—O que tem lá?—disse apontando através da porta.
—O que impede que a gente saia daqui!—falou Laura.
Mike desceu rápido os dois degraus da porta, quando percebeu já estava correndo, ver o que não deixava eles saírem dali, precisava chegar bem perto, ter certeza que estava preso.
—Ei espere—escutou a voz de Laura la traz, mas fez exatamente o contrário, correu ainda mais, sentiu uma pontada na costela esquerda, mas nem ligou, continuou correndo, sentia algo inexplicável, uma mistura de medo, angústia, e raiva. Medo de nunca mais sair dali, de nunca mais ver sua mãe e seu irmão, angústia de estar preso num lugar com um monte de gente estranha, e raiva, muita raiva de Malum e Paredes.
Correu até chegar em frente de uma cerca alta, era toda feita de plantas, apesar bem densa, pareciam inofensivas, vários tons de verdes, e muitos tipos, grandes, cumpridas, redondas, em formato de triângulo, outras pareciam trevos de cinco folhas gigantes. Mike levou a mão pra encostar numa folha verde e bordas roxas no formato de uma estrela.
—Não faz isso—olhou pra trás com o grito de Laura, que estava chegando ofegante
—Por que não?—peguntou Mike
—Melhor não fazer isso, vai por mim—falou Laura, colocando as mão nos joelhos, para descansar.
Mike encarou a cerca “o que será que tinha de tão perigoso naquela cerca,?” Olhou pra Laura a menina estava pálida, talvez passasse mal, naquele instante.
—você está bem?—perguntou Mike
—Sim, por não estaria?
—Sei lá, parece meio cansada. A quanto tempo vocês estão aqui ?—falou Mike
—Pelas minhas contas, onze dias hoje,—disse ainda parecendo que correu uma maratona— Mari chegou um dia depois que eu, os meninos e Emília faz bem mais tempo, não sei exatamente, acho que mais de mês.
—Mais de mês?—falou baixinho, não se imaginaria ficar tanto tempo num lugar como aquele, sem enlouquecer.
— Guga, Emília e Akira, foram os primeiros?
—Na verdade não, Art tá aqui a tanto tempo que nem se lembra mais, também tinha o...— Parou de falar na metade da frase
—Quem?—perguntou Mike. Laura não que parecia gostar de falar no assunto de virou de costas.
—Podemos conversar enquanto voltamos? Não gosto muito de ficar perto da cerca.
Os dois caminhavam lado a lado de vagar de volta à cabana, conversando.
—Você, sabe porque eles fazem isso? —Disse Mike na metade do caminho.
—Quero dizer por que eles sequestraram a gente?— Mesmo sabendo sobre Malum, queria ver o que Laura sabia.
—Não, nenhum de nós sabe.
—E Art?
—Coitado, aquele mal se lembra do próprio nome.
Mike ficou pensando como um monte de crianças e um homem sem memória podiam viver numa cabana que nem moveis tinha.
—Como vocês vivem aqui?— Falou Mike, estava cada vez mais preocupado.
—Bom, os guardas trazem comida toda noite, e deixam na porta, tem também as verduras da horta que Art cultiva.
—E durante o dia estes guardas não parecem aqui, não? —falou Mike colocando a mão na frente dos olhos, pra olhar a cabana la de longe, Guga estava sentado na grama, brincando com algo, atrás dele, o casebre velho, caindo os pedaços todo feito de madeira quase podre, se alguém não fizesse algo, não ia aguentar por muito tempo.
—Não nunca vi nenhum pra falar a verdade—falou Laura, parecia pensativa.
—Como foi?
—Como foi o que?
—Como foi que você veio parar aqui?— Laura parou de andar, olhava para o chão, com um ar sério— Não sei não me lembro.
—Como assim ? Qual a última coisa que você se lembra?—falou Mike parando em frente de Laura.
—Era domingo, tava no parque com minha família, sai longe deles pra ir ao banheiro, e depois….e depois to aqui.
—Você não se lembra mais de nada, não viu ninguém?
—Num sei, devia ter alguém me esperando do lado de fora, porque só me lembro de sai do banheiro e apaguei, quando acordei no outro dia sedo, já tava aqui nesse lugar horrível.—falou Laura num tom de voz meio irritada.
—Por que, tá me perguntando tudo isso? Você viu quem te trouxe pra cá?—Laura perguntou, mas ele não tinha certeza se queria contar a ela tudo naquele momento. Para sua sorte, foram interrompidos.
—Vocês estão bem?—escutou uma voz aguda, se virou, Guga vinha gritando ,Akira e Mari correndo logo atrás e Emília lá traz parada na porta da cabana
—Ficamos preocupados— falou Mari
—Preocupados por que? Eu não iria muito longe de qualquer maneira, não é ?—falou Mike, com uma voz triste, os outros se olharam todos muito sérios, até Guga que parecia ser o mais bem-humorado, tava com uma cara de enterro.
—Não falou pra ele do teu amiguinho? Não Laura?—falou Emília, que tinha chegado mais perto pra escutar a conversa.
—Quem?—falou Mike
—Paulo—falou Laura, olhando para o chão.
Todos ficaram em silêncio, Mari e Akira se olharam, Mike achou que Guga ia chorar,
—E então ninguém vai falar nada? —falou Emília— Então eu vou contar, Paulo era…
—Não—Emília foi interrompida por Laura— deixa que eu conto, vamos entrar la dentro que eu vou te contar tudo.