Os dois entraram na cabana, Laura passou bem perto de Emília encarando-a, Mike sentiu um clima tenso no ar, acho que elas não se gostavam.
—Nós dois chegamos aqui no mesmo dia—começou Laura olhando pela janela, de costas pra Mike— Eramos vizinhos, quer dizer, mais que só vizinhos, nós se criamos juntos, eu o conhecia desde os dois anos de idade, ele tava naquele parque também, quando acordei, ele foi a primeira pessoa que eu vi, ele era muito corajoso sabe, uma pessoa de um coração enorme também.
—O que aconteceu com ele Laura? —Falou Mike num tom de voz calmo.
—Paulo não admitia ter sido raptado e que tava preso aqui, queria ir embora de qualquer maneira, passou horas na frente da cerca, não dormiu a noite toda, andando de um lado pro outro, pensando num jeito de fujir e eu ao lado dele, mas...—Laura fez uma pausa, só ouviam o som dos galhos da árvore chacoalhando com o vento forte que assoprava naquele lugar. Mike via que era um assunto difícil, ela devia gostar muito do Paulo. Queria falar pra ela que não precisava continuar se não quisesse, mas também estava muito curioso pra saber mais.
—Você está bem?—Perguntou à menina.
Laura fez um gesto com a cabeça pra concordar com ele.
—Já era de madrugada, e ele estava agitado ainda, não parava um minuto, e eu estava cansada e acabei pegando no sono, quando acordei já tinha amanhecido, ele não estava na cabana, procurei em todo lugar mas não achava, até o ver lá no canto, parado encarando a cerca, próximo do lugar que você foi. Gritei pra ele se afastar, ele me falou que tinha visto algo se mexer do outro lado da cerca, eu implorei pra voltar, mas não me deu ouvidos, esticou o braço pra tocar na cerca, mas não conseguiu.
—Não conseguiu?— falou Mike, não intendia, como podia ele não conseguir tocar uma cerca de plantas?
—Não, porque ela se abriu bem em nossa frente, era um espaço grande, a cerca estava se mexendo sozinha, deve estar enfeitiçada.
“enfeitiçada?” pensou Mike, desde que chegou tinha praticamente de esquecido que era um bruxo. Se ela falou com essa naturalidade toda , devia ser bruxa também. Laura continuava contando.
—Eu gritava muito pra ele, que já estava a uns três passos pra dentro quando se virou pra mim e falou que voltaria me buscar, e a cerca começou se fechar diante de mim eu corri pra ir junto, mas ele gritou, pra que eu não fizesse aquilo, pediu pra mim ficar e cuidar de Guga.
—Cuidar do Guga?
—Sim eles eram irmãos — falou ela se voltando pro lado de Mike.
—Eram? Você fala no passado, eles são irmãos, ele vai vir te buscar ainda, você vai ver.
—Não Mike—Laura olhou pra ele com um olhar severo— Ele não vai voltar, nunca mais.
—Como você pode ter tanta certeza?
—Alguns minutos depois da cerca se fechar, eu e os outros que vieram ver o que tava acontecendo, escutamos gritos, era ele, tenho certeza que era ele, parecia que estava sendo atacado por alguém ou algo, ele está morto Mike, morto—Laura chorou.
—Eu sinto muito—falou abraçando Laura, ela se encostou no seu ombro e os dois ficaram assim durante minutos. Mike esperou ela se acalmar um pouco e perguntou emfim o que não tirava da cabeça desde que ela falou.
—Você disse que a cerca é enfeitiçada?
—Sim, que tem isso?—Laura se desencostou de seu ombro e olhou pra ele— Muitos feiticeiros poderosos, enfeitiçam plantas como trepadeiras, rosas, árvores e até frutas como maçãs e...Ei peralá—Laura se afastou rápido, chegou assustar Mike—você não é bruxo?
—Sou—disse Mike rápido—sou, é só que, ainda to me acostumando com esse negócio de magia.
—Seus pais não são bruxos?
—Não, e eu também não era a menos de um mês atrás.—Disse ele, meio sem jeito.
—Não diga bobagens, um bruxo já nasce bruxo, não se torna um, só aprende a dominar a magia. — vendo a confusão no rosto do garoto ela completou — você nunca fez nada de estranho antes?
—Bom não sei, talvez—Mike tentou puxar pela memória, mas antes do livro não se lembrava de nada de extraordinário.
—É normal, algumas crianças demostram desde cedo seu dom outras não. Eu por exemplo, uma vez quando eu era pequena—falou ela parecendo satisfeita consigo mesmo—minha mãe conta, que eu fiz desaparecer o aquário de um peixinho dourado, que ganhamos num jogo no circo, queria libertá-lo, achava que ele estava triste dentro daquele vidro, foi a primeira vez que meus poderes se manifestaram.
—E o que aconteceu com o peixe?—falou Mike, curioso, esses assuntos de magia o interessava muito—conseguiu libertá-lo?
Laura ficou vermelha e abaixou os olhos.—Ele morreu.
Mike soltou uma risada muito alta, não conseguiu se controlar. Era hilário, não conseguia parar de rir.
—Pára—falou Laura, dando um soco fraquinho no braço dele—Não tem graça, eu gostava daquele peixe.
—É muito engraçado, você queria libertar e acabou matando o peixe— Disse ele no meio de risadas.
—Pára.
—Desculpa—Mike fez esforço pra parar de rir — então, todos aqui são bruxos?
—Sim, quero dizer não sei se Art é bruxo também, nunca falamos sobre isso, mas deve ser por que nunca achou estranho quando falamos sobre magia.