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Depois daquilo comemos algo na fogueira, todos em silêncio profundo. Quando acabamos Nahuel prestativamente lavou os utensílios antes de guardá-los.
Eu levei aquele tempo meditando se me sentia orgulhosa ou incomodada com o espanto dos dois sobre o que eu podia fazer. Pra mim era algo tão natural que eu nunca considerei mais do que uma facilidade, com certeza eu não me sentia poderosa. Preferia os poderes do Super-Homem, mas não parecia haver extraterrestres na família.
- Como se sentem? – ele quebrou o silêncio de repente.
Ergui minha cabeça e vi os irmãos trocarem olhares, então algo em mim remexeu.
- O que está acontecendo? – questionei curiosa.
Nahuel se sentou suspirando, mas desta vez Plata quem começou a discursar.
- Nós precisaremos saber, num futuro próximo, se estamos bem mesmo estando separados.
Eu sacudi minha cabeça em concordância, me lembrava de Yara ter mencionado que poderia saber se ambos estavam em perigo e disse a eles.
Plata apenas levantou a manga da camiseta me mostrando um desenho.
- Uma tatuagem? – perguntei desconfiada.
- Sim. – ela declarou com firmeza.
Eu me ergui e para meu próprio espanto reparei que minhas costas não doíam mais.
Aproximei-me e observei melhor o desenho. Era um par de asas com um círculo de traço grosso as envolvendo, a tinta era de um vermelho cintilante que contrastava fortemente com sua pele negra. Olhei para seu rosto espantada.
- É linda! – exclamei e ouvi Nahuel rindo baixo, amarrei a cara.
- Deixa eu ver a sua. – exigi.
Para meu espanto e desconcerto em vez de ele erguer a manga, como havia feito Plata, ele puxou a barra da camiseta, retirando-a e deixando à mostra o abdome liso e nu.
Porém a figura não fazia sentido e quase sonhadoramente eu caminhei em sua direção. Seu corpo era forte, os músculos se salientando nos lugares certos, mas não em demasia. Os ombros não eram tão grossos como... O de Jacob, mas o peitoral e o abdome estavam notavelmente bem esculpidos.
“rrrm, rrrm”.
Ouvi, quebrando um pouco do feitiço encarei seu rosto. Seu ar era debochado, mas havia algo estranho com seus olhos.
- O resto está nas costas. – eu ouvi.
Era impressão minha ou sua voz soou um pouco rouca?
Sacudindo a cabeça eu dei a volta pelo lado esquerdo e finalmente pude ver todo o trabalho.
Era um felino, eu não saberia classificar qual, e cobria totalmente a extensão de suas costas, a parte da frente era apenas uma das patas do bicho que pegava o lado esquerdo de seu peito. Idiotamente, mas como que hipnotizada, toquei no desenho e senti ele se endurecer.
- Desculpe... – balbuciei retirando a mão.
Era magnífico, percebi a outra pata se estender até as costelas, mas à parte de baixo estava coberta... Pela calça. Senti-me ruborizar enquanto imaginava até onde o desenho iria.
- Fico contente que tenha gostado tanto... – o tom era o de maldade costumeira.
Eu exalei com raiva e amaldiçoando meu coração denunciador que estava tão rápido quanto possível para me envergonhar.
- É maravilhoso. – soei contrafeita, o que foi aprovado por meu cérebro.
Enquanto ele vestia a camiseta me ajoelhei entre eles, sem encarar propositalmente a cara de Nahuel.
- Vocês podem saber se estão bem através das tatuagens, mas como funciona? – perguntei.
- Quando alguém bebe nosso sangue nós podemos “sentir” essa pessoa por algum tempo...
Eu chiei. Acho que foi esse barulho que fiz antes de lágrimas brotarem em meu rosto.
- Eu sinto muito... – me desculpei rapidamente enquanto apertava os punhos.
Respirei profundamente.
- Muito bem, por favor, pode continuar.
Os dois tinham ficado em silêncio e nada perguntaram. Eu deixei para depois, iria lidar com aquela informação depois...
- Isso, porém, passa depois de certo tempo. – continuou Plata, com um tom mais forte. Normalmente era apenas uma arranhar rouco que tinha uma dureza natural, agora seu tom estava mais agudo e soava respeitoso.
Eu acenei, mostrando estar escutando.
- As tatuagens são feitas com sangue. – deduzi.
Ela assentiu.
- E um tipo de feitiço.
Deixei essa passar. Se existiam profecias e vampiros nesse mundo, por que não feitiços?
- Mas como vocês farão para se ligar a mim? E vocês sentem apenas quando estão em perigo... Não há outro tipo de ligação?
- Vamos beber seu sangue. – era Nahuel.
Virei-me lentamente em sua direção, sustentando seu olhar.
- Temos como fazer com que se ligue ao encanto. E sim, sentiremos outras coisas, se for forte o suficiente. – determinou.
Eu pensei sobre isso, certamente era algo estranho.
- Como vocês sabem quem está sentindo o que, se todos os sangues estão misturados?
- É como um tipo de pensamento fixo. – ele disse.
Eu sacudi a cabeça, já tinha sentido aquilo antes.
- Vocês vão fazer uma tatuagem em mim com o sangue de vocês misturado a um encanto, e então vão beber meu sangue, ligando-o a vocês? – tentei confirmar.
Eles assentiram.
- Faremos o mesmo conosco, tatuaremos algo novo com seu sangue e você beberá de nós.
Eu exalei.
- Parece cansativo...
Plata prendeu meu olhar.
- Para você será pior. – disse.
Senti um arrepio percorrer minha espinha.
- Por quê? – consegui perguntar.
- Por causa do meu veneno. – Nahuel disse em tom grave.
Eu exalei lentamente, tinha de confiar neles. Já tinham feito aquele procedimento entre eles e as irmãs tiveram de beber do sangue de Nahuel e estavam todas bem.
- Certo. Vamos fazer isso.
- Ainda não. – Plata cortou meu entusiasmo.
- O que? Por que não? – senti como se uma bolha de ar quente saísse de dentro de mim, não sabia se aquilo era bom ou ruim.
- Alistair se moveu de novo, viajaremos amanhã. – disse daquele jeito meio concentrado, como se apenas uma parte da atenção dela estivesse conosco.
Nahuel suspirou alto.
- Para onde agora? – perguntou infeliz.
Eu segurei o riso, obviamente ele não tinha muito prazer em voar.
Plata ergueu lentamente a cabeça,
- Manila.
Nahuel se jogou de costas no chão.
- Excelente... – ele parecia feliz.
- Onde é isso?
- Filipinas. – Nahuel pronunciou antes de se virar para dormir.
Suspirei também. Pelo menos meu conhecimento em geografia estava melhorando a cada dia... Iupí!