Mike corria o mais rápido que suas pernas conseguiam, a varinha presa elástico do calção, cutucava sua costela, depois do que houve no campinho decidiu não mais sair de casa sem ela. A cada passo dado, a mochila batia em suas costas, estava arfando de cansaço mas não ia parar, tinha que chegar. Havia perdido a hora, ficou até tarde estudando feitiços e perdeu a noção de tempo. Viu de longe o ônibus, estava vazio, enxergou somente o motorista dentro, quase sem ar tentou gritar, mais sua voz não saiu, estava quase chegando faltava alguns metros, mas o motor tinha sido ligado e as portas estavam se fechando. Mike chegou a encostar na traseira, mas era tarde, o ônibus já estava em movimento. “Filho da m..”.— respirando com dificuldade observou o ônibus se afastando de vagar, já não conseguia correr mais.
—Ei espera aí— Sem pensar colocou mão por dentro da camiseta, “Se usar o confringo no pneu, ele vai ter que parar” Ninguém se machucaria, o ônibus tava vazio, tinha certeza que motorista tinha o visto, e não esperou de propósito, ele merecia uma lição. Não, ele não era assim, jamais arriscaria a vida de outra pessoa, por um motivo tão fútil, e depois do que adiantaria, ia perder a aula do mesmo jeito. Largou a varinha sem tirar de baixo da camiseta. Mike achou melhor voltar pra casa, não tinha como chegar na escola a pé a tempo, olhou para esquerda, tinha dois homens parados do outro lado da rua, um ele nunca tinha visto, era ruivo, alto e forte, usava um terno preto, o outro não tinha como não reconhecer, com aquele colete rosa chiclete e uma calca azul-turquesa, Paredes. Quando virou a primeira esquina percebeu que os dois homens estavam o seguindo, apressou o passo, chegou na avenida, havia muitas pessoas, ia ser fácil se livrar dos homens, se misturou com a multidão, perdeu os homens de vista por um momento, mas no segundo seguinte la estavam eles, agora corriam na sua direção, não teve mais dúvida iam o alcançar. Empurrou uma lata de lixo a fim de atrasá-los, o homem tentou saltar por cima e pisou com um dos pés na lata e quase caiu, Paredes tentou desviar, mas se bateu com uma mulher, que andava na direção oposta. Mike saiu em disparada, passando pelo meio das pessoas, seu tamanho ajudou muito nessa hora. Olhou pra trás por um segundo, os homens não conseguiam segui-lo sem esbarrar e quase derrubar uma dúzia de pessoas. Paredes derrubou uma velhinha, coitada, saiu rolando no chão, o outro arrumou briga com o marido de uma mulher que tinha empurrado. Mike pegou um caminho estreito entre duas lojas, tentando despistá-los, mas pra seu azar, tinha uma cerca de madeira alta entre as paredes, não conseguiria passar, devia ser uma construção, pensou em voltar, mas o homem ruivo tava bem em frente do beco, só não o viu por que estava de costas, Mike não teve alternativa se não se esconder atrás de um contêiner cheio de entulhos De onde estava, via as sombras dos dois, estavam se aproximando rápido, não tinha pra onde ir, eles iam achá-lo com certeza, pegou a varinha, ia lutar até o fim, estava preparado pra uma situação como aquela, pelo menos achava que sim, foi se levantar pra pegá-los de surpresa e se proteger atrás do contêiner, mas no último segundo se abaixou de novo, Malum não está junto com eles, mesmo se os derrotasse , o que seria muito difícil, sendo dois bruxos adultos e experientes, contra um que nunca tinha feito um feitiço de ataque na vida, mas mesmo se conseguisse, o que ia fazer depois? Iria atrás de Malum? Esperaria que ele viesse atrás? E as crianças desaparecidas? Jamais iria encontrá-las. Só pensou em uma coisa, esconder sua varinha, talvez os homens não tivessem a visto ainda.
—Invisibilum—E sua varinha ficou totalmente invisível, mas ainda dava pra pegar, e se resolvessem revistá-lo? Mike olhou em volta procurando um lugar a varinha se encaixou perfeitamente, numa rachadura na parede.
—Achei você—Disse o homem ruivo.
—Seu pestinha—Malum o pegou pelo braço e o empurrou contra o outro.
—Segure ele— Sacou uma varinha do bolso, apontou pra cara de Mike, por um momento Mike teve certeza que iriam matá-lo ali mesmo —Segure isto aqui—disse entregando a varinha na mão dele. Era uma varinha torta, vermelho escuro, um pouco mais curta que a dele. No momento que a segurou, ela se acendeu inteira, uma luz vermelha irradiava da base até a ponta. Seria bonito se fosse em outra situação.
—Ha ha! Sabia—gritou Paredes, tomando com um soco a varinha, Mike ficara tão admirado com a luz, que chegou a se assustar com o grito.
—Reviste ele Otto.
O homem puxou sua mochila, mas Mike segurou firme—Não—
Otto ergueu a mochila, com Mike pendurado.
—Largue agora —Paredes falou, Mike virou a cabeça, ele tava apontando a varinha vermelha.
—Malum deu ordens pra levar você vivo, mas eu posso esquecer disso rapidinho.
Mike largou a mochila, sabia que não iam encontrar nada demais la dentro. Otto com a cara sempre carrancuda, pegou pelo fundo da mochila e chacoalhou até cair o último lápis lá de dentro.
—Onde esta?—Paredes falou erguendo Mike pelo braço.
—Está o que?
—Tinha algo alguma coisa com você la no ponto.
Ergueu a camiseta de Mike, com um puxão, quase rasgando.
—Não tem nada—falou Mike abaixando a camiseta
Paredes virou de costas, colocou uma mão na cintura, a outra passava pelo cabelo lambido, andava de um lado pro outro, sem saber o que fazer. Sem Mike esperar, ele se virou e deu um tapa com as costas da mão no rosto garoto, que foi jogado pra trás, e se desequilibrou, Mike levou as mãos pra trás, tentando achar algo para se apoiar, achou a parede, mais exatamente a rachadura que tinha escondido a sua carinha. Sem nenhum dos homens perceber, ficou segurando a varinha invisível, agora mas do nunca queria, estuporar aqueles dois.
—O que tá encarando moleque?—falou Paredes esfregando a mão que dera o tapa. Mike sentia muita raiva mas precisava se controlar.
—Vamos levá-lo pra cabana— Otto puxou Mike pelo braço pra fora do beco e o jogou dentro do porta mala de um carro preto, no caminho ainda deu tempo dele colocar a varinha segura no calção, antes que o homem o fisesse dormir.