Antes de tudo, aqui em baixo está o printscreen da foto que Rose ou alguém do culto dela colocou de papel de parede no meu notebook. Não consegui achar a foto original dentro do HD. A mulher na esquerda é minha mãe me segurando e a mulher à direita é uma amiga dela com seu filho, um amigo meu de infância. Não sabemos quem é a criança na extrema esquerda (na sombra) ou a mulher bem ao fundo. Nenhuma delas lembra desta foto ser tirada.
http://imgur.com/NDEvIJ4
Então depois que contei o que estava havendo para minha mãe, ela contou para minha avó. Minha avó não falou muito sobre, porém, minha mãe sentiu que algo tinha a deixado chateada depois de ter ouvido os acontecidos. Decidi ligar para ela, minha vó, e depois de muito chorar e implorar para ela, consegui esta história.
Minha vó nasceu na Croácia mas cresceu na Bósnia. Ela era do tipo de criança que passava todo o seu tempo disponível brincado na rua, explorando, etc. Seu lugar favorito para brincar era na beira de um rio que não ficava muito longe de onde ela morava. Geralmente ia para lá com seus colegas, mas nesse dia não estava com nenhum de seus amigos. Ela foi de qualquer jeito. Estava brincando de construir castelinhos na areia, quando ouviu alguém a chamando. Ela olhou para a estrada de terra que havia ali perto (o único lugar no qual alguém poderia estar, era o único caminho para o rio), mas não havia ninguém lá. Sacudiu os ombros e continuou a brincar. Então ouviu alguém chamando novamente.
“Dana…”
Ela olhou em volta, mas não viu ninguém.
“DANA! ”
Ela pulou, aterrorizada, e correu para a estrada para ver que porra estava acontecendo, mas não encontrou ninguém lá. Achou que algum amigo estava zoando com ela e decidiu dar meia volta para brincar com seu castelinho. Então ela o viu. Era um homem, um tanto mais alto que a média (por volta dos 1,90m), de terno e com um chapéu no estilo dos anos 30. Seu terno era negro como a noite, uma camisa branca por baixo da gravata também negra. Segurava uma bengala. Só que ele estava dentro do rio com a água batendo em seus joelhos. Usando um terno que custava um braço e uma perna naquela época. Ela deu alguns passos para trás, mas como qualquer criança curiosa, decidiu investigar o que estava acontecendo. Foi até a beira onde as pequenas ondas quebravam. Ele continuou parado dentro d’água.
“Olá, senhor? ” Ela falou com receio, porém educada.
“Tenho uma coisa para você. ”
“É? O que seria? ”
Bem, seja lá o quão previsível o rumo desta história tenha se tornado, infelizmente é verdade. Era uma laranja. Minha avó cresceu em uma família um tanto rica e mesmo com a economia ruim da época, em sua casa sempre haviam frutas em abundancia, então a laranja não a deixou muito surpreendida.
“Hm, obrigada Senhor. Acabei de almoçar. Pode dar para outra pessoa. ”
“Não, Dana, essa é especialmente para você. ” Ele deixou a cabeça pender para a esquerda e por um segundo ela achou que o chapéu cairia no rio. Não caiu. Ele ainda segurava a laranja na outra mão, oferecendo-a.
“Mas eu não quero. ”
“Pegue. Pegue agora. ” Minha avó passou por muita merda na sua vida. Passou pela Segunda Guerra Mundial e pela Guerra da Bósnia. Ela já viu muita coisa. Mas disse que nada foi tão assustador quanto o rosto daquele homem. Ela era uma criança, e sendo assim se impressionava fácil e tinha uma imaginação muito fértil, mas jura de pé junto que quando ele falou isso, seus olhos (a parte branca, não as pupilas) ficaram mais escuras e podia ver a raiva cravada em seu rosto, mesmo que tivesse um sorriso em seus lábios.
Ela correu dali. Parou e olhou para trás para ver se estava sendo perseguida. Não, ele continuava parado no mesmo lugar, olhando para ela. Diz que conseguiu ver a escuridão sumindo dos olhos dele. Colocou a laranja novamente no bolso, virou para o lado e começou a ir embora. Pela porra do rio acima. Tipo, passo a passo, com sua bengala, como se estivesse na rua.
Minha avó ficou amedrontada por algum tempo, mas depois de anos se tornou uma memória que era lembrada muito pouco.
Minha avó deu à luz a minha mãe em 1952. Foi um dia feliz pois minha mãe era sua primeira filha. O parto foi até que fácil, mas tiveram que ficar no hospital por um tempo. Na última noite, antes de serem liberadas, o homem do terno preto voltou. Quase vinte anos depois do primeiro incidente. Ela estava dormindo (em um quarto individual). Acordou porque as luzes se acenderam dentro do quarto. Nos filmes de terror, você ouve um barulho e não há ninguém lá, e de repente pulam para cima de você pelas costas. É, não foi assim que aconteceu. Ela abriu os olhos e ele estava de pé no meio do quarto. O mesmo homem, mesmo terno, mesmo chapéu. Não parecia um dia mais velho desde o acontecimento a 20 anos atrás.
A laranja em mãos.
“Você foi muito bem. ”
“O que... O que você quer de mim? ”
“Você a trouxe. ”
“Quem? O que você quer? ”
“Você só tem que pegar isso e tudo acabará. ” Ele mostrou a laranja, sorrindo. Não era um sorriso bizarro, só um sorriso amistoso.
“Não quero nada de você. Saia ou começarei a gritar. ”
Bem, foi aí que ele começou a dar uma de louco que nem a Rose. Dobrou a cabeça para a esquerda, colocou o pior sorriso em seu rosto, com os dentes mais brancos do universo. Começou a falar com voz de criança.
“Mas Dana, você não sabe. ”
“SAI DAQUI! ”
“Ele pegará. ” Quando disse isso com sua voz de criança, o sorriso sumiu do rosto, a cabeça voltou a posição normal, virou de costas e saiu do quarto. Antes de sair, ele desligou as luzes. Ela nunca contou para ninguém desse homem até que eu “arranquei” a verdade dela.
Fazem mais de 30 anos que ela o viu pela última vez. Foi durante a guerra na Bósnia. O país foi demolido por uns políticos filhos da puta que só queriam dinheiro. Vocês devem saber como guerras funcionam. De qualquer forma, foram tempos difíceis. A comida era limitada. Meus avós passavam dias sem comer. Chegaram até a caçar pombos no terraço. Bem fodido. Mas então laranjas começaram a aparecer na porta de casa todos os dias. Uma laranja no centro do tapete de boas-vindas. Ela diz lembrar o quão brilhante pareciam as laranjas perto de todo o cinza que tomara conta da cidade. Ela tocou cada uma delas fora. Meu avô ficou confuso, sem saber a razão dela estar jogando comida em perfeito estado em tempos como aquele, mas ela não contava. Até que eles apareceram. Sim, eles. O cara de preto e… Bem, Rose. Era 1993. Estavam bombardeando toda a cidade naquele dia e ninguém ousava colocar a cabeça para for a das janelas de suas casas, quem dirá caminhar por aí. Mas meus avós ouviram batidas na porta. Acharam que alguém do governo tinha finalmente vindo resgatá-los. Sabendo que se fosse um ladrão, entraria de qualquer forma, abriram a porta. Na esquerda, o mesmo homem estava de pé. Mesmo terno preto, mesmo chapéu, mesma bengala. Mesma idade. Mais de 50 anos depois. Ao lado dele estava uma mulher de sapatos vermelhos, vestido branco, longos cabelos negros, pele extremamente pálida e um batom tão chamativo que se destacava na monotonia de tempos de guerra. Ela tinha a cabeça pairando para o lado também, sorrindo de orelha a orelha.
“Olá, Dana. ” Ela falou em uma voz que minha vó descreveu como que só poderia pertencer a uma criança muito jovem.
“Que porra é essa? ” Meu avô perguntou. Imediatamente, essas pessoas (ainda os chamo de pessoas) perderam o sorriso e olharam para ele.
“Você vai querer ficar quieto. ” Rose falou em sua voz normal, de adulta (ou pelo menos minha vó achou ser a voz de verdade).
Meu avô já levou um tiro, foi torturado, passou fome, mas nunca sentiu medo como naquele dia. Ele perdeu sua voz e ficou calado.
Os sorrisos voltaram, cabeças caída para o lado, dentes brilhantes como nunca.
“Onde ele está? ” Rose perguntou usando sua voz infantil.
“Quem? O que vocês querem da gente? Não temos nada! ”
“Não faça isso. Só fale onde ele está. ” Rose parecia estar perdendo a paciência.
“Mas quem? ”
“Seu neto. ” Os olhos dele perfuraram a alma de minha avó. Ela sentiu seu sangue congelar em suas veias.
“Ele... Ele não está aqui. Ele está em Montenegro. ” Ela achou que, seja lá quem fossem essas pessoas, desistiriam quando soubessem que seu neto (no caso, eu) tinha se mudado para milhares de quilômetros dali.
Os sorrisos se alargaram ainda mais, se é que isso era possível. Eles deram as costas em sincronia e foram embora. Meus avós assistiram eles indo embora na porta da casa. Balas voavam por aí, bombas caíam em todos os lugares, e eles estavam andando tranquilamente rua abaixo sem nem ligar. As cabeças ainda caídas para o lado. Minha avó conseguia sentir os sorrisos na atmosfera.
Bem, eu vou ser o primeiro a comentar: Mentira! Bobagem! Fake! Essa história está virando um conto de fadas! Não está acontecendo de verdade, cara. Sim, eu concordo com vocês. Se eu lesse aqui ou em qualquer outro lugar, acharia a história muito boa, mas mandaria o autor tomar no cu por tentar me fazer de trouxa e dizer que aquilo tudo era verdade.
Mas infelizmente para mim, é real.
Não tenho explicação lógica para isso. Eles fazem parte de um culto? Talvez. Porque eles não envelhecem? Porque estão em todos os lugares? Não faço ideia.