Carmesim

Tempo estimado de leitura: 5 horas

    18
    Capítulos:

    Capítulo 3

    Tênue Atração

    Álcool, Estupro, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Mutilação, Nudez, Sexo, Violência

    Ningenkai, Templo da mestra Genkai

    BOTAN POV

    Kurama voltou para a sala depois de um tempo. Afinal, ele não podia demorar. Quanto à mim, continuei chorando em silencio até limpar o rosto e sair da saleta. Precisava de ar, então segui direto até o deque mal prestando atenção no corredor ao meu redor. A turma ia estranhar, mas tinha que ficar um tempo sozinha. Quando puxei a ultima porta, o vento noturno me atingiu quase soltando meus cabelos. Minha blusa farfalhava e consegui respirar melhor. Ao entrar no deque deixei a porta aberta e me sentei, enfiando as pernas entre as grades da mureta de madeira, segurando-as e apoiei minha testa nelas.

    O silencio é tão bom. Acalma a gente. O vento soprava para os lados fazendo cócegas na minha pele e aos poucos fui esquecendo. A lembrança da sensação quente e pegajosa do meu sangue, as garras me rasgando, o centro do meu ser violado com brutalidade. Tudo isso foi sumindo pouco a pouco. O som do vento balançando os galhos era relaxante e fechei os olhos para escutar melhor. Queria poder sempre sentir isso. Essa paz.

    – Você está estranha, mulher.

    Prendi o fôlego abrindo os olhos. Sem me mexer ouvi nitidamente a grama sendo esmagada. Os passos dele eram calmos e vinham na minha direção. Meus pensamentos ficaram frenéticos, junto ao meu coração. Uma desculpa. Eu tenho que dar uma desculpa, mas... Hiei não é fácil de enganar e além disso, o que está fazendo aqui?!

    – Kurama disse que você parecia cansada, mas pelo visto foi só uma mentira como o recado de Koenma.

    Mordi o lábio. Os passos pararam e a balaustrada se mexeu, rangendo leve. Tremendo observei a grama e pela luz pálida da lua duas sombras se formavam. Uma era minha, disforme e estranha por causa dessa mureta de madeira, a outra era de Hiei. Em pé ao meu lado encostado na balaustrada. Analisei sua sombra intrigada e curiosa (mesmo que estivesse tremendo de medo). A forma de seus braços esculpidos era clara e também a bainha de sua espada despontava para o outro lado. Ele tinha se livrado da capa? Além disso, parecia um pouco mais alto que antes. Isso me surpreendeu. Sempre o vi como um garoto malvado e problemático.

    Keiko diria que ele era a figura perfeita de bandido e verdade seja, ele era mesmo. Assassino em Makai pelo o que soube.

    – Você calada assim não é normal.

    Franzi o cenho estranhando e encarei meus os pés balançando a poucos centímetros da grama.

    – E você falando comigo também não.

    Por que eu tinha sussurrado? Acho que porque não tinha vontade de conversar. Principalmente com ele. Ficamos em silencio e meus tremores pararam. Não tinha motivos para ter medo dele, certo, eu tinha muitos motivos, mas apesar da sua indiferença até que Hiei ajudou bastante a turma no passado. Três anos é muito tempo, puxa vida... Já faz tudo isso. Depois do primeiro torneio, escutei do senhor Koenma no gabinete em Reikai a verdade para a turma ter “acabado” de um jeito tão bruto na época.

    Depois de umas semanas, acho que mal fez um mês ou dois Enma daioh recebeu um pedido dos três demônios mais poderosos de Makai para que Kurama, Yusuke e Hiei fossem para o mundo dos demônios, ficando presos lá e assim evitasse danos ao mundo dos homens. Suspirei cansada. Sempre achei estranho a patrulha de extermínio ter aberto o portal para Makai, enviando os três e no final não deu certo. A gente sempre se reunia, mesmo que cada um tenha seguido sua vida. Prova disso é o youkai ao meu lado. Ele foi o único que se afastou mais e permaneceu em Makai.

    – Tenho uma pergunta.

    Pisquei espantada com a quebra de silencio. E voltei a encarar a grama

    – Fala.

    – Por que sua energia espiritual está baixa?

    Congelei. O que é que eu digo? Ninguém nunca me perguntou diretamente, nem Kurama ou Yusuke. Yukina jamais me perguntaria e ela vive o tempo todo comigo. No silencio tenso senti minha pele arder e prendi o fôlego. Ele esta me encarando, não tinha coragem de enfrentar.

    – Bom, eu.. eu...

    Droga, isso não está dando certo. Porem antes que dissesse algo...

    – Minta se quiser, mas não vai me enganar. Sua reiki agora é muito diferente de quinze dias atrás. Koenma não te dispensou do cargo de shinigami por opção. Você foi banida.

    Chocada levantei o rosto das grades de madeira e olhei para ele. Hiei me encarava com uma frieza que borbulhou algo dentro de mim. Era... Era uma sensação de raiva, ofensa, mas acima de tudo traída. Quem era ele pra me julgar? Estremecendo irritada tirei as pernas na mureta e me levantei. Por causa da altura do deque fiquei mais alta que ele que estava no chão, porem ainda me olhava com desprezo. Isso sinceramente me estressou.

    – Escuta aqui moleque, minha vida não é da sua conta!

    Ele estreitou o olhar e quase riu. Cínico!

    – Dessa eu não sabia. – se virou mais para mim, o sarcasmo enchendo seu olhar – Sempre fica nervosa quando te dizem a verdade?

    Estremeci de raiva. Durante todos esses dias procurei achar um motivo porque ele me abandonou naquela fortaleza, porque não me avisou que sairia sem hora pra voltar. Eu confiei nele e paguei muito caro. Hiei não tinha direito nenhum de me dizer essas coisas. Nem era meu amigo.

    – Então mulher idiota, quem foi o sortudo que tirou sua virgindade?

    Meu coração parou. Junto ao jorro gelado por dentro de mim quando empalideci outra vez. Os olhos carmesins me fitaram mais debochados, com prazer em ver minha reação. Antes que chorasse ou gritasse alguma coisa meu corpo se moveu. Levantei o braço, balançando a mão aberta para o rosto dele e meu pulso foi agarrado com força. Me segurando. Como me senti impotente. Nem um tapa posso dar nele!

    – Me solta!

    Puxei o braço e senti os dedos calejados me segurarem mais firme. Hiei me encarava numa raiva contida e aquele medo apareceu. Ele era muito mais forte do que eu, mais rápido. Antes que notasse ele sumiu e meu braço doeu um átimo de tempo.

    – Me esbofetear... Você tem coragem.

    O que?! Virei o rosto para a esquerda e vi a sombra dele diante de mim. Yukina e eu não penduramos as lanternas e estava um breu aqui, mesmo com o luar. Os olhos dele brilhavam em vermelho. Isso me assustou mais. Fazia meu estômago se revirar vazio. Dando um passo ele forçou meu braço para baixo e recuei outro, sibilando de dor. Estava arquejando, estremecendo de medo.

    – Para com isso, ta me machucando.

    – E você me daria um tapa, estamos quites.

    Puxei o braço com mais força e ele girou meu pulso, um dedo apertando entre ossos. Meus olhos lacrimaram com a dor. O vento soprou nas minhas costas, jogando meu cabelo no rosto e puxei o braço outra vez, conseguindo me soltar, mas perdi o equilíbrio e acabei caindo sentada no chão. Engolindo o choro, segurei o pulso contra o peito e levantei o olhar. Apesar de tudo, não queria demonstrar mais o quanto era fraca. No entanto, arfei surpresa com que vi.

    Estático Hiei me olhava chocado. Sua expressão na luz fraca da porta aberta era incredulidade e... Outra coisa. Parecia algo bom. Já tinha visto essa forma de olhar em alguém, mas era estranho Hiei ter um olhar assim, ainda mais pra mim. O youkai do fogo estava paralisado e pude ver o quanto tinha mudado. Não parecia mais um garoto, era um rapaz. As mesmas roupas negras e o braço direito enfaixado eram iguais, mas mesmo assim... Por que Hiei não se mexe? Parecia que tinha congelado.

    – Botan! Você tá aí?

    – Deixa eles Keiko.

    – Eu tenho certeza que ouvi a voz dela por aqui.

    Foi automático. Piscando confuso ele virou o rosto para a porta aberta e sumiu, me deixando sozinha. Instantes depois, Keiko entrou no deque junto com Yusuke. Ela olhava para os lados e rápido me levantei puxando a manga direita até cobrir o pulso. Sinto que estava vermelho. Olhando para cá ela finalmente me viu e suspirou aliviada. Isso me confundiu.

    – Botan, que bom. Achei que tinha acontecido alguma coisa.

    Pisquei confusa quando ela me alcançou. Yusuke revirou os olhos vindo atrás.

    – Eu disse que ela tava bem. Viu? Sem um arranhão.

    – Eu não confio nele, Yusuke.

    – De quem estão falando?

    Essa conversa estava muito estranha pra mim. Sorrindo travesso, Yusuke me olhou divertido e malicioso. Meu rosto queimou de vergonha e surpresa. Hiei!

    – Ninguém não Botan. Ninguém. Vem Keiko.

    – Mas Yusuke!

    Segurando a mão dela, ele a arrastou de volta para dentro do casa e me apoiei na parede, soltando o ar. Devagar espalmei as bochechas, sentindo meu rosto ainda quente e ouvia meu pulso acelerado.

    – Mas... O que aconteceu aqui?

    BOTAN POF

    HIEI POV

    Era o que eu queria saber.

    Agachado num galho, observava a garota ainda encostada na parede. O coração dela batia rápido, irregular e diferente de antes. Não é a aceleração num reflexo de pânico. Havia diferenças para alguém com audição aguçada como a minha. Youkais não tem um coração. Um núcleo funcionava no lugar e não bombeava nosso sangue irrigando pelo corpo como eles. No entanto, me sentia extremamente quente observando de longe essa mulher. Se afastando da parede ela caminhou direto ao portal aberto e cravei os dedos na madeira, quebrando ao me segurar. Cerrava os dentes, sibilando de tanta raiva.

    – Maldita...

    Essa fêmea fraca me atordoou com seu cheiro. Eu nunca senti nada igual. Era doce e cremoso. Como aquele creme gelado e fez minha boca salivar. Quase sentia o gosto. Rosnei possesso e fechei o punho com força, me segurando para não socar o tronco. O barulho alertaria todos e não estou afim de ouvir as piadas de Yusuke e Kurama. Eles foram os únicos que perceberam que me incomodei com o comportamento estranho da onna.

    Ela mal me viu e quase desmaiou. Sua pouca energia praticamente apagou. Em outra ocasião teria ignorado, mas aqueles sonhos me perturbaram e quando voltamos para ningenkai finalmente entendi o por que. Há duas semanas, eu havia ido caçar uns desertores de Mukuro. Ela me deu essa ordem quando saí do seu escritório deixando a onna sozinha lá. Estava tão enfurecido pela história de Yukina e Kuwabara que havia me esquecido dela. Cumpri a maldita ordem e corri para esse mundo. Quando voltei para buscá-la ela não estava mais lá, Mukuro não sabia dela e simplesmente deixei como estava. O Torneio começaria dali a alguns dias, então era bom que estivesse longe.

    Aos poucos relaxei o punho e continuei arfando até me acalmar. Essa garota estava estranha. Não era mais a boba alegre de antes. Sentando no galho procurei pensar nisso. Ninguém se incomodaria com minha ausência no ‘jantar’, mesmo não devorando humanos como outros youkais, sua comida era ainda estranha pra mim. Ou talvez seja porque as cozinheiras não sabiam cozinhar. Não importa. Me concentrei nos fatos relacionados a garota.

    Ela estava mudada e ainda perdeu a castidade. Estreitei o olhar com a onda de desprezo. Achei que ela fosse mais inteligente e se reservasse. Em todos os mundos as fêmeas não têm mais respeito pelo próprio corpo. A prova é minha superior, que agora desfila com roupas marcantes atiçando a luxúria dos seus homens. Nenhum se atreve a nada porque morreria num instante. Só os consortes podem se deitar com ela e pelo o que estou passando, não me admira ter poucos. Ela esgota qualquer um.

    Mas a onna... Ela não é assim. Nunca a vi se exibindo, cortejando esses humanos ou outros que tenha sabido. Quem será então o homem para quem ela se entregou? E a troco de que? Ela perdeu tudo. Sua posição no Reikai, grande soma de seu poder. Até o canalha a abandonou. Pelo o que sei é costume humano quando se deflora uma virgem assumir compromisso. Kuwabara só esta vivo por causa disso. Yusuke e Kurama afirmaram enquanto me impediam de esquartejar o idiota.

    Quem então foi esse sujeito? Queria saber, eu queria muito saber...

    Pelo estado dela, ele foi um animal. Eu consigo ver e creio que somente eu entendi isso. Nem Kurama notou. Ela escondia bem seu estado. Essa foi a principal razão porque a procurei nessa casa. Nunca falamos muito um com outro e eu sinceramente não tenho tato com mulheres. As provas disso são minha irmã e Mukuro. A primeira, que na única conversa que tivemos a mandei se virar com seus problemas invés de contar comigo (claro que não disse que sou seu irmão) e a segunda, que há três anos quando tentei ajuda-la me deu um soco quase me estripando.

    Eu não sou delicado com palavras como Kurama e sinceramente, estava irritado com a onna por ter se entregado à um canalha. Ela só perdeu e ainda continua sofrendo. Na raiva pelo quase tapa me esqueci de insistir quem era o sujeito. Pelo ao menos queria o nome e então daria um tratamento especial até ele implorar pra morrer. Mas pelo visto vai demorar, com certeza porque machuquei seu pulso e ela não confia em mim.

    Inferno.

    HIEI POF


    Somente usuários cadastrados podem comentar! Clique aqui para cadastrar-se agora mesmo!