Crônicas de um samurai desempregado

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    Capítulo 3

    Na hora do aperto, o que importa é o salário

    Na hora do aperto, o que importa é o salário

    Ah... Nada como me livrar de uma perseguidora como aquela kunoichi quatro-olhos maluca. Uma sensação igual à que temos após fazer o ?básico número um?.

    - Valeu, Pattsuan. Te devo mais uma.

    - Você está cada vez mais endividado com a gente, Gin-san. Já faz um bom tempo que não recebo. Aliás, quando você recebeu o seu primeiro salário por trabalhar com a Otose-san? Se é que trabalhou no bar dela. ? Shinpachi finalizou com ceticismo.

    - Você trabalhou mesmo pra bruxa velha, Gin-chan? ? Kagura perguntou.

    - É, eu trabalhei. ? respondi. ? Na hora do aperto, não tem como a gente escolher. É como se você estivesse muito apertado e tivesse apenas um banheiro sujo pra poder usar... Ou simplesmente você borraria suas calças.

    - Que comparação idiota... ? Shinpachi resmungou de forma quase inaudível.

    - Acorda, seu preguiçoso de cabelo rebelde! É hora de levantar pra trabalhar!

    Eu me lembro de que até tentei abrir os olhos logo de imediato, mas simplesmente me virei para o outro lado e resmunguei muito sonolento:

    - Me deixa em paz, quero dormir...

    Voltei a dormir, mas logo senti que me descobriram e que me arrastavam para algum lugar... Literalmente. Em seguida, eu acordei mesmo, sentindo um vento gelado e várias pancadas na minha cabeça, quando percebi que a velha me arrastava escada abaixo para o bar.

    - O QUE TÁ FAZENDO COMIGO, SUA LOUCA?! ? berrei em protesto assim que acordei de vez.

    A velha parou e me encarou:

    - Se quiser ter um teto, faça por merecê-lo! Você deveria saber disso, já é um homem!

    - EU SEI QUE SOU HOMEM, MAS HOMENS ANDAM SOZINHOS, NÃO SÃO ARRASTADOS POR BRUXAS VELHAS ESCADA ABAIXO! E PRA COMEÇAR, TÔ CONGELANDO AQUI FORA!

    Ela não se alterou com os meus protestos. Simplesmente respondeu:

    - Então, faça por merecer roupas novas. ? e soltou mais uma baforada de fumaça do cigarro.

    Eu odiava admitir, mas eu precisava de roupas novas. Primeiro, porque estava frio e os ?farrapos? que eu vestia não esquentavam porcaria nenhuma. Segundo, porque eu não iria me expor como o ?Gorila? faz.

    Levantei-me da escada, retirei alguma neve da minha cabeça enquanto via a trilha traçada por ela no momento em que eu era arrastado. Esfreguei meus braços por conta do frio e respondi, enquanto ia ao bar:

    - Vamos logo, que tô congelando!

    Entramos no bar. Era exatamente do mesmo jeito que é hoje. Claro que naquela época não tinha a Catherine, nem a Tama pra ajudar a velha. Ela é que se virava sozinha pra atender os bebuns ali.

    Eu apenas servia os fregueses que apareciam ali ? e adoravam zoar com o meu cabelo...

    - Otose-san, quem é esse esquisito que tá trabalhando hoje?

    - Ô ?cabelo espatifado?, cadê a minha bebida?

    - De onde você veio, ?cabelo ruim??

    Eu pouco me importava com aquilo. Mas, nesse dia, tinha um bebum insuportável ali. Imaginem um cara muito reclamão...

    - Além de você? ? Kagura perguntou.

    Admito que sou reclamão. Aliás, creio que sou o protagonista mais reclamão dos animes de que se tem notícia. Mas o tal sujeito era pior.

    - Cadê meu saquê, velhota? Eu pedi esse maldito saquê e ele ainda não chegou!

    - Gintoki, leva esse saquê pra ele. ? ela mandou.

    Eu levei o saquê pro sujeito, mas ele tomou o primeiro gole e logo o cuspiu:

    - Isso é saquê que se preze? Já tomei saquê melhor do que esse e servido por pessoas muito melhores do que esse sujeitinho maltrapilho com olhos de peixe morto! Aliás, não é à toa que esta espelunca esteja tão decadente... Deveria escolher melhor seus empregados, velhota!

    Aquilo era pior do que ser acordado por uma bruxa velha. O filho da mãe nunca havia me visto na vida e já me detonava daquele jeito! E eu tentando me segurar pra não causar encrenca e ficar sem o meu ganho do dia...

    - Tenha mais respeito com um samurai. ? Otose disse, mesmo sem saber quem eu realmente era. Ela estava me defendendo? ? Ele defendeu nosso país quando foi preciso.

    - Grande coisa! ? o homem disse. ? Samurais são um bando de idiotas que acham que são muita coisa por saberem manejar uma espada. Não passam de vagabundos que se acovardam diante dos adversários! Se prestassem para alguma coisa, não teríamos sido dominados por aqueles Amantos nojentos!

    Eu já estava ficando ?P? da vida com aquele cara. Eu era um ?ex-samurai?, minha espada tinha sido tomada, e isso já era desonra demais pra um samurai de verdade suportar. Mas ficar ouvindo insultos de um velho gagá? Deu uma vontade louca de encher aquele cara de sopapos, porém...

    - Se é pra ficar fazendo arruaças aqui no meu bar, retire-se! Não sou obrigada a ouvir insultos a um empregado meu! Só eu tenho direito de falar mal dele, velho bastardo!

    O velho chato não arredou o pé dali. Pelo contrário, ficou furioso:

    - Quem é ?velho bastardo?, hein? Se eu quiser, posso destruir esta sua espelunca!

    Ele desembainhou uma espada.

    - Samurais de verdade mantêm sua espada a qualquer custo! Nem que seja necessário subornar alguns cães do shogunato!

    Apontou a espada para a velha. Estava realmente com intenção de matar alguém ali. Alcancei uma vassoura que estava ali por perto. Não iria deixar que a velha morresse sem me pagar o primeiro salário!

    - Oe, Oe, velho escandaloso! ? chamei a atenção do cara, apontando-lhe o cabo de vassoura. ? Não ouviu a dona do bar te mandando dar o fora? Vai embora e não enche mais o saco!

    - Então, você fala...? ? o velho ironizou. ? O que você pode me fazer com um cabo de vassoura? Estou armado, meu jovem!

    Ele veio pra cima de mim, mas consegui me esquivar e acertar o cabo de vassoura em sua barriga. Com a pancada, ele deixou a espada cair no chão e caiu de joelhos por causa da dor que lhe causei.

    Tentou pegar a espada, mas eu pisei nela, de tal forma que ele não podia tirá-la de lá.

    - Cai fora, velhote. ? eu disse.

    Ele tentou ir pra cima de mim, mas não deixei. Dei um golpe na cabeça dele com o cabo de vassoura e ele desmaiou. Peguei-o pela gola do quimono e o joguei no olho da rua, com espada e tudo.

    Assim que terminei de arrumar o bar, antes de sair, a velha me disse:

    - Gintoki, fique morando lá na parte de cima, até que você tenha condição de se virar sozinho. Aqui está o pagamento de hoje. Amanhã, quero que você gaste esse dinheiro com roupas. Não é muito, mas o bastante pra você não continuar maltrapilho.

    Não respondi. Apenas me curvei por instinto, pensando que ganhava mais uma dívida pra saldar com aquela velha depois. E eu pressentia que isso não iria prestar...


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