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As pesadas e escuras nuvens no céu, a força do vento uivando através das arvores, a neblina densa opaca que impedia a visão por mais de 4 metros. Naquele sábado, parecia que o dia cooperava com o estado de ânimo da maioria da população, sombrio em todos os aspectos imagináveis.
A população havia sido informada dois dias depois do término da guerra, visto que a terrível descoberta só veio com a expulsão dos invasores que atacaram a capital. Respeitando a tradição que regia os costumes do morto, seu corpo não seria cuidado nem seus ferimentos limpos, sendo deste mesmo jeito enterrado. 75% da cidade haviam sido destruídos, com uma pequena exceção da zona residencial que foi defendida heroicamente dos ataques que haviam aniquilado as outras zonas.
O falecido na verdade era o último dos Skarnianos, filho de Yornak, Presidente e comandante supremo das forças pixianas, todas estes títulos sobre um só par de ombros.
Quando foi iniciada a investida a torre, a última resistência encontrada foi o “Cavaleiro de Skarnia”, com a armadura rachada e com incontáveis ranhuras, furos, buracos e partes faltando. Cortes e hematomas por todo o corpo e sua espada de folha larga em mãos, resistindo ousadamente até quando pode, esperando que os defensores sobreviventes montassem a resistência da zona residencial. Ao ver os darkanianos, seres vestidos de negro cuja compaixão não lhes era conhecida, que mataram muitos de suas colegas e ousavam tentar conquistar a SUA nação, ele não resistiu e se viu invadido por uma raiva irracional e louca, disparando initerruptamente e cortando aqueles seres odiosos enquanto estivessem ao alcance de sua espada. Ainda assim, ele teve energia suficiente gerar uma massiva explosão elétrica que fritou muitos dos que eram suficientemente idiotas para estar no caminho do Cavaleiro de Skarnia. Sem raciocinar, sem esperar, ele cortava em vertical, diagonal e horizontal tudo e todos sem ser atingido jamais. E acabou que neste processo de bloquear e contra-atacar, o supremo comandante das forças pixianas acabou sozinho com a 2ª leva de darkanianos invasores, conseguindo respirar um pouco mais aliviado.
E foi justamente este alívio que não o permitiu ouvir o som de algo chegando, algo muito perigoso... Que ia a sua direção
A 3ª equipe de invasão (desta vez artilheiros de elite) havia sido destinada a se reunir com a 2ª equipe e atacar o complexo residencial. Um batedor andava mais a frente pelas ruas até chegar numa rua de esquina para a praça central e da Torre e avistar uma figura diminuta em comparação ao edifício colossal o guardando, e imediatamente soube de quem se tratava. Pegando o seu rifle de precisão e apontando-o na direção do defensor, ele notou que ele usava uma armadura forte o suficiente para segurar o tiro de seu rifle, mas acabou achando um pequeno buraco próximo à localização do fígado. Decidindo que um tiro no fígado seria tão efetivo quanto no peito (mal sabia ele com estava certo) o batedor atirou.
Se o tiro fosse dirigido a um humano seria perigoso, de fato, mas num Skarniano o risco triplicava, pois nesta região estava localizado um órgão exclusivo dos seres da raça alienígena, chamado de eletro-bolsa, que no organismo Skarniano era responsável por transportar pelo corpo células eletrizadas, que permitiam a manipulação de descargas elétricas e sua geração. Caso este órgão frágil fosse destruído, toda a eletricidade gerada e contida na eletro-bolsa seria liberada, dando poderosos choques por dentro da pessoa e a matando dolorosamente.
Observando pelo visor da mira, o batedor enxergou o individuo ter um espasmo repentino, caindo no chão e se contorcendo em posições estranhas, até depois de meio minuto nessa situação parar estático no chão, morto. “Tudo limpo” reportou aos seus superiores ao voltar ao grupo principal e que ironia foi dizer isso sobre as ruas sujas de sangue. Após os defensores conseguiram se reorganizar e lançar o ataque final contra a 3ª equipe, eles se dedicaram a procurar pelos feridos e limpar os corpos e assim acabaram por encontrar o corpo do comandante, uma terrível visão para todos. Ao chamarem o oficial de primeiros socorros ele agiu seguindo os parâmetros médicos com perfeição, procurando por pulso, respiração e temperatura corpórea, mas nada podia ser feito, pois Guilhard jazia morto.
Dois dias depois, dezenas de milhares de pessoas saíram em comunhão da torre, um cortejo fúnebre que se seguiria o carro funerário até a entrada dos portões do vale memorial, uma reunião repleta de tristeza e comoção. Após a chegada ao vale, os portões foram fechados para uma cerimônia de enterro particular, na qual compareceram seus mais íntimos amigos, visto que Guilhard não tinha uma família.
Ao término da cerimônia foi anunciado que durante a próxima semana estaria liberado o túmulo do presidente para visitação e prestação de homenagens. Durante essa semana que se seguiu, vários chefes de estado compareceram para expressar os pêsames e também garantir firmações de acordos diplomáticos. Mark, antigo segundo comandante e agora primeiro comandante do exército assumiu o maior cargo militar da nação, procurando sempre basear suas ações no líder que jurou lealdade até a morte.
Gabriel Lucas retomou a presidência pela terceira vez a partir de um consenso popular, onde como em vezes anteriores ele fez quando o Cavaleiro de Skarnia viajava, sendo que desta vez seu mandato foi oficial e o cargo não voltaria mais as mãos do Skarniano. Um processo iniciado pelo ministro da cultura e aprovado fez com que fossem construídas estátuas em todas as cidades e condados da nação, retratando momentos históricos em que Guilhard lutou por Pixia, enquanto na capital Mak-Nah foi construído o Museu do Orgulho Nacional, comemorando os 11 anos de existência daquele país.
Todos estes eventos e homenagens não se deram por meras saudades ou inutilidades, pois este último sacrifício realizado pelo cavaleiro havia sido tão grande, a ponto de lhe tirar a vida, que suas ações e motivos puderam ser plenamente entendidos: Ele quis proteger o novo lar que lhe foi dado, sendo o maior exemplo de humanidade que a história poderia registrar mesmo este não sendo humano.
Mas todos estes agradecimentos seriam supérfluos, pois nada adiantava prestar agradecimentos a um morto...