Crônicas de um samurai desempregado

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    Capítulo 2

    Sem espada, sem emprego, sem comida e sem teto

    Sem espada, sem emprego, sem comida e sem teto

    Edo, a terra dos samurais. Até um tempo atrás, era chamada assim, e... Pra que eu estou fazendo essa introdução idiota? Isso é função do quatro-olhos! E ainda assim acho besteira fazer essa introdução depois de duzentos e dez episódios do anime...

    Todo mundo já tá cansado de saber que eu já fui um samurai antes daqueles Amanto aparecerem por aqui. Todo mundo já sabe que eu era o Shiroyasha, que derrotei um monte desses alienígenas. Pois bem... O grupo formado por Takasugi, Sakamoto, Zura e...

    - Não é Zura, é Katsura!

    De onde ele apareceu? Cara mais intrometido! Me interrompendo só pra isso? Apenas tive o reflexo de chutá-lo pra fora, mandando-o pra longe.

    - CAI FORA, SEU ENTRÃO!! ? berrei. ? NINGUÉM TE CHAMOU AQUI!

    Caham... Retomando a história, as espadas foram banidas de vez e os samurais ficaram sem emprego. Passaram a vagar com fome, ou procuravam por outros tipos de serviços. Isso quando não faziam de tudo pra ter uma espada, contrariando as leis.

    Eu estava no primeiro grupo, vagando com fome, já que eu não sabia fazer muita coisa além de usar uma espada. Tentava conseguir algo por conta própria, jamais iria pedir esmola. Eu, o Shiroyasha, fazer isso? Mas nem pensar!

    Só que teve um dia em que deixei de ser um ?sem-comida? e ?sem-teto?. Eram dias iguais a este, bem frios. Eu costumava ir ao cemitério pra arranjar algum alimento, já que ninguém daria serviço a um samurai mesmo...

    - E o que você comia lá, Gin-san? ? Pattsuan perguntou.

    - As oferendas que eram dadas aos defuntos.

    - Bom, mas não é todo dia que alguém vai ao cemitério dar uma oferenda a algum defunto, é?

    - Mas essa pessoa ia. ? respondi e, em seguida, continuei.

    Bom, como eu dizia, eu comia essas oferendas de uma velha que as levava ao marido morto. Como mortos não comem, então resolvi matar a minha fome. Não estava a fim de morrer tão cedo.

    - Como é? Você roubava a comida de uma inocente velhinha? ? Shinpachi tinha que me interromper com seu surto de ?cara certinho?...

    Tem hora que o Shinpachi me irrita. Será que ele não enjoa de ser o ?certinho?? Deve ser tão chato agir assim... Tem algo incomodando o meu nariz. Coloquei o dedinho lá e tirei mais uma ?caca?. Agora ficou melhor.

    Essas lições de moral me deixam entediado...

    De repente, ouvi um sonoro cascudo e um barulho como se fosse o chão se quebrando. Corrigindo: era mesmo o chão que ganhava um buraco. Kagura acabava de enterrar a cabeça do quatro-olhos lá com um cascudo.

    - Cala a boca, quatro-olhos! ? ela disse e em seguida mudou sua expressão. ? Continua, Gin-chan!

    Passei a mão no meu cabelo e suspirei:

    - Vocês são tão problemáticos...

    - Mas ainda acho injusto roubar oferendas deixadas por uma inocente velhinha! ? Shinpachi protestou.

    - COMO SE AQUELA BRUXA VELHA DA OTOSE TIVESSE ALGO DE INOCENTE!! ? berrei.

    - Otose-san...? A... A Otose-san??

    Kagura não comentou nada. Estava mascando mais uma tira de sukonbu.

    - Sim, eu comia as oferendas daquela bruxa velha. Ou eu comia aquilo, ou morreria de fome.

    Alguém dava tapinhas nas minhas costas com a intenção de me consolar.

    - Pobre Gin-chan... ? era Kagura. ? Que fase difícil.

    Cara, agora é que eu estava arrependido de ter aberto a minha boca pra falar de mim... Só que agora não tinha mais volta.

    Eu me meto em cada fria, viu...

    - E então, rapaz? ? a velha me perguntou após permitir que eu comesse mais da oferenda. ? O que você faz neste frio, vigiando esta velha?

    Não respondi à pergunta da velha. Estava sentindo frio até os meus ossos, quando senti que algo me cobria.

    - Olha, eu não gosto de bisbilhoteiros à minha espreita. ? prosseguiu. ? E também não gosto de ver samurais sem alma vagando por aí, sem nenhuma perspectiva de vida. Sem contar que preciso de um empregado no meu bar. Pode trabalhar lá até ser capaz de sobreviver por conta própria.

    Não falei nada. Nem tinha o que falar. Mesmo com algo me cobrindo, eu batia os dentes por causa do frio. Estava praticamente congelado. Mais congelado do que um sorvete Bargain-Dash há meses num freezer.

    Simplesmente eu a segui até o bar. Não sentia mais meus pés, dormentes por conta do frio. Hoje, só de me lembrar disso, tenho arrepios. De lá do bar, ela me conduziu até a parte de cima, onde só havia um futon guardado num armário.

    - Vá dormir. ? ela disse. ? Amanhã quero você pronto pro seu primeiro dia de trabalho.

    A velha já ia saindo, quando se lembrou:

    - A propósito, qual o seu nome, ?ladrão de oferendas??

    - ?Ladrão de oferendas? o seu nariz, velha! ? respondi, me enfiando logo no futon. ? Meu nome é Sakata Gintoki.

    - Esta velha tem nome, Sakata Gintoki. Me chame de Otose.

    - Tá, tá, que seja. ? resmunguei aborrecido. ? Só me deixa dormir sossegado.

    Eu apaguei e nem a escutei sair de lá. Só queria dormir aquecido depois de tanto tempo no frio.

    Logo voltei ao presente. Comecei a escutar alguém fungando. Parecia estar chorando. Olhei para onde estavam Shinpachi e Kagura, sentados no sofá. Não era nenhum deles. Eu me levantei da escrivaninha e fui para o local de origem desse som de alguém fungando e... Parecia chorar.

    - Gin-chan ? Kagura apontou para a mesinha de centro. ? É aqui.

    Agachei e pensei que não deveria ter feito isso, mas sim ter jogado a mesinha de centro pra fora.

    - GIN-SAAAAAANNNNN!!! ? senti que era fortemente abraçado e pensei que era um saibaiman quando abraçava o Yamcha. ? POBREZINHO, QUE VIDA TÃO SOFRIDA...!

    Era aquela ninja grudenta, a Sa-chan. O que fiz pra merecer uma louca sadomasoquista na minha cola? Eu bem que queria saber, de verdade...

    Tentei me soltar dela, empurrando a cara dela, que queria porque queria me beijar ? ARGH!

    - Me larga, sua sadomasoquista maluca! ? protestei.

    - Isso, Gin-san, amasse o meu nariz, me rejeite, me recuse... Quanto mais você fizer isso, mais eu fico excitada!

    Senti aquele gelo percorrer a minha espinha. NUNCA vou ser louco o bastante pra me envolver com uma ?SM? como ela. Tentei me desvencilhar dela e, depois de muita dificuldade, consegui afastar o rosto daquela louca de mim.

    - Shinpachi! Kagura! Algum de vocês abra a janela pra mim!

    Shinpachi prontamente abriu a janela e eu consegui me livrar dela, arremessando-a para o mais longe que pude. Em seguida, fechei a janela e me encostei-me a ela, completamente aliviado. Uma sensação igual àquela que temos após fazer o ?básico número um?.

    Devo admitir que tenho dois bons amigos comigo...


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