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Na tarde seguinte, Sasuke saiu da sala que havia escolhido para trabalhar próximo à creche. Ele parou em frente à barreira de vidro para espiar a creche no andar inferior.
Daisuke estava sentado em uma cadeirinha. Sasuke franziu o cenho. Seu filho parecia despender a maior parte do dia em cadeirinhas com brinquedos e playgrounds, como um prisioneiro. Daisuke estava seguro, mas entediado.
Sasuke se lembrou do vazio de sua própria infância. Ele nunca conhecera a mãe e não fora capaz de conviver com o pai até que tivesse dez anos de idade.
Sasuke nunca teve ninguém para abraçá-lo quando chorava; sua educação havia sido excessivamente rígida. Ele tinha sido educado desde muito cedo em uma academia militar no exterior, onde aprendera uma disciplina rígida e um autodomínio, assim como a forma de lidar com as agressões físicas e as travessuras que os garotos mais novos faziam quando os funcionários não estavam perto. Seu pai sempre fora uma figura distante e as conquistas de Sasuke nunca foram suficientes para agradá-lo.
Por causa de sua educação tão severa, Sasuke estava ávido para assegurar que o seu filho tivesse uma infância diferente.
Ele o observara quando Daisuke ergueu uma torrada do prato que lhe fora servido e, então, acidentalmente derrubou-a no chão. Daisuke estendeu um dos bracinhos para tentar apanhar a torrada novamente. O menino percorreu os olhos ao redor, visivelmente procurando atenção, mas ninguém apareceu para ver o que tinha acontecido. Finalmente, Daisuke inclinou a cabeça para trás e começou a chorar. Seu filho era a imagem da tristeza e ninguém estava sequer tentando confortá-lo. Diversas crianças estavam precisando de atenção e era um desafio para as assistentes cuidar de todas. No entanto, Sasuke não poderia assistir à cena sem fazer nada pelo filho.
Ele entrou na creche e caminhou a passos largos na direção de Daisuke. Ao se aproximar, Sasuke ergueu-o nos braços. Agarrado ao pai, Daisuke continuou chorando de maneira inconsolável.
— Vou levar o meu filho mais cedo para casa — Sasuke informou à diretora e, pegando outra torrada do prato, ele a ofereceu a Daisuke. Imediatamente, a criança parou de chorar e, agarrando a torrada com as mãozinhas, levou-a até a boca.
Sasuke saiu da creche com Daisuke em seus braços e se dirigiu à equipe de seguranças e aos assistentes que os aguardavam.
Sakura trabalhou obstinadamente durante a tarde, apesar de estar com medo de que pudesse cair de sono sobre o teclado a qualquer momento. Ela quase não dormira na noite anterior e acordara com uma forte dor de cabeça. Sakura teve que fazer um verdadeiro esforço para ir ao trabalho e as dúvidas que a atormentaram durante a madrugada continuavam interferindo em sua concentração. Será que ela deveria dar uma segunda chance ao casamento pelo bem de Daisuke ? Essa seria a melhor coisa que ela poderia fazer pelo filho ? Sacrificar os seus próprios desejos e permitir que Daisuke ficasse no seu lugar de direito, como um herdeiro do trono de Quaram ? Por quanto tempo Sasuke permaneceria em Londres ?
Mas havia uma coisa que ela não poderia mudar. Sasuke era o pai de Daisuke. No entanto, Sakura amava o filho com todo o seu coração e temia que o pai pudesse interferir em suas vidas.
No final do expediente, Sakura entrou no elevador e desceu até a creche. Ela ficou aliviada ao ver que os seguranças de Sasuke não se encontravam do lado de fora da creche.
Ao entrar pela porta, Sakura olhou ao redor do ambiente em busca de Daisuke e sentiu o corpo ficar tenso ao ver a expressão alarmada no rosto de Olivia.
— O que há de errado ? — Sakura quis saber.
— O príncipe levou Daisuke depois do almoço. Eu pensei que você soubesse. — ela admitiu.
— Sasuke o... levou ? — Sakura indagou, chocada.
— Ele disse que iria levá-lo para casa.
Pela primeira vez em sua vida, Sakura desmaiou. Quando recuperou a consciência, ela notou que estava sentada em uma cadeira e com a cabeça reclinada.
— Respire fundo. — Olivia pediu, tentando ajudá-la — Sakura, eu achei que não teria problema, porque ele é o pai de Daisuke.
— Sim, eu sei. — Sakura inspirou profundamente.
Reunindo coragem, ela lutou contra o medo que atrapalhava a sua capacidade de pensar com clareza. Será que Sasuke teria levado Daisuke para Quaram ? Ela temia que o marido fosse insensível o bastante para lutar por seus interesses de uma maneira agressiva.
— Está se sentindo melhor ? — Olivia indagou esperançosamente — O príncipe mandou um carro para vir buscá-la.
Ao erguer os olhos e avistar dois seguranças que a aguardavam na porta, Sakura sentiu uma onda imediata de alívio. Sasuke não mandaria um motorista vir buscá-la se tivesse a intenção de levar Daisuke para o exterior sem que ela soubesse.
Mesmo assim, como ele ousara apanhar Daisuke na creche sem dizer nada a ela ?
Sentindo-se nervosa e impaciente, Sakura entrou na biblioteca da casa, onde Sasuke a recebeu.
— Onde está Daisuke ? — ela quis saber.
— Está dormindo no quarto do andar superior. Vou levá-la até ele...
— Quero falar com você primeiro. — E, erguendo o queixo, ela prosseguiu: — Você não tem o direito de apanhar Daisuke na creche sem a minha permissão! — Sakura condenou rigorosamente.
Sasuke a encarou com frieza.
— Eu sou o pai dele. Vou agir de acordo com o que for melhor para o meu filho. Daisuke estava aborrecido e não recebeu a atenção que eu esperava dos funcionários da creche. Por isso eu o tirei de lá. — ele respondeu serenamente.
— Você não tinha esse direito. Tem idéia de como eu me senti quando descobri que você o havia levado ? — ela indagou furiosa — Eu estava com medo de que você o tivesse levado para Quaram e eu nunca mais pudesse ver o meu filho.
— Felizmente, eu tenho mais bom senso do que você. — Sasuke disse secamente — Eu não faria isso a você ou a Daisuke.
— Mas deveria ter me avisado sobre os seus planos.
— Eu tentei telefonar.
Sakura apanhou o celular e, quando ligou o aparelho, verificou que diversas chamadas perdidas haviam sido registradas. Ela se sentiu um pouco mais calma. Ao menos, ele tentara contatá-la.
— Quanto à sua permissão, por que eu deveria ter pedido ? Por acaso, você pediu a minha permissão quando me privou de todos os contatos com o meu filho por um ano ?
— Aquilo era diferente. Eu tive bons motivos para agir daquela forma.
— Não, você não teve. — Sasuke contestou — Só se eu fosse agressivo você poderia ter tido uma desculpa aceitável para ignorar os meus direitos como pai. Quando você abandonou o nosso casamento, estava pensando apenas em si mesma e em como você se sentia no momento. Eu me recuso a acreditar que você tenha pensado em como aquela decisão poderia ter afetado a minha condição de pai.
Sakura ficou tensa.
— Como esperava que eu me sentisse depois de ter ouvido o que Izumi lhe disse no dia do nosso casamento ? — Sakura indagou ferozmente — Será que eu deveria ter ignorado a minha repugnância pela forma com que se aproveitou de mim para pensar se você seria ou não um bom pai ?
— Eu não me aproveitei. Você está disposta a me lembrar dos meus supostos pecados, enquanto ignora os seus próprios. — Sasuke observou com frieza — Quando você desapareceu, eu fiquei em uma posição difícil com a minha família.
— Qualquer mulher teria fugido depois de uma cerimônia medonha! — Sakura devolveu — Você odiou cada minuto e nem mesmo se importou em esconder o que sentia!
— Eu estava agindo sem o conhecimento do meu pai e me sentia constrangido por isso.
— Eu lhe dei a oportunidade de desistir do casamento antes de a cerimônia começar. — Sakura o lembrou.
— Isso são palavras vazias e inúteis. — Sasuke ridicularizou — Negar o direito de um nascimento legitimo ao nosso filho o teria condenado a uma vida nas sombras. Ele jamais poderia conhecer a minha família ou reivindicar o seu lugar de direito entre eles. Eu não conseguiria viver com essa culpa.
— É claro que você teria me ajudado se tivesse me explicado isso na época. — Sakura argumentou — Mas você me manteve distante como se eu fosse uma estranha, então eu não vou me desculpar por não saber o que estava acontecendo nos bastidores! Não demonstrou nenhuma consideração pela forma como eu me sentia e eu nunca, jamais irei perdoá-lo por isso!
Sasuke ficou perturbado com a resistência dela sobre um assunto que ele considerava trivial. Um casamento era um casamento; ainda estavam casados, ainda eram considerados legalmente marido e mulher.
Dirigindo o olhar a ela, Sasuke fitou os lábios sensuais e depois os seios fartos e perfeitos. Um forte desejo o invadiu, fazendo com que sentisse o coração bater mais forte no peito.
— Não ouse me olhar dessa maneira! — Sakura o avisou, ciente do clima sensual que se formava, ao mesmo tempo em que sentia uma onda de calor se espalhar pelo corpo.
— Você é minha esposa. — Sasuke falou lentamente — E eu não estive com nenhuma outra mulher desde o dia em que você me deixou.
Sakura ficou surpresa ao ouvir a intimidade daquela declaração. Ela acreditava que o casamento tivesse sido apenas uma mera formalidade e não esperava que ele tivesse permanecido fiel durante a separação. Aliás, Sakura pensava que ele fosse querer o divórcio. Enquanto estava grávida, ela havia tristemente imaginado Sasuke levando mulheres sofisticadas para a cama e enlouquecendo-as com seu carisma da mesma forma que a enlouquecera naquela noite. Ao saber que ele havia praticado o celibato, como ela, Sakura não pôde deixar de sentir uma imensa satisfação.
— Eu sabia que iria encontrá-la. — Sasuke acrescentou em um tom de voz rouco.
— Eu gostaria de ver Daisuke. — Sakura declarou avidamente, desesperada para escapar da perigosa atmosfera e afastar as poderosas imagens sensuais que começavam a se formar em suamente.
Ao notar o rubor na face delicada de Sakura, Sasuke ficou entretido até se perguntar se ela estaria fingindo um embaraço para impressioná-lo. Contudo, as suspeitas dele quanto à verdadeira natureza de Sakura haviam mudado. Certamente, uma mulher interesseira jamais abandonaria o casamento com um homem tão rico quanto ele e ainda permaneceria afastada sem reivindicar uma pensão fabulosa. O modesto escritório em que ela trabalhava também não se encaixava na visão cínica que fizera dela, Sasuke reconheceu interiormente, ao mesmo tempo em que se perguntava se aligação dela com Daisuke seria realmente profunda. Será que ela amava o filho de verdade ? Ou Daisuke estava sendo uma arma usada contra ele ?
Sasuke a acompanhou até o quarto, onde uma criada estava sentada em uma poltrona próxima ao berço para atender qualquer necessidade da criança. Zahrah havia sido igualmente cuidada, Sakura se lembrou. Enquanto observava Daisuke dormir profundamente, Sakura sentiu um nó se formar em sua garganta. Apenas o pensamento de perdê-lo era o suficiente para deixá-la em pânico.
— Como poderemos resolver essa situação ? — ela indagou a Sasuke, aflita.
— Temos apenas duas opções. Ou eu levo Daisuke comigo para Quaram ou você nos acompanha até lá como minha esposa. — Sasuke declarou, ao mesmo tempo em que repousava uma das mãos nas costas de Sakura e a conduzia de volta à escadaria.
— Você acredita que essas são as únicas opções que eu tenho ? — Sakura exclamou, assim que entraram na biblioteca.
— É claro que se escolher permanecer em Londres, onde poderá seguir discretamente com asua vida, eu poderia recompensá-la por entregar Daisuke aos meus cuidados. Você seria uma mulher muito rica. — Sasuke informou, determinado a avaliar a intensidade da ligação que ela possuía com o filho.
Sakura o fulminou com o brilho dos olhos.
— Você honestamente acredita que eu seria capaz de lhe vender o meu filho ?
— A decisão é sua e vender é uma palavra desnecessariamente emotiva. — Sasuke respondeu suavemente.
— Não, é uma palavra tão ofensiva quanto a sua oferta. Eu concebi Daisuke, eu o trouxe a esse mundo, puramente porque o queria e o amava. Eu nunca o entregarei aos cuidados de ninguém e, acredite, nem todo o dinheiro do mundo seria capaz de mudar a minha decisão! — Sakura declarou fervorosamente.
Sasuke se aproximou dela e alcançou-lhe as mãos.
— Fico muito feliz em ouvir isso. Naturalmente, Daisuke precisa da mãe. Você deve ir para Quaram comigo...
Sakura tentou se desvencilhar das mãos dele, mas o esforço foi inútil.
— Eu preciso ir com você ? Quero dizer, e se eu fosse para Quaram e morasse em algum local próximo, onde eu pudesse ver Daisuke ?
Sasuke franziu as sobrancelhas.
— Eu não vou dignificar essa sugestão tola com uma resposta.
— Bem, se eu pergunto coisas tolas que o deixam irritado, de quem é a culpa ? — Sakura se defendeu — Foi você quem me seduziu e me levou para a cama, e não usou proteção!
— Será que já não passamos desse estágio ? — Sasuke indagou — Por que não deixamos essa raiva no passado e seguimos em frente ? Eu vivo no presente e, quando olho para Daisuke, eu não vejo um erro, eu vejo o futuro da minha família...
— Mas o que você sente quando olha para mim ? — Sakura quis saber — Eu sou um erro que não pertence ao seu mundo!
Repousando uma das mãos na cintura dela, ele a puxou para mais perto de seu corpo. Sakura podia sentir o membro rígido por baixo do jeans que ele usava.
— Eu acho que você pertence. — ele falou com a voz rouca.
— Isso é apenas sexo! — ela exclamou, tão cheia de emoção e frustração que poderia ter se debulhado em lágrimas. Sakura estremeceu, lutando contra a sua própria fraqueza.
Fitando-a diretamente nos olhos, ele declarou com um sorriso devastador:
— Você também gosta de sexo, aziz.
— Nós precisaremos de muito mais do que isso para que o nosso casamento dê certo. — ela disse com firmeza.
— Fique comigo esta noite. — Sasuke pediu, intensificando o brilho dos olhos castanhos escuros — Vamos recomeçar.
Sakura se desvencilhou do abraço dele.
— Isso está fora de questão.
— Eu tenho que pegar um vôo para Quaram em 48 horas. — Sasuke declarou com seriedade — A saúde do meu pai está muito debilitada e eu não posso ficar no exterior por muito tempo. — E, dando um profundo respiro, ele informou: — Preciso da sua resposta o mais rápido possível.
Infelizmente, um marido relutante disposto a oferecer uma noite de sexo selvagem não era uma proposta tentadora. Ao menos não para uma mulher sensata e com algum orgulho, Sakura pensou. Ela podia ter sido uma completa idiota em relação à Sasuke dezoito meses atrás, mas isso não significava que ela teria que despender o resto da sua vida pagando por esse erro.
— Você foi educado aqui na Inglaterra, não foi ? — ela quis saber.
Sasuke ergueu as sobrancelhas.
— Não completamente. Eu comecei a estudar aqui quando estava com dezesseis anos.
— Sasuke, eu não quero ser sua esposa. — ela declarou rigidamente — Eu tenho muito respeito pelo seu passado, sua família e a importância de Daisuke para você, mas eu pretendo criar o meu filho aqui na Inglaterra. Quando Daisuke estiver mais velho, ele poderá decidir onde deseja morar.
Sasuke lançou um olhar frio para ela.
— Esse não é um acordo aceitável. Posso ter sido educado no exterior, mas eu nasci como segundo filho e a minha criação foi muito diferente da criação de Itachi. Daisuke é o primogênito e meu herdeiro. Não posso permitir que você o mantenha aqui.
Sakura estava tensa.
— Eu não estou pedindo que você permita alguma coisa, estou lhe dizendo que eu não quero viver em Quaram!
Os olhos escuros de Sasuke brilharam de raiva.
— Você não vai ditar as regras para mim. Agradeça por eu ter lhe oferecido uma escolha. Daisuke é de vital importância para a sucessão e a estabilidade de Quaram e eu não descansarei até que possa levar o meu filho de volta para a minha província, porque esse é o meu dever.
— Você está me ameaçando ? — Sakura quis saber.
— Estou insistindo que você considere a sua posição e o futuro de Daisuke usando o bom senso, ao invés de um sentimentalismo tolo e um total egoísmo. — Sasuke falou com severidade — Daisuke não será aceito como um governante no futuro se ele for estranho ao nosso povo. Ele não poderá aprender a nossa cultura e o nosso idioma à distância. Se negar essa experiência a ele, você fará de Daisuke um intruso.
Sakura cruzou os braços frente ao peito, num gesto defensivo.
— Eu realmente o odeio por me pressionar dessa maneira!
— Eu faço o que deve ser feito. — Sasuke contestou com frieza — Você tem que encarar a realidade. Daisuke não é um menino comum.
Sakura não estava contente por ter de ouvir essas verdades. Ela sentia que Sasuke a havia cruelmente colocado em uma situação intolerável, na qual ela deveria sacrificar o seu próprio futuroou o futuro do seu filho. Separar o filho de um pai que um dia poderia ser rei certamente estimularia incertezas e divisões que tornariam a vida de Daisuke mais difícil quando ele se tomasse um adulto. Como ela poderia agir contra os interesses de Daisuke ?
— Eu quero ir para casa com Daisuke agora. — ela pediu.
Alguns minutos depois, Sakura observava enquanto Sasuke se inclinava para apanhar Daisuke no berço. Embora estivesse acordado, Daisuke ainda estava sonolento e estranhava o ambiente ao seu redor. Sasuke foi surpreendentemente gentil com o filho e Daisuke repousou a cabeça sobre um dos ombros largos dele.
— Ele está começando a me conhecer. — Sasuke observou, esboçando um sorriso de satisfação.
Nesse mesmo instante, Daisuke espiou a mãe e estendeu os bracinhos para tentar alcançá-la. Apesar de estar extremamente estressada, Sakura exibiu um sorriso doce e abraçou o filho, enquanto Sasuke lhe contava sobre a torrada que Daisuke havia deixado cair no chão. Só então Sakura entendeu o motivo de Sasuke ter interferido e retirado o filho da creche.
— Eu não poderia deixá-lo chorando daquela maneira. — ele comentou.
Sakura percebeu que também estava começando a conhecer Sasuke melhor, ou ao menos um lado dele que ela nem sonhara que pudesse existir. Quando se referia a Daisuke, parecia que Sasuke era tudo, menos frio, objetivo e crítico. Sakura reconheceu interiormente que deveria considerar o que seria melhor para o seu filho.
— Se não houver outro jeito e tiver que ser feito para o bem de Daisuke, eu irei concordar em morar em Quaram. — Sakura declarou assim que alcançaram a base da elegante escadaria.
— Essa é a decisão certa e eu não lhe darei motivos para se arrepender. — Sasuke assegurou num tom macio de voz.
Sakura chegou em casa e preparou uma lista de afazeres que teria que cumprir antes de sair de Londres e partir para Quaram. Ela ficou até tarde conversando com as amigas sobre os planos que tinha em mente.
Na manhã seguinte, Sakura se demitiu do emprego e Sasuke insistiu em levá-la ao shopping para que ela pudesse comprar roupas apropriadas para um clima mais quente. Ela ficou impressionada com o número de roupas que ele considerou necessário e incrivelmente perturbada pelo evidente conhecimento que ele tinha sobre o que as mulheres apreciavam em seus armários.
— Você deve ter tido muitas mulheres em sua vida, não é mesmo ? — ela quis saber.
— Certamente, eu tenho muita experiência. — Sasuke respondeu serenamente — Mas não seria apropriado discutir esse assunto com você.
Sakura apertou os dedos contra as palmas das mãos com força, cerrando os punhos. Ela odiava a idéia de ele ter tido experiências com outras mulheres.
— Eu não diria precisamente que gostaria de discutir sobre isso. Mesmo porque eu já havia desconfiado que você fosse um mulherengo.
— Você tem o direito de ter a sua própria opinião. — Sasuke observou, recusando-se a discutir com ela em um local público.
Embora fosse verdade que ele tivesse sido um mulherengo no passado, Sasuke não se envergonhava desse fato. Os casos que ele tivera sempre foram discretos e conduzidos de maneira franca.
Ele havia aprendido que muitas mulheres ficavam satisfeitas em lhe proporcionar companhia e prazer em troca de uma vida social brilhante e presentes caros. Sexo nunca havia sido complicado para ele, mas Sasuke estava começando a suspeitar que o sexo dentro do casamento pudesse ser um grande desafio. Ele olhou para Sakura e notou a tensão que ela exibia nos traços delicados do rosto. A julgar por sua experiência, ele sabia que todas as mulheres adoram ser mimadas. Naturalmente, havia presumido que ir às compras pudesse melhorar o humor de Sakura e agradá-la.
No entanto, isso não parecia estar funcionando. Qual era o problema com ela ?
Por que ele a agradava menos que a outras mulheres, que ficavam fascinadas e ansiosas para retribuí-lo quando ele demonstrava interesse ? Por que Sakura estava sentada ao lado dele, fitando a coleção de lingeries com expressão de critica ? De súbito, um brilho de malícia surgiu nos olhos dele...
Sakura se sentia frustrada. Como de costume, Sasuke havia ignorado as questões que ela lhe fizera e continuava distante. Ele não queria que ela o conhecesse melhor.
Assim que ele a levou até uma boutique exclusiva de lingeries, repleta com variedades de minúsculas peças íntimas feitas em cetim, seda e renda, Sakura ficou literalmente chocada. Enquanto ela permaneceu imóvel ao lado dele, Sasuke examinou o que estava na vitrine e fez uma generosa seleção de roupas íntimas que Sakura nem sequer sonhava em usar. Ela se sentiu totalmente ultrajada. Como ele ousava fazer essas compras íntimas para ela ?
Sentindo os nervos à flor da pele, Sakura lançou um olhar furioso para Sasuke, logo que entraram na limusine.
— Nem morta eu usaria esse tipo de lingerie! — ela protestou.
Exibindo um brilho divertido no olhar, ele declarou:
— Eu prefiro vê-la bem viva quando estiver usando esse tipo de lingerie, para que eu possa demonstrar a minha admiração.
— Jamais! — Sakura exclamou, sentindo as faces se aquecerem.
Sasuke traçou com um dedo o contorno do queixo de Sakura.
— Nunca se sabe, aziz. Quem pode dizer o que nos espera no futuro ?
— Certamente não será nada dessa natureza, eu lhe asseguro! — ela devolveu furiosamente.
Virando o rosto para a janela da limusine, Sakura perdeu o olhar na paisagem, enquanto se concentrava na viagem que teria que fazer na manhã seguinte. Ela teria que viver em um país diferente e sabia que precisaria de toda a sua coragem para se adaptar e encarar esse novo desafio...