—Ei! Acorde! Ei garoto.
—Acha que ele tá morto?
Mike escutava umas vozes de crianças, bem la fundo.
—Claro que não, tá vivinho da silva.
—Ei acorde dorminhoco.
Mike sentiu um chacoalham. Abriu os olhos devagar, estava deitado de costas com a visão um pouco embaçada. Foi se focando diante de seus olhos a imagem de uma garota, estava suja e suas roupas estavam esfarrapadas, mas, mesmo assim, era bonita, seus cabelos cor de mel armados, davam pelo ombro, os olhos escuros escondidos atrás dos óculos de aro preto. Ela o segurava pelos ombros com as duas mãos.
—Ei? Você está bem?—Mike olhou em volta, ainda um pouco atordoado, “como tinha vindo parar ali mesmo?”. Tinha crianças de pé em volta dele, além da menina de óculos, tinha um garoto magrinho meio cabeçudo, bem loiro e outro garoto de olhos puxados e cabelo liso..
— Ooi, eu sou Guga—falou o loirinho passando a mão na frente dele, era mais novo que Mike, estava com a cara toda suja, a camiseta vermelha rasgada, com sinais de mão.
—Oi—disse num tom quase inaudivel.
— Acho que ele não tá bem, não— Disse o asiático, do mesmo tamanho que Guga deviam ter a mesma idade, tão sujo quanto ele também.
—Eu sou Laura—Disse ela, esticando a mão para o ajudar a se levantar. Mike deu a mão pra ela, sentia seu corpo doer, principalmente o pescoço e as costelas, colocou a mão direita onde doía, sentiu o cabo da varinha mágica, seu coração bateu mais rápido, não podia ser, ainda estava ali, invisível e presa no elástico do seu calção, como tinha deixado. Não deixou os outros perceberem nada. Além dos três, tinha mais uma garota, estava olhando de longe, com um olhar desconfiado, cabelos cumpridos bem pretos, usava uma saia azul-marinho e uma camiseta branca.
—Você está bem?— Peguntou Laura—Qual seu nome?
Confuso Mike não sabia o que pensar, olhou em volta, estavam num tipo de casebre de madeira, tinha alguns pedaços de madeira jogados por todo lado, no centro tinha cinzas, como se tivessem feito uma fogueira no meio da sala. Não era muito maior que seu quarto, uma janela e duas portas, uma aberta por onde entrava a luz ofuscantes do sol, e a outra na parede de trás estava fechada, as paredes, que por sinal, estavam caindo aos pedaços
—Onde a gente tá?—falou Mike, baixinho com uma voz rouca.
—Estamos na cabana—falou Laura, abrindo os braços para mostrar o local.—Bem-vindo— Sua expressão tinha um pouco de alegria, talvez por vê-lo bem e acordado, mas também tinha uma tristeza aparente.
—Você fala como se gostasse daqui— a garota de cabelo preto, falou mau humorada, parecia com raiva. Laura sem olhou pra ela, ignorou a outra garota.
—Mike? —uma voz de fina veio de trás de Laura, uma menininha, estava sentada no canto da cabana, com os braços em cima dos joelhos, cabelo ruivo cacheado, com a cabeça abaixada.
— Mari?— A garota olhou pra ele com olhos cheios de lágrimas e falou com uma voz triste.
—Oi— Ouvindo a voz de Mari caiu, em si, se lembrou, de tudo, do ônibus, do beco, de Paredes. Não podia ser, tinha sido sequestrado, Paredes conseguiu o que queria, agora ele era um das crianças desaparecidas. Voltou a prestar atenção nas crianças quando o asiático deu um passo pra frente entrando na frente do Guga.
—Você está aí?—falou passando a mão na frente dele.
Mike fez um sim com a cabeça—Oi, eu sou Akira, e a mau humorada ali é Emi.
—E já falei pra não me chamar de Emi, meu nome é Emília Alcântara…
—Machado, bléblé, eu já sei, eu já sei—interrompeu Akira, fazendo caretas, para provocar Emília.
Mike nem escutava mais a discussão, ainda não acreditara como tinha deixado aquilo acontecer, queria tanto ajudar as crianças desaparecidas, que agora era uma delas.
—Ainda tem o Art.—falou Laura, fazendo com que Mike voltasse a prestar atenção.
—Art?.
—É! Ele tá la fora cuidando da horta—e apontou pela janela.
Olhou pra onde ela apontava, no meio de alfaces, repolhos e outras coisas, tinha um homem capinando, cabelo grande, barbudo, apesar de fazer um sol de uns quarenta graus, usava um casacão que ia até quase seus pés.
—Ei Art—gritou Guga de dentro da cabana—O garoto novo acordou!.
O homem se virou, colocando a mão na frente dos olhos protegendo os olhos do sol, pra poder enxergar melhor a cabana, mas no segundo seguinte voltou a trabalhar.
—Não ligue, ele é assim mesmo— disse Guga— É ele não fala muito.
— Quase nada, pra falar a verdade—disse Laura.
Mike foi até a porta, pra ver o que tinha do lado de fora, na frente tinha um grande gramado verde bem cuidado, do lado esquerdo ficava a horta que Art cuidava, no lado direito tinha só uma árvore muito grande ,cujo tronco era bem grosso e mais adiante la longe, quase sumindo da vista, tinha uma faixa escura bem pequena, que circulava todo lugar.