Estava no fim do dia, e desde o café da manhã eu havia evitado todos. Não consegui olhar pra cara de nenhuma delas depois de saber que uma das garotas tinha dito meu segredo pra minha nova inimiga. Tive vontade de sair correndo daquela escola.
Algumas pessoas que passavam pelo pátio da escola me olhavam e apontavam. Não liguei. Estava com os pensamentos a mil, e estava quase tendo devaneios quando uma voz fria disse com desprezo:
- Tentando se esconder do mundo, vovó?
A mesma garota da manhã estava cercando-me com suas amigas de novo. Não estava com vontade de discutir, juro que tentei fuzilar ela com poder da mente, mas, como estava muito difícil simplesmente disse:
- O que você quer?- disse com frieza, mas, me senti nervosa ao ver que havia pessoas observando a cena.
- Você realmente não sabe quando ficar quietinha ouvindo não é?- ela disse num tom arrogante, como se falasse com uma criança tola (comparada a ela eu tinha mesmo a altura de uma criança). ?Olhem que gracinha meninas, ela esta tristonha por saber que uma das ?amiguinhas?? andou me falando sobre você!
As pessoas em volta começaram a se aproximar mais, olhando curiosas e rindo um pouco. Não tive coragem de dizer nada, fiquei encarando ela, firme, tentando não demonstrar fraqueza- que era exatamente o que eu estava sentindo- como se ela só esperasse isso pra lançar mais um ataque.
- E como vai o seu ?amiguinho??? Ah, esqueci... Ele parou de te ver. Talvez tenha se cansado de olhar para essa sua cara ridícula não?
Aquilo tinha sido demais. Agradeci por não ter contado que gostava dele. Senti meu rosto cheio de raiva, e de lagrimas. Não agüentei olhar mais para aquela cara fria e de desprezo, junto com um amontoado de gente que havia se aproximado.
Enquanto ela ria- provavelmente das lagrimas em meu rosto. - Eu corri empurrando todos que estavam no caminho da entrada da escola. Confesso que queria muito mais correr pra saída, mas, tive de me contentar em entrar na escola com mais lagrimas escorrendo dos meus olhos.
Quando finalmente havia chego à porta do dormitório feminino (agradeci por chegar lá, porque ela era do segundo dormitório feminino) entrei depressa e subi no meu beliche. Já havia de ter feito todos os deveres então podia passar o resto do dia ali. Na minha cabeça vinha a imagem do dia em que a empregada do orfanato me mostrará uma lista de escolas que poderia escolher.
- Escolha uma dessas. Vai ser onde vai estudar ano que vem.
- Vou mudar de escola...?
-Não Koneko, você só vai estudar lá no ano que vem!- ela respondeu impaciente.
-Eu... Fico com essa! Kodori!
Só conseguia pensar no garoto. ?Ele... Será que realmente enjoou de mim? ?? pensar nisso só me fez derramar mais lagrimas e enfiar o rosto no travesseiro.
-Yukimura...? O que houve? - uma voz feminina disse.
Afastei um pouco a cabeça do travesseiro e vi uma menina ruiva me olhando preocupada. Sayaka aguardava uma resposta enquanto encarava-me, mas, fui incapaz de emitir qualquer som, e enfiei a cabeça de volta no travesseiro.
Ouvi o som de alguém subindo a escada do beliche, e logo Sayaka estava ao meu lado, tentando entender a historia. Depois de um tempo ela pareceu entender que eu não conseguia falar e limitou-se em me abraçar.
- A culpa é minha! - uma voz disse num tom claro e triste.
-Chiyeko, o que você esta dizendo? Você sabe o que aconteceu com ela? - Sayaka perguntou numa voz aflita.
-Fui eu que disse pra Amy! - Ela disse baixando a cabeça. - Eu disse tudo a Ela!
O rosto de Sayaka ficou sombrio. Mesmo ainda chorando, pude ver que ela estava com raiva no rosto, pelo visto eu não era a única que tinha contas a acertar com aquela Amy.
Ficamos num silencio perturbador durante alguns minutos quando Sayaka disse finalmente num tom sombrio.
- Como ela te ameaçou?
-Ela... Ela disse que ia contar pro Kitamura-kun que... Que eu gosto dele!- quando Chiyeko disse isso, lembrei de uma vez em que haviam dito que iam contar para um menino que eu não gostava, que eu gostava dele. Lembro que fiquei desesperada, e de fato senti carinho por Chiyeko.
-E-está... Está t-tudo bem... - eu disse entre as lagrimas tentando abrir um sorriso.
Percebi que ela virou o olhar pra mim, e pareceu muito agradecida, mas, em duvida, como se não merecesse perdão.
-I-isso é... Difícil... - completei tentando cessar o choro.
Eu ouvi um sussurro de ?obrigada?? E ela foi deitar- o que Sayaka fez um tempo depois.
Já haviam se passado alguns minutos e de repente eu senti um calor tomar conta do meu corpo e senti como se alguém murmurasse no meu ouvido : ?Logo virei buscá-la?? e sentir meus olhos se fecharem automaticamente, antes que meu cérebro pudesse processar a mensagem.