Crônicas de um samurai desempregado

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    Capítulo 6

    Cheio de faixas, mas longe de ser uma múmia

    Cheio de faixas, mas longe de ser uma múmia

    - GIN-SAAAAANNNNN!!! COMO É QUE VOCÊ INTERROMPE A HISTÓRIA NO MEIO DA LUTA??

    - Por ordens superiores, Pattsuan.

    - Que negócio é esse de ?ordens superiores??

    - Esta fanfic não pode passar da média de mil a mil e quinhentas palavras por capítulo. Ordens da escritora.

    - Deixa isso de lado, Gin-san! Continua a luta! Você tava usando um esfregão contra uma espada de um velho! Como é que acabou?

    - Você venceu o velho, Gin-chan? ? Kagura perguntou, enquanto mascava outra tira de sukonbu. ? Continua de onde parou!

    - Tudo bem. ? eu cedi, enquanto tornava a me refestelar na cadeira e colocar os pés sobre a escrivaninha. ? Eu continuo, mas primeiro tenho que puxar um pouco mais pela memória...

    Certo... Onde eu parei mesmo? Ah, tá... O velho, que era o meu adversário, havia cortado o cabo do meu esfregão em dois.

    E eu pensei: ?Droga, me ferrei!?

    Agora sei que eu havia vencido o velhote na primeira vez porque ele havia sido surpreendido por mim. E desta vez, ele estava precavido. Diante da situação, eu ficava só me recriminando por ter sido tão descuidado após deixar os campos de batalha.

    Parecia que eu meio que havia perdido minhas habilidades de quando era o Shiroyasha. Bom, se eu tivesse alguma espada na hora, resolveria tudo bem rápido. O problema é que eu estava desarmado.

    O velho sorriu ante a minha situação nada favorável e, sem pensar duas vezes, partiu novamente pra cima de mim. Só restou me esquivar da espada a cada golpe.

    E eu achava que velhos eram lentos... Ele conseguiu fazer outro corte, no meu peito, danificando a minha roupa recém-comprada. Aquele corte ardia tanto quanto o do meu braço, ao mesmo tempo em que começava a escorrer sangue.

    Mesmo com a cara cheia de saquê, ele não fazia nem mesmo um ?golpe da espada bêbada?. Seus movimentos eram precisos e acertavam onde ele queria. E ele acertou mais um golpe de espada, bem na minha perna esquerda.

    - O que foi, descabelado? ? ele debochava. ? Já não aguenta mais?

    Na hora em que ele iria me atacar de novo, alguém jogou uma espada na minha direção. O velho veio pra cima de mim outra vez e, por reflexo, bloqueei o novo golpe, mesmo caído no chão.

    Com o pé direito, consegui afastar aquele ser decrépito de mim e me levantar, com a tal espada em punho. Não era lá essas coisas a tal espada, mas conseguiu me ajudar a me livrar de uma boa encrenca.

    Era uma espada de madeira. Uma simples espada de madeira. Mas eu a empunhei, disposto a acabar com toda aquela palhaçada.

    - Oe, velhote! ? chamei sua atenção. ? Vamos acabar logo com isso!

    - Não acredito... ? ele me respondeu, quase gargalhando. ? Ainda quer lutar? E com uma espada de madeira?

    - Algo contra?

    - Nenhuma objeção. Você vai perder do mesmo jeito...

    Ele partiu pra cima de mim mais uma vez. Só que dessa vez eu tinha com que me defender e voltei a bloquear mais um golpe do velhote. E, como eu queria acabar com aquilo de uma vez por todas ? já estava de saco cheio de tudo aquilo, e ainda por cima estava ferido ? resolvi dar um golpe certeiro.

    E a luta tinha um bom número de espectadores.

    Ele avançou sobre mim, quando tive a oportunidade de reagir. Consegui me esquivar da espada afiada e aproveitei que sua guarda estava baixa por conta do ataque. Fiz um movimento em que a espada moveu-se de baixo para cima, atingindo o queixo dele. Com o golpe, o velho foi jogado para trás e caiu desmaiado, devido à força que empreguei no golpe. Eu havia acertado uma senhora pancada com a parte de trás da espada.

    Não queria virar um ?matador de velhinhos?.

    Logo que acabei com o duelo, o aglomerado se desfez. Um grupo de pessoas arrastou o velhote pra bem longe e, desde aquele dia, nunca mais voltaram a aparecer no bar.

    *

    - Ai! Vai devagar aí! ? eu me queixei quando o meu braço recebia uma espécie de pomada caseira. ? Ainda tá ardendo muito!

    - Se você continuar reclamando desse jeito, eu paro de te ajudar, Gintoki!

    - Pra começar, nem te pedi ajuda, velhota! Aperta menos essas faixas!

    - Será que não tem jeito de você parar de reclamar por um segundo?

    - Não foi você que teve a sua roupa toda cortada por uma espada!

    - Mas, pelo o que sei, você comprou uma muda a mais!

    Fiquei calado. Eu ainda não sabia a razão que levou a velha Otose a fazer o que fazia até então. Eu achava que ela não estaria nem aí pra um cara como eu. Talvez eu nunca entendesse aquilo.

    Aquilo só me fazia sentir que a dívida que eu tinha com ela crescia mais e mais. Como eu retribuiria tudo? Até hoje eu não sei como pagar aquela velha. Só prometi a mim mesmo que a protegeria, desde que pedi aqueles manjus pela primeira vez. Era tudo o que eu tinha a oferecer.

    E ainda havia uma pergunta que havia dias que eu queria fazer.

    - Velha ? eu a chamei quando ela ia guardar a tal pomada.

    - Diga.

    - Como sabe que já fui um samurai de verdade?

    - Intuição.

    - Corta essa, velha! Esse papo furado de intuição não cola muito.

    - Já ouvi falar a respeito de um tal Shiroyasha, que lutou na guerra contra os Amanto. E a forma como segurou a vassoura aquele dia te denunciou, além da cor do seu cabelo.

    Eu sorri satisfeito. Então, essa era a tal ?intuição?? Certo, certo... Algumas coisas eu jamais entenderia.

    - Bom, estou indo lá para baixo. ­? ela disse ao dar-me as costas. ? Vou terminar de arrumar a bagunça.

    - Espera aí, velha!

    - O que você quer agora, Gintoki?

    - Me responda outra pergunta.

    - Isso virou interrogatório agora?

    - Só quero que responda outra pergunta, nada mais.

    - Que tipo de pergunta? Pare de fazer rodeios!

    - Quero saber por que você me acolheu.

    Essa era a pergunta que não queria calar em minha cabeça. Por que uma pessoa, em sã consciência, acolheria um andarilho estranho? Ainda mais um cara que ela sempre considerou um grande folgado como eu!

    - Por que eu te acolhi? ? ela deu mais um trago no seu cigarro e soltou vagarosamente a fumaça. ? Sinceramente, nem sei ao certo.

    Nem insisti em arrancar uma resposta melhor da velha. Sabia que ela não iria se abrir tão facilmente a um cara ainda quase desconhecido.

    Era melhor deixar isso pra depois.

    Ela desceu, enquanto eu olhava para aquela estranha espada de madeira, com a inscrição ?Lago Toya?. Mas até que gostei dela, só precisava praticar um pouco pra usá-la melhor.

    Deitei-me no futon e passei a fitar o teto. O vazio do quarto começava a me incomodar e senti que precisaria ter mais algo no quarto além de um futon e duas mudas de roupa. E, com o dinheiro que eu ganharia no bar da velha, iria demorar muito pra conseguir comprar mais roupas, um pijama e pelo menos um armário.

    Conclusão: Eu precisava ganhar algum dinheiro a mais e tinha que dar um jeito de ganhá-lo logo.


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