Uma semana.

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    Capítulo 3

    Segunda-feira (Parte 2) Mais e mais obrigações...

    Violência

    “Um valentão quando convertido passa a ser um seguidor fiel”.

    “Se tivesse que os definir em uma palavra, teria de dizer um palavrão”.

     - Para onde estamos indo senhor? – Perguntou Eric Hansguard, Líder dos “Toxic Fangs” com genuína curiosidade, a bordo de uma fragata de transporte junto aos seus amigos, fazendo uma travessia de Pixia até o meio do oceano Pacífico.

    Antes de responder, eu me lembrei de meu encontro com eles na Academia, poucas atrás...

    10:00am, no dormitório dos “Toxic Fangs”:

     - Como assim? – Perguntou Eric com uma expressão de real confusão no rosto, em resposta a minha pergunta anterior.

     - Sabemos que vocês andaram praticando bullying com Squadrons mais novos. Foram denunciados e não adianta negar. – Falei inflexível, no intuito de desencorajar qualquer mentira por parte deles.

     - Como assim bullying? Se estiver falando das aulas extras que damos a aqueles novatos faz parte do funcionamento da academia, não é? – Indagou Edward.

     - E ainda assim quando éramos novatos, nós aprendemos muito do mesmo jeito que estamos ensinando. – Completou John com um sorriso orgulhoso.

    Aquela para mim fora a gota d’água.

     - Ensinando?! – Comecei inflexível – Vocês estão transformando a vida dos garotos num inferno! Acho que todos aqui sabem do esforço diário que Academia exige de seus alunos e ainda fazem o “favor” de humilharem eles? Acima de tudo, quando se formarem, todos nesse prédio farão parte do exército de Pixia, o COESO e UNIDO exército de Pixia! – Esbravejei para um grupo assustado de alunos.

    Após alguns segundos nos quais tentei recuperar a compostura, suspirei fundo e continuei mais calmo.

     - Eu quero que entendam que este comportamento é completamente proibido nos meus domínios. E que se eu seguisse a regulamentação a risca, vocês todos estariam já expulsos sem chance de defesa só pelas provas apresentadas.

    Os rostos antes assustados agora ficaram pálidos. Nunca foram informados que aquilo que faziam com os novatos era considerado ilegal e sabiam que se fossem expulsos não teriam para onde ir. Eles haviam se dedicado de corpo e alma a Pixia.

     - Mas se vocês foram influenciados por este comportamento sem saber da ilegalidade do ato acho... Que não posso culpa-los. Mas pensem comigo. – E ao ver o gesto afirmativo dado pelos jovens continuei. – Se por algum acaso, no meio de uma batalha, restem somente dois Squadrons contra todo exército inimigo. Esses Squadrons poderiam ser os Toxic Fangs e os... “Old Yorks” (Nome do Squadron iniciante). A decisão lógica seria chamar reforços, mas claro que estes não iriam chegar imediatamente. Então vocês teriam que lutar lado a lado, juntos, cuja vida dependeria dos esforços de ambos.

    Todos acenavam afirmativamente.

    - Bem, não imagino como isso iria acontecer se vocês tivessem um histórico de brigas e conflitos. Aqui, nós somos irmãos de guerra, cujo sangue é partilhado entre todos nós e o coração das nossas forças é justamente a união e coesão, o que nos faz os melhores dentre os melhores.

    Quando, Luke, que possuía o pensamento mais rápido dentre todos da equipe entendeu o significado de minhas palavras, ele baixou a cabeça e curvou os ombros, envergonhado.

    E logo, todos entenderam o quão errado estavam e se prostraram de joelhos, anunciando: - Nos perdoe por nossas ações, senhor!

    De volta ao presente:

    Bem – Comecei – Posso dizer que iremos treinar – Falei dando ênfase ao “iremos”.

    Então também o senhor irá treina conosco senhor, mas qual a necessidade? – Perguntou Luke.

     - Treino não se aplica somente aos iniciantes. São os mais qualificados que mais precisam treinar, e atingir o ápice de suas habilidades...

     - Então significa que nós somos? – Perguntou o gigante calado com uma breve faixa de esperança.

     - Bem, vocês são um bando de moleques que precisarão treinar uma eternidade até que eu consiga achar algo de bom em vocês e que valha a pena esse meu tempo gasto. – Falei de modo rápido e duro.

    A expectativa do jovem num possível elogio caiu por terra, o que me fez sorrir discretamente. Sem levar em conta a discreta conversa do curioso grupo de jovens, a viagem permaneceu sem grandes adversidades e em menos de 20 minutos havíamos finalizado nosso percurso.

    Ali, no meio do remoto oceano pacífico, os Toxics avistaram com sobressalto a fantástica visão de uma base marinha pixiana. Esta era uma instalação munida dos mais novos recursos em tecnologia arquitetônica. Com sua parte acima da água revelando um hangar para pousos e um porto para as embarcações, ele mantinha os outros compartimentos submersos numa rede de salas flutuantes que se ligavam a outras por extensos corredores, que aos olhos de um passante submarino, pareceria uma confusa sequência de nós cegos.

    Por dentro, se vê a amplitude dos cômodos do lugar, que fora os dormitórios dos residentes e das salas necessárias para a vivência no lugar, também haviam várias salas destinadas a estudos avançados de química, física e eletrônica, considerado um valorizado espaço de desenvolvimento científico.

    Comportando também um centro de treinamento intensivo acoplado ao lugar, destinado a lapidação de habilidades raras para guerreiros natos, ou aprofundamento nas táticas de treinamento, somando a repetição ao extinto e criando assim uma unidade que vale por dez.

    Ao pousarmos no pequeno aeroporto, imediatamente tratei de apresentar o Squadron às localidades, visando iniciar uma reestruturação naquele grupo e evitando ao máximo ter de aplicar as medidas que deveriam ser tomadas, mas que eu queria que fossem evitadas.

     - Bem, realmente é um lugar incrível senhor, mas... O que nós estamos fazendo aqui?- Perguntou Eric, enquanto eu os guiava para um quarto onde guardariam os equipamentos e mochilas.

     - Acho que vocês estão aqui por que eu os desafio a completar um treinamento especial, onde vou averiguar a capacidade de vocês e decidir se realmente são uteis ao nosso corpo militar. Vocês estão na Marina-04.

    Marina-04 foi como aquela base ficou batizada em sua construção. Na sede em Pixia aquele lugar era conhecido como o “Recinto dos Poderosos”, local para onde eram destinados os alunos mais prodigiosos aos olhos experimentados dos professores. Pensar que estavam naquele lugar cujo nem os alunos e professores sabiam dizer se era real fez os jovens sentirem orgulho de terem lutado até o ponto de serem reconhecidos como dignos de um treinamento avançado.

     - Sendo que na verdade, eu pretendia larga-los numa filial russa onde seriam devidamente disciplinados, mas o combustível só deu para até aqui. – Comentei chateado.

    O orgulho dos jovens desapareceu rápido como quando tinha se instaurado, e pela segunda vez naquele dia escondi um sorriso daqueles garotos.

    Com os materiais apressadamente guardados no quarto escassamente mobiliado, eu os levei até a área emergida destinada aos treinos especializados. No centro, havia um quadrado branco pintado no chão, de 7 metros por sete, destinado aos treinos de lutas marciais.

     - Para quem não notou ainda, estamos na área de treina para autodefesa, um conceito básico e primário que quero trabalhar com vocês.

    E enquanto falava com os rapazes, ia tirando as minhas vestes pesadas, ficando somente com uma camiseta e calças pretas, após isso subi no “ringue”.

     - Eu mesmo - Falei caso não tivessem entendido.

    Mesmo não aparentando surpresa, havia uma relutância nos olhos dos Toxics, derivada do medo de serem envergonhados na frente dos parceiros. Estes nem mesmo tinham fé na capacidade de me derrotar.

     - Ok, vamos começar. Max... Acho que você pode ser o primeiro, certo?

    Neste momento, dúvidas ou receios não tomaram a mente do rapaz. Ele era esforçado demais para demonstrar fraqueza perante a pessoa que mais respeitava.

     - Como quiser. – Respondeu prontamente, enquanto ia tirando as roupas de treino usuais, ficando somente com as botas, calças largas marrons e uma camisa preta com um colete de mesma cor.

    Logo ao entrar no quadrado, notei sua postura física, sólida e pesada, possivelmente defensiva ou talvez arrasadoramente destruidora. As duas suposições podiam estar erradas, mas evidenciavam que ataques rápidos tinham chance de surtir efeito no rapaz. Enquanto isso ele me observava com os olhos estreitados, procurando ler minha postura ou antecipar meus movimentos, só que sem muito êxito, vista a minha aparente imobilidade.

     - Eric, gostaria que anunciasse o inicio do combate. Importa-se? – Perguntei

     - Claro que não senhor! Bem... Lutadores, em suas posições!

    Eu e Maxwell fomos cada um a uma aresta diferente do quadrado, olhando, intimidando e até sorrindo (no meu caso) para o oponente, eu completamente imóvel e ele, ansioso e instável.

     - Lutem! – Declarou o jovem Hansguard.

    A massiva criatura iniciou o combate como esperado, um interrupto soco frontal, que cortou o ar, visto que eu desviei para o lado e lancei um rápido soco ascendente, com a intenção de somente tirar o folego do rapaz.

    Ao se recompor, Max tentou uma estratégia parecida, só que desta vez lançando uma sequência de quatro golpes fortes, esquerda, direita, gancho ascendente e uma cotovelada descendente. Mas nisso eu com certa dificuldade consegui me esquivar agilmente, contra-atacando com uma rasteira rápida que o fez tropeçar para trás. E nesse tipo de jogo ia se desenvolvendo a luta, com o enorme rapaz tentando investidas violentas sendo logo desarmadas e transformadas em contragolpes meus, que iam cada vez mais frustrando Max.

    O que não se dava para perceber externamente masque eu notei foi que por trás daquela casca de autocontrole e mansidão, Maxwell escondia uma natureza inflamável que lhe despertava uma fúria que banhava seus golpes, bastante similar a “Ira do Skarniano”. Agora, com novo folego e raiva  visível no olhar, Maxwell avançou com uma sequência aparentemente interminável de socos, chutes, puxões, joelhadas, cotoveladas e cabeçadas, golpes sem uma previsão lógica, programados por uma ira cega. A partir dessa iniciativa revigorada tive de me concentrar mais ainda em desviar dos golpes e garantir que minha cabeça continuasse no lugar.

    Quando tudo rumava para uma possível derrota minha, começo perceber que algo havia mudado nos movimentos do garoto, que parecia mais cansado e lento. Decidindo utilizar aquele momento para revidar, passei para o modo ofensivo, afinal, nunca foi meu intuito realmente lutar contra o recruta, mas sim saber de suas capacidades.

    Firmando meu pé esquerdo na frente eu me desviei de uma direita certeira do menino, girando sobre meus pés e utilizando a rotação para dar um gancho reverso, que o acertou exatamente no alto da bochecha, longe dos nervos do queixo, mas ainda doloroso.

    E contrariando as aparências, com aquele simples movimento eu desacordei uma criatura de mais de 2 metros, ombros e braços enormes e com cara de mal.

    Quem notou primeiro o estado do colega foi Edward, esboçando surpresa no rosto e subindo ao ringue para dar assistência médica. Para todos os observadores a vitória de Maxwell parecia quase incontestável, eles enxergavam somente o aparente.

     - Como o senhor conseguiu?... – Perguntou sem conseguir completar, gesticulando na direção do amigo.

     - Maior parte do trabalho quem fez foi ele. – Respondi para o garoto – É bem provável que se eu tentasse um golpe como aquele no inicio da luta, eu quebrasse minha mão. Mas ele já estava se cansando, perdendo resistência e mais lento. Para um lutador inexperiente como os outros garotos que vocês devem ter enfrentado e vencido na Academia esse modo de fúria dele deve ter ido aterrador, não? – Perguntei me dirigindo a Eric, eu continha os registros dos testes do grupo até o momento.

     - Bem, sim. – Respondeu ele hesitante.

     - Mas para utilizar esse recurso de força há um certo custo. Sua energia recai consideravelmente, deixando ele mais enfraquecido após esse modo Berseker.

     - Até agora você foi o único... Que percebeu e contra-atacou minha tática – Falou Max, acordando aos poucos, - Estou surpreso...

     - Bem, se esses seus golpes realmente representassem perigo para mim, eu não estaria a muito tempo. – Falei sorrindo e estendendo minha mão e ajudando o “pequeno gigante” a se levantar, recebendo dele um tímido sorriso em troca.

     - E isso leva a algo que desejo treinar especificamente com você Maxwell. Essa sua explosão pode até ser útil, mas precisa ser aprimorada. Força, energia, velocidade e duração, são esses os pontos que eu exercitarei com você, ok?

    Tenho um leve aceno de cabeça como resposta.

    Ótimo! Então sendo assim, vamos... – Minha tentativa de “convida-los” para uma sessão de treino com armas foi interrompida por uma ligação do celular.

     - Só um segundo. – Falo aos jovens e atendo ao telefone. – Alô? Sim Mark. Estou no meio de um assunto aqui... Melhor impossível, e você?... Mas é claro... Órlon me chamou? Melhor ir então, obrigado pelo aviso.

    - Bem meus amigos me desculpem, mas tenho assuntos a tratar na capital e terei de deixa-los aqui. – Disse com um tom de desculpas na voz. – Irei deixa-los nas mãos de meus mais capazes oficiais a bordo dessa estação e garanto que eles não serão misericordiosos como eu. – Falei rindo.

    E ao falar isso, com máxima sincronia com a minha declaração, um caça aéreo executou pouso programado no Hangar. Assim, logo eu entro a bordo na nave e executo o programa de ignição rumo a Mak-Nah, capital da Nação.

     - Espero que seja só um casinho para resolver. – E mesmo desejando com todas as forças, sabia que para terem de chamar Guilhard, o Cavaleiro de Skarnia, havia de ser algo grave.


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