Crônicas de um samurai desempregado

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    Capítulo 4

    Tudo é uma questão de moda... Ou não

    Tudo é uma questão de moda... Ou não

    - Gin-san, então o primeiro pagamento que você recebeu foi pra comprar roupas?

    - Foi. ? respondi à pergunta de Shinpachi.

    - Suas roupas eram iguais à do ?Madao?? ? Kagura perguntou.

    - Eram piores.

    - Acorda seu preguiçoso!

    Era a velha que me atormentava logo cedo. O que fiz pra merecer aquilo? ? eu me perguntava. A resposta: eu tinha comido as oferendas do marido da velha, era isso o que eu havia feito. Tem castigo pior do que ser obrigado a acordar bem cedo em pleno inverno?

    - Ah, não enche, velha...! ? protestei e me virei para o outro lado.

    - QUER QUE EU TE ARRASTE DE NOVO ESCADA ABAIXO?! ? ela perguntou fazendo cara de terrorista da terceira idade, enquanto me descobria.

    - AH, DÁ UM TEMPO, VELHA! ? berrei ?P? da vida. ? TÁ MUITO FRIO PRA ACORDAR TÃO CEDO!!

    Não houve negociação e fui chutado dali pra escadaria, rolando junto com o envelope de dinheiro.

    - E NÃO VOLTE ATÉ QUE ESTEJA COM ROUPAS DECENTES!

    Como não pude remediar a situação de outra forma, lá fui eu ? morrendo de frio, pregado de sono e mal-humorado ? à procura de uma loja pra comprar roupas de verdade pra me vestir. Pensei bem e me vi obrigado a dar razão à bruxa velha logo que vi o meu reflexo em uma das modernas vitrines das lojas.

    Definitivamente, não dava mais pra continuar vestido com aqueles trapos.

    Também odiava admitir, mas até que a invasão dos Amanto teve um lado não tão ruim. Pelo menos a modernidade chegou... Pena que tenha sido de forma tão injusta. Mas encontrei uma loja onde fui logo entrando. Algumas roupas da vitrine me chamaram atenção.

    E do jeito que eu estava, chamei mais a atenção do que as roupas dali.

    - Cai fora, molambento! ? um funcionário me disse. ? Aqui não é a assistência social!

    - Eu não vim procurar assistência nenhuma. ? respondi, após retirar meu dedo mindinho do nariz. ? Vim comprar roupas. Não é isso que se faz quando se entra numa loja de roupas?

    - Como se você tivesse algum dinheiro pra isso.

    Joguei o envelope com dinheiro no balcão:

    - O que posso comprar com esse dinheiro?

    O cara abriu o envelope e ficou com os olhos esbugalhados. Eu não entendi a razão de ele ter ficado tão surpreso. Pensei seriamente se aquela velha não teria me sacaneado, porque eu nem havia aberto o envelope antes. Do jeito que eu o recebi, ele estava.

    - Oe, Oe, o que aconteceu? Dinheiro falso? ? perguntei.

    - N-Não... O dinheiro é verdadeiro...

    - Dá pra comprar um quimono, pelo menos?

    - Você é lesado ou o quê? Não viu quanto dinheiro tem aqui?

    - Sinceramente, não. ? eu disse enquanto retirava a cera do ouvido usando o mindinho. ? Recebi ontem e nem abri.

    - Você recebeu uma bolada, ó!

    O cara me mostrou um bolo de notas. Não eram notas miúdas, não. Eram notas de valor consideravelmente alto. Fiquei boquiaberto. Mas acabei ficando com cara de tacho quando li um bilhete que tinha caído do bolo de notas.

    ?Gintoki,

    Compre roupas decentes pra trabalhar. Você está recebendo um adiantamento de quinze dias pra isso e não tem desculpa! Se você não comprar uma roupa, considere-se um ?ronin? no olho da rua outra vez! Se me desobedecer, tenha certeza de que irei atrás de você pra pegar o dinheiro de volta, junto com as suas tripas!

    Otose.?

    Logo depois de ler a ameaça terrorista, digo, o bilhete, cheguei a uma conclusão: de que aquela bruxa era mesmo uma terrorista da terceira idade.

    - E então, o que manda? ? o sujeito perguntou.

    Fiquei um tempão na loja escolhendo as roupas. Tive o maldito azar de quase não encontrar roupas que me servissem. Ou havia uma conspiração contra as pessoas com mais de 1,70 de altura, porque era difícil encontrar algo pra mim em se tratando de roupa tradicional. Até então, só tinha conseguido encontrar dois quimonos ? um branco e um mais escuro de tecido mais grosso, para os dias frios.

    - Só estes dois quimonos? ? questionei.

    - Infelizmente, sim. O restante das roupas tem influência alienígena.

    - Cadê?

    O cara me levou até as tais roupas, cada uma mais bizarra do que a outra. Dava até medo.

    - N... Não tem algo mais... ?Normal?...? ? perguntei.

    - Bom... Acho que sim...

    Fui conduzido até outra parte, onde vi um manequim com uma roupa que me chamou a atenção. Uma camisa preta com detalhes vermelhos e uma calça igualmente preta. Eram as únicas peças ali que pareciam usáveis pra mim.

    Provei a tal roupa e joguei o quimono branco por cima. Eu me olhei no espelho e percebi que aquilo dava certo pra mim. Pelo menos, eu não iria sentir mais frio.

    Mas ainda faltavam os calçados. Meus pés continuavam gelados.

    - Mais alguma coisa?

    - Ah... ? respondi pensativo. ? O dinheiro dá pra pagar?

    - Claro que dá! E sobra!

    ?A velha quer mesmo me ver numa fria...?, pensei.

    Como todo samurai, eu desconfiava de qualquer ação de ?bondade? de outras pessoas. E, em se tratando de uma velha terrorista como a Otose... Não dá pra se confiar muito. E não, não é paranóia e futuramente todos vão entender o que quero dizer.

    Mas, enfim... Era oportunidade de ter roupas novas, então tinha que aproveitar. Encontrei ali num canto um par de botas que achei que dariam certo com o resto da roupa. Elas serviram e então paguei.

    - Você... Você vai sair assim?

    - Qual é o problema? ? questionei, guardando o troco.

    - Ah... Nada, nadinha...

    Saí da loja e joguei minha roupa antiga na primeira lata de lixo que encontrei. Após alguns minutos, eu cheguei ao bar e abri a porta corrediça.

    - Ora, ora... Finalmente chegou de forma ?apresentável?...

    Tentei ignorar o comentário sarcástico da bruxa velha. Mas não consegui evitar uma resposta:

    - Graças ao seu ?bilhetinho terrorista? eu passei frio pra isso.

    - Mas você precisava. ? soprou a fumaça do cigarro que fumava e prosseguiu. ? Estava tão desesperado por causa do frio que nem se lembrou de tirar as etiquetas das roupas e das botas, não é mesmo?

    Velha maldita... Ela havia falado aquilo em alto e bom som, diante dos clientes do bar. Fiquei com uma vontade imensa de enfiar a cara dentro do meu quimono e do cachecol. Sem contar com a vontade que fiquei de me vingar daquela bruxa velha...


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