Uma semana.

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    Capítulo 2

    Segunda-feira, sempre uma obrigação...

    Violência

     - E então, o que houve? ? Perguntei sem perder tempo, assim que cheguei à pequena sala de estar, onde descansavam os professores da Academia Militar de Pixia. Localizada num amplo quarto que dava vista para as salas e pátio de treinos do lugar.

    Depois de relaxar na segunda-feira, correndo junto com os amigos e a noite revisando uma série de documentos, meu dia de descanso havia acabado. 

    A Academia foi uma das primeiras instituições fundadas na ascensão de Pixia, com o dever de treinar jovens para servirem ao Corpo Militar da nação. Ela tinha dois andares além do piso térreo, que era uma grande área aberta cujo piso era feito de grama sintética, proporcionando um tapete macio e quase natural, somado ao Teto que era de vidro, permitindo a passagem de luz solar. Ao longo do piso estavam organizados os equipamentos de treinos da musculatura, os equipamentos de treino como armas e espadas (réplicas é claro) e na parte oeste do espaço havia o refeitório. O segundo andar era o dormitório, corredores largos que corriam pelas paredes da construção e que levavam aos vários quartos. E no último piso foram construídas nossas instalações de ensino militar e didático (afinal estes jovens não podiam ser guerreiros da nação mais inteligente da Terra sem serem inteligentes).

    Só para terem uma ideia, ela era um prédio tão grande que chegava a ficar fora da Torre, prédio que abrigava quase tudo relacionado à guerra e administração no país.

    Como o Chefe dos Treinadores, minha função era efetuar uma constante checagem e averiguação de nossas tropas futuras, garantindo o nível estabelecido por mim e que os definiu como ?Exército da Terra?. Mas um chamado feito pelo Comitê de professores para uma reunião de última hora era de fato sinal de que algo fora do normal aconteceu.

    Como não havia um líder central no grupo para o qual jogar a responsabilidade, nenhum dos professores respondeu minha pergunta. Assim eu me dirigi ao professor que de acordo com os recrutas era o mais popular.

    - Wilfred, pode me dizer o que aconteceu? ? Perguntei.

    Wilfred era nos primórdios da fundação de Pixia, o Major responsável por reger as operações contra uma antiga aliança que era responsável pela destruição de Skarnia, chamado Os Profetas. Após a estabilização da nação, ele que já tinha uma idade avançada se aposentou. E assim teria permanecido se eu não o tivesse convidado para assumir o papel de professor na Academia. 

    O senhor olhou para mim com um semblante sério e tentou se explicar:- Eu espero que você me entenda Guihard, isso não aconteceu sobre minha vigília e não tem minha aprovação de jeito algum, sendo que...

    - Eu poderei entender melhor se você me contar logo o que aconteceu ? Falei com um tom calmo.

    - Claro... Bem, você sabe que sou responsável por cinco dos 10 Squadrons do último ano, certo? ? Começou ele reorganizando os pensamentos.

    Eu assenti. Squadron foi o nome dado para caracterizar as equipes de soldados que formavam as fileiras de guerra pixianas, geralmente grupos de cinco ou seis soldados que eram treinados em conjunto com outras equipes e eram sinônimos de singularidade e ainda assim da união que era transparecida pelo nosso exército. Ao longo de cinco anos eles aprendiam todas as habilidades táticas e militares que eram usadas em campo, além de realizarem no último ano de estudos uma participação curricular na Guarda Comunitária, um dos órgãos de defesa social da nação. 

    - Bem, um Squadron veterano que entrou no serviço semana passada, os ?Toxic Fangs? foram flagrados num beco praticando violência contra membros... Do primeiro ano da Academia. ? Falou ele com a expressão obviamente descontente.

    Ao ouvir isso, totalmente inexpressivo eu me sento na cadeira a minha frente e começo a alisar um cavanhaque que andei cultivando.

    - Bem, isso é realmente, um problema. A regra é que todos Squadrons que apresentarem membros com tendências violentas ou comportamento inadequado devem ser expulsos da Academia. E sinto dizer isso, mas não notar isso foi uma falha sua Wil. ? Falei num tom neutro. 

    A expressão dele se fechou como um dia nublado.

    - É verdade. Sinto pela falha comandante.

    O engraçado de viver como eu, era que independente com quem eu falava ou da situação, era que quase certo que me chamaria de ou Presidente ou Comandante. 

    - Mas também entendo que você não pode ser culpado pela ação de outros. Bem, o mais importante, me explique à situação na qual flagraram eles.

    - Fui informado por membros sêniores da Guarda que os Toxics não estavam emitindo resposta à ordem da troca de turnos. Um cidadão estava por passar numa viela que saia da Brightness street e ao entrar numa loja da rua acabou por flagrar todos os membros do Squadron cercando um grupo de jovens que foram identificados como o Squadron ?Rocket Hooks?, do primeiro ano. ? Falou o velho, suspirando como para retirar o peso dos ombros após se confessar. 

    Após as declarações do homem, refleti sobre a questão. Eu sabia que independente do que fosse decidido, este tratamento com os recrutas não poderia continuar. A carga que a Academia depositava sobre os alunos já era grande demais para ter esse desagradável acréscimo. Eu também teria de conferir o estado emocional dos recrutas para garantir que eles estavam aptos a continuar com a dura rotina e que não guardavam medos em relação a agressões. E por último a questão crucial: O que fazer com os Toxic Fangs? Parando meu raciocínio, notei que a pequena comitiva estava me observando de maneira inquisitiva e externei meus pensamentos. 

     - Bem, desçam e me mostrem o dormitório dessa turma. ? Falei já me levantando e me dirigindo a porta, acenando para que os professores tomassem a frente. 

    Descendo para o primeiro andar, os prós me guiaram até uma pequena ala do 11º corredor, onde estava presa a porta uma placa de pixeis com uma presa de cobra desenhada, cuja dela parecia pingar algo parecido com veneno. ?O emblema dos Toxic Fangs? pensei. 

    Utilizando uma chave mestra que acessava e decifrava todo código de trancas do lugar, o seleto grupo de ensino entrou sem cerimônias no quarto, recebendo olhares confusos dos membros da equipe. ?Mal sabem o que espera por eles nessa conversa? pensei de novo. 

    Abrindo caminho entre os professores eu parei em frente aos alunos, que ficaram imediatamente em posição de sentido ao ver o Supremo Comandante, vestido a rigor com meia armadura e exibindo as insígnias e condecorações, parado em frente a eles com uma expressão neutra, sem demonstrar raiva ou desgosto, o que na opinião do grupo era bem intrigante.

    Parando para analisar o quarto notei as cinco camas enfileiradas no canto esquerdo, um pequeno frigobar no chão à esquerda e uma estante baixa presa numa parede onde havia um pequeno forno elétrico e uma torneira para beber água. No canto direito havia uma grande mesa com formato de L aonde sabia que eram feitas as tarefas, as refeições, os reparos das armas e muito mais, com cinco cadeiras espalhadas ao longo dela. A direita perto da porta havia um armário para guardar todos os equipamentos, roupas e artigos pessoais do Squadron, que num local com uma disciplina rígida como aquele eram bem pouco luxuosos e bem mais funcionais, fechando assim a pequena definição do dormitório. Ah, e claro, um banheiro na parte superior central.

     - Bem, eu gostaria que vocês se retirassem, por favor, que eu gostaria de ter uma conversa particular com nossos jovens amigos aqui. ? Falei calmamente para os educadores, que notando a minha intenção logo concordaram e se retiraram.

    Assim, eu andei até uma das cadeiras e olhei inquisitivamente para o grupo:- Posso sentar? ? Perguntei educadamente, deixando os membros ainda mais apreensivos quanto o motivo de minha visita. 

     - Claro! Claro, senhor Guilhard, digo Presidente! Aliás, Comandante seria uma honra ter uma cadeira nossa sendo... Sentada por alguém como o senhor. ? Falou gaguejante um dos recrutas que até se levantou e bateu continência novamente.

    . - É, tenho certeza que seria... ? Falei com uma das sobrancelhas erguidas e logo me sentando.

    Apesar de não deixar transparecer, eu sorri internamente ao ver que minutos antes eles estavam possivelmente tranquilos e despreocupados, sem temer a possibilidade de terem sido descobertos. Já agora com a minha entrada aquele que obviamente era o líder gaguejava desastrosamente.

     - E... O que o traria aqui senhor? Não que o senhor nos deva satisfações! Afinal, o senhor é Guilhard! E com certeza, há um bom motivo, mas qual seria ele, se me permite saber? ? Perguntou numa sequência rápida e confusa. 

     - Bem, antes de responder qualquer coisa, gostaria que vocês se apresentassem.

    Todos os Toxics se entreolharam, sem saber ao certo o porquê daquilo, mas não hesitando em responder. 

    O que estava sentada na primeira cama e que havia disparado a sequência desorganizada de palavras logo tomou o seu papel como líder e se levantou. Ele era alto, razoavelmente musculoso, cabelos castanhos escuros e olhos azuis e acenou afirmativamente com a cabeça:- Claro senhor. Somos o Squadron ?Toxic Fangs?, Do último ano de estudos da Academia de Guerra. Meu nome é Eric Hansguard, treinado com Alpha e especialista no combate alternado e líder da equipe. ? Falou, agora com um tom centrado na voz. ?Como todo homem que se sente no comando? pensei. 

    Os outros membros, vendo seu líder tomar a responsabilidade na situação, também se mostraram mais aptos a falar. 

    Um rapaz de alto porte, magro e de aspecto atlético, mas não forte e com cabelos negros e olhos castanhos se levantou, sendo o outro a se identificar.

     - E eu sou Luke Philipson senhor. Sou o Delta da equipe, especialista em computação e resolutor de estratégias militares. Usuário de pistolas, revólveres e armas leves.

    ?A cabeça do grupo?.

    Outro já estava se levantado, sendo de porte médio, mas de aspecto forte e ágil. Ele tinha cabelos pretos até o pescoço. Olhos verdes e profundos, com um toque de diversão bem explicita.

     - Meu nome é John Southborn, Ômega da equipe, vivendo os últimos quatro anos treinando como especialista em espadas de folha larga e completamente aos seus serviços senhor. ? Falou dando uma piscada esperta. 

    ?Um espirito brincalhão?.

    Ao olhar para a penúltima cama, eu avistei um sujeito grande, deveras forte, com olhos azuis e cabelos loiros, completados com expressão séria.

     - E você seria? ? Perguntei, me dirigindo ao rapaz de grandes proporções, que respondeu:- Maxwell, sou Gama, uso armas pesadas... Isso é tudo. ? Completou, deixando claro que iria falar somente isso.  Eric ao ver o comportamento do amigo repreendeu-o pelo olhar, e quando o grandão o olhou intrigado, sussurrou sem som: ?Mais respeito da próxima vez?, recebendo do grandão um mero dar de ombros.

    ?Forte e calado?.

    E na última cama tinha um rapaz pequeno, magro e de óculos que ao notar meu olhar sobre ele, corou de vergonha e ajeitou os óculos de modo que evitasse o contato visual: - Bem... Eu sou Edward Collum. Sou Sigma, estudo técnicas de camuflagem e movimento invisível. Uso armas leves e uma faca de pixeis. Ahh, também treinei para pilotagem de naves e veículos pesados terrestres. ? Falou completando a descrição.

    ?O tímido esguio?

    pensei novamente, notando divertido que eu estava descrevendo uma equipe com membros genéricos.

     - Sim... Bem, agora é minha vez de se apresentar. Meu nome é Guilhard Yornakson, nasci no planeta Skarnia e tenho 27 anos. Atualmente sou o Presidente da nação de Pixia, Comandante supremo das forças pixianas e Chefe os treinadores da Academia... Ah, e também quero ter uma conversa com vocês. ? Acrescentei desnecessariamente.

     - Bem, sabemos que o senhor é Guilhard, mas o que é que o senhor gostaria falar com a gente? ? Perguntou Eric.

     - Bem, antes de tudo vamos moderar nos ?senhores?, certo? Nem mesmo tenho a idade e barba descente para tal. E segundo, o assunto que vou falar com vocês tem relação ao seu futuro na instituição.

    De um modo estranho, os rostos jovens a minha frente relaxaram mais ao ouvir minhas palavras. Eles achavam mais provável que eu tivesse vindo falar sobre o batalhão no qual eles iriam ser enviados ou parabeniza-los pelo bom andamento de seus treinamentos. Nunca passou pela cabeça deles que o comportamento deles em relação aos recrutas mais jovens tinha sido descoberto, visto que nenhum dos seus professores mencionou que a trama havia sido descoberta.

     - Bem, somos todos ouvidos. ? Falou John arriscando um sorriso.

     - Eu sei o que vocês andaram fazendo com  os recrutas do primeiro ano. ? Falei, mas sem o sorriso no rosto.


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