Aqui estou eu, todo aconchegado na cama, aquecido e satisfeito debaixo das cobertas de seda macia, assistindo algum documentário estúpido na TV que eu nunca tinha ouvido falar. Eu ia desligar a TV, mas o pote de sorvete de cookies não me deixou usar mãos para outra coisa senão colocar o deleite congelado em minha boca. Noites como esta são raras, não é sempre que todos estão fora de casa, menos eu, para que eu deixe de saboreá las. Na verdade eu não estava esperando que ninguém voltasse até a manhã. Isso que fez o som da porta abrindo no andar de baixo ser tão alarmante.
O pânico me atinge como um trem a vapor, eu silenciosamente pulo para fora das cobertas, derramando o sorvete por todo o tapete branco imaculado no chão, e abro o armário ao lado da cama rangindo. Ouço passos, pesados e indiscretos, como se eles quisessem que eu saiba que eles estão aqui. Eu ofego e pego a colher que eu estava usando para desfrutar de uma noite relaxante. Os passos ficam mais altos, eu me forço para o espaço minúsculo restante no guarda-roupa, e fecho a porta,bem quando o estranho abre a porta do quarto, não deixando nenhum segundo de silêncio.
Espio através do espaço, seu rosto parece familiar, mas não sei bem dizer de onde eu o conheço. Ele localiza o sorvete derramado, e vira a cabeça por toda a vasta extensão do quarto.
"Olá?", Ele chama, não soa cruel, mas eu cometi esse erro antes. Nunca, sob quaisquer circunstâncias, acredite na simpatia de uma voz.
Ele olha debaixo da cama. Oh merda, ele está à procura de alguém. Eu seguro um gemido, e começo a curvar a ponta da colher para trás, esperando quebrá-la e criar alguma forma de me defender. Ela se quebra, mas cria um clique metálico, o homem vira a cabeça, e vem em direção ao guarda-roupa, eu estou tremendo agora. Por favor, não abra, por favor, não abra, por favor, não abra!
A porta se abre, e ele me vê, nós gritamos simultaneamente com medo e surpresa. Sem hesitar, eu salto para o homem, e começo a cavar em qualquer pedaço de carne que consigo com a borda afiada da ponta da colher, ele grita de dor, mas eu não vou parar, eu apunhalo profundamente em seu peito e pescoço, mais e mais, até que ele fica imóvel. Eu já o matei.
Eu choro de desgosto, e disparo até o térreo e para longe da casa, eu corro pela estrada até que eu sinto que estou longe o suficiente. Sento-me por um momento, e expiro fortemente antes de recuperar a compostura. Pegando meu celular, eu abro o Twitter e pesquiso "#festa", esperançoso que desta vez, eu encontre um morador que não esteja mentindo quando disser que vai estar fora durante toda a noite.