|
Tempo estimado de leitura: 32 minutos
l |
Sobre bebuns, espadas e esfregões
- É impressão minha, ou a tal roupa que você falou é essa que você usa, Gin-san? ? Shinpachi perguntou ainda com aquele olhar cético.
- Dããããããããã! ? eu respondi já aborrecido. ? É claro que não é exatamente esta, ô quatro-olhos! Apenas era igual! Se eu fosse vestir uma roupa diferente a cada episódio, o autor do mangá e o pessoal do anime estariam muito ferrados por conta do trabalhão que teriam! Então, é mais fácil ter uma ?roupa-padrão?!
- Gin-chan, e você não precisou lutar com ninguém nesse tempo todo? Porque com a gente, de vez em quando você tem que lutar com alguém.
- Agora que você falou, Kagura... ? cocei meu queixo, bastante pensativo e tentando puxar algo pela memória. ? É, eu já tive que lutar sem nenhuma espada... Eu ainda não tinha esta espada de madeira...
- Gintoki, leve este saquê até aquela mesa. Você ainda me deve catorze dias de trabalho.
- É claro que isso não sairia de graça, né, velha? ? eu resmunguei.
O bar estava até movimentado naquele dia. Era fim de semana e o povo aproveitava pra encher a cara e ficar de ressaca. Sabe, aquela coisa de ?beber, cair e levantar?... Ou poderia ser ?beber, cair e ficar por lá?.
Lá fui eu levar mais uma garrafa de saquê para uma das mesas mais agitadas naquele momento. Era uma mesa onde meia dúzia de bebuns já estavam ?pra lá de Bagdá? de tanto saquê que bebiam. Berravam como duas adolescentes patricinhas que disputavam qual namorado espinhento e seboso era o mais bonito.
Cheguei à mesa barulhenta e anunciei:
- Oe, Oe, aqui está o saquê.
A barulheira subiu ao nível de um bando de torcedores rivais discutindo sobre futebol. Mas precisamente, era como se estivessem discutindo se o gol havia sido irregular ou não, se havia algum impedimento ou algo do gênero. Ninguém havia me ouvido, então repeti um pouco mais alto:
- Ei, vocês! Aqui está o saquê!
Agora eles estavam fazendo um barulho ainda maior... Como se fosse dentro de uma bolsa de valores em tempos de forte crise econômica. Ou seja, o maior berreiro.
E, mais uma vez, fui ignorado.
- Gintoki! Anda logo com essa mesa, que tem mais gente esperando!
- Calma aí, velha! Já vou!
Aqueles caras já estavam me dando nos nervos, atrapalhando o meu serviço. E eu não estava nem um pouco afim de ouvir novamente a voz da velha nos meus ouvidos, reclamando que eu sou muito relaxado, e que os clientes não podem esperar e todo o tipo de blábláblá relacionado a isso.
Pra evitar isso, resolvi agir de forma mais enérgica:
- EI, BANDO DE PAPAGAIOS ESCANDALOSOS! ? bati violentamente a garrafa de saquê contra a mesa, fazendo bastante barulho. ? TÁ AQUI A DROGA DO SAQUÊ!!
Na hora que bati o fundo da garrafa contra a mesa, o maldito saquê saiu respingando na cara daqueles sujeitos. ?Agora é que vou escutar um monte da bruxa velha...?, pensei, pois já pressentia que ela iria me encher muito o saco.
Um deles me encarou com cara de quem havia acabado de chupar um limão bem azedo.
- Ah... ? deixei escapar ao ver a cara do sujeito. Tinha a impressão de reconhecê-lo de algum lugar...
- Você pode ter mudado de roupa, mas não mudou essa sua cara de preguiçoso com olhos de peixe morto e cabelo ruim. ? o cara observou e eu logo reconheci o sujeito azedo.
- Ah, é você, velhote? ? perguntei.
- Mais respeito comigo, descabelado!
Não iria dar mais corda àquele velho chato em quem dei golpes de cabo de vassoura. Resolvi ir ao balcão buscar o saquê dos outros fregueses das demais mesas, enquanto a velha Otose conversava com os recém-chegados. Ela sempre gostou de fazer isso e sempre foi uma boa ouvinte dos bebuns que gostavam de desabafar. Eu, no lugar dela, morreria de tédio de ouvir lamúrias e bobagens de um bando de beberrões.
Eu já estava terminando de distribuir o saquê pelas mesas. Quando fui até a última, um ser inconveniente fez questão de me fazer tropeçar.
E tropecei, caí e meti a cara no chão com tudo. O causador do tropeção? Aquele velho desgraçado. Mas eu não fiz nada. Não, ainda. Só estava esperando a próxima ação daquele velhote.
Não demorou para que ela acontecesse. Senti algo atingir minha cabeça com força e com isso eu quase caí de novo. E ouvi um mar de gargalhadas inundar aquele bar. A única pessoa ali que não riu foi a velha.
Sinceramente, eu fiquei mais ?P? da vida do que nunca. As gargalhadas vinham principalmente da mesa onde estava aquele maldito velho gagá. Ainda bem que eu não tinha nenhuma espada naquela hora, ou eu transformaria aquele ser caquético em retalhos de carne dura no mesmo instante.
- Ei, se queria me chamar a atenção, não precisava jogar um copo na minha cabeça. Assobiar ou chamar dá menos trabalho.
O velho não se importou com meu conselho sarcástico e se levantou, me encarando com um sorriso irônico e com a mão no cabo da espada que estava à sua cintura.
- É bom começar a tremer de medo! Eu sou muito experiente com a espada. ? alertou.
Tá bom... E eu sou o coelhinho da Páscoa... Apenas tirei mais uma sujeira do meu nariz usando o dedo mindinho. Pra que me importar com um velhote tão chato?
Mas não deveria tê-lo subestimado... Porque senti o meu quimono ficar molhado na altura do braço direito.
Era sangue. O desgraçado fez um corte no meu braço com a espada. Até que ele ainda era rápido. O corte doeu muito e, por instinto, levei a mão ao ferimento, enquanto escutava o velho dizer mais um monte de asneiras pra Otose, apontando-lhe a espada.
- Como eu disse outro dia, você deveria escolher melhor seus empregados, minha senhora. Como pode ser protegida por um homem tão ridículo como esse aí, que nem tem uma espada?
Não ouvi nenhuma reação vinda da velha. Até cheguei a pensar que ela estava muda ante a espada apontada para seu rosto. Que nada! Olhei para trás e notei que ela simplesmente deu mais uma baforada no seu cigarro, como se pouco lhe importasse ter uma espada quase em sua cara.
Eu nem me lembrava do quanto poderia doer um ferimento à espada, desde aquela guerra contra os Amanto. Mas aquele ferimento doía tanto que eu mal conseguia mover meu braço.
- Ele não precisa de uma espada. ? ela disse. ? Ele te derrotou usando apenas um cabo de vassoura. Não deveria subestimá-lo.
Ironicamente, um esfregão estava perto de mim. Eu o alcancei e o empunhei como uma espada. Sou o protagonista, não perderia a pose com um simples esfregão...
- Ei, velhote! ? chamei sua atenção. ? Não sabe que é falta de educação apontar a espada para um velha?
Aquele velho não perdeu a chance de me zoar mais uma vez:
- Então essa é a sua espada?
- Pois é... ? dei um sorriso sarcástico. ? A vassoura evoluiu pra este esfregão aqui. Já que insiste, vamos duelar, mas lá fora. A velha vai me encher até dizer chega, se eu quebrar algum móvel daqui.
Saímos do bar e nos posicionamos para a luta. E eu ainda continuava com o esfregão em punho. E o velho continuava a rir de mim, só por causa disso. Sem contar que o corte do meu braço continuava a doer bastante.
- Você sabia que eu tenho larga experiência como um samurai? Tenho muitas batalhas em meu currículo! E você? O que tem de experiência, samurai ?bom-pra-nada??
Sinceramente, não queria lutar lá. Não com um velho arrogante e ridículo, que vivia se achando. Mas alguém tinha que dar uma boa lição àquele fugitivo de asilo. E eu iria dá-la.
- Menos conversa e mais ação, velhote! ? eu disse. ? Quero acabar logo com isso, porque a velha vai me encher depois se eu demorar.
Ele veio em minha direção, preparado para fazer outro corte em mim com sua espada. Pra me defender, usei o cabo do esfregão. Mas tive que jogar minha cabeça para trás, porque eu poderia ser escalpelado. A lâmina da espada do velho era bem afiada e cortou o cabo do esfregão em dois, levando juntos alguns fios de cabelo.
Recuei um pouco, a fim de me equilibrar. Olhei para as duas mãos, onde o cabo do esfregão havia ficado em duas partes.
?Droga, eu me ferrei!?, pensei.