Penumbra - Trilogia das Fases da Sombra

  • Nina00
  • Capitulos 26
  • Gêneros Ação

Tempo estimado de leitura: 3 horas

    12
    Capítulos:

    Capítulo 19

    Tratamento de Primeira

    Álcool, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Sexo, Violência

    Sutherland – Nova Zelândia. 4 de Março. 03:22 AM.

    Era o meio da noite quando acordei de repente, algo estava errado.

    Sentei-me tentando não fazer barulho para que Plata e Nahuel não despertassem.

    Pra falar a verdade eu quase não tinha certeza completa se eles dormiam de verdade ou fingiam faze-lo, já que nas poucas vezes em que isso de acordar antes da hora aconteceu ou eles estavam com os olhos abertos, ou simplesmente não estavam lá.

    Desta vez eu sabia o que tinha me acordado: meu corpo em explosões de raiva consigo mesmo. Eu estava com cólicas.

    Embrenhei-me no mato para colocar o absorvente e tentei retornar o mais silenciosamente possível, voltando a dormir logo em seguida. Infelizmente minha teoria do não-sono destes dois foi comprovada na manhã seguinte.

    Eu tinha acabado de abrir os olhos e bocejava quando Nahuel levantou se espreguiçando exageradamente. Plata já estava de pé, é claro.

    -          Uáá. Espera, tem algo diferente hoje no ar! – ele disse e mesmo estando de costas senti seu tom maldoso. Coloquei involuntariamente uma mão sobre o rosto.

    “Fung, fung”.

    Ouvi cheirando o ar e me sentei indignada.

    -          Como você pode ser tão idiota? – gritei com raiva.

    -          Ele meio que não tem como evitar, eu acho. – disse Plata de forma cansada do canto.

    Nahuel riu com vontade.

    -          Ah, mas que cheiro delicioso Anhangá. Você brinda meus sentidos!

    -          Vai pro inferno! – eu joguei algo em sua direção, falhando miseravelmente em acertá-lo.

    -          Mas não há nada pra se envergonhar! Isso somente faz parte da maravilha natural...

    Não dei tempo pra ele terminar a frase pulando em sua direção em forma de ataque.

    -          Oohh. – fez ele se desviando facilmente.

    Eu rosnei frustrada.

    -          Credo! Sabe isso só faz as pessoas falarem sobre o temperamento das fêmeas nessa situação...

    Eu ataquei de novo, com minha raiva redobrada.

    -          Hahahah. – ele riu feliz do outro lado. Merda, como ele se movia tão rápido?

    Nós ficamos nisso por uns dois minutos, até que reparei que Plata avaliava meus movimentos em concentração.

    -          Alguma dica? – rosnei frustrada em sua direção.

    -          Pra falar a verdade acho que não tem como você conseguir sem alguma ajuda.

    Eu bufei enquanto Nahuel se sentava em outra parte longe de mim, evidentemente divertido.

    -          Que saco!

    Plata caminhou em minha direção e apoiou uma mão no meu ombro.

    -          Se alimente e à noite iremos praticar.

    -          Sério? – toda a minha raiva tinha repentinamente diluído.

    Ela incrivelmente sorriu pra mim, acho que era a primeira vez que eu via isso.

    -          Pode ter certeza. Sinceramente você é horrível nisso e precisa aprender a lutar se vamos mesmo fazer o que pretendemos.

    Eu torci minha cara em uma careta. É claro que ela tinha razão, mas mesmo assim aquilo feriu bastante meu ego.

    -          Ninguém nunca me ensinou... – tentei me justificar.

    Ela, no entanto se afastou como se não estivesse mais me ouvindo. Sinceramente eu não sabia dizer quem me incomodava mais: Plata com sua sinceridade de poucas palavras que beirava a rudeza ou Nahuel... Bom, sem dúvida era Nahuel.

    Ele estava me enchendo praticamente todos os segundos desde havíamos começado a busca por Alistair. Felizmente Plata às vezes conseguia silencia-lo, mas quase sempre eu quem tinha que me virar. E não adiantava aquela teoria de que se você se mostrar atingido alimentava apenas as provocações. Nas primeiras vezes eu tinha fingido não ouvi-lo e isso pareceu apenas alegrá-lo mais.

    Eu suspirei infeliz enquanto recolhia minhas coisas.

    Então pra minha surpresa Nahuel parou na minha frente.

    -          Não há como conseguir machucar alguém se você não sabe o que é dor.

    Eu fiquei olhando para sua cara com a boca aberta e ele se virou e foi embora. Eu sacudi minha cabeça enquanto persegui os odores dos dois e começava a correr em seu encalço, ultimamente era assim que vínhamos seguindo: eles na frente e eu perseguindo o cheiro deles ficava pra trás. Não importa o quanto eu corria eles sempre pareciam perceber quando eu estava os alcançando e aumentavam facilmente o passo.

    Durante a primeira hora de corrida daquele dia eu fiquei remoendo o quanto eu parecia fraca mesmo em companhia dos da minha espécie, tudo o que eu fazia era consideravelmente pior e malfeito comparado com eles. Ao contrário de minha família eles não se continham em respeito por mim.

    Eu queria alcançá-los principalmente para saber o que eles conversavam durante o dia, já que quando eu finalmente chegava ao acampamento depois do dia inteiro correndo à distância e sozinha os encontrava prontos para dormir ou apenas esperando eu chegar para caçar. Quando eu perguntava se faltava muito ou se havia tido alguma dificuldade a resposta apenas variava de interlocutor, mas o conteúdo era o mesmo:

    -          Se estivesse conosco você saberia.

    Eu havia ficado bastante deprimida com aquilo e excluindo aquela manhã eu praticamente não falava mais com os dois, sem considerar minhas respostas raivosas para as provocações de Nahuel, mas aquilo não era falar era grunhir.

    Eu sentia que tinha perdido uma parte essencial de mim nestes últimos meses e enquanto corria pela mata e desviava dos galhos apenas me perguntava se eu estava certa ao me juntar com os dois afinal...  Já estava fora de casa a mais de um ano e até agora não tinha nem uma dica do que eu faria em seguida. Qual era o próximo passo? Algum dia acharíamos Alistair? E se ele não ajudasse em nada, o que eu faria então?

    Eu estava correndo tão distraidamente em meio a aqueles pensamentos que simplesmente não vi um galho camuflado e caí de cara no chão. Eu juro que tive vontade de não me levantar mais... Sentia-me inútil e fraca e queria desistir de tudo. Então como fogo uma ira repentina se ergueu dentro de mim e estava voltada unicamente a meu próprio comportamento. Como se tivesse despertando eu abri os olhos e me ergui.

    -          Merda! – gritei para mim mesma e recomecei a corrida agora com força redobrada por causa da fúria.

    “É claro que estão correndo mais rápido do que eu, não me alimento há meses de sangue humano e tenho só três anos!”.

    Bufei e aumentei mais ainda o passo, as plantas agora voavam ao meu redor e eu não me dava ao trabalho de tirar os ramos do caminho, algo com que normalmente eu perdia tempo.

    “Caralho, eu sou a porra de uma mestiça! Foda-se essas plantas de merda!”.

    Eu quase queria me socar por causa da minha estupidez. Com a velocidade e os ramos batendo nos meus olhos que eu mantinha abertos para enxergar senti-os formigar de maneira estranha.

    Aquilo era dor, a dor física que praticamente me era desconhecida. Eu quase gargalhei, mas cerrei meus dentes. Eu não era engraçada, era idiota.

     Dando impulso com a corrida dei um salto com raiva percorrendo cada centímetro do meu corpo e voei por alguns metros, depois dei outra corrida e saltei novamente.

    “Se é assim apenas tenho que me alimentar o dobro que eles para manter minha energia. Merda a resposta é fácil, basta pensar. Burra!”.

    Entendi que o que eles estavam fazendo era igualmente em meu respeito, eu apenas tinha falhado.

    “Mas não mais!” continuei em pensamento.

    Falhar em algo apenas durava enquanto eu não compreendia o que eu estava fazendo de errado. Agora que eu entendia o que era nunca repetiria o erro, isso era um tipo de promessa.

    Percebi em meio à corrida o cheiro inconfundível de um humano em uma trilha próxima, sorrindo me encaminhei em sua direção. Retornar só dependeria do meu olfato...


    Somente usuários cadastrados podem comentar! Clique aqui para cadastrar-se agora mesmo!