Sentou na cama com o livro preto no colo, apesar de ser mais pesado, era bem mais fino que o Livro Preciso, muito bem cuidado, o preto da capa reluzia na luz. “Immensum” o nome em manuscrito com uma tinta vermelha escorrida, parecia ter sido feito de forma artesanal, do mesmo modo que símbolo logo a baixo, era bem desconfortável, lembrava uma estrela, mas não tinha simetria alguma, cada traço era de um tamanho diferente, Mike abriu o livro com dificuldade, ou a capa era muito pesada, ou tinha algo segurando, parece que emitia um sentimento ruim, alguma coisa que não era pra ele, sentiu vontade de fechá-lo imediatamente. Mas a curiosidade foi maior, além disso se quisesse vencer, tinha que conhecer seu inimigo.
Mike não entendeu nada do que estava escrito, nem as letras eram conhecidas, pra ele não passavam de “Y” de ponta cabeça e um monte de “m” emendados com acentos em cima. Todos os desenhos eram sombrios, feitos de preto nas páginas acinzentadas, chegavam dar medo. O primeiro tinha uma mulher loira, sentada na frente de uma janela, tocando harpa, e olhando pro céu, atrás um homem velho com alguns fios de cabelo na cabeça, com roupas pretas e largas, com um instrumento parecido com uma foice, estava pronto pra atacá-la. “Que horror”, pensou Mike. Depois de algumas páginas com mais daquela escrita estranha, tinha outra imagem, era uma criatura, com corpo de mulher e cabeça de jacaré, parecia estar numa caverna, segurava uma boneca pelo pescoço pronta pra devorá-la. A boneca parecia desesperada, pedaços de seu corpo de pano estavam se descosturando, e um de seus olhos havia saltado pra fora, Mike já ia fechar o livro quando resolveu dar só mais uma olhadinha, a próxima figura era a pior de todas, um homem arcado de velho, segurando uma criança pelos pés e colocando de cabeça dentro de um caldeirão, com algum líquido borbulhante, e outras dezenas de meninas e meninos sentados por volta esperando sua vez. Mike que já estava com dor de cabeça, fechou aquele livro medonho e colocou em cima de seu guarda-roupa onde ninguém mexeria, e foi dormir.
“Estava numa floresta escura, correndo, tentava escapar de uma monte de crianças com foices e tochas nas mãos. Essa não! Elas estavam quase o alcançando, mas pra sua sorte não o agarraram, ele caiu num buraco, no meio de um tipo de plantas viscosas. Do lugar onde caiu escutava gritos de uma voz aguda, vindo de longe—Socorro, alguém esta aí?—correu na direção da voz, estava escuro, era tudo muito confuso, quando chegou, viu a cabeça da boneca, estava separada do corpo, que andava de um lado pro outro, no meio das espumas que tinha saído de dentro dela, de susto tropeçou numa raiz atrás dele, e caiu sentado. Estava agora dentro de um caldeirão muito quente, tinha uma mulher de costas, com uma voz muito doce e simpática ela falou:
—Oi querido, tudo bem com você?—Mike não falou nada, nem conseguiria, tava paralisado. A mulher se virou, Mike ficou boquiaberto, mas naquela hora teve certeza que estava sonhando, a mulher na verdade era Malum”
Mike acordou e deu um grito, sentando na cama.
—Mike? Ta tudo bem? — a voz de sua mãe o acalmou de vez. A luz do sol invadia seu quarto pela janela.
— Mike?— sua mãe entrou no quarto.
—Sim! foi só um pesadelo.
—Tá quase na hora de levantar, não vá perder a hora.
—Ta mãe.
—E não de esqueça do guarda-chuva, o tempo tá fechando lá fora—“mães” pensou Mike.
Durante dias Mike não conseguia se concentrar na aula, não parava de pensar no livro preto, aquilo era horrível, o que será que dizia? E para que serviam aqueles feitiços macabros? Tinha olhado apenas o começo, quantos mais tinha? Não o abriu mais, de vez em quando dava uma olhadinha pra ver se ainda estava lá.
Estava ficando muito bom em fazer os feitiços, já tinha feito a ratazana ficar completamente invisível, estava desatando nós em segundos, dominara o feitiço “incendio”,e tinha seu próprio ventilador pra esfriar aquele insuportável calor.
—Mike, Mike
Levou um susto, Tomi tava bem na frente dele, nem tinha o visto chegar perto.
—Ei vamos pra o recreio.
Mike, concordou com a cabeça.
—Alguém viu o diretor mala?
—Não, ele não aparece a dias, desde o episódio dos seguranças dançarinos—falou Taci
—Ainda não intendi, o que aconteceu naquele dia —falou Tomi
—Sei lá— falou Murano
— Acho que eles só estavam com vontade de dançar—disse taci com um sorriso de canto de boca.
—Não sei não, muito estranho—falou Tomi desconfiado.
—Mike? —falou Murano
—Oi?
—Ta tão calado, não fala nada nas aulas, agora nem no recreio, tá acontecendo alguma coisa?
—Verdade, também percebi—falou Tomi
—Nada não, estou com gripe, eu acho.
—Gripe?
—É, vamos já vai bater o sinal pra entrar.
Depois da aula, Mike fez a mesma coisa que já fazia a dias, jogou a mochila em cima da cama, e pegou o livro preciso na primeira gaveta da cômoda.
“atenção, os feitiços só deverão ser usados para autodefesa”
“Expelliarmus”
“Desarmar seu adversário”.
“ Segure firme sua varinha, mirando a varinha do oponente”
—Expelliarmus—sussurrou Mike—uow agora sim, feitiços de ataque.
“este feitiço pode ser neutralizado por um Ennervate (pag.20, defesa). Obs. Não é muito eficaz contra animais mágicos de grande porte.”
Animais mágicos? Que tipos de animais será?
—Estupefaça— “joga, com força, seu oponente pra trás, podendo deixá-lo inconsciente”—fantástico.
—Impedimenta: Feitiço capaz de paralisar, o alvo o impedindo de prosseguir, jogando-o para trás conforme a intensidade.”
Continuou, tentando memorizar um por um, se Malum tentasse algo, queria estar pronto. Mike queria muito praticá-los mas nem sabia se existiam outros bruxos no mundo, encontrar um que quisesse o ajudá-lo seria quase impossível.