O Principado de Órion

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    Capítulos:

    Capítulo 3

    O jovem dentro do cristal

    Álcool, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    Nas ruínas do Templo, um grupo de arqueólogos se reunia em volta de uma cratera que acharam depois de levantar uma parte do teto desabado. Eles jogaram cordas e desceram até onde havia uma caverna. Num total de cinco, o mais jovem deles, Ian Mckenze, pegou um pequeno tubo do bolso da calça. Puxou uma trava e o objeto soltou uma bola de energia verde, voando até acima do teto da caverna. Com a luz esverdeada viram o lago enorme, bem em frente onde estavam. Um dos velhos assobiou alto.

    - Já imaginou se cairmos aí?

    - Isso por que alguém esqueceu de soltar as luzes antes de descermos.

    Gregor reclamou, fazendo Ian revirar os olhos. Então olhando para a água turva percebeu algo no fundo do lago. Franziu a testa e chegou mais perto.

    - Gregor, vem cá dar uma olhada nisso.

    - O que foi?

    O jovem de cabelos vermelhos se agachou ao seu lado.

    - Acho que tem alguma coisa no fundo.

    O outro apertou os olhos. Realmente dava pra ver algo e parecia gigante. Estalou os dedos e raios crepitavam na sua palma. Pegou uma bolinha de vidro da mochila e se levantando colocou os raios dentro dela e atirou para frente. A bolinha flutuou parada bem no centro do lago. Então estalou dedos de novo e várias duplicatas surgiram. Gregor abriu a mão fazendo com que todas ficassem ao redor do lago e lentamente abaixou o braço, mergulhando-as. Quando elas chegaram ao fundo, tudo o que tinha lá embaixo ficou visível. Os dois jovens ofegaram de espanto.

    - Você acha...

    - Claro que é.

    Irritado com a conversa enigmática dos dois, Thomas, o mais velho foi até eles reclamando.

    - O que estão fazendo, moleques? Viemos aqui para descobrir a fonte de magia misteriosa e não para bancar os...

    - Senhor, é melhor ver isso.

    Ian falou quase sem fôlego. Estranhando Thomas chegou mais perto parando ao lado do rapaz moreno e ao mirar para baixo, seus olhos cansados quase saltaram pra fora. Ele pegou os óculos e os limpou na camisa branca, mas ao colocá-los viu a mesma coisa.

    - Santo Deus.

    - Deus não tem nada haver com isso. - Gregor retrucou o olhando de lado e em seguida abriu um sorriso enorme - O Príncipe Jellal vai ficar orgulhoso quando souber.

    Então voltou a encarar o fundo do lago. Os outros dois arqueólogos se juntaram à eles e também ficaram chocados. Enterrado bem no fundo eles olhavam para um esqueleto de dez metros de dragão. O animal era tão grande que sua cauda quase dava a volta ao redor da parede de pedra. Ao lado dele um lacrima gigante. A fonte de magia que o Príncipe ordenou que sua equipe encontrasse. Era a descoberta mais importante desde.... Bem, desde a Lança Ten Commandments do Rei de Eramar, Cameron Haru.

    Seis meses depois.

    Lucy Heartfilia tinha um sonho. Era bem simples para ela, mas uma completa perda de tempo para seu pai. Queria se tornar a maga que sua ancestral foi. Certo, não tem nada de simples nisso. Mas não se importava. Desde pequenininha escutava as histórias a respeito da garota. Sua avó e sua mãe se juntavam na biblioteca enorme da mansão Heartfilia e mostravam pra ela o quadro de uma jovem linda, de longos cabelos loiros e olhos castanhos. As duas gostavam de compara-la com a garota do quadro e sempre antes de dormir, em noites frias, contavam a história da maga estelar.

    Há quatrocentos anos existiam magos de todos os tipos como hoje só que também havia os Dragon Slayers. Lucy, filha de um grande latifundiário praticava a magia dos espíritos estelares e era tão corajosa que se juntou na guerra contra os dragões. Ela tinha fugido de casa, porque não aguentava mais se esconder em porões e para fugir desse medo, saiu escondida munida apenas de três chaves douradas e uma mochila. Não se sabe muito como ela conseguiu chegar ao reino de Eramar, o Quartel General da resistência humana, mas que ao cruzar os portões sua vida inteira mudou.

    Entrou para uma guilda de magos, a Fairy Tail e a cada missão de suporte para os soldados que fazia ganhava experiência e mais chaves douradas. Lucy chegou ao ponto de possuir as 12 chaves do zodíaco, virando assim a maga mais poderosa das estrelas. Ela tinha uma habilidade ímpar. Podia invocar vários espíritos de uma vez e combinar seus ataques de tal forma que foi convocada para linha de frente.

    Quando novinha, era sempre nessa parte que perguntava para as duas o que foi que aconteceu com a maga e sempre sua mãe e avó sorriam divertidas dizendo que estava na hora de dormir. Lucy ficava brava e se emburrava, mas nem um beicinho e os olhos grandes implorando adiantava.

    Ao fazer treze anos foi quando soube o que aconteceu com a maga e de um modo nada bom. Numa festa na mansão seu pai irado com sua insistência na magia, a puxou para um canto do salão, atrás da dupla escadaria no hall. Ele estava bravo porque a todo minuto interrompia a conversa com seus sócios falando sobre chaves douradas, guildas e aventuras. Os senhores de idade não se incomodavam, achavam bonitinho, mas Jude não gostou e por isso, se curvou para recém adolescente sussurrando

    - Nunca mais faça isso.

    - Mas porque? Magia é uma coisa incrível, papai. Seus amigos também acham.

    Jude tinha apertado os dentes, estreitando os olhos.

    - Magia não é incrível. Ela tira a vida de jovens inconsequentes.

    - Porque diz isso?

    - Você sabe como termina a história da garota do quadro? – ela negou timidamente com a cabeça – Ela morreu. Na primeira vez que lutou num campo de batalha.

    - Mentira.

    - Não é. Usou tanta magia que se esgotou e foi morta. Na batalha decisiva contra os dragões.

    Lucy ofegava. Chocada. Seu pai a encarou friamente e voltou para a roda de amigos, a deixando sozinha naquele canto escondido da escadaria. Não, não podia ser. Sua história favorita não terminava assim. Tremendo, saiu disparada para o corredor, correndo as cegas até a biblioteca onde entrou e fechou as portas atrás de si. Andou até a lareira, onde acima ficava o retrato. Não pode ser verdade. Ela não podia ter morrido assim. Sua aventura não acabou desse jeito e encarando a garota, que sorria de um jeito simples, Lucy demorou a perceber que estava chorando. Tocou na bochecha vendo as lágrimas na palma. Porque chorava? Só estava em negação pelo fim da história, não é? Contudo, por algum motivo sentia dor e tristeza, tudo misturado em medo.

    - Você morreu mesmo na grande luta contra os dragões?

    Perguntou baixinho e só o silêncio como resposta. O crepitar da lareira chamou sua atenção e olhou para as chamas escarlates que queimavam as achas de madeira. Observou o fogo ficando mais calma e relaxando. Então, como se estivesse hipnotizada, uma imagem apareceu.

    Uma pessoa de costas para ela em chamas.

    Piscou atordoada, tropeçando nos próprios pés e caiu sentada no sofá. Lucy ofegava assustada. Não foi como tivesse imaginado a forma de uma pessoa no fogo. Ela viu literalmente alguém em pé, com chamas a cobrindo por inteiro que levantava suas roupas e cabelos. Seus olhos ainda estavam arregalados de susto. E o que mais a confundia era que conhecia essa pessoa. Foi nessa noite ao dormir que começou a sonhar com o rapaz das chamas.

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    Tinham passado quatro anos e ainda via a silhueta de um cara de costas para ela. Pegando fogo. Lucy sentia vergonha por isso. Nunca contou pra ninguém. Nem para sua mãe, ela não ia acreditar. E também não iria estragar sua grande chance. Depois de tanto tempo, conseguiu que a mandassem para Eramar. A cidade-sede do principado. Layla conseguiu com muito sacrificio convencer seu pai, sob o pretexto de cursar uma faculdade, mas na verdade iria entrar era numa guilda. A mesma que sua ancestral era membro. Não sabia como era na época, mas hoje para entrar tinha que estudar e ver se tinha aptidão para a magia. Desde a guerra, nenhuma guilda por decreto aceitava jovens que não fossem capazes de cuidar si. Muita gente morreu na época, principalmente da sua idade.

    Há um mês tinha se mudado para o dormitório feminino, a Fairy Hills e estava sonhando de novo com cara das chamas quando sacudiram seu ombro.

    - Lucy.

    - Hum.

    Não queria acordar, estava quase alcançando o braço dele.

    - Lucy, levanta.

    Não, só mais um pouco. Já podia sentir o calor das chamas na sua mão quando foi puxada pra trás e um segundo depois seu corpo inteiro doeu. Arregalou os olhos. Encarava o piso de madeira e seu nariz doía pra caramba. Se virou irritada para pessoa que acordou.

    - Levy, sua doida! Quase quebra meu nariz!

    A baixinha de cabelo azul sorriu pra ela. Na sua mão, a ponta do lençol que tinha puxado.

    - Anda. Tem uma coisa que você precisa ver.

    Levantando emburrada, Lucy tomou o lençol da amiga e dobrou, logo se virando pra arrumar a cama.

    - Se não for uma chave do zodiaco, pode ir embora.

    Atrás dela, a baixinha revirou os olhos e agarrou sua mão.

    - Vem logo, Lucy.

    - Hei!

    Levy a arrastou para fora do quarto e disparou pelo corredor. Para um corpo pequeno era bem rápida. Lucy estava apenas de short e camiseta (o que não tinha nada demais, só morava garotas ali), mas ainda sim estava irritada. Nem penteou o cabelo! Levy a levou direto para sala, onde várias garotas estavam em pé, outras sentadas no chão e no sofá, assistindo o que passava o globo de lacrima. O objeto ficava num pedestal e era grande o suficiente para que visse da porta.

    - O que é?

    Apontando com o queixo, ela soltou sua mão.

    - Olha só.

    Um jovem de cabelos vermelhos e um senhor de idade estavam num salão do museu de história draconiana. Eles eram entrevistados por um repórter loiro de óculos escuros na cabeça.

    - Então, vai ser liberado mesmo?

    O senhor acenou confirmando.

    - Sim. Acabou essa semana a montagem do esqueleto do dragão que encontramos numa caverna embaixo das ruínas do Templo.

    - E o senhor pode ao menos nos dar alguma informação?

    Lucy arregalou os olhos e se virou para Levy

    - Ele disse dragão?

    A baixinha cruzou os braços.

    - É. Não se lembra? Eu te falei que encontraram uma ossada bem debaixo daquele templo famoso - pos o dedo no queixo, pensando - parece que não acharam antes por que a entrada tava soterrada.

    Lucy levantou as sobrancelhas e prestou mais atenção.

    - Sabemos que pertence a época das guerras e que não morreu de modo natural.

    Todo mundo que estava na sala prendeu a respiração. O repórter parecia que estava quase gritando e o arqueólogo ruivo segurou um sorriso, assumindo a explicação.

    - Não diga que...

    - Exatamente. Ele foi derrotado por um Dragon Slayer.

    Todo mundo exclamou. Lucy piscou pasma e Levy soltou os braços.

    - Caramba!

    Apontando atrás de si, a Lacrima Vision focou no esqueleto pendurado acima no teto. Os dedos do arqueólogo apontavam para o externo do dragão.

    - Estão vendo? Aquela parte foi atravessada até a coluna. Enquanto montávamos o esqueleto ficamos perdidos, até que notamos que os dois ossos do externo foram partidos e uma vértebra estava destruída. Se olharem bem, a pata traseira direita também tem fraturas. Do fémur até a articulação. Ficou claro para nós que foi obra de um mago.

    O repórter loiro sacudiu os braços, como se estivesse dando socos.

    - COOOLLLL! Demais!!! E quanto ao Dragon Slayer? Acharam vestígios dele também?

    O senhor empurrou os óculos, cruzando as mãos nas costas.

    - Infelizmente não. O que é uma pena. É a primeira vez que temos uma prova concreta da história da Guerra e não foi encontrado o esqueleto do mago no lago onde achamos o do dragão.

    - Verona-san, mas vocês acharam outra coisa bem mais interessante, não é?

    O arqueólogo o olhou atravessado, fazendo o jovem quase dar um tapa na testa. Foi engraçado. Lucy se perguntou por que não cortaram quando percebeu que estavam ao vivo.

    - Sim, meu jovem. Como bem sabe, nosso príncipe ordenou que se investigasse a fonte de magia que o Conselho Era detectou. E o que encontramos ao lado da ossada foi isto.

    Eles andaram até ficar de frente para um lacrima gigante. Lucy arregalou mais olhos. Nunca viu um desse tamanho e de cor tão estranha. Era âmbar.

    - Que lacrima esquisito.

    Levy comentou atraindo sua atenção. Então voltou a olhar para o globo.

    - Uau! E de quanto é a magia contida no cristal?

    O senhor abriu a boca para reclamar e o jovem tomou a frente. As meninas riram.

    - Que entrevista cômica.

    - Shsss.

    - Segundo o Medidor de Poder Mágico, ultrapassa a escala de 10 000.

    O queixo do repórter caiu. E com certeza de todos os telespectadores.

    - O MPM não estava com defeito?

    O ruivo riu e andou até o lacrima que estava rodeado por cordas vermelhas presas naqueles pés de metal.

    - Ah, não. Fizemos várias medidas com diversos aparelhos de MPM e o número é o mesmo.

    - Demais!!!! E tem previsão de quando será extraído?

    Dessa vez foi o velho que tomou a conversa.

    - Não e nem será feito. Segundo o Conselho ficará exposto aqui no museu junto com o esqueleto do dragão, como artefato arqueológico e nada mais.

    O louro fez muxoxo, mas se voltou para a Lacrima Vision.

    - Bem pessoal, por aqui se encerra nossa entrevista. A exposição estará aberta a partir de hoje e será feito um coquetel para os convidados ilustres do evento, os Magos Santos. Jason, de Sorcerer .

    A imagem mudou e Lucy se virou para Levy.

    - Vamos?

    A baixinha a olhou de canto sorrindo.

    - Aonde?

    Lucy revirou os olhos.

    - Ao museu! Por favor, vai ser um máximo!

    Praticamente pulava. Não era segredo para a baixinha de cabelo azul que ela amava a história dos dragões. Levy por outro, simplesmente amava história, de qualquer tipo.

    - Tá bom, mas vamos quando todo mundo estiver dormindo, entendeu?

    - Um hum.

    Elas teriam que ir escondidas. A senhoria do dormitório não deixaria as duas irem e também pelo gostos das duas por livros ficaram com a fama de nerds, o que significava que as outras garotas estariam de olho nelas, se deixassem saber da escapulida que estavam planejando. Lucy não se importou. Ela iria ver um dragão! Mesmo que só fosse em osso.

    Do outro lado da cidade, um grupo de magos também assistiu a entrevista de um bar. Eles estavam num canto escuro e a notícia de um lacrima daquele tamanho brilhou nos olhos gananciosos do líder. O sujeito de capa e dente de ouro se curvou mais na mesa segurando o copo.

    - Lernar.

    - Senhor?

    Deu um sorriso.

    - Prepare o quatro-rodas. Vamos fazer uma visita ao museu está noite.

    O homem corpulento e de tatuagens sorriu de canto.

    - Sim, senhor.

    Hoje finalmente deixaria o Mestre contente.

    Quando o relogio mostrou que eram 01:00 da madrugada, Lucy se levantou da cama onde fingia que estava dormindo e atravessou o quarto sem fazer barulho. Quando segurou a maçaneta, olhou para a colega de quarto. Evergreen estava largada na cama resmungando sobre estatuas. Era uma das garotas que não gostavam dela. Lucy girou bem devagar a maçaneta espiando-a então abriu a porta, apenas uma brecha para passar e então fechou com um estalido.

    Mordeu o lábio, mas depois de um longo minuto esperando não escutou nada. Suspirou de alívio e correu descalça com as sapatilhas numa mão e a bolsa na outra. No hall do dormitório, Levy praticamente quicava roendo a unha. Chegou perto dela e a cutucou no ombro. A baixinha deu um pulo de susto chiando.

    - Lucy! Pelo amor de Deus, eu pensei que fosse a Oba-san.

    A garota sorriu passando a alça da bolsa pelo pescoço.

    - Ela tá dormindo. Vamos?

    Levy revirou olhos seguindo para a porta.

    - Tá. Deixei assim para ficar mais fácil a gente sair.

    A porta pesada de madeira estava aberta graças a um Solid Script de aço que dizia exatamente a palavra. Ele estava deitado no chão. Levy conseguiu que a palavra se achatasse o suficiente para cobrir com o tapete. Ninguém percebeu. Seria mais fácil pular uma janela exceto por um fato.

    - Impossível, a Oba-san instalou alarmes que disparam se uma de nós tentar abrir. Acredite, pegou a Cana mês passado quando ela voltava de uma noitada da guilda.

    Então saíram pela porta mesmo. Lucy se preocupou se não estavam deixando as outras desprotegidas barrando a entrada daquele jeito, mas logo relaxou. Elas não estavam sozinhas. Haviam duas estatuas de pedra encantadas que ficavam no portão. Elas criavam vida virando os dois arcanjos esculpidos e atacavam quem não morasse do dormitorio. Portanto, foi fácil pular as grades do portão de ferro (ou não tão fácil, já que o troço tinha 3 metros de altura) para logo correrem até um tapete que Levy escondeu na cerca viva que ladeava o muro.

    A baixinha estendia o tecido grosso no chão enquanto Lucy levantava a sobrancelha, duvidosa.

    - Tá falando sério? Vamos de tapete?

    Levy suspirou se sentando.

    - É, sua cética. Senta logo que não quero chegar tão tarde no museu.

    - E desde quando tapetes voam? É só um conto pra crianças.

    A outra a olhou atravessada se irritando, o que deu um frio na espinha de Lucy.

    - Esse tapete era da minha avó. E sim, funciona. Sobe logo senão vou te deixar aqui.

    - Tá, tá.

    Tratou de obedecer e ficou ao lado de Levy. A amiga estava sentada normal, então resolveu cruzar as pernas, incerta se devia ou não segurar no tecido. Levy olhou para baixo.

    - Para o museu draconiano.

    O tapete flutuou lentamente e quando estava a um metro do chão, arrancou para o céu quase fazendo a loira gritar. Lucy agarrou no susto o tecido fazendo a baixinha rir.

    - Não tem graça.

    - Tem sim. Tá fazendo uma careta do tipo "Vou morrer!"

    Ela apenas revirou os olhos enquanto a amiga soltou uma risada maior ainda. Levy tinha que dá um desconto, poxa. Era a primeira vez que viaja de tapete. As duas foram conversando quando Lucy se acostumou com a velocidade e logo já viram a cidade. Eramar. Era um lugar magnifico, suas catedrais e casas vitorianas impressionavam sempre quem na primeira vez os via. As pessoas passeavam pelas ruas de pedras e carruagens transitavam também. Bem mais a frente viram um prédio de blocos de pedras ladeado por uma cerca viva do tamanho do portão de barras negras. Levy mandou que o tapete descesse em frente a escadaria e pousaram suavemente. Transporte bacana. Lucy observou a amiga enrolar o tecido e esconder dentro de um vaso. Ela puxou as folhas da planta até encobri-lo e entraram no museu. Como sempre, ao chegar no hall, as duas jogaram a cabeça para trás admirando o afresco que cobria todo o teto. Retratava a Guerra e Lucy sempre se perguntava como o pintor conseguiu fazer isso de um realismo tão grande. Levy a puxou pela manga e as duas logo se misturaram na multidão.

    Elas se divertiram bebendo e comendo do bufê servido enquanto andavam pelos salões e depois de uma hora, Lucy procurou a galeria onde estava a ossada do dragão. Acharam logo que entraram no segundo andar subindo as lances de escadas. Que esquisito. Nessa parte, não tinha ninguém e o barulho da festa era abafado pelas paredes. Quando chegaram na entrada, pararam. Atravessado no arco tinha uma corda vermelha dizendo:

    - "Exposição Particular - Somente Convidados" Que droga é essa?

    Levy franziu a testa, pondo as mãos no quadril. Lucy por outro lado estava ansiosa demais. Passou uma perna pela corda alheia a sobrancelha levantada da amiga.

    - Deve ser aquilo que o repórter disse de manhã.

    - Ele falou que estaria em exposição, não que seria particular.

    Passou a outra perna entrando na galeria e andando devagar. Observando em volta do lugar vazio e enorme.

    - Somente para os Magos Santos. Você esqueceu essa parte.

    - Tá e me espera.

    Lucy fingiu que não ouviu. Procurava com os olhos pelo salão de piso liso e colunas de marmore o dragão que viu de manhã. Chegava já ao meio do lugar quando o viu. Pendurado no teto bem acima dela. Seus olhos arregalaram de assombro. Era mais assustador do que no globo.

    - Hei, Lucy! Não me ouviu te chamando?

    Levy parou ao seu lado e ofegou.

    - Minha nossa.

    - É.

    Elas inclinaram mais os pescoços andando para trás, para se ter uma boa visão da coisa. As asas tinham uma envergadura que cobria lado a lado o teto da galeria. O crânio com chifres que despontavam da testa e perto das orbitas eram pontudos e grossos. A mandibula estava escancarada e deslizando os olhos para o resto do esqueleto, Lucy sentiu um involuntário arrepio. As costelas abertas do peito e barriga, as patas com as garras levantadas e a cauda que estava curvada como se estivesse chicoteando.

    - Como uma pessoa conseguiu derrotar isso?

    Levy sussurrou. Olhou para ela e sem surpresa a viu assombrada. Também se sentia igual.

    - Um Matador de Dragões.

    - Sério. Ainda bem que nasci nessa época. Já pensou como era quando esses monstros existiam?

    Lucy olhou para o dragão e então um eco surdo encheu seus ouvidos. Todo o salão da galeria se esvanecendo em neblina. Diante dela, um urro medonho estremeceu o ar. As ondas de choque sacudiam seus ossos, paralisando seus pernas. A fera, em carne e osso a olhava ensandecida e feliz., as escamas avermelhadas brilhantes do calor absurdo do dragão. Um zunido alto cortou o vento e a cauda gigantesca e flamejante chicoteava, a acertando. O impacto do choque havia sido bloqueado por alguém, mas quem? Contudo, um dos ossos da cauda tinha se cravado na sua barriga.

    - Lucy. Hei, Lucy!

    Piscou atordoada. Levy estava de frente pra ela o olhando preocupada. Segurava seus braços a sacudindo pra que acordasse.

    - O que foi?

    Deu um sorriso nervoso, mas ela apenas franziu a testa.

    - Eu que pergunto. Você tá tremendo.

    Se soltando das mãos da amiga tentou disfarçar.

    - Não é nada, Levy. Eu só me impressio...

    Um barulho ecoou. Vindo do outro lado do arco que dava para a galeria adjacente.

    - Ouviu isso?

    - Ouvi.

    Foram andando até lá. Quando chegaram no arco, se encostaram e agacharam nas sombras. As jovens magas arregalaram os olhos. No centro do salão estava o lacrima e flutuando perto da parte mais escura tinha um homem com uma serra. O braço dele literalmente era uma serra. O barulho que ouviram dele cravando no cristal.

    - Estão roubando o lacrima.

    - Só uma parte dele.

    Lucy estreitou os olhos e virou o rosto para o outro lado do salão. Havia uma caixa enorme com pedaços âmbar nela. Outros dois caras com roupas escuras estavam vigiando. Levy seguiu o seu olhar.

    - Ou várias partes.

    - A gente tem que avisar pra alguém.

    - Mas quem? Esqueceu que viemos escondidas?

    Mordeu o lábio. É mesmo. Era claro que esses magos era de uma Dark Guild e elas eram simples magas em treinamento. Pra completar Lucy não trouxe uma chave sequer. Tinha apenas três que herdou da sua ancestral. O Touro, Câncer e Aquarius. As outras nove se perderam na guerra. De repente, ouviram um rangido. Se voltaram para o lacrima e o sujeito que o cortava passava a serra na face escurecida do cristal. Taparam as orelhas com as mãos e viram a pedra cair, sendo amparada por um sujeito corpulento. Ele o levou para a caixa como se fosse nada.

    - Meu Deus!

    O sujeito que cortava os pedaços ofegava. Todos olharam para o cristal e tanto Lucy e como a amiga arregalaram os olhos. No centro do lacrima... dentro dele... tinha uma pessoa!

    Ela pôs as duas mãos no piso se inclinando para ver melhor. Era um rapaz. Não devia ter nem vinte anos. Suas pernas e braços estavam dobrados um pouco e apontavam para todos os lados. Lucy teve um choque. Ele parecia estar se agitando. Os olhos estavam fechados e sua expressão arrependida. Porque?

    - Olha as roupas dele. Estão rasgadas.

    Levy ofegou assombrada. Lucy então reparou nelas e realmente estavam em trapos. A calça escura tinha rasgos nas pernas e somente um pé tinha uma bota. Seu olhar subiu e o que foi uma blusa estava somente fechada por um cinto as abas abertas mostrando o peito musculoso e das mangas, só restava uma e ainda por cima em tiras.

    - O que é aquilo no ombro direito dele?

    Levy apertou os olhos e Lucy ofegou de novo. Estavam longe do cristal, mas reconheceria aquela marca em qualquer lugar.

    - É a insignia da Fairy Tail.

    - O que?!

    A baixinha gritou e os magos que estavam roubando o lacrima se viraram para entrada. As duas se arrastaram para trás e levantaram para correr longe dali quando ao virarem, um cara de cabelo verde comprido e dente de ouro sorria debochado para elas.

    - Ora o que temos aqui?

    Arregalaram os olhos. Levy pensou rápido. Fechou a mão e esticou os dedos.

    - Solid Script. OIL!

    Uma enxurrada do líquido caiu quando ela moveu o braço em arco. O mago de cabelo verde se espantou. Agarrando sua mão, a baixinha correu com ela gritando.

    - SE JOGA!!!

    Lucy obedeceu atirou o corpo para o chão junto de Levy. As duas passaram deslizando pelo piso liso enquanto o homem de cabelo verde ainda estava chocado. Lucy olhou para trás e se espantou. Ele saltava de um jeito assombroso. Só havia feito três saltos e quase as alcançava.

    - Voltem aqui!

    - LEVY!

    A amiga olhou também e se virando, apoiou a mão no chão conseguindo ficar num joelho. Lucy ficou impressionada com a agilidade dela. Com as duas mãos naquela posição, cruzou os braços e os abriu.

    - SHADOW!

    Duas nuvens com o nome apareceram e se juntaram. Num giro de pulsos de Levy elas se torceram e cresceram acertando o mago. Ele gritou indignado quando elas pararam de escorregar. O oleo tinha acabado. Se levantaram ofegantes de susto.

    - Nossa, Levy. Você salvou a gente!

    - Não fica alegre, ele ainda pode nos pegar. Vamos.

    Elas se viraram correndo. Tinham parado no meio da galeria onde estava o esqueleto do dragão. Levy teve outra ideia e parou derrapando, movendo o braço em arco.

    - FIRE!

    O nome em fogo voou para o chão onde a baixinha apontava acertando o oleo. O liquido entrou em combustão. Lucy ficou de queixo caído.

    - Você é louca?

    - Quem liga? Assim ganhamos tempo até avisar alguém!

    Lucy revirou os olhos e voltaram a correr. A fumaça negra misturada com sombra cobriu toda a galeria adjacente. Estavam quase chegando ao arco quando Lucy sentiu seus cabelos serem agarrados. Soltou um grito atraindo atenção de Levy e amiga se virou espantada. Lucy foi puxada pelos cabelos para o alto e logo em seguida, um braço rodeou sua cintura.

    - Peguei uma.

    Um homem sussurrou.

    - LUCY!!!

    Olhou para amiga. Estava apavorada, mas estava mais preocupada com Levy.

    - VAI!!!

    A baixinha se angustiou, mas continuou a correr fugindo do salão. O homem que quase arranca seus cabelos saltou com ela de volta até o salão onde estava o lacrima. Quando atravessaram a cortina que Levy criou tossia engasgada pela fumaça e foi atirada para o chão. Caiu de qualquer jeito. Só não berrou por que estava ocupada tossindo. Apoiando as mãos no piso liso para se levantar, sentiu o tornozelo doer. Droga! Seus cabelos cobriam seu rosto e viu apenas três pares de botas na sua frente.

    - Era só uma, Mist?

    - Não, tinha outra. Uma baixinha. Ela conseguiu escapar, mas logo estaremos bem longe daqui.

    - Hei, loirinha!

    Uma parte do seu cabelo foi agarrado e puxado devagar para cima. Lucy gritou segurando o pulso do cara. Olhou para ele com lágrimas de dor, mas não as derramou. Os outros riram da sua reação e vendo, tentou tirar seu cabelo da mão do grosseiro. O cara corpulento e tatuado.

    - Me solta!!!

    - Olha, como é brava.

    Seu cabelo foi puxado com mais força. Ela gritou. Podia sentir o couro cabeludo rasgando.

    - Escuta aqui, loirinha. Quem mais viu a gente?

    Lucy ficou calada, então o brutamontes torceu seu cabelo fazendo-a dar um berro. Não aguentou, as lágrimas desceram enquanto ofegava.

    - Responde.

    - Ninguém!

    - Mesmo?

    - Eu já falei! Me solta!

    O cara riu puxando-a até ficar com o rosto perto do dela. Ele estreitou os olhos analisando e depois deu um sorriso.

    - Conheço seu rosto. É a herdeira Heartfilia, não é?

    Lucy arregalou os olhos. Não! O corpulento se virou para o sujeito com o braço de serra e o tal Mist que estavam perto do lacrima.

    - Escutem só. A loirinha é a herdeira Heartfilia!

    Sacudiu-a pelo cabelo arrancando mais um grito seu. Lucy não aguentava mais. Se sentia tão inutil sem uma chave. Mist saltou para perto enquanto o outro passava a serra pelo lacrima.

    - Mais que sorte. Cristal com poder mágico e uma herdeira rica. O mestre ficará com certeza satisfeito.

    Sorriu mostrando o dente de ouro. Lucy se agitou mais quando este pegou no seu queixo.

    - Não!

    - Quieta, garota! Senão dou um soco no seu queixo pelo o que amiguinha me fez. Hum?

    Ofegou. Ele não estava brincando. Atrás deles um pedaço de lacrima caiu num baque, Mist se irritou girando para trás.

    - Golen, mais cuidado!

    Golen não ouviu. Olhava assustado para o centro do cristal. O corpulento reparou e foi andando para perto arrastando Lucy.

    - O que foi?

    - Esse... Esse cara se mexeu.

    Todos olharam para o rapaz cristalizado. Lucy franziu as sobrancelhas enquanto os outros riam do companheiro.

    - Pare de asneiras. Esse moleque tá morto. Desde o tempo daquela coisa.

    Apontou com o queixo sobre o ombro e Lucy entendeu. Piscou assombrada, quase esquecida de que puxavam seu cabelo.

    - Foi ele.

    Seu sussurro atraiu a atenção do seu algoz que puxou de novo seu cabelo. Ela gritou agoniada.

    - Foi o que, loirinha?

    - Lernar!!!!

    Golen gritou.

    - O que?!

    Então se calou. Lucy arregalou os olhos tremendo. Os olhos do mago dentro do lacrima tremiam! Ele, ele tava vivo?! Absurdo! O cristal tinha quatrocentos anos! Como pôde sobreviver esse tempo todo?

    - Corta ele!

    Lernar gritou. Golen o olhou assustado, o irritando. Então Mist berrou também de onde estava empoleirado no cristal.

    - Faz logo antes que ele acorde!

    Lucy olhou de um para outro. Golen engoliu em seco e jogou a serra no cristal, onde passaria pela cintura do rapaz. Ela gritou chocada e então o aço tiniu. Uma rachadura brotou de onde a serra tocava e subiu. Um silencio pesou...

    E o braço direito do rapaz se mexeu.

    Todos ofegaram. A rachadura desceu e a perna esquerda do mago se moveu para frente. Aumentando os trincos no cristal.

    Mist saltou pra longe. Ele tremia em espasmos violentos.

    - GOLEN!!!

    O sujeito moveu o braço de serra novamente, mas parou quando o rapaz deu um soco. O impacto reverberou no cristal com um baque sonoro. Os trincos aumentando. Ele ainda continuava de olhos fechados e recuou o braço minimamente, a cena a arrepiando. Todos recuaram devagar assombrados e a perna esquerda do mago deu uma joelhada no cristal. Os baques estremecendo o lacrima e o trincando inteiro. Lucy ofegava. O punho direito deu mais um soco tão forte que atravessou cristal, a pedra caindo deslizando. O que mais a espantou era que o punho estava coberto por chamas. Escarlates. O lado esquerdo do rapaz se dobrou socando e chutando. O lacrima trincando e soltando pedaços. O lado direito se moveu para trás. O cotovelo e perna quebrando e soltando mais cristal. Os estrondos dos baques a arrepiavam em ondas fortes.

    - GOLEN!!!

    Mist e Lernar berraram aterrorizados. Lucy estava mais pálida e seus olhos estavam pregados no mago dentro do lacrima. Ele se agitou de novo, o cristal brilhando num clarão ofuscante e com um estrondo o cristal explodiu. Toda a parte de cima voou pelos ares caindo em pedaços. A onda de impacto estremeceu as paredes da galeria e o chão. Os magos tinham se jogado cobrindo o rosto e cabeça com os braços e ouvindo algo caindo Lucy levantou a cabeça. (o corpulento tinha soltado seu cabelo para se proteger). Ela assistiu incredula o rapaz agachado a poucos metros do lacrima. Ele tossia sufocado de cabeça baixa e se apoiava no joelho esquerdo enquanto a mão direita se espalmava no piso. Com o braço esticado ela viu claramente a insignia vermelha no ombro dele. Ele tossiu de novo e ofegou, se levantando devagar. O cabelo rosado e repicado caindo um pouco nos olhos enquanto ele olhava ao redor. Lucy prendeu a respiração. Estava tão concentrada na reação bem viva de alguém que devia estar morto que não notou. O corpo do mago estava coberto por chamas escarlates que já apagavam.

    Iguais as do rapaz dos seus sonhos.


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