. Estacionei no posto e saí do carro. Meus olhos se arregalaram quando vi que o porta-malas estava completamente amassado. Abasteci rapidamente e segui para a casa dos meus pais.
Quatro meses depois, eu já estava morando em um apartamento, lidando com pesadelos ocasionais, mas estava muito feliz por ter saído daquela casa e me afastado do monstro que rondava por lá.
Porém…
Eu tinha checado o meu correio pela manhã e havia uma carta sem remetente. Dentro, em um papel amassado, havia o desenho de um sorriso e as palavras, “Você não pode se esconder,” rabiscadas abaixo do sorriso.