Bem, gente, muita coisa aconteceu desde que escrevi a parte 5. Muitos de vocês me mandaram mensagens perguntando se eu estava bem. Alguns de vocês até me passaram seus telefones para se eu precisasse conversar com alguém. Agradeço de coração por isso.
Nós não vimos Rose desde a última vez. Também, decidimos nos mudar. Consegui um emprego no sul dos Estados Unidos e achamos que seria uma boa ideia vazar daqui. Meu pai foi ver o padre que me batizou e a história acabou ficando ainda mais complexa, se é que pode chamar assim.
Bem, fui batizado em uma igreja chamada Ostrog, em Montenegro. Aqui em baixo você pode ver uma foto dela. Não acredito em Deus de nenhuma forma, mas essa igreja é maravilhosa. Foi construída a muito tempo atrás. Quando o Império Turco chegou para tomar conta de tudo, os cidadãos pegaram pedra por pedra e “levaram” a igreja para cima da montanha, onde os Turcos não conseguiam chegar. É uma construção magnifica. Muitas pessoas, inclusive de diferentes religiões como Budistas e Mulçumanos, vão até lá em busca de ajuda espiritual. Esse é o único lugar onde senti algo “a mais” do que minha realidade de descrente.
Então, quando eu tinha seis anos de idade, meu pai decidiu me batizar. Nenhum dos meus pais são muito religiosos, mas meu pai gosta de seguir tradições, e o batismo é uma delas. Ele exigia que fosse feito na igreja mais famosa de Balcãs, a Ostrog. A demanda e escalas são tão concorridas que eu iria ter de ser batizado junto com um grupo de outras crianças. Quando chegamos, havia uma decepção a espera (pelo menos para meu pai, porque eu não podia estar ligando menos para aquilo tudo). Na entrada da igreja, o padre me parou.
“Você. Você não pode entrar. ” Ele me parou fisicamente com suas mãos. Os padres em nosso país vestem longas vestes pretas e barbas longas. Então eu estava lá sendo segurado por esse cara que para mim parecia o Batman. Meu pai pulou em minha frente e perguntou qual era o problema.
“Você, meu filho (referindo-se a meu pai), eu conheço. Eu te batizei. Eu sei (O padre havia batizado meu pai faziam mais de 20 anos). Mas seu filho, ele não pode entrar aqui. ”
“E qual o motivo? ” Meu pai perguntou, chocado.
“Não posso te falar, mas seria melhor para nós que ele fosse para outro lugar. ”
“Mas, por quê? ”
“Filho, por favor, vá embora. Mas lembre-se, não se atreva a não o batizar. Você precisa. ”
“Não entendo. ”
“Você nunca irá entender. Apenas faça. ”
Então meu pai me pegou pela mão e me levou embora sem saber que porra tinha acabado de acontecer. Durante o caminho até nossa casa, ele tentava entender tudo aquilo. Ele achou que provavelmente eu tinha aprontado alguma, tipo mijar atrás da igreja ou algo do tipo. Mas eu não havia feito nada errado.
Quando chegamos em casa, recebemos uma ligação. Era o padre. Ele queria que voltássemos. Naquele instante. Era uma viagem de 35 minutos. Meu pai e eu estávamos mais confusos que nunca. Chegamos na igreja e todos os outros batismos já tinham sido realizados. Eram só nós três lá.
“Decidi batizar seu filho, mesmo que...”
“Mesmo que o que? ” Meu pai perguntou, curioso.
“Não posso te contar. Mas é importante que façamos rapidamente. ”
E foi feito. Entrei em um círculo e ele começou a rezar e jogar água benta em mim. Me lembro de ficar entediando pouco antes dele terminar. Falou para irmos embora e voltar somente se algo fora do normal acontecesse comigo.
Meu pai apenas estava contente por termos conseguido. Isso foi a vinte anos atrás. Meu pai voltou lá há alguns dias. O padre ainda estava vivo, porém aposentado. Ele ainda vive lá no mosteiro. Meu pai teve que insistir muito e custou um pouco (em doações) para que ele falasse.
Fui batizado dia 13 de fevereiro de 1992. Na noite anterior a isso, o padre estava lidando com suas ovelhas (sim, antigamente padres cuidavam de ovelhas e vacas e viviam basicamente disso), quando viu uma silhueta no escuro. Era estranho para alguém estar lá naquela hora da noite, até porque o horário de visita já havia acabado e todo os membros do clérigo já haviam se recolhido a seus aposentos.
“Ei, quem é você? ” O padre gritou.
“Venha, Padre. ” Uma voz feminina o chamou calmamente.
O padre explicou que de tempos em tempos, ele recebia visitas de pessoas desesperadas, implorando por uma benção ou abrigo. Então foi até lá ver do que se tratava. Disse que quando chegou até ela, vu uma mulher trajada de branco, de pé, sem se mexer. Ela estava junto das ovelhas, as mesmas formando um círculo em sua volta, como se estivessem protegendo-a. O padre disse que sentiu tratar de algo profano naquele momento.
“O que você quer? ” Perguntou em um tom passivo agressivo. Já tinha entendido que não se tratava de um visitante de bem.
“Amanhã. Amanhã você encontrará um menino. Assim como qualquer outro. O nome dele é Milos. Você não o batizará. ”
O padre contou ao meu pai que já tinha feito vários exorcismos, mas nunca tinha ficado realmente com medo. Daquela vez, se sentiu desprotegido.
“Você e o seu tipo não tem lugar neste solo sagrado. ”
“Meu tipo, padre? E qual seria o meu tipo? ”
“Vocês, demônios. ” Ele gaguejava de medo.
Ela deu uma gargalhada.
“Demônios? Sei que você é um homem religioso, mas acreditar em demônios? Tem que ter muita fé para isso, padre. ”
“Quero que você vá embora agora. ”
“Me ouça agora, seu padre coitado. Eu sei quem você é. Sei no que está pensando. Sei que você sente minha força. Recuse meu pedido e nunca mais dormirá em paz. ”
E se foi. O resto da história você já conhece. Ele se recusou a me batizar, mas depois mudou de ideia. Aparentemente, falou para meu pai que preferia ser atormentando por um espirito profano do que recusar a chance de uma criança se conectar com Jesus. Também falou que vem pagando caro por isso desde o dia que me batizou.
Por duas semanas depois do meu batizado, ele via a mulher de branco em sua janela. Ela só ficava lá, parada, olhando para ele com a cabeça inclinada para o lado. Mas ela não sorria, só ficava olhando com raiva. Ele rezava muito, mas não parecia afetá-la. Então, as ovelhas começaram a morrer. Não havia marcas de mordida de lobo, nem sinal de luta. Apenas deitadas no chão, mortas. E por fim, os números de exorcismo dispararam. Ele diz que era uma das consequências por desobedecer a mulher. Chegou até a mostrar uma filmagem de um exorcismo (eles começaram a filmar na capela na metade dos anos 90) para meu pai. Meu pai disse que era irreal. Aparentemente uma menina de 13 anos foi até a capela com sua mãe. A mulher estava chorando e implorando por ajuda. O padre começou seu ritual quando a menina começou a derrubar e jogar as coisas no chão. O padre chamou dois rapazes que estavam na igreja para orar e pediu que eles a segurassem. Ela continuou a andar em círculos enquanto dois homens adultos tentavam a imobilizar. Antes de se ajoelhar disse “Você não devia ter feito, padre”. E se curou.
Meu pai já estava saturado de tantas informações, mas ainda queria saber o que era aquela mulher. O padre disse que originalmente achou ser um demônio, mas duvidou dessa teoria por suas orações não funcionarem e também o fato dela pisar em solo sagrado sem ser afetada. Então pensou na probabilidade de que ela fosse parte de um culto, talvez bruxaria. O problema era que ela sempre o visitava no dia 13 de fevereiro, todos os anos. Todas suas ovelhas e vacas morriam naquela data. Qualquer pessoa doente ou que procurasse ajuda na igreja naquele dia, piorava. Números de possessão disparavam anormalmente no dia 13. E no fim do dia, ela aparecia em sua janela, não importava onde ele estivesse. Ele tentou conversar com ela e perguntar quem ela era diversas vezes, mas Rose nunca respondia. Nunca envelhecia. O padre chegou a um ponto que teve de desistir. Continuou morando no mosteiro, mas se aposentou. Perdeu a fé. Disse que Deus deveria ter o protegido. Meu pai disse que provavelmente o padre esteja mentalmente debilitado no momento. Ficava falando e repetindo algo sobre Morana, seja lá o que isso signifique. Parece que é uma Deusa da morte em algumas culturas, mas só acho que ele tenha enlouquecido, mesmo. Acho que essa historinha é só alucinação de um senhor que está ficando louco. Deusa? Demônios? Muito difícil.
Essa é a decepcionante história do meu batismo. Não tive nenhum encontro com nenhum deles recententemente. Vou me mudar, espero que isso me ajude. E também decidi isso: Se eu encontrar eles novamente, vou pegar a laranja. Não posso continuar com isso para sempre. Não aguento mais.