O Principado de Órion

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    18
    Capítulos:

    Capítulo 6

    Conversa e Atritos

    Álcool, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    Natsu Dragneel.

    Lucy ainda o encarava assombrada. Chocada. Olhando bem para ele se perguntou como não percebeu antes. Um Dragon Slayer do Fogo, cabelos rosados e a cicatriz no pescoço. Esse era um dos magos mais famosos da Fairy Tail! Apelidado de "Salamander", por suas chamas furiosas. E agora estava bem diante dela. O silêncio surdo e pesado naquela sala era palpavel demais. Era muitas surpresas de uma vez. Engoliu em seco, piscando e tentando se acalmar e quando abaixou as mãos, ainda agarradas na bolsinha de couro ele tremeu.

    O encarou confusa e esse gesto o fez tremer de novo. Lucy lembrou do que disse antes. De revelar que era a descendente da maga que ele conheceu  e o do choque que causou. O mago... Natsu. O nome dele é Natsu. Começou a ofegar, estremecendo por inteiro. Os seus olhos a encaravam brilhando e passaram a vidrar. Ai, meu Deus. Quando deu um passo, ele recuou outro negando com a cabeça. Lucy entrou em pânico. O mago ia surtar!

    - Mentira.

    Sua voz saiu tremula, assustada. Ela caminhou de novo e ele recuou outra vez. Negando com a cabeça e ofegando forte, sem ar.

    - É mentira... É mentira.... É menti...

    Respirou fundo procurando ar, mas parecia que faltou. Lucy arregalou os olhos para ele. O fazendo a olhar como se fosse um monstro. Engoliu em seco e tentou conversar. Evitando que surtasse.

    - Olha...

    - Não é verdade!!!!

    Se espantou com o grito.Tinha atravessado a sala e ele ao recuar de novo deu de encontro com a mesa de mármore. Natsu olhava para o chão chocado enquanto se apoiava no móvel. Seu corpo se sacudia em espasmos violentos e arquejava sem ar. Meu Deus, ele tava surtando mesmo! Tentou conversar de novo, chamar sua atenção antes que tivesse um ataque.

    - Eu sei que é muito pra entender, mas é sério. Sou mesmo a tatataraneta de...

    - CALA A BOCA, LOIRINHA!!!!

    Lucy ficou pregada no lugar com o berro e assistiu ele fechar os olhos com força. Tremendo. Então ele gritou de novo e seu punho pegou fogo. Natsu se virou para mesa e deu um soco, o baque da pancada tão alto e rachando o mármore. E agora? Viu um movimento a esquerda e o tal Brian se aproximou um passo, devagar. O que ia fazer?

    - O que a garota está dizendo é verdade, rapaz. - engoliu em seco, tomando cuidado - Faz quatrocentos anos que a Guerra...

    O mago se virou para ele, o olhar ensandecido e incrédulo. Seu outro punho pegou fogo e deu um passo, ofegante e tremulo. Brian recuou assustado. Ela mesma estava. Estreitando os olhos vidrados, o Salamander quase riu de um jeito maluco.

    - Quatrocentos anos. Você tá me dizendo que fiquei quatrocentos anos dentro de um monte de lava? Preso e dormindo todo esse tempo?

    Brian engoliu em seco e recuou outro passo. Natsu franziu o rosto descrente e esperando e Lucy se sentiu culpada, ele estava daquele jeito por sua causa. Os soldados se mexeram atraindo a atenção do mago e nesse instante aproveitou para se aproximar mais ainda segurando a bolsinhas das chaves. Brian pigarreou, criando coragem e disse quanto o mago voltou o olhar pra ele.

    - Lamento por você, mas é a verdade.

    O mago fez uma carranca e deu outro soco as cegas.

    - NÃO LAMENTA NADA!

    Seu punho acertou a quina de mesa quebrando e soltando a pedra, até voar pra parede. Se chocando num baque. Lucy se assustou junto com os outros. Todos encararam a pedra esmigalhada e depois o rapaz que apertou os olhos com força, ofegante e se virando para mesa apoiando as mãos que apagavam e tentando respirar. Brian pelo visto, assistindo o estado do mago que tanto admirou tomou uma decisão. Se voltou para os soldados e fez um sinal para que pegasse Rose e depois foi andando, direto para saída. Ao passar por ela, enquanto os outros iam embora pegou seus pulsos os puxando pelas algemas.

    - Mas o que...?

    Ele a ignorou e então enviou uma chavinha na fenda entre os ferros, girando. O estalo da trava ecoando na sala e tirou suas algemas. Lucy piscou confusa esfregando os pulsos e o soldado enfiando os ferros no cinto a encarou preocupado.

    - Cuide dele.

    Arregalou os olhos. Brian se virou pra saída, mas ela agarrou seu braço assustada.

    - Eu... eu não posso fazer isso.

    O homem sorriu bondoso e se livrou dos seus dedos com cuidado.

    - Pode sim. Afinal, é a pessoa mais próxima dele agora.

    Então, ignorando seu choque ele seguiu até a saída batendo a porta. Lucy ficou parada no lugar a encarando então se voltou para o mago. Se espantou. Ele estava virado pra ela, a encarando de um jeito tão aero e desnorteado que aumentou sua culpa. Natsu apertou os olhos, vendo ela se aproximar e Lucy estava grata que não atacava. Devia ser a pessoa que ele menos queria ver agora.

    - Hã... Posso te chamar de Natsu?

    Ele quase riu, mas sem humor. Quando ficou a poucos passos dele, notou que ainda tremia, se sacudindo em espasmos. Engoliu em seco. Por favor, não surta!

    - E em troca você quer que eu te chame de Lucy, não é?

    Encolheu os ombros, sorrindo sem graça.

    - Se você quiser.

    Ele franziu as sobrancelhas e a olhou de um jeito, como se tivesse ofendido.

    - Pois então eu não quero! É absurdo! Tudo isso é... é....

    Apertou os olhos, recuando de novo. Ele fazia um esforço tremendo, tentando entender. Mas estava em negação. Era claro pelo seu rosto. Lucy mancou de novo nervosa e preocupada.

    - Hei, você tem que se acalmar. Assim...

    O mago abriu os olhos de novo e encarou com uma raiva ensandecida, de cabeça baixa.

    - EU NÃO VOU FICAR CALMO, LOIRINHA!  FICA LONGE DE MIM !!!!

    Deu mais passo pra trás e suas costas bateram na parede. Natsu fechou os olhos com força. Arquejando sufocado se curvou agarrando os cabelos. Lucy assistia pregada no chão, (estava assim quando gritou com ela) ele escorregar até cair sentado de cabeça baixa entre as pernas e arquejando, tremulo. Os espasmos que sacudiam eram violentos. No silencio da sala, a respiração sufocada dele era tudo o que se ouvia e ecoando até ela, sentiu uma coisa diferente de compaixão. Era um desejo. Observando bem ele sentado no chão, percebeu surpresa que era um desejo de cuidar. Quase maternal.

    Sentindo isso, esqueceu o medo dele surtar e atacá-la e foi andando até onde estava, ficando diante dele, que de imediato prendeu a respiração arquejante e Lucy se sentou devagar, dobrando com cuidado a perna com o tornozelo machucado. Guardando as chaves da sua ancestral na bolsa tentou conversar.

    - Desculpa.

    Silêncio, então continuou.

    - Eu não queria te contar daquele jeito. Deve ser um choque tremendo, descobrir que ficou dormindo por tantos anos.

    Ainda de cabeça baixa, as mãos nos cabelos, Natsu quase riu sarcastico (e graças a Deus, mais calmo)

    - É... Muitos anos. Quatro séculos. - suspirou tremulo - eu devia ter morrido.

    Arregalou os olhos.

    - Não fala assim.

    - É melhor do que descobrir que meu mundo acabou.

    Lucy abriu a boca, mas pensou melhor e não disse nada. Ele tinha suas razões pra achar assim e se fosse com ela, também pensaria igual. Ficou quieta, atenta a respiração dele e relaxou quando ela soava mais calma, sem aquele desespero. Mas ao olhar para seus dedos se inquietou de novo, eles agarravam as mechas quase arrancando e também ainda tremia. A calma na sua voz era uma distração. Pigarreou.

    - É... Puxa! Eu fiquei muito surpresa quando aquele soldado, Brian eu acho, disse quem é você.

    Soltou um riso sem graça e pôs as mãos no colo. Esperou ele dizer alguma coisa, mas só teve a respiração ofegante. Continuou mesmo assim.

    - O Salamander. Eu... eu li muito sobre você e sobre a guilda também. Sabe, por causa da minha ancestral, a Lucy que você...

    - Não me fale dela, loirinha.

    O mago a cortou seco e a espantando. Pensava que nem prestava atenção no que dizia. Ele finalmente levantou a cabeça, devagar e largando os cabelos. Apertando os olhos para ela, tão desnorteado, apoiou os cotovelos nos joelhos e olhou bem pro seu rosto, cabelos e seus olhos. Onde se demorou mais. Lucy engoliu em seco, o rosto esquentando e vendo, ele quase riu mas sem humor.

    - Por isso são tão parecidas. Eu sou mesmo um idiota.

    Inclinou a cabeça pra parede fechando os olhos de novo. Se espantou com a expressão dele. Era pura dor. Natsu começou a ofegar mais forte, a assustando e tentou conversar de novo, distraí-lo.

    - Porque diz isso? Eu entendo que me confundiu. No seu lugar também...

    - No meu lugar, loirinha? - abriu os olhos de novo e eles estavam carregados naquela dor - Me faz um favor. Para de tentar me entender que não vai conseguir.

    Suspirou irritada, perdendo a paciência. Poxa, ela tava era tentando ser legal com ele!

    - Então me faz um favor também. Para de chamar de loirinha. Já tá me dando nos nervos!

    Natsu levantou as sobrancelhas e mesmo que visse o caos que ele sentia por dentro pelo seu olhar, não se importou. Fechou a cara, se inclinando irritada.

    - Meu nome é Lucy. LU - CY! Eu te falei umas sete vezes hoje!

    O mago não disse nada e quase riu do seu stress. Mas então quando ia falar mais alguma coisa reparou melhor nele e aquela inquietação aumentou. Ele parecia e estava completamente perdido. Como uma criança. Para piorar, seus olhos estavam sem foco. Olhavam, mas não reparavam nela. Piscando devagar, ele suspirou com esse ar distante.

    - Porque?

    Piscou confusa.

    - Porque o que?

    Piscando com lentidão de novo, ele se encostou mais na parede.

    - Porque se chama assim.

    - Lucy?

    Ele levantou as sobrancelhas, aero.

    - É.

    Colocando uma mecha atrás da orelha olhou para o lado, alheia ao fato que esse gesto chamou a atenção dele.

    - Quando eu nasci, minha mãe e minha avó me acharam muito parecida com a garota do quadro...

    - Garota do quadro?

    Se virou pra ele. O ar perdido e distante. Lucy tentou disfarçar sua preocupação com esse estado, sorrindo torto.

    - É, na minha casa tem um retrato da Lucy, sua amiga. Acho que tinha minha idade.

    - Dezessete.

    Arregalou os olhos, surpresa

    - Como você sabe?

    O mago deu os ombros, piscando devagar novamente. Estava exausto física e emocionalmente.

    - Adivinhei.

    - Certo - o olhou duvidosa, ficando realmente preocupada. - Então é isso, por causa da minha aparência, me colocaram o nome dela.

    - Ah.

    Não disseram mais nada e aquele eco surdo, que doía nos ouvidos já estava deixando ela nervosa junto com o olhar fixo (e perdido) dele. Curvando a cabeça pro lado, ele puxou conversa.

    - As chaves que eu não tinha...

    - Sim?

    - ... estão com você?

    Respirou aliviada. Pensou que ele diria outra coisa.

    - Claro. Elas não estão exatamente aqui comigo, mas eu as uso.

    Falou com orgulho e feliz. Vendo o mago endireitou o pescoço e curvou para frente, as mechas caíram nos seus olhos que estreitavam.

    - Uma maga estelar.

    O tom dele foi estranho e levou um segundo pra notar que era sarcástico. Lucy se irritou.

    - É, qual é o problema?

    Sorrindo para ela, o mago fechou os olhos quase rindo e apoiou a cabeça na parede outra vez.

    - Não acha que está copiando até demais sua tatataravó, Lucy ?

    Se entalou, indignada.

    - Escuta aqui...

    - Escute você.

    A cortou sério abrindo os olhos. Para alguém que estava um caos ao saber que dormiu por quatro séculos, a lucidez que viu no seu olhar era bem genuína, apesar dos olhos vidrados.

    - Fazer magia não é fácil. Ser uma maga, ainda por cima de Espíritos Estelares, também não é fácil. Eu vi sua ancestral se esforçar até o limite para conseguir o poder que tinha. Acha mesmo que pode fazer igual? Pois eu duvido.

    Lucy se entalou ainda mais e se inclinou se tremendo de raiva.

    - Seu babaca! Eu posso e vou fazer. E ainda por cima vou ter o prazer de esfregar na sua cara!

    O mago levantou as sobrancelhas impressionado, menos aero e se encolheu fingindo dor.

    - Ai.

    - Você... você é um completo idiota. Imbecil. Arrogante. Cínico...

    - Irônico?

    - É! - então piscou surpresa - Hei! Não coloque palavras na minha boca, BAKA!

    Natsu fechou os olhos de novo, sorrindo abaixando a cabeça.

    - O que foi?

    - Nada.

    Então a olhou entre as mechas, estreitando e quando suspirou de raiva de novo ele riu divertido.

    - Para com isso, senão vou te socar na cara.

    O mago levantou a sobrancelha, confuso.

    - Faria isso?

    - Pode apostar, idiota.

    Se levantou do chão andando até a cadeira onde estava sentada. Lucy não olhou mais pra ele, irritada além da conta depois do que disse, duvidando sobre sua capacidade mágica. Ia mostrar pra ele, faria questão disso. Enquanto isso, do outro lado da sala. Natsu endireitou o pescoço de novo a observando de longe. Ela não podia ser ela, mas conseguiu o milagre de acalmá-lo, mesmo enfurecido e quase enlouqueceu como estava. Se atentou para o jeito dela, o modo como se sentava, ajeitava os cabelos e apertava os lábios de pura raiva. Quase riu. Quatrocentos anos passados num piscar de olhos para ele e estava livre da Guerra, no entanto, apertando os olhos para a garota, achou que entraria em outra guerra. Mas dessa vez, seria muito mais divertido.

    Inclinou a cabeça, sorrindo irônico e pensando no que sempre dizia quando estava diante de um desafio.

    " Estou pegando fogo."


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