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Rapidamente eu perfurei com a unha minha própria pele e ao primeiro sinal de contato do ar com meu sangue tanto Plata como Nahuel estavam de pé, alertas.
- Impressionante. – comentou a loira ainda parada no mesmo lugar.
Sua voz era sutilmente grave, e tinha um tom displicente mesmo parada ali sozinha enquanto o gelo dançava sob o vento que levantava seus cabelos loiros, ela vestia uma jaqueta jeans com pêlos na gola e uma calça negra. Os olhos azuis nos encaravam estudando enquanto um meio sorriso continuava pousado em sua boca.
Eu quase me chutei por não ter reparado naquela noite que ela não era humana, seu cheiro era diferente de todos os que eu já tinha sentido tanto que não saberia definir o que ela era. Agora eu tinha conhecimento que muitas criaturas e seres viviam no mesmo mundo que eu, Nahuel e Plata até tinham me apresentado alguns deles durante aquele tempo de perseguição a Alistair.
Eu podia também sentir um forte odor de álcool vindo dela, era estranho como os cheiros pareciam se mesclar.
- Obrigada. – falei por meus companheiros – Você está aqui por quem?
Ela piscou pra mim, perdendo temporariamente o sorriso. Então esfregou um dos braços como para se confortar.
- Alistair é óbvio. – declarou finalmente.
Eu não pude deixar de medi-la com novos olhos. O que ela estava fazendo trabalhando para aquele vampiro remelento e covarde? Bom, pelo menos era essa a imagem que eu tinha dele.
- Ei, não me olhe assim. – ela soltou em minha direção.
Eu suspirei.
- Ok desculpe. Você pode, por favor, esperar até nos arrumarmos? – declarei enquanto me levantava e espreguiçava.
- Tudo bem. – ela disse mais descontraída, e então retirou uma garrafinha de metal de dentro da jaqueta ingerindo muito naturalmente seu conteúdo.
Arrumamos-nos rapidamente e mesmo antes de estar pronta Nahuel e Plata já me ladeavam.
- Você primeiro. – Nahuel declarou, ele estava estranhamente sério.
Perdi um segundo admirando seu perfil duro enquanto a mulher penetrava a mata com o fim de nos guiar.
- Anhangá... Assim vou achar que está admirada. – disse enquanto me olhava com o canto dos olhos.
Eu e Plata bufamos em sincronia antes de seguirmos pelo caminho deixando-o para trás.
“Arrogante de merda...”.
Enquanto andava eu rocei disfarçadamente em Plata mostrando as imagens do que tinha acontecido entre mim e aquela mulher há meses atrás. Já havíamos feito essa troca diversas vezes de forma que ela sequer perdeu o passo enquanto era cegada pelas memórias.
Eles insistiram em treinar para momentos como esse em que informações teriam de ser passadas sem palavras. Eu me sentia agradecida pela confiança que depositavam em mim, deixando-me penetrar suas mentes o suficiente para me familiarizar, já que estava invadindo suas privacidades. Eu podia sentir pelo sangue deles preso dentro de mim que não ficavam totalmente confortáveis.
Nahuel percebeu o que se passava e tocou a base de minha nuca para eu transmitir para ele a memória. Antes mesmo de ele me tocar eu já tinha trincado os dentes, mas não adiantou nada e como sempre acontecia, estremeci. O que fazia eu me sentir uma merda e enraivecida, obrigada por perguntar.
- Qual o seu nome? – Nahuel questionou um milésimo de segundo depois das imagens deixarem-no.
A loira baixinha fez um som estranho de resmungo com algo animalesco.
- Por que você quer saber? Deus sabe que eu não dou a mínima para como você se chama.
Senti-o endurecer mesmo caminhando passos a sua frente.
- Estava apenas sendo curioso, pensei que seria ofensivo trata-la por algo como On Rougit ou...
Mas Nahuel não teve tempo de nomear novamente a mulher por que esta soltou um rosnado tão assustador que fez meus cabelos da nuca ficarem em pé. Ela tinha se agachado ainda de costas para nós e por um momento pensei ter visto seus cabelos terem um reflexo avermelhado, mas assim que pisquei havia passado. Nós tínhamos congelado no lugar, captei um sinal de Plata para Nahuel, mas ele simplesmente chacoalhou a cabeça negando qualquer coisa.
- Sabe o que sou... Que maravilha... – ela praticamente grunhiu enquanto levava novamente a garrafinha à boca, tomando longos goles do que eu agora tinha certeza ser algum tipo de bebida muito forte.
Enquanto ela se levantava massageando o pescoço senti a tensão crescer enormemente, sem entender nada do que estava acontecendo.
Foi aí que ela se virou. Seu rosto estava completamente transformado: seu nariz parecia ter subido dando espaço para a boca que cobria mais da metade de seu rosto, os dentes pontiagudos ainda dentro da boca gigantesca que parecia sorrir com a saliva começando a escorrer pelo canto direito. Os olhos também cresceram e cobriam o que antes era sua testa, grandes e azuis cintilantes. Toda a face estava coberta de pêlos vermelhos.
O choque me bateu e imediatamente comecei a suar.
- Naauumm brrrrrrrrrinquuee toommm aaahhh peeeeessttaaaaaaaa. – aquilo emitiu um tipo de voz que não pertencia a algo que devesse falar.
- O que ela disse? – perguntou Nahuel, que parecia estar se divertindo.
Plata coçou a sobrancelha visivelmente furiosa.
- Huuuaaar, huuuaaar, hhhhuuuuuaaaarrr... – ela soltou.
Eu estava hipnotizada pela criatura que se chacoalhava com os olhos estalados, praticamente lagoas azuis nos encarando. Então diante dos meus olhos seu rosto voltou ao normal, se encaixando, tornando-se pele novamente.
Ela estava rindo.
Ainda ficou rindo por um tempo em que tentei parar de ofegar como se tivesse corrido uma maratona.
- Eu disse: não brinque com a besta! – ela conseguiu falar enquanto limpava uma lágrima que escorria de seu olho direito, de tanto rir eu acho.
- Ahhh! – fez o imbecil, enquanto batia teatralmente com a mão na perna.
- Bom... – a mulher respirou ainda soltando risadinhas – Eu não ria assim há algum tempo, então vou ser boazinha te respondendo sua pergunta mal-educada: meu nome é Diana.
Nahuel se inclinou como se estivesse sendo apresentado a alguma rainha
- Sinto por minha falta de modos, mademoiselle Diana. Sou Nahuel, esta é minha irmã Plata e acho que você já conhece nossa querida Dara...
Ele já tinha voltado à postura normal e agora realmente sorrindo me encarava. Seus olhos claramente avaliando todos os sinais do horror que eu tinha sentido há segundos atrás. Fechei a cara para ele.
- Ah sim. Eu conheci. – Diana respondeu também me encarando – O bicho feio te assustou foi, garotinha?
Eu senti algo subir abrasador pelo meu peito, quente como fogo enquanto dominava todos os meus membros e meu cérebro. A fúria tomou o lugar de qualquer medo e vergonha que pudesse ter sentido apesar de ouvir claramente a gargalhada escandalosa de Nahuel ao longe.
Sabia que eu cheirava a medo, covardia. Sabia que eu era pequena, fraca e ainda não tinha a menor ideia de que tipo de besta essa mulher carregava dentro dela. Mas, sinceramente, naquele momento eu queria que se fodesse.
Quando uma pequena faca estava a centímetros de acertar a pele de Diana fui puxada do galho em que estava por Plata e caí estatelada no chão rugindo.
Eu havia jogado uma faca pequena apenas como distração na direção em que ela estava parada. Joguei mais várias em diversas direções, calculando o espaço de tempo que tinha para se movimentar e jogando-as para onde ela poderia ir para fugir da primeira faca. Então escalei uma árvore com a velocidade de minha corrida a fim de atacá-la por cima. No final todas as facas eram distração, eu era a arma.
A última faca faria Diana desviar-se justamente para baixo de onde eu estava. Droga tinha sido perfeito!
Um pesado silêncio reinou enquanto eu me levantava ainda furiosa. Nahuel jogou a última isca para longe e o barulho da arma batendo na neve me fez erguer os olhos, desafiante. Todos me encaravam e não pareciam felizes.
Enfim Diana soltou um suspiro quebrando o silêncio.
- Tudo bem. Vou desculpar isso por que entendo que eu tenha ofendido você. – disse, enquanto um musculo de seu pescoço saltava – E apenas por isso, entendeu?
- Faça o que quiser, não estou pedindo por nenhum perdão. – respondi no mesmo tom.
- Agora chega disso! – Plata cortou com a voz firme.
- Diana, por favor, apenas nos leve a Alistair antes de vocês se matarem, ok? – Nahuel pediu o tom brincalhão de volta, mas pude ver que não alcançava seus olhos.
Nós finalmente quebramos a troca de olhares e ela começou a caminhar na frente com o idiota que tinha provocado tudo aquilo ao lado dela. Plata apertou meu ombro enquanto eu passava a mão no rosto tentando voltar a respirar normalmente.
- Vamos. – ela incitou.
Eu sacudi a cabeça e comecei a seguir os dois com Plata ao meu lado, apenas pedaços de sua animada conversada chamando minha atenção.
Depois disso caminhamos até o sol começar a nascer e então finalmente Diana parou em frente a uma construção muito antiga e um pouco desmoronada parecida com um templo.
- Está abandonado. – ela nos disse – Alistair está lá dentro sozinho como vocês podem cheirar. Eu vou entrar com vocês e se ele pedir ficarei de fora.
Eu concordei com a cabeça e entramos no lugar.
O local era escuro com peças feitas em pedra quebradas pelo caminho, mas eu consegui enxergar uma figura magra sentada no fundo, perto de uma estátua maior e desgastada de Buda. O cheiro era uma mistura de ervas, poeira e chuva.
Quando paramos no meio do caminho percebi a figura estremecer antes de levantar e caminhar até nós, que estávamos abaixo de uma abertura no teto deixando a luz do dia nos acertar. Alistair era exatamente o mesmo, magro e alto com os cabelos negros escorrendo ao lado do rosto pálido e fino. Os olhos permanentemente assustados vagavam de mim para meus companheiros para depois retornarem ao meu rosto.
- Renesmee Cullen. – ele disse com a voz anasalada – A que devo o prazer?
Eu bufei irritada.
- Se sabia que era eu por que simplesmente não veio perguntar antes?
Ele tremeu enquanto pronunciava.
- Precaução, precaução é claro.
- Certo. – fiz mal-humorada, meeerda de tempo perdido. – você conhece Nahuel e Plata?
- Sim, sim. Os filhos de Joham. – aqui ele engoliu em seco.
- Bom, nós queremos saber sobre a história dos vampiros, e se possível sobre a origem dos Volturi. – fui direto ao ponto, já estava de saco cheio de esperar por respostas.
- Bem, bem... Isso é... Eu não estou certo se isso será possível.
- Por que não? – era Nahuel, e devo dizer que ele soou ameaçador até pra mim.
Diana automaticamente se colocou ao lado de Alistair.
- O que ele prometeu a você? – perguntei diretamente a ela.
- Avisar-me se Demetri vier atrás dos que restaram da minha espécie. – respondeu prontamente. A sinceridade dela depois do que tinha acontecido me surpreendeu.
- Que seria? – insisti entre curiosa e com raiva.
- Sou uma das últimas do que você deve conhecer por Filhos da Lua. – ela disse de forma dura.
Eu exalei. Um legítimo lobisomem, lobismulher. Sei lá.
Eu iria gostar se tivessem me avisado antes.
- Sei. Você acha que Alistair teria coragem de te mandar uma mensagem avisando sobre isso, arriscando ser pego? – discuti.
Ela deu de ombros.
- Ele prometeu. Além disso, eu disse a ele que se eu fosse morta meus amigos o perseguiriam até o inferno para se vingar.
Durante nosso diálogo Alistair simplesmente fez barulhos e tremeu diante de nós.
- Sabe Al., não fará nenhum mal se você nos contar. Aro não tem como ler nossa mente.
Ele olhou para mim espantado.
- E você também não precisa saber o que faremos com a informação. Se quiser eu posso apagar da sua memória que nos encontramos e ninguém poderá te acusar de nos ajudar.
Agora tanto Diana como Alistair me encaravam, senti Plata se mexer desconfortável ao meu lado esquerdo.
Deixa eu dizer uma coisa sobre esses meus dois companheiros de viagem: Plata sempre parecia mais irascível quando Nahuel ficava relaxado e vice-versa, como se competissem pelas responsabilidades. Eu sabia que Plata estava desconfortável por eu ter revelado o que podia fazer para completos estranhos, e de certa forma ela tinha razão.
- Espero que você preserve essa informação. – me dirigi a Diana.
Ela pareceu ofendida, mas era melhor avisar de qualquer forma.
- Eu saio ou não? – perguntou ela finalmente a Alistair.
O vampiro simplesmente me encarou se balançando lentamente. Senti-me incomodada, mas não desviei do olhar.
- Sim, sim. É melhor ir. Leve os dois com você. – ele disse fazendo um gesto de dispensa bem esnobe com a mão.
Nahuel rugiu do meu lado e eu juro que dei um saltinho de susto, provavelmente estava com os nervos à flor da pele.
- Nós não vamos deixá-la sozinha... – começou, e senti Plata se encurvar em posição de ataque como concordância.
Eu sacudi a cabeça.
- Não se preocupem, ele não me fará mal.
Encarei os olhos vinho do vampiro vários centímetros acima dos meus.
- Ele sabe que se algo acontecer comigo os Cullen vem pela carcaça dele.
Alistair ergueu uma sobrancelha, eu esperava que ele não tivesse nenhum poder oculto para detectar mentiras.
- Nem Carlisle poderia detê-los. – enfatizei, pressionando.
Ele esfregou as mãos como um rato.
- Claro, claro. Eu não faria... Podem ir. A menina ficará bem.
Os dois pareceram não ouvir e me voltei primeiro para Plata que assentiu se retirando, e depois para Nahuel. Ele desviou a vista para mim e sorriu maldosamente.
Hoje ele vestia uma camiseta branca que contrastava terrivelmente bem com a cor da sua pele, os cabelos negros e lisos estavam soltos, apenas com um leve trançado nas pontas, prendendo-os nas costas. Ele levantou a mão e passou levemente na minha cabeça, senti meu corpo estremecer pela lembrança de um toque semelhante de uma pessoa completamente diferente.
- Qualquer coisa grite Dara. – ele disse, com a voz grave arrastando.
- Sei, e o Batman aparece. – eu estava desconfortável – Vai logo!